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Capítulo 21


–O que é que foste fazer? –gritou-lhe Harlan.

Ela estava no jardim, sob as nuvens que tornavam tudo escuro, ameaçando chuva a qualquer momento. Estava um gelo, e ela estava física para o sentir melhor na pele. Puxou os joelhos com mais força contra o peito e escondeu a cabeça sobre eles, grunhindo.

Ele atirou o velho manual de magia para o chão à beira dela. –Eu não vou perguntar outra vez. O que é que tu foste fazer?

–Já há muito que essa carapaça não tem as folhas que tu procuras, se é disso que falas.

–Escondeste-o de mim! –gritou ele.

Ela encolheu-se mais.

–Sim.

–Porque sabias que eu nunca aceitaria uma coisa destas, não é? –gritou.

–Sim.

Harlan pontapeou o livro para longe, deixando-o deslizar sobre a lama e a relva húmida do jardim. –E agora a Anastácia vem-me com estas perguntas todas! Como é que ela chegou tão perto? E não me digas que isto é tudo parte de um plano maior ou uma merda dessas, que eu não acredito nisso. Tu nunca paras de mentir, não é? Mentiste à Anastácia o suficiente para a fazer quebrar, mentiste aos colegas para os pores do teu lado, mentiste aos professores, e até me mentiste a mim! Será que até mentiste a ti própria, a achar que esta era a coisa certa de se fazer?

Nem a escuridão da noite era suficiente para a esconder, e ela sabia que também seria errado fugir, então encolheu-se mais ainda, querendo apenas desaparecer dali.

–O que é que vais fazer quando ela arranjar provas?

–Não há provas, –respondeu. Falou alto demais, quase gritando, porque a voz lhe tremia menos quando falava assim. –O que não foi apagado pelo tempo, foi destruído por mim.

–Como o livro, não é? "Destruído" atrás de uma estante numa sala de aula qualquer?

Érica não respondeu.

Harlan flutuava em círculos, demasiado irritado para conseguir focar-se em fazer um corpo físico, ou simplesmente não querendo ser visto ali com ela.

–Eu avisei que isto ia dar errado. Desde o início que eu digo que vai correr mal, vais-te magoar, vais magoar os outros... E tu nunca quiseste saber. E agora Anastácia magoou-te, e eu sei que a vais magoar de volta... –Suspirou. –Eu não posso deixar que isso aconteça. Ela confia um pouco em mim, com sorte até a consigo convencer de que está errada e resolver mais uma das confusões que tu criaste, tudo isso enquanto a protejo de ti, do monstro em que te tornaste. Anastácia é inocente. –Ele hesitou. –Depois de tudo o que aconteceu, eu já não posso confiar em ti.

As nuvens quebraram, e o ar encheu-se logo dos milhões de gotas de água que elas não podiam mais segurar. Passavam por Harlan como se ele nem sequer estivesse ali, voltavam a humedecer a terra, faziam o cabelo de Érica colar-se-lhe à cara e escondiam as lágrimas irritantes que tomaram aquele chuveiro como permissão para escapar. O livro, abandonado sobre a relva, era repetidamente atacado pela água e pelo lama que lhe saltava para cima e para o vento que lhe virava as páginas uma por uma como se para garantir que nada dele restava.

Só havia o imenso mar de nada no peito de Érica, onde a sua mente se afogava aos poucos, as gotas grossas que lhe magoavam as costas e faziam Harlan gritar ainda mais alto para ser ouvido, e o frio, tanto frio. Seria tão fácil, tão automático, deixar-se ir e voltar a ser etérea, onde nenhuma daquelas coisas a podia incomodar, quanto mais magoar. Mas não o fez.

–Érica? –perguntou ele, talvez reparando pela primeira vez que ela não lhe respondia. –Infernos, Érica, não fiques aí em silêncio, que é logo a coisa que tu és pior a fazer! Explica-te, defende-te! Convenceste toda a gente, estás tão perto, não é? Será que estás perto o suficiente para fazer o ritual amanhã, e resolver tudo isto de uma vez por todas?

