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EDITORA HORA DE ESCREVER, PARIPE, SALVADOR - BA
A sede da editora Hora de Escrever ficava num prédio simples de três andares. No primeiro andar ficava uma pequena livraria com um depósito nos fundos; no segundo, um grande salão com várias mesas, ocupadas por funcionários que trabalhavam em silêncio, concentrados na tela do seus computadores, e três salas, incluindo a de reuniões; no terceiro, com vária salas, ficava a administração e foi para lá que Mauro e Glória foram instruídos a ir.
Lá em cima falaram com uma recepcionista que, depois de ligar para a sala da diretora do jornal, Fabiana Mendes, e anunciá - los, indicou a sala na qual deveriam entrar. Depois dos cumprimentos a diretora perguntou:
- Em que posso ser útil investigadores?
- Gostaríamos de algumas informações sobre um concurso que essa editora promoveu recentemente - respondeu Mauro.
- Qual o interesse da polícia nesse concurso?
- Estamos investigando o assassinato de dois dos ganhadores.
- Meu Deus! Eles foram mortos por causa do concurso?
- Talvez não, mas precisamos verificar todas as hipóteses, incluindo essa.
- Sim, entendo. Nosso concurso mais recente foi o Obras-primas. Me acompanhem por favor.
Os investigadores seguiram Fabiana e acabaram por descer ao segundo andar, entraram numa das poucas salas que tinham lá.
- Boa tarde Carla, esses são os investigadores do DHPP, Mauro Souza e Glória Reis. Investigadores essa é a Carla, nossa editora-chefe e quem organizou o concurso Obras-primas, perguntem o que quiserem a ela.
- Para começar queremos os nomes do ganhadores - solicitou Glória.
- Isso pode ser um problema já que alguns usaram pseudônimos.
- Nesse caso, queremos os contato deles.
- Está bem, mas temos apenas o e-mail com o qual eles enviaram seus livros.
- Como funcionou esse concurso?
- Os candidatos enviaram uma sinopse e os três primeiro capítulos do seu livro para um e-mail que criamos só para o concurso. No corpo da mensagem deveriam colocar o título da obra e o nome do autor, que poderia ser o nome verdadeiro deles ou um pseudônimo. Os livros enviados foram divididos em cinco grupos, cada grupo foi enviado a um jurado que leu as sinopses e escolheu as dez que mais lhe agradaram, depois os cinco jurados receberam os capítulos enviados dessas cinquenta obras selecionadas, leram e, em uma reunião que aconteceu aqui na editora, escolheram os cinco vencedores. O resultado foi divulgado no site da editora e também enviamos um e-mail para os vencedores pedindo que eles entrassem em contato conosco. - Carla respondeu enquanto teclava no computador.
- Quantas pessoas se inscreveram?
- Recebemos aproximadamente 3.500 livros no e-mail do concurso.
- Puta merda! - surpreendeu-se Mauro - É muita coisa.
- É sim.
- Quais eram as regras?
- Morar na Bahia, ter no mínimo 16 anos, não ter vínculos com a editora ou com algum funcionário dela, o livro devia estar finalizado, ser autoral e ter no mínimo 100 páginas.
- Tudo normal. Vamos querer também os contatos dos primeiros colocados entre os que não ganharam - pediu Glória.
- Acham que foi algum dos que não foram selecionados? O assassino? - perguntou Fabiana.
- Que assassino? Mataram quem? - perguntou a editora-chefe assustada.
- Dois dos ganhadores do concurso - informou - lhe a diretora da editora.
- Meu Deus!
- Como eu disse, precisamos verificar todas as hipóteses, pode nos passar essa informação? - inquiriu Mauro.
- Que informação? - Perguntou Carla, confusa.
- Os contatos dos primeiros colocados entre os que não ganharam.
- Ah sim... quer dizer, não, só rankeamos os 5 livros ganhadores.
- E se um deles for de desclassificado, como vão ser substituídos? - questionou a investigadora.
- Pedimos a um dos jurados que escolha algum dos livros que sobraram.
- Tá bem, nos dê o contato dos autores dos 50 livros selecionados inicialmente, pode ser?
- Claro. - A editora-chefe pressionou mais algumas teclas do notebook e uma impressora atrás dela cuspiu fora duas folhas que ela pegou e entregou a Mauro, nelas haviam uma lista de nomes, ou pseudônimos, títulos de livros e e-mails. - Aqui está.
