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Capítulo 2

Estavam encostados num canto do sótão, porque ela tinha-se visto forçada a ir buscar aqueles velhos livros que tinha escondido ali há décadas. As obras não tinham tocado lá em cima e, tanto quanto ela sabia, aquele sítio era o lugar perfeito onde se esconder enquanto discutia com Harlan.

–Como é que conseguiste esconder estes livros? –perguntou ele, pegando num particularmente velho com cuidado para que a capa não se lhe descolasse da espinha. –Pensava que os tinha apanhado a todos.

–Apanhaste muitos deles, Harlan, e ainda bem que decidi salvar estes, ou não teria forma nenhuma de trabalhar neste problema. Não te preocupes que ninguém os encontrou.

Érica estava sentada no chão de madeira, tentando não o deixar chiar enquanto se inclinava sobre os velhos livros que tinha estendidos a toda a sua volta. Estavam escritos em línguas diferentes, uns manuscritos medievais, outros livros impressos mais modernos, e uma quantidade surpreendente de cadernos com notas escritas à mão por todo o tipo de pessoas diferentes. Tinham todos as páginas amareladas, as cores desbotadas e as capas gastas pelo tempo, mas as palavras ainda estavam quase todas intactas e, para ela, era só mesmo isso que importava.

Harlan encolheu os ombros, sentando-se à beira dela e começando a folhear os livros que ela tinha empilhado num monte, à espera de serem vistos.

–Vais-me dizer do que é que estás à procura?

–De alguma coisa que me explique o que raio está a acontecer.

–Como por exemplo...

Ela suspirou. –Sei lá, Harlan. Algo que mostre que aquilo que eu sei que é verdade já aconteceu antes?

Harlan bateu a capa do livro que estava a ver, revirando os olhos. –Reencarnação não é real, Érica. É impossível que aquela seja a Arabela, todo este tempo depois.

–Sabes lá! –Ela desviou o livro que tinha estado à sua frente, fechando-o e pousando-o no monte à sua esquerda para depois não se esquecer que já o tinha visto. –Poderá haver qualquer outra razão para ela estar assim marcada?

–Talvez aquilo seja só uma marca de nascença.

–Era uma pergunta retórica, Harlan.

Mas ele tinha alguma razão. Ela não fazia ideia do que estava à procura e, mesmo se estivesse certa, nada lhe garantia que a resposta para a sua pergunta estivesse naqueles livros ou, inferno, em nenhum sítio sequer! A morte de Arabela não tinha sido propriamente um acontecimento comum. De todas as pessoas que podiam ter aparecido naquela escola, tinha mesmo que ser a assassina de Érica uma das suas novas colegas de turma?

Harlan tocou-lhe na mão para a impedir de abrir o livro seguinte, virando-se para a olhar mais de frente. Ela parou, mesmo que por um momento apenas. Os olhos, que pareciam tão pequenos atrás dos grandes óculos redondos, miravam-na diretamente, tentando forçá-la a focar-se em algo que não fosse a necessidade de encontrar respostas. Ela arrancou a mão debaixo da dele, mas deixou-o pegar no livro. Exalou, frustrada.

–Isto é tão frustrante! –disse, deixando-se cair para trás para se deitar sobre a madeira fria do chão. –Se ela, depois de nos ter matado, tiver conseguido chegar mais perto daquilo que nós queríamos do que nós, eu juro que vou encontrar cada uma das reencarnações dela e...

–Érica! –interrompeu ele. Ela praguejou, mas não continuou o que estava a dizer enquanto Harlan empurrava livros para se poder deitar a seu lado. –Primeiro, ela não nos matou. Seria mais justo dizer que causou a nossa morte, certo? –Não lhe deu tempo de responder. –E segundo... Arabela está morta, Érica. Ambos vimos o que aconteceu. Encontraram o corpo e tudo. Depois deste tempo todo, ela não passa de um esqueleto enterrado num qualquer cemitério, se tanto.

–E que o inferno a tenha, –disse ela.

Ouviu-o a sorrir, pelo mais pequeno momento antes de se conseguir controlar.

–O que importa... –Continuou ele, desencostando-se do chão sujo ao se voltar a sentar, desajeitado, entre os montes de livros que ela tinha deixado empilhados. –...é que tu prometeste que ias deixar-te dessa obsessão com ela, Érica.

–Isso foi antes de descobrir que ela conseguia reencarnar, e muito antes de ela voltar a pôr os pés na cena do crime! –disse, sentando-se rápido, sem querer batendo no pequeno monte à sua esquerda dos livros que tinha já lido. –Eu hei de te provar que ela é ela. Vais ver.

