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DHPP, PITUBA, SALVADOR - BA
Mauro chegou no DHPP(Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) ensopado de suor. Não morava muito longe dali, por isso fazia o percurso casa - trabalho e vice-e-versa a pé, foi a forma que encontrara de manter a forma física. Tinha o corpo atlético, com 1,85m e 92kg de puro músculos, conquistado nos 10 anos em que trabalhara como policial militar, mas nos últimos 3 anos, quando deixou a PM e entrou para a polícia civil como investigador do DHPP, tinha sido difícil mantê-lo. Dizia para si mesmo que era falta de tempo, mas, no fundo, sabia que era falta de vontade também.
Sua vida estava um bagunça, no último ano passara por um divórcio complicado, que só não fora pior por que não tiveram filhos, e agora sua chefe estava de olho nele por sua atitude durante uma investigação (batera num suspeito de pedofilia quando ele disse que as crianças pediram para serem abusadas e ele só as obedeceu). Era um homem de pavio curto e já tinha tido outros incidentes como esse, mas a chefe não toleraria mais nenhum.
Mauro foi ao banheiro, trocou de roupa e ia para a sua sala quando ouviu alguém chamar seu nome:
- Mauro!
O investigador reconheceu a voz antes mesmo de ver quem era. Glória tinha 1,60 e um corpo delineado de dar inveja em qualquer mulher, era negra, muito inteligente e bem humorada, seu oposto total. Eram parceiros de trabalho a 2 anos e ele a conhecia o suficiente para saber que aquele tom de voz não prenunciava nada de bom.
- Tô aqui, o que é que foi?
- Acharam um corpo num apartamento do Edifício Brisa das Árvores, no Caminho das Árvores - informou Glória.
- Mas nem bem eu chego, já tenho que sair de novo?!
- Dê graças a Deus por ter que sair agora.
- Por quê?
- O advogado daquele cara lá que você deu umas porradas tá te acusando de agressão e pedindo pro caso ser todo revisto, ele diz que você não tinha condições psicológicas para comandar aquela investigação.
- Filho da mãe!
- A chefa tá doida pra falar com você.
- Vamos logo antes que ela apareça - disse Mauro, zangado, indo em direção à saída. Glória o acompanhou, achando graça da atitude do parceiro. Os dois entraram numa viatura imaginando que um corpo, num edifício, em um dos bairros nobres da capital baiana só podia ser suicídio, crime passional, vingança ou um assalto que dera errado, de qualquer forma seria um caso simples de resolver. Não poderiam estar mais enganados.
***
EDIFÍCIO BRISA DAS ÁRVORES, CAMINHO DAS ÁRVORES, SALVADOR - BA
Havia tantos carros em frente ao edifício Brisa da Árvores que tiveram que estacionar mais à frente, em sua maioria eram viaturas da polícia. Os moradores e os curiosos já se aglomeravam por fora e por dentro do edifício querendo saber o que estava acontecendo, mas eram mantidos pelas polícias civil e militar, a muito custo, fora do 5°andar, onde ficava o apartamento no qual se encontrava o corpo.
O apartamento era pequeno, moderno com dois quartos, uma cozinha e uma sala, onde, pendurado em uma corda estava a vítima, enforcada, rodeada e analisada por peritos da polícia técnica e pelo médico legista.
- Suicídio? - perguntou Mauro, mostrando o distintivo de investigador.
- Temos quase certeza que não. Respondeu um dos peritos.
- Por quê? - perguntou Glória.
- Tudo no que ele podia ter subido para amarrar a corda, colocar no pescoço e pular está longe dele, a menos que ele tenha voado até lá em cima, alguém o colocou lá, diferente dele o assassino poderia ter movido o objeto que usou para subir depois de enforcá - lo.
- Não faria mais sentido se o assassino deixasse, sei lá, uma cadeira por exemplo embaixo desse homem pra fazer parecer suicídio?
- Talvez ele não se importasse com o que iam pensar, só queria matá-lo.
- Seria mais fácil dar um tiro nele ou esfaqueá - lo - falou Mauro.
- Seria.
- Já sabem quem é o coitado? - questionou Glória.
- Cláudio Nunes, dono e único morador do apartamento.
