Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

✥| Capítulo 8 - Final | ✥

|VIII|

Kim Seokjin piscou na direção de Taehyung, repassando suas palavras e o movimento de seus lábios enquanto as proferia. Ficou estático — ou quase isso, já que tremia muito — enquanto refletia se o que o imortal havia dito poderia ser algum tipo de piada sem graça.

— O-o quê? — Nessa hora, ele tinha certeza de que seus pulmões estariam tendo dificuldade em respirar, se ainda vivesse. — Transformar-me num de vocês? Isso por acaso é um jogo seu?

Taehyung ficou tenso diante da desconfiança, mas não parecia surpreso com ela.

— Morpheus é um lugar vivo. Não vivo como você e eu já fomos algum dia, mas ele se alimenta e cresce cada vez que faz isso. Mitam é uma parte dele, como uma hospedeira que age para protegê-lo e torná-lo mais forte. Sendo assim, existem poucas ocasiões em que a área mais sensível e vital deste lugar é exposta, ficando completamente vulnerável, e uma delas é quando ele escolhe um humano para ser seu novo filho. — O imortal se aproximou alguns centímetros de Seokjin, pois precisava diminuir seu tom de voz dali por diante. — O ritual de transformação se resume em você aceitar a verdade sobre este lugar e escolher a imortalidade, não importando o que tenha que fazer para continuar como um de nós. Depois de convencer Mitam de seus objetivos, ela o levará ao centro do reino, no subterrâneo, onde Morpheus devora os corpos...

Taehyung comprimiu os lábios, deixando óbvio que odiava citar aqueles detalhes. Ao seu lado, Seokjin novamente imaginou que precisava vomitar.

— Lá embaixo existe algo muito parecido com um coração gigante. Uma concha de vidro que pulsa e queima. Para completar o ritual, você terá que andar até ela e beber do líquido que escorre de sua superfície. Entretanto — o imortal ergueu um dedo —, no lugar de fazer isso, para Morpheus ser destruído, você deverá quebrar o vidro principal da concha. É onde ele guarda a vitalidade que devorou desde sua criação.

O humano processou aquela explicação com um olhar preso no céu do Reino dos Sonhos. A névoa roxa e brilhante também já começava a se dissipar, dando lugar a um véu sombrio com estrelas opacas. Em breve todo aquele lugar seria apenas um grande pesadelo.

— O que pode acontecer se esse plano não der certo? — perguntou, engolindo em seco.

— Então seremos devorados. Mitam não me pouparia depois de traí-la assim. — Taehyung fitou a face de Seokjin com olhos que pareciam de vidro. — Antes que comece a pensar demais, tenho que lembrá-lo do que lhe espera se não agirmos para parar Morpheus. Você continuará como um humano no meio de monstros, e, mesmo que eu decida não absorver sua alma, alguém irá. Mitam vai fazer questão de não deixá-lo vagar por aqui intocável. Eu não tenho muita força contra ela, não poderei impedi-la de machucar você. Entende o que digo?

Seokjin piscou, pois não conseguia respirar fundo, e então balançou a cabeça, confirmando que entendia.

— Quando... quando devo começar o plano?

— Se estiver pronto para ver o que está acontecendo no salão de baile, então já podemos avançar. — Havia um toque de aviso nas palavras do imortal, e também, ainda que Seokjin tentasse ignorar por causa de seu rancor, boas doses de preocupação em seu semblante. Era preocupação com o humano.

Após desviar o rosto para longe, ele perguntou:

— O que está acontecendo no salão?

— Exatamente a mesma coisa que aconteceu entre Jimin e Jungkook, mas numa escala um pouco mais... perturbadora. Seus olhos já conseguem ver toda a verdade por trás da ilusão de Morpheus, não é mesmo?

— Acho que sim. — Seokjin encarou o chão além do telhado e viu a floresta bioluminescente ser substituída por uma mata podre iluminada por pontos de luz sem cor. O chão não era mais revestido por grama, mas por palha seca e acinzentada. Ele voltou os olhos na direção de Taehyung. — Mas não vejo nada em você. Ainda é... você, e suas asas, e seu corpo humano. A coisa que vi no espelho da biblioteca não aparece mais.

O imortal pensou por um instante.

— Talvez você não queira me ver como sou de verdade, por isso há um bloqueio — ele sugeriu, mas Seokjin negou com um movimento de cabeça.

— Ou talvez você não seja um monstro, no fim das contas. — Ele não sabia porque estava falando isso, apenas desejou vocalizar o que pensava.

Diante da expressão surpresa e até um pouco agradecida de Taehyung, Seokjin evitou olhar para ele outra vez. Não era hora para gentilezas ou qualquer outra coisa do tipo. Ele precisava agir.