–Reencarnação não é real!

Ela revirou-lhe os olhos. –Pois, mas tu és um fantasma condenado a passar a eternidade a assombrar o sítio onde morreste, Harlan. Isso também não era possível de acontecer, dizias tu, na altura!

Ele ficou sem reação.

–O feitiço falhou, óbvio, e falhou redondamente. Mas e se parte dessa magia acabou por mesmo assim surtir efeito? –Inclinou-se sobre o monte de livros, pegando num dos maiores que tinha deixado aberto mesmo à sua frente. –Anastácia tem isto marcado no corpo. A chave da imortalidade, a chave do mundo dos mortos, o que raio é que lhe queiras chamar. E diz que nasceu com ela. Pensa só um bocadinho; só por um momentinho parte do princípio de que eu tenho razão.

Ele deu um aceno seco da cabeça, e ela não pôde evitar sentir-se aliviada ao vê-lo pelo menos tentar.

–Se —e é um grande se— ela tiver mesmo ficado com a Chave ao quebrar o feitiço... não é pelo menos possível que tenha ficado com a capacidade de renascer? De ficar com a maldição de nunca conseguir morrer a sério, como nós, só que de uma maneira diferente?

Harlan demorou a responder. Primeiro pareceu frio, congelado, como se temesse que qualquer movimento pudesse revelar o que realmente lhe ia na mente. Depois deixou os olhos recair sobre o livro que ela tinha aberto sobre o colo, com o mesmo desenho que ambos tinham marcado em cicatrizes no corpo, com o mesmo símbolo que Érica lhe contava que Anastácia tinha também no seu. Os olhos dele acabaram por se virar para dar uma corrida leve sobre as páginas e páginas de livros abertos que Érica tinha deixado desordenadamente à sua volta, para as listas de feitiços e de teoria mágica que tinham aprendido há décadas, antes da sua morte, e da teoria incompleta que os acompanhava. Nunca tinham encontrado respostas conclusivas sobre nada, e ele sabia-o bem. Talvez a resposta daquilo também não estivesse escondida sob todos aqueles textos.

Suspirou. –Admito que é pelo menos possível.

Érica sorriu largo, aliciada por aquela pequena vitória, tentando esconder melhor o seu prazer assim que Harlan lhe mandou aquele olhar reprovador que tanto costumava usar nela.

–Ótimo. Eu vou continuar à procura de respostas no meio destas palavras todas; pode ser que alguma coisa aqui seja útil.

–Se aquilo que propões é verdade... –Ele desviou o olhar, deixando-o prendido numa ilustração desbotada na capa de um caderno fechado. –O que é que vais fazer com isso?

–Arranjar uma solução, –é claro, –respondeu Érica sem sequer hesitar. Voltou a empilhar os livros que achava já ter lido num monte à sua esquerda, antes de virar a sua atenção para aquele que Harlan lhe tinha tirado. –Eu acho que ela é a chave para isto tudo. Foi por causa dela que isto não funcionou da primeira vez, pode ser que seja ela a ter a resposta de como podemos revertê-lo.

–Não estás a pensar fazer o ritual outra vez, pois...

–Não. –Fez um esgar. –Mesmo se estivesse, as instruções já foram destruídas há muito, no meio do resto dos livros que tu queimaste. Ser-me-ia útil agora, mas nem eu sou louca o suficiente para correr o risco de alguém apanhar aquele em específico.

Ele suspirou de alívio. –Ainda bem.

Levantou-se, sacudindo o pó das calças da farda roubada. Érica ergueu os olhos para ele.

–Já vais?

Harlan acenou com a cabeça. –Eu estou bem onde estou. És tu que queres sair daqui, não eu, e honestamente ainda não estou convencido de que a Arabela está de volta, e ainda menos o estou de que vais encontrar as respostas que procuras no meio dessas páginas todas.

Érica fez beicinho. –E é por isso que me vais deixar aqui sozinha à procura de uma qualquer pista? Pensava que gostavas de ler!

Ele riu-se. –Sim, é por isso. E porque quero confirmar se aquilo que estás a dizer sobre a marca que ela tem é mesmo como tu dizes, –admitiu. –Mesmo se tiver, isso não quer dizer que seja mesmo ela, pode só ser mais uma coincidência bizarra daquelas pelos quais costumamos estar assombrados. Quando estiveres satisfeita ou cansada demais para continuar, anda ter à nossa sala. Não faças nenhuma estupidez nem magoes alguém, está certo?