- A porta foi arrombada? - questionou Mauro.
- Há vários arranhões na fechadura, no lado de fora, ele pode ter forçado ela até abrí - la.
- Algo foi roubado?
- Não dá pra saber, mas nada parece ter sido mexido.
- Quem o encontrou? - perguntou Glória.
- Os vizinhos reclamaram dos latidos do cachorro da vítima, o síndico interfonou, mas ninguém atendeu, então ele veio, bateu na porta e como continuou sem resposta abriu com sua cópia da chave e deu de cara com essa vista, chamou a polícia na mesma hora.
Fizeram mais algumas perguntas, agradeceram ao perito e foram falar com o médico legista, nesse meio tempo haviam descido o corpo ao chão:
- Alguma ideia do que aconteceu com esse sujeito, doutor? - perguntou Mauro ao médico legista.
- Não, mas tenho uma teoria - Respondeu o médico legista.
- Conte - nos - pediu Glória.
- Há sangue na nuca dele, o assassino deve ter batido nele, ele desmaiou, o assassino o pendurou na corda e o soltou para morte, ele pode ter acordado nessa hora e se debatido um pouco, mas não adiantou muito.
- Misericórdia! - exclamou Glória.
- Então temos um assassinato mesmo? - perguntou Mauro.
- Parece.
- Hora da morte? - perguntou Glória.
- Por volta das 10 da noite.
Glória observava o médico legista apalpar o corpo em busca de mais ferimentos quando notou algo saindo do bolso da calça da vítima.
- Doutor há algo no bolso dele, posso pegá-lo?
- Pode. - Com a mão devidamente enluvada, Glória pegou o objeto, era um pedaço de papel com algo escrito que ela leu em voz alta:
"Levaram - no para um palco rodeado por uma multidão, colocaram uma corda em seu pescoço e lhe perguntaram:
- Quais são suas últimas palavras? - Ele permaneceu em silêncio. Abriram o alçapão e ele mergulhou para a morte levando a verdade consigo."
- Parece uma narração da morte dele, que coisa estranha - opinou Glória.
- Parece que ele era escritor, talvez seja algo que ele escreveu - disse o médico legista.
- Manda pro departamento técnico para procurarem digitais ou DNA - disse Mauro. Glória entregou a um dos peritos para que levasse para analisá - lo.
Se despediram do médico legista e saíram do apartamento. Conversaram com alguns vizinhos, com o porteiro e com o síndico, mas Cláudio morava ali a poucos meses, ninguém o conhecia, só sabiam que ele morava só e que nunca levou ninguém ao seu apartamento.
***
DHPP, PITUBA, SALVADOR - BA
Voltaram para o DHPP e enquanto aguardavam a família de Cláudio chegar para depor, conversaram sobre o caso:
- Então, o que acha? - perguntou Glória a Mauro.
- Não sei, não temos muita coisa ainda.
- Bom, temos um homem enforcado em seu próprio apartamento, um assassinato. Tinha, 32 anos, aparentemente vivia sozinho, talvez fosse escritor. A fechadura foi forçada. E temos um papel com um texto escrito que fala de um homem que foi enforcado.
- O papel provavelmente não é nada. Como eu disse, não temos muita coisa.
- Seria muita coincidência matarem ele enforcado com um papel no bolso que quase relata como ele morreu, não acha?
- Você quer dizer o quê? Que o assassino colocou aquele papel lá?
- Talvez.
- Pra quê?
- Não sei, talvez o texto do papel seja parte de alguma história que o Cláudio plagiou do assassino, que resolveu se vingar.
- É possível, mas por que imitar a morte da história? Se queria matá - lo por que não esfaqueado ou baleado, que era mais simples?
- O assassino deve ser meio pirado das ideias.
- Se foi por plágio ele também é escritor e se é escritor deve viver no mundo da lua mesmo, mas eu não consigo acreditar na ideia da imitação.
- Por quê?
- Fantasioso demais, na vida real essas coisas não acontecem...
- Glória, Mauro - interrompeu um policial - os pais de Cláudio Nunes chegaram. Estão esperando vocês na sala de interrogatório.
- Ok - disse Mauro - hora de encontrar algumas respostas.
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