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FRIO GOSTOSO, VILA LAURA, SALVADOR - BA

- Há quanto tempo Lídia Ferreira trabalhava para o senhor?

Mauro e Glória estavam na frente do café interrogando Lucas, o dono dele. O homem parecia meio perdido, como alguém em choque.

- Há quase três anos - ele respondeu.

- Como ela era? - perguntou Mauro.

- Como?

- Que tipo de pessoa ela era?

- Ela era… era uma ótima pessoa, gentil com os clientes e com os colegas, prestativa, bem - humorada. Todo mundo aqui adorava ela.

- Ela sempre cuidava da sua casa lá em cima?

- Não, foi a primeira vez. - Lucas parecia estar se segurando para não chorar.

- Está tudo bem? Podemos lhe dar alguns minutos se o senhor quiser - sugeriu Glória.

- Eu só preciso de um copo d'água.

- Está bem, talvez seja melhor entrarmos e nos sentarmos em algum lugar.

- Obrigado - agradeceu Lucas.

Entraram, sentaram numa mesa num canto afastado e depois de alguns minutos e meio copo d'água Lucas estava mais calmo e os investigadores puderam retomar o interrogatório:

- O senhor parecia gostar muito dela, eram próximos? - perguntou Glória. Lucas hesitou um pouco, mas depois confirmou com a cabeça.

- O quão próximo?

- Éramos namorados há quase um ano.

- Duvidamos de que seja o caso, mas precisamos perguntar, há algum ex inconformado? Algum admirador?

- Não, ninguém. Somos… éramos muito discretos e pouca gente sabia, mas era por causa do trabalho, eu era o chefe dela, podia não pegar bem.

- Como era a relação de vocês?

- Boa.

- Vocês tiveram alguma briga recentemente? Ela já te fez ser um pouco mais… agressivo, algum dia, sem querer?

- Eu nunca levantei a mão para ela e não há matei se é isso que estão pensando - afirmou Lucas irritado.

- Está tudo bem. Como eu disse, precisamos perguntar essas coisas. 

- Algum dos outros funcionários já teve uma reação negativa a respeito do relacionamento de vocês? Ciúmes, reclamar que ela tinha privilégios, por exemplo - inquiriu Mauro.

- Não na minha frente, mas eles não tem motivo, nunca fiz distinção entre eles e Lídia.

- Quantos funcionários trabalham aqui?

- Sete, duas garçonetes, um garçom, um balconista, uma cozinheira, um padeiro e a moça da limpeza.

- Por que o senhor não pagou à moça da limpeza para cuidar da sua casa?

- Eu ia, mas Lídia se ofereceu e era só para dar uma olhada, passar uma vassoura nela um dia ou outro, achei que não tinha problema.

- E a família dela? - questionou Glória.

- Ela é… era de Mairi e não tinha nenhum parente aqui. Veio com uma amiga pra fazer faculdade de Letras, mas logo ela foi morar só. Não tinha muitos amigos também.

- Por que ela deixou a amiga?

- A amiga vivia fazendo festa no apartamento delas, ela não conseguia estudar direito.

- O senhor disse que ela estudava Letras, ela escrevia alguma coisa?

- Era poeta, das boas. - respondou Lucas com um sorriso de admiração estampado no rosto. Depois de uma rápida troca de olhares com seu parceiro Glória perguntou:

- Ela participou de algum concurso recentemente?

- Sim.

- Concurso para publicar um livro?

- Sim - Glória olhou para Mauro novamente e prosseguiu:

- E ela ganhou?

- Sim. O que isso tem a ver com a morte dela?

- Não sabemos, talvez nada. Qual o nome da editora que organizou o concurso? - perguntou Mauro.

- Ãããh… Hora de Escrever.

- Certo. Por enquanto é só Lucas, nós agradecemos a sua ajuda e sentimos muito pela sua perda.

- Vamos fazer o possível para que o responsável por ela pague - concluiu Mauro.

- Me mantenham informado por favor, eu quero entender por que alguém mataria Lídia.

- Veremos o que podemos fazer. O senhor tem o contato da família dela? Vamos precisar.

- Tenho o telefone dos pais dela. Eles me conhecem, será que eu poderia dar essa notícia para eles?

- Tudo bem, daremos um tempo para que o senhor faça isso, depois entraremos em contato com eles.

- Obrigado.

Apertaram - se as mãos e se despediram. Os investigadores conversaram com os funcionários do café, mas nenhum deles sabia nada de Lídia. Deram por encerrado o trabalho ali:

- Temos dois escritores anônimos vencedores de um concurso assassinados e nos dois foram encontrados um bilhete que praticamente descreve a morte deles. Como não acredito em coincidências, acho que foram mortos pelo mesmo assassino - comentou Mauro.

- Será que temos um assassino em série aqui?

- Talvez, precisamos falar com a editora, pode ser que o concurso seja o motivo dessses homicídios.

- Antes, que tal almoçarmos? Luís está me esperando, acho que não vai se importar se você for comigo.

- Hum, ele vai cozinhar?

- Vai.

- É difícil recusar a comida dele.

- Eu sei, mas devo avisar: aquela psicóloga que é irmã dele vai passar uns dias lá em casa e talvez já tenha chegado e almoce com a gente, então esse almoço pode ser meio… turbulento.

- Não se preocupe, permanecerei sentado no meu lugar e com os cintos afivelados. Vamos.

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