–E tu não queimes estes meus livros quando vires que eu me fui embora! –disse, agarrando o que ainda lia junto ao peito. Isso fê-lo rir.

–Eu perdoo-te o facto de mos teres escondido, certo. Diverte-te com isso, e depois vem ter comigo quando perceberes que estás errada. Como já é costume.

Ela esticou a perna para lhe pontapear a canela, mas ele abandonou a ideia de estar no mundo físico e, quando ela lhe conseguiu acertar, o sapato simplesmente o atravessou sem o magoar. Riram-se os dois.

–Tem juízo.

–Como de costume! –respondeu ela, gozando.

E depois ele saiu, deixando-a sozinha no escuro sótão à procura de, entre aquelas palavras e desenhos que tinha acumulado ao longo do tempo, encontrar algo que a pudesse ajudar. Já os tinha relido vezes e vezes sem conta, mas isso tinha sido há muito tempo atrás, na altura quando ela ainda tinha esperanças de reverter o que lhe tinha acontecido, quando ainda achava que, se se esforçasse o suficiente, seria capaz de voltar à vida. Não tinha morrido de uma forma muito normal, o seu corpo tinha desaparecido quando ela se transformou naquela coisa e, tal como podia flutuar e passar por paredes e escolher reganhar o seu corpo ou partes dele para poder tocar e interagir com o mundo, ela achava que talvez pudesse fazer mais alguma coisa que quebrava as leis da ciência e da lógica para seu proveito. E depois, ao perceber que aquilo lhe seria impossível, nunca foi capaz de largar aquela pontada de esperança.

Era isto que lhe faltava, certo? Com Arabela de volta, com eles os três a estar juntos outra vez, ela poderia finalmente deixar aquela maldita situação em que se tinha metido. Duvidava que Anastácia se lembrasse da sua vida anterior —o único livro que até agora tinha encontrado sobre reencarnação retirava-lhe essa possibilidade— mas isso não a exonerava do que tinha feito. Porque Érica lembrava-se bem, lembrava-se de cada detalhe daquele movimento que tinha feito tudo falhar, que tinha feito a sua alma deixar o seu corpo e a arrastado para aquele ser-não-ser em que estava presa desde aí. E, inferno, como a odiava por isso!

A tarde passou num instante, entre páginas e mais páginas de apontamentos escritos à mão no seu caderno, entre milhares de palavras em que ela lia com todo o afinco sem sequer se conseguir distrair, nem que quisesse. Lia em inglês, em francês, em grego, em latim, em qualquer língua que lhe aparecesse à frente, e nem sempre se dava ao trabalho de os traduzir para as notas que tomava, demasiado distraída pelas possibilidades. Magia podia ser algo próximo de uma ciência, mas eles eram pioneiros no que estavam a fazer e não havia livros escritos que pudessem usar com a certeza de que estariam certos. Mesmo se assim não fosse, perceber a teoria era só metade do problema, porque aquela magia precisava de vida para funcionar, e, graças a Arabela/Anastácia, ela já não tinha isso. A sua mente só se acalmou, já bem depois de o sol se ter posto e de ela ter de acender uma lanterna para conseguir sequer ler o que escrevia, quando ela conseguiu ter uma teoria formada sobre o que tinha acontecido. Finalmente.

A manhã chegou rápido. Não tinha necessidade de dormir —o que era ótimo, visto o que via de cada vez que chegava perto disso— e não estava particularmente cansada, mas os livros já tinham deixado de lhe captar a atenção e ela agora precisava de ponderar, não de ler mais coisas. Suspirou e, invisível e etérea, deixou-se cair através do chão.

Não pôde evitar passar pelos dormitórios, transparente e etérea, atravessando chão e paredes para procurar o sítio onde Anastácia dormia.

Parecia tão inocente! Quem a visse nunca adivinharia que era a reencarnação de um monstro, uma assassina. Respirava lenta e profundamente, tremendo de vez em quando como que presa num pesadelo. Seria errado se Érica admitisse que gostava de a ver incomodada? Se não fosse por ela, não estaria presa para assombrar a escola para toda a eternidade. Estaria viva ou, se o feitiço mesmo assim não tivesse funcionado, teria pelo menos morrido em condições. Tudo por causa dela.

Só voltou para a salinha do costume quando o sol já começava a nascer.

–Demoraste, –disse Harlan.

Ela encolheu os ombros. –Encontraste alguma coisa?

Ele pousou a caneta, pousando os papéis na mesinha de apoio para disfarçar a pequena hesitação. Depois acenou com a cabeça.

–E tu, descobriste alguma coisa?