— Tudo bem. Vou ficar bem. Leve-me até Mitam.

— Certo. Esteja pronto para atuar comigo outra vez.

✥✥✥✥

Por mais perturbador que fosse, assim que entrou novamente no salão de baile, Kim Seokjin sentiu-se grato por seu estômago não funcionar mais. Se funcionasse, ele estaria vomitando absolutamente tudo o que comeu desde o dia em que nasceu.

Era como presenciar o inferno, uma cena terrificante que ficaria marcada na mente dele para sempre, se o sempre existisse depois dali. Para começar, o recinto amplo e elegante de antes era agora um antro vil decorado com tecidos rasgados, sujos e repletos de criaturas que rastejavam. Os lustres não passavam de um conjunto de bestas enroladas entre si com rostos que se iluminavam num tom vermelho como sangue. O chão era um rio gosmento e negro feito piche, e refletia as aberrações que caminhavam sobre ele.

Os filhos de Morpheus exibiam agora seus verdadeiros corpos. Demônios alados, quadrúpedes, bípedes e octópodes, uma variação infinita de criaturas horripilantes que não hesitavam em consumir até a última gota de vida de seus parceiros humanos, os pobres "escolhidos". Eles estavam sedentos, banqueteando-se da vitalidade de almas ingênuas enquanto pareciam sorrir com os dentes à mostra. Dentes gigantescos que se comparariam a hastes de metal.

Seokjin quase tropeçou em seu percurso até Mitam. Foi Taehyung quem fez o favor de mantê-lo em pé.

Estranhamente, a presença daquele imortal era a única fonte de força que o humano conseguia ter naquele momento.

— Ora, ora. Nosso querido Kim Seokjin. E Taehyung. — Mitam estava no centro daquele mar de bestas, feito uma rainha intocável que observava tudo com um sorriso no rosto. Um sorriso macabro e enorme. — Eu os perdi de vista durante o baile. Aonde o casal foi?

— Tivemos uma conversa longa. O assunto é de seu interesse, irmã — Taehyung voltou com os sorrisos dissimulados de sempre.

— Ah, é mesmo? E o que seria? — Mitam ergueu uma sobrancelha na direção de Seokjin.

Foi a vez do humano tomar a palavra.

Com toda a coragem que havia reunido até ali, ele disse:

— Eu consigo ver todas essas... coisas. Você e seus irmãos são uns animais intrigantes.

Usar a ousadia e o sarcasmo era seu método mais eficiente para ocultar o terror dentro de si. Atacar antes que vejam sua fragilidade, uma estratégia que ele gostava bastante.

Mitam achou aquilo engraçado.

— Por acaso Taehyung lhe explicou a razão de você ver o que vê?

— Sim, ele me elucidou sobre tudo. Então essa é a verdadeira vida dos imortais... — Seokjin ousou exibir um meio sorriso. — As pessoas na Terra ficariam um pouco decepcionadas se descobrissem que os deuses delas são umas criaturas sádicas.

Os dentes da imortal, brancos como ossos corroídos pelo tempo, aumentaram de tamanho. Ela se aproximou até quase encostar a testa na dele.

Não está com medo, mundano? — Seu sussurro foi uma profusão perturbadora de vozes e gritos abafados. O humano quase deixou escapar o terror que se revirava em suas entranhas.

— Refere-se a temer seus verdadeiros corpos ou o que vocês fazem com os humanos que trazem para cá? Porque, de um jeito ou de outro, monstros também existem na Terra, e eles também usam rostos bonitos para manipular suas vítimas. Os filhos de Morpheus já foram humanos um dia, estou certo? Então, o que há de novo?

Mitam piscou, momentaneamente surpresa. Taehyung também encarou Seokjin com um olhar intrigado, talvez não esperasse por uma atuação tão convincente assim.

Hmm. — A imortal começou a rodeá-lo, absorvendo o piche do chão e o moldando em seu corpo. — Sendo assim, o que você quer, Kim Seokjin?

— O que você acha?

Mitam gargalhou, e foi o som mais aterrorizante que ele já ouviu.

Bem, você realmente tem os requisitos necessários para virar um Filho de Morpheus. Mas está ciente do que isso significa? — Ela parou de se arrastar pelo chão até ficar novamente diante do humano. — Ganhará uma vida imortal, é claro, com toda a magia que este lugar poderá lhe oferecer. Todo o conforto e conhecimento, sem nunca temer as enfermidades e a dor... Porém, há um preço a ser pago. E você sabe qual é ele.

— Sei. E estou vendo o pagamento sendo feito. — Seokjin observou um imortal absorver as últimas gotas da alma de um humano, antes de o chão se abrir e devorar o corpo inerte que restou.