- Quem, além da senhora, teria acesso à essa lista? - o investigador questionou-a.
- O Pedro, um dos estagiários que é quase um assistente meu, e o Renan, um dos redatores de notícias do nosso site.
- Vamos precisar falar com eles e com os jurados.
- Os jurados foram mantidos anônimos durante todo o processo e gostariam que continuassem assim - pediu a diretora da editora.
- Sinto muito, mas terão que nos dar os nomes deles.
- Me deixe falar com eles primeiro.
- Está bem, mas não fale nada sobre os assassinatos.
- Certo. Vou até minha sala e no caminho pedirei para que alguém mande o Pedro e o Renan vir aqui.
- Obrigado.
Fabiana saiu da sala e uns quinze minutos depois um ruivo de 1,75m, magro, com a barba aparada e cabelo com um corte da moda entrou, seguido de um moreno alguns centímetros mais baixo e um pouco mais gordo, cabelo cortado muito curto:
- Boa tarde - disseram em coro.
- Investigadores, esses são o Renam e o Pedro - apresentou-os a editora-chefe. - Rapazes esses senhores querem lhes fazer algumas perguntas sobre o concurso.
- Para começar nos digam: quais as atribuições de vocês em relação ao concurso? - questionou Mauro.
- Bem... - responderam juntos.
- O senhor primeiro - pediu Mauro apontando para o estagiário.
- Eu tinha que verificar se as inscrições seguiam todas regras, pra que a nossa editora-chefe pudesse validá-las e enviar os livros para os jurados avaliarem, só. - Mauro olhou para o redator e aguardou, depois de alguns segundos silenciosos o ruivo percebeu que era a sua vez de responder:
- Desculpem. Eu criei o e-mail do concurso, fiz a divulgação dele até o resultado final e enviei os e-mails aos ganhadores, só isso.
- Vocês repassaram ou deram acesso a alguém o conteúdo do e-mail para onde as inscrições foram enviadas? - perguntou Glória.
- Eu não - respondeu Renan.
- Nem eu - afirmou Pedro.
- Há alguma possibilidade dessa conta ou dos seus computadores terem sido raqueados? - questionou.
- Os computadores não, são bem protegidos, mas o e-mail eu não tenho certeza, posso mandar nosso técnico verificar se quiserem - respondeu a editora-chefe.
- Não será necessário, alguém do DHPP fará isso.
- Algum do vencedores já respondeu aos e-mails? - perguntou o investigador.
- Não - respondeu o redator.
- A quantos dias eles foram enviados?
- No dia do resultado, seis dias atrás.
- Um dia antes da primeira morte - Mauro pensou alto.
- Alguém já deveria ter respondido - insistiu Glória.
- As pessoas não olham muito seus e-mails.
- Eles devem estar acompanhando o concurso e já devem saber que ganharam e imaginar que vocês entraram em contato, deveriam olhá-lo, não?
- Deveriam.
- Está bem, um policial vai vir buscar seus computadores para serem analisados... - a investigadora pensou por alguns segundos e completou - o nosso técnico vai ligar para cá pedindo o endereço e a senha do e-mail, o nome dele é Renato. Por enquanto é só isso. Obrigada. - Mauro olhou-a de olhos arregalados, não acreditava no que ela havia acabado de dizer.
Quando já estavam fora da editora Mauro soltou:
- Porra Glória, o que é que foi aquilo? Que história é essa de técnico chamado Renato?
- Precisamos revirar aquele e-mail pelo avesso, é a única forma de encontrarmos os outros ganhadores. Além do mais, é muito estranho que ninguém tenha respondido à editora.
- Eu sei e concordo com você, mas o Renato não é nosso técnico.
- Não se preocupe, vamos pedir um mandado para os computadores e os e-mails da editora, os nossos técnico irão analisá-los. Tudo como manda a lei.
- Então pra que diabos você vai envolver o Renato? Não é isso que manda a lei.
- Por que ele é melhor do que qualquer dos nossos técnicos Mauro, aquele e-mail tem que dá algum resultado e ninguém vai saber que o seu irmão remexeu nele.
- Ah é investigadora, e como vamos explicar como conseguimos as informações que o Renato possa conseguir, no relatório da investigação.