Ela atirou-se sobre a sua velha poltrona, aquela que ficava encostada à outra parede em frente à dele e que estava mil vezes menos gasta. Exalou um suspiro.

–Tenho ideias, mas nada de concreto.

Ele baixou os olhos, gentil e amedrontado. –Eu não sei se é boa ideia voltares a mexer com isso, Érica. Mesmo que tenhas razão. Estamos bem como estamos, não é? Eu cá não quero ficar ainda pior do que estou. Não vale a pena correr esse risco.

–Talvez para ti não, Harlan, mas para mim sim.

Ele ergueu uma sobrancelha. –Não acredito que sejas capaz de fazer seja o que for sem mim. Duvido que consigas resolver isto sem me envolver de alguma forma. Céus, e duvido que isto seja sequer possível de resolver!

Érica soltou uma risada seca, sem qualquer tipo de humor, e deixou-se escorregar pela poltrona abaixo. Harlan tinha assim tão pouca fé nela? Eu tinha só medo do que podia acontecer no caso de ela ter sucesso?

–Eu sei que achas. Mas eu vou provar que estás errado.

Ele abanou a cabeça, mas não disse mais nada. Ela deixou que o silêncio os envolvesse, que a brisa que enchia o ar lá fora lhes começasse a trazer os sons da madrugada, dos pássaros que acordavam e da água do riacho. Fechou os olhos, imaginando o calor do sol na face e sentindo o bater do seu falso coração, ouvindo o riscar insistente de Harlan que voltara a escrever, tentando descansar a mente cansada de tanto pensar.

Se havia alguma solução, qualquer solução, ela ia encontrá-la. Independente do que tivesse de fazer para isso.

A campainha da escola tocou algum tempo depois, indicando aos alunos internos que era hora de acordar e começar o dia. Érica levantou-se, espreguiçando-se toda.

–Vens às aulas, hoje? –perguntou a meio de um bocejo.

Harlan acabou por acenar com a cabeça. –Nem penses que te vou deixar ir sozinha, porque não confio que não vás acabar por fazer algo de estúpido.

Érica riu-se. –Não esperava menos de ti! Vamos, então? O pequeno-almoço já deve estar a ser servido, e convém que ponhamos a conversa em dia antes das aulas começarem em pleno.

Ele encolheu os ombros, pousando aquilo em que trabalhava. –Desde que não me obrigues a comer, está certo.

Desceram para a cantina discretos, lado a lado, fingindo que tinham acabado de cruzar os portões da escola e que tinham ido passar a noite a casa, não acordados no sótão da escola. Quanto mais normais parecessem, melhor. Quando lá chegaram, as mesas ainda estavam bem vazias, sendo que apenas os alunos mais madrugadores já tinham vindo para ali. O ar cheirava a bacon e ovos, a chá acabado de fazer e àquele odor nauseabundo e doce de feijões em lata. Havia uma pequena fila para ser servido, mas nenhum deles queria comer e, ao verem que Anastácia já lá estava sentada, foram arranjar lugar para a mesa dela.

–Bom dia, –cumprimentou Érica.

–Bom dia, –respondeu ela com um grande sorriso na cara, juntamente com o loirinho rico da turma, que estava sentado frente a ela na pequena mesa redonda.

–Ainda não nos conhecemos, pois não? Eu sou a Érica, e este é o Harlan.

Harlan apenas deu um aceno de cabeça em forma de cumprimento, e o loirinho sorriu para os dois.

–Prazer! O meu nome é Eduardo Arison –disse ele, como se aquele apelido lhes devesse lembrar de alguma coisa. Quando reparou que esse não era o caso, aclarou a garganta. –Não vos vi ontem à tarde.

–Isso é porque eles são externos, –explicou Anastácia.

Eduardo fungou. –Então enquanto nós estamos presos aqui dentro, eles podem ir para onde quiserem, é? – Quer Érica quer Harlan precisaram de conter o riso. –O que é que há de engraçado nisso? E porque é que estão na escola tão cedo?

–Não é como se tivéssemos outro sítio para onde ir, –justificou-se Érica. –E é bem mais fácil vir para cá de manhazinha que, independentemente de quão chique o automóvel for, é chato estar presa no trânsito.

–De que serve ter um Ferrari quando não se lhe pode aproveitar a velocidade? –riu-se Eduardo.

Mas as atenções deixaram a completa snobidade daquele comentário para se virarem para a moça que tinha acabado de puxar a cadeira para se sentar, pousando a tabuleiro com o pequeno-almoço na mesa no meio de um enorme bocejo. Ela Alma, e ainda estava de pijama e com o cabelo envolto numa daquelas toucas de tecido brilhante. Não parecia minimamente importada com o facto de eles estarem todos a olhar para ela.