O rapaz transformou um tremor que eclodiu dentro de si num balançar de ombros, mostrando indiferença.

Tem certeza? Está completamente certo de que conseguirá sacrificar um número infinito de vidas enquanto sustenta um sorriso no rosto por toda a eternidade? — A imortal analisava cada pequena mudança de expressão da face de Seokjin.

— De qualquer forma, a outra opção é ser devorado por vocês. Então, sim, tenho certeza.

Mitam gargalhou outra vez, mais alto, mais perturbadora, e desapareceu sob o chão. Agora apenas sua voz era ouvida:

Não pense que é doloroso. Você não sente dor ou medo, apenas uma libertação deste plano. Como já deve saber, seu corpo já está morto, então não há tortura ou lamento. Não sofrerá absolutamente nada. Diferentemente se escolher a vida eterna, onde terá que lidar com seus valores e destroçar sua ética, empatia e todas as outras baboseiras que o tornam humano.

Mitam brotou novamente do chão. Agora todo o piche brilhava sobre ela, reluzindo como uma gosma negra que absorvia luz.

Vamos lá. Arranque fora essa máscara de falsa arrogância. Diga-me a verdade. Eu vi a sombra do medo em você. Eu sei que sente ódio pelo que aconteceu com o seu amiguinho... Jungkook, o manco. Um menino muito doce, aliás. Morpheus saboreou muito bem a carne dele. — Crueldade transbordava de suas palavras.

Seokjin não precisou fingir apatia nesse momento, ele simplesmente ficou assim, neutro e paralisado. Não porque não se importava com o fim de Jungkook, mas se importava tanto que ouvir palavras tão horríveis acabou sendo chocante demais. Petrificante demais.

Com o mesmo olhar apático, ele encarou a maldita imortal e murmurou:

— E daí? Jungkook já estava morto. Ele tomou uma decisão por conta própria. — Seokjin quase não reconheceu a própria voz por causa da mentira fria que saiu com ela. — Afinal de contas, o que espera que eu diga? Não é Morpheus quem precisa de ajudantes para conseguir alimento? Se estou disposto a fazer isso, por que está tentando me fazer desistir da ideia?

Porque eu não acredito nas intenções de Taehyung. Você está com ele, então é suspeito... — Ela se arrastou até ficar ao lado de Taehyung, que a encarou com um semblante tenso.

Eu sei que você me odeia e que odeia esta vida, então jamais influenciaria um humano a se juntar a nós. — Mitam falava com o irmão imortal. — Qual seu propósito com isso tudo, meu querido?

Taehyung fitou Seokjin de soslaio. Parecia completamente miserável quando respondeu:

— Preciso dele. Eu... eu gosto dele. É a primeira vez que gosto de alguém desde que você me obrigou a destruir aquela pessoa, centenas de anos atrás. Seokjin não tem medo do que eu sou, então... é isso. É o que pode me ajudar a continuar com esta vida.

Um brilho assassino atravessou os olhos de Mitam, mas ela não deixou o sorriso desaparecer do rosto. Enquanto isso, Seokjin tentava não reparar que, entre as mentiras ditas pelo garoto alado, havia trechos cheios de sinceridade. Tornaria um pouco difícil odiá-lo se continuasse a pensar nesses detalhes. No lugar, ele preferiu concentrar a atenção numa das sombras que seguiam Taehyung, naquela que agora parecia estar segurando a mão dele e lamentando ao seu lado. Talvez fosse um resquício da pessoa destruída que o imortal citou.

Então há um propósito romântico aqui. Que doçura... — Mitam não conteve o sarcasmo. Definitivamente não era mais a mesma criatura gentil que acolheu os humanos nas primeiras horas deles em Morpheus. — Muito bem. Sigam-me.

Suas palavras convocaram a abertura de uma fenda no chão. Diferente das outras, essa era maior e continha uma escada que levava a um subterrâneo obscuro iluminado por pontos de luz pálida.

Lutando para que suas pernas não fraquejassem no meio do caminho, Seokjin desceu os degraus feitos de piche e de plantas mortas, com Taehyung o seguindo logo atrás.

Eles chegaram a uma espécie de túnel com paredes revestidas de musgo e caules secos que tinha como única iluminação uma chama alaranjada no final do caminho. Depois de atravessarem o estreito percurso, o humano percebeu que aquele brilho na verdade era uma imensa estrutura de vidro que emanava uma luz sobrenatural numa frequência rítmica, igual à pulsação de um coração.

"O coração de Morpheus", pensou ele, sentindo arrepios nos pelos do corpo.