Ela soluçou. Sob o silvar do vento e o batucar da chuva, esperou que ele não a tivesse ouvido.

–Não sei porque é que achei que não me ias mentir a mim também, –continuou. –Se calhar achei que éramos amigos mas, aparentemente, sou para ti tanto uma ferramenta quanto todos os outros. Só por estarmos aqui presos juntos, isso não quer dizer nada, não é?

–Eu não sei o que é que queres que eu diga! –gritou ela, o mais alto que a garganta embargada lhe deixava. –Que tinhas razão? Isso já tu sabes! Eu prometo que não vou magoar a Anastácia, não quero saber se a proteges! Eu prometo que não vou magoar mais ninguém. Eu só... eu só...

Fechou a pálpebras com força, focando-se nas luzinhas coloridas que lhe apareciam quando fazia isso em vez de nas lágrimas que lhe escapavam pelos olhos, pelo nariz, garganta abaixo. Ela só o quê? Tinha ido longe demais? Arrependia-se do que tinha feito? Era orgulhosa demais para o admitir, nem sequer para si própria.

Não. Ela só não queria magoar ninguém. Já nem sequer queria ir embora. Porque é que teria direito a isso, depois de tudo o que fez?

Harlan avançou devagar na sua direção. –Érica? –perguntou, suave, numa voz tão leve que o vento não demorou a levar para longe. Pousou uma mão etérea sobre o ombro dela, e Érica afastou-se logo.

–Vai ficar tudo bem, –mentiu para si mesma. –Vai ficar tudo bem, –repetiu, mais alto, para que ele a ouvisse.

–Não podes prometer isso!

Ela abanou a cabeça com força. –O ano vai acabar, eles vão-se todos embora, e vai voltar tudo ao normal. Vai ficar tudo... –hesitou. Se o normal fosse bom, ela nunca teria feito nada daquilo.

Harlan rodeou-a, ajoelhando-se no chão mesmo em frente a ela para a olhar. Érica desviou a cara. A chuva lavava as lágrimas e escondia-a relativamente bem, mas ela não queria arriscar.

–Eu vou convencer Anastácia de que está errada. Tu vais conseguir fazer o ritual, e vais-te embora. É isso que queres, não é?

Ela soluçou. Talvez? Na realidade, o que queria mesmo era algo que não podia ter. Queria que o tempo voltasse atrás, antes de tudo aquilo acontecer, antes de a reencarnada a querer morta, antes de Harlan a odiar, antes de as coisas ficarem todas tão complicadas e sem sentido.

Acenou com a cabeça.

Harlan levantou-se, sacudiu as mãos e a roupa —mesmo elas não tendo tocado em nada, etéreo como estava— e deu um aceno resoluto. –Tenho muita coisa para resolver. Só... tenta não tornar tudo pior ainda.

Ela olhou diretamente para ele pela primeira vez em toda aquela conversa. –Harlan, –chamou, antes que ele a pudesse abandonar sozinha ali. –Achas que alguma vez me poderás perdoar?

–Pelo livro? –Ele soltou uma risada seca, e voltou a pontapear o manuscrito. –Não faço ideia. Neste momento, estou mais chateado comigo por ter caído na lengalenga. Devia conhecer-te melhor. Devia saber que mentir está na tua natureza.

Bem, aquilo não a fazia sentir melhor.

–Por tudo, –pediu ela. –Arrastei-te para isto. Tu só querias... se não fosse eu, tu se calhar nem sequer estarias morto!

Ele riu-se. –Passou tanto tempo, que tenho quase a certeza que estaria, sim! –Mas depois olhou para ela, que ainda chorava baixinho, e o humor que tinha na faze foi substituído por um olhar de pena. Aproximou-se um pouco. –Oh, Érica... É sobre isso?

Ela voltou a desviar o olhar, receosa, mas Harlan não aceitou isso e voltou a pôr-se em frente a seus olhos. Érica fechou-os, mas acenou que sim com a cabeça.