–Este lugar está livre, certo? –perguntou, começando a cortar a omelete para a enfiar à boca em grandes garfadas. –É que nem pensem que eu me vou sentar com os miudinhos.

–Estás de pijama, –disse Eduardo, acusador. Claro que ele estava imaculadamente vestido e penteado, como se tivesse vindo para ali ter um jantar de gala, não para tomar o pequeno-almoço com os colegas de turma.

Alma encolheu os ombros, despreocupada. –Se eles me vão acordar à maldita hora das sete da manhã, sabendo que as aulas só começam às oito e que as salas ficam literalmente no mesmo edifício, eu vou pelo menos comer primeiro.

Érica sorriu.

–Sim, mas estás de pijama. Num lugar público!

–Tecnicamente estou de pijama na minha própria casa. O facto de haver mais uma centena de pessoas a viver aqui comigo não é problema meu.

Mas a atenção de Érica já não estava na discussão, independentemente do quão entretida ela estivesse a ser. Estava na conversa que Harlan sussurrava com Anastácia, na forma como eles se pareciam estar a dar bem e na raiva que isso lhe causava. Tudo bem se ele não acreditasse em reencarnação nem em tudo isso, mas isso não desculpava o facto de estar a falar com alguém que devia ser seu inimigo, que era uma antagonista na história de eles os dois, que os tinha assassinado! Se ele se fosse apaixonar por Arabela outra vez, Érica não fazia ideia do que lhe ia fazer, a sério!

Claro que ele reparou que ela estava a olhar, e, quando Érica lhe estreitou os olhos em ameaça, ele deixou que as sobrancelhas descessem numa face de irritação, mas depois continuou a conversa. Anastácia nem sequer parecia ter reparado.

–Alguém prestou atenção ontem? Para que sala temos de ir? –perguntou Érica a ninguém em particular.

Eduardo parou de discutir com Alma e, virando-se para Érica, encolheu os ombros. –Não faço a mínima. Não prestei atenção.

–O professor Goddard —perdão, doutor!— é tão aborrecido que é mesmo difícil prestar atenção ao que ele diz.

Anastácia revirou os olhos. –Não é não, vocês é que estavam distraídos! –disse ela, irritada. Depois virou-se para Érica. –A nossa primeira aula é química, no laboratório 2A. Fica...

–Primeiro andar, corredor do lado esquerdo, segunda porta à direita. Obrigada, –disse, ignorando os olhares de confusão dos colegas e de reprimenda de Harlan. –Se bem que vocês também já quase acabaram o pequeno-almoço. Vamos juntos para cima?

–Eu vou-me vestir e vou já ter convosco, –disse Alma, levantando-se da mesa para levar o tabuleiro já mais leve para o sítio.

–Não terias de fazer isso se já estivesses vestida! –bicou Eduardo, virando-se para trás na cadeira para acompanhar o andar dela enquanto se afastava. Alma não o dignou com uma reação, mas Érica riu-se.

Não demorou até que estivessem dentro da sala, um laboratório que alguém irresponsável tinha deixado destrancado. Anastácia estava sentada mesmo na fila da frente, no centro da sala, já com o caderno e os livros abertos e as várias canetas organizadas por cor à sua frente. Harlan tinha ficado a seu lado, e Érica esperava mesmo que fosse simplesmente para conseguir mais informações sobre a reencarnada. Eduardo, por sua vez, tinha-se sentado quase no fundo da sala, encostado à parede recentemente pintada de branco, com a mochila em cima da secretária com o fecho aberto e a deixar cair as coisas cá para fora ao acaso. Márcio, o filho de militares estava sentado atrás dele, conversando com outro colega que Érica ainda não tinha conhecido. Havia mais duas raparigas ali, mais gente que ela não conhecia e que neste momento estava demasiado distraída para conhecer. Alma só chegou à sala mesmo no momento em que a campainha tocou, segundos antes do professor de química que ainda não tinham tido o desprazer de conhecer, e correu logo para o fim da sala, acabando sentada à beira de Eduardo. Érica deixou de andar a pé para trás e para a frente, acabando por montar arraial numa das secretárias que, por a turma deles ser tão pequena, não tinha ninguém sentado perto.

–Os que estão sentados aí atrás, cheguem-se mais para a frente. Há tantos lugares livres! –disse o professor, ignorando o gemer de discórdia que toda a turma lançou de uma vez só.

Certas coisas nunca mudavam.

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