- Vamos dizer a verdade, que tivemos um colaborador.
- Que é acusado de cumplicidade num roubo online.
- Até o fim dessa investigação ele já terá sido inocentado e não tem problema nenhum em ter um colaborador, desde que não se forneçam informações confidenciais a ele sem autorização judicial, você sabe disso.
- É arriscado.
- Ele já está fazendo buscas para a gente, esqueceu? Uma a mais ou a menos não fará diferença. - Glória pegou seu celular e ia fazer a chamada quando Mauro segurou sua mão.
- Fará sim - ele resmungou.
- Me solta Mauro, eu vou ligar sim.
- Ô mulher teimosa viu?! - Gloria sorriu vitoriosa, ligou para Renato e quando ele atendeu, disse o que queria que ele fizesse. Sua intuição lhe dizia que era a coisa certa a se fazer, que eles estavam no caminho certo, e ela raramente falhava.
***
RESIDÊNCIA DE MAURO, COSTA AZUL, SALVADOR - BA
O dia não fora tão cansativo, mas tudo o que Mauro queria naquele momento era banho, comida e cama, principalmente cama. Quando ele chegou junto à porta do seu apartamento percebeu que havia algo errado, o som de algo de vidro caindo e se despedaçando veio de lá de dentro, instintivamente ele levou a mão à sua cintura, mas estava sem a arma, não podia usá - la fora de serviço.
Mauro olhou à sua volta, viu uma vassoura num canto, pegou - a, encostou -se na parede e, o mais devagar que pode, abriu a porta, nada aconteceu, ele esperou mais alguns segundos, entrou sem fazer barulho e… encontrou Renato recolhendo cacos de um copo de vidro no chão da sua sala.
- O que foi? - perguntou Renato diante do olhar zangado de seu irmão gêmeo.
- Ouvi um barulho e pensei que alguém tivesse invadido meu apê - Mauro resmungou largando a vassoura do lado de fora.
- E achou que umas vassouradas resolveriam - Renato riu.
- Que diabos você está fazendo aqui?
- Senti saudade.
- E o que mais?
- Não, é sério, foi bom passar uns dias com nossos pais, mas eles já estavam me sufocando, senti saudade da liberdade e da privacidade que eu tenho aqui, de você também, um tiquinho.
- Está bem. Já que está aqui, algum resultado daquelas pesquisas que pedimos?
- Sim, ãh… sobre os comentários no site de Cláudio Nunes - disse, teclando em seu notebook rapidamente -, eu usei um aplicativo meu de buscas que procura por palavras chaves, tentei várias relacionadas à violência, mas nenhuma apareceu nos comentários, só nos textos que ele escreveu, sem ameças. Sobre o texto do bilhete, só encontrei no site mesmo, se foi plageado a fonte original não está na internet e sobre o e-mail da editora, já peguei com eles e estava trabalhando nele quando derrubei meu suco sem querer - completou olhando para o local onde o copo se espatifara.
- Pois continue. - Mauro fez menção de ir para seu quarto, mas Renato o impediu:
- Qual a hipótese de vocês?
- Não posso falar sobre uma investigação em andamento.
- Vamos Maurinho, vai me ajudar saber mais.
Mauro olhou para o irmão por alguns segundos, eram idênticos, exceto que ele tinha uma pequena mancha marrom abaixo do olho direito e não tinha os músculos que Mauro tinha, e pensou, não queria envolvê - lo ainda mais, mas Glória estava duplamente certa, agora não faria diferença e Renato era o melhor programador que conheciam.
- Cinco escritores desconhecidos ganharam um concurso dessa editora, dois foram assassinados após a divulgação do resultado e nenhum deles retornou o e-mail comunicando-os do resultado. O que você acha?
- Acho que alguém não sabe perder.
- Sua missão é descobrir se esse e-mail foi rakeado e quem são os outros três ganhadores.
- A editora não disse?
- Na verdade quem ganhou foram os livros e não os autores deles, a editora só tem os e-mails com os quais os livros foram enviados e o nome de seus autores, que podem ser pseudônimos.
- Entendi. Mãos à obra!
Mauro o deixou trabalhando e foi para o quarto desejando tomar um banho, enquanto abria a porta ouviu seu irmão assoviar e sorriu discretamente, sentira falta dele também.
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