–É por isso que queres tanto resolver a situação, arranjar uma solução qualquer? Porque achas que a culpa é tua?

Ela voltou a acenar com a cabeça, com mais vigor desta ve .

–Oh, Érica...

Harlan sentou-se a seu lado, flutuando um quase nada sobre o chão. Virou a face para o céu, onde as nuvens se começavam aos poucos a abrir, gota a gorda gota. Depois do que pareceu um longo silêncio, falou.

–Eu não acho que a culpa seja tua.

–Não importa o que achas, –retorquiu Érica. –Contra factos não há argumentos.

Ele abanou a cabeça. –Tu queres sempre tomar o controlo de tudo, não é? Ficou pior depois do acidente, mas...

–Não foi acidente nenhum! –guinchou ela. –Nós morremos, Harlan.

–Foi um acidente sim. Não podias prever que Arabela ia tirar a mão. E, além disso, qualquer um de nós podia ter desistido bem antes de isso acontecer. Tu podias não a ter convencido a juntar-se, ela podia não te ter incitado a fazer magia, eu podia não ter encontrado o livro... As coisas acontecem, Érica. E já era mais que tempo que tu fizesses a tua paz com isso.

Estava ainda mais frio do que antes, mas a chuva começava finalmente a abrandar. O vento cortava, forte, lançando lama e água sobre ela. Se ainda houvesse alguma esperança de salvar o velho livro, tinha agora sido apagada.

–Nada disso desculpa o que fizeste, –continuou ele, voltando à sua voz mais séria, olhando os restos mortais do velho manuscrito com nojo. –Nem a mim, nem aos colegas, nem à Anastácia. Quero lá saber se está ligada a Arabela ou alguma coisa do género; está inocente, e não é por tu a teres arrastado para isto que ela merece ser magoada.

Érica demorou até concordar. –Eu sei. Eu só... –um olhar irritado de Harlan parou-lhe esse pensamento. –Eu prometo.

–Ótimo.

–Eu vou resolver isto. Eu consigo resolver isto, –repetiu ela, mais para si do que para ele. Isso não evitou que os olhos lhe continuassem húmidos. –Só...

A lua conseguiu finalmente quebrar o cobertor de escuridão para se mostrar, delicada, detrás das nuvens. Érica olhou para ele, procurando cruzar os seus olhares.

–Desculpa.

Ele nem hesitou a abraçá-la, a fazer-se todo físico, mesmo sob o frio e o molhado da noite para a amarrar entre os braços e a forçar contra si.

Agora que a chuva acalmava, era-lhe mais e mais difícil esconder as lágrimas.

–Eu só... eu só não te quero perder por causa das asneiras todas que fiz. E eu sei que me odeias, e...

–Eu não te odeio, Érica. –Ele afastou-se um pouco, segurando-lhe os ombros que tremiam de soluços e de choro, olhando-a nos olhos inchados. –Eu estou chateado contigo; estou irritado e farto de te aturar, mas não te odeio. Acho que não conseguiria, nem que quisesse. Felizmente para ambos, nem sequer quero tentar.

Ela, mesmo no meio do choro, não pode evitar sorrir.

–Tu criaste uma confusão dos diabos, e tens cá uma sorte para eu estar cá para te ajudar a resolvê-la.

–Eu sei.

Ele sorriu também. –Ficas-me a dever.

–Tira da minha conta.

Harlan riu-se. Levantou-se e fez-se etéreo, sacudindo a roupa a que a terra física tinha tanta dificuldade em se agarrar. Depois, virou-se e deixou-lhe um beijinho na testa.

–Vê se te acalmas, –explicou. –Temos muito que discutir depois, mas eu não te gosto de ver chorar.

Érica fez o melhor para secar as lágrimas. –Desculpa.

–Não por isso. Por isto, –disse ele, voltando a pontapear o que um dia tinha sido um livro.

E só depois se foi embora, deixando Érica sozinha com os sons da noite, o cheiro de relva húmida e o brilho crescente da lua que, aos poucos, brilhava mais e mais por entre as nuvens vazias.

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