Sinta-se honrado por conseguir ver o que está diante de nós. O centro do Reino dos Sonhos não se revela para muitos... — Mitam desapareceu detrás da enorme concha de vidro e então reapareceu trazendo consigo uma pequena cuia em suas mãos alongadas.

Nessa hora, ao acompanhar os movimentos da imortal, Seokjin reparou pela primeira vez no que havia nas paredes daquela área. Por conta das sombras, levou algum tempo até que conseguisse ver os ossos enfileirados do chão ao teto, inclinados como numa redoma. Havia caveiras humanas por todos os lados, consumidas pelo tempo — ou talvez por aquela coisa que pulsava na frente deles —, mas também havia corpos desmembrados, ainda revestidos com carne, formando um quebra-cabeça decorativo.

Se não fosse pelo pedido desesperado no olhar de Taehyung para que ele seguisse com o plano a todo custo, Seokjin teria desistido de tudo na mesma hora.

E agora, humano? Já sabe o que fazer? Imagino que Taehyung já tenha feito as honras de lhe explicar o procedimento — disse Mitam, entregando a cuia para ele.

Precisou se controlar para não derrubar o objeto no chão.

— Eu preciso apenas beber daquele líquido? — Apontou na direção dos filetes molhados que escorriam sobre o vitral laranja, evitando deixar transparecer que sua atenção estava concentrada num fragmento de vidro muito mais brilhante que os demais.

Ali devia ser o ponto fraco do coração.

Sim, mas antes... Convido as testemunhas — Mitam estalou dois dedos, invocando todos os seus irmãos imortais para aquele recinto macabro.

A aparência bonita e etérea deles estava de volta, por alguma razão desconhecida. Talvez quisessem mostrar o melhor de si — ainda que fosse falso — durante o ritual que logo seria iniciado, e talvez a magia ali embaixo fosse muito mais forte a ponto de conseguir manter intacto o véu de beleza sobre eles.

Entre as dezenas de rostos, estava o de Jimin. Sua miséria era palpável.

Agora, vá, Kim Seokjin — disse Mitam, gesticulando para que ele avançasse.

Apertando a cuia nas mãos, o rapaz perguntou:

— Quanto devo beber?

O quanto achar necessário.

Depois disso, ele andou. Seus primeiros passos mergulhando na poça escura que ficava debaixo do coração de vidro. Quando chegou perto o bastante, metade de suas pernas encontravam-se imersas.

Num relance gestáltico, Seokjin olhou para cima, novamente na direção do fragmento de vidro que era seu verdadeiro objetivo. Devia ter deixado transparecer alguma coisa com esse rápido movimento, porque logo em seguida sentiu a unha pontiaguda de Mitam em suas costas.

Sua atenção parece estar no lugar errado, humano. — Ela sibilou como uma cobra. — Pergunto-me o que mais meu querido irmão lhe disse sobre o coração de Morpheus.

Não adiantaria repetir o que já havia sido dito antes. Pela tensão que cobria os ombros e as asas de Taehyung — que observava tudo a alguns metros de distância —, Seokjin deveria inventar um novo meio de se livrar das desconfianças da imortal.

Com a mente trabalhando loucamente, ele falou:

— Taehyung não disse muita coisa. É por isso que estou assim... Estava apenas pensando em como tudo isso começou. Quando começou. Este lugar sempre existiu? Tudo o que sei é o que havia nas histórias ingênuas contadas pelas pessoas do meu vilarejo.

Hmmm — A unha dela roçou até a base das costas de Seokjin, perfurando lentamente aquela extensão de pele por baixo da roupa de festa que ele ainda usava.

Após um segundo paralisado, esperando o pior, o rapaz a escutou soltar uma risada abafada.

É claro que Taehyung não lhe contou tudo. A origem... Ou pelo menos a ascensão deste lugar tem relação direta com ele. — Mitam afastou a unha e acariciou o rosto do humano com suas duas mãos finas como osso. — Existia uma aldeia isolada nas montanhas de algum lugar na Terra que acreditava em lendas e que temia demônios. O povo desse lugar dizia que, entre os mais terríveis, mais cruéis e mentirosos estava Morpheus, o demônio dos sonhos.

"Certo dia, um menino da aldeia responsável pelo envio de pássaros mensageiros para outras comunidades da região começou a receber cartas de corvos que ele nunca antes tinha visto. Todas as cartas o ditavam como destinatário, mas nenhuma carregava explicações sobre quem era o remetente. O conteúdo delas, contudo, deixava claro que o seu dono vivia num lugar maravilhoso, mas que se sentia solitário demais por não ter uma companhia."

"Curioso, o menino passou a responder aquelas cartas com perguntas sobre o tal lugar, enviando suas mensagens através dos corvos que o visitavam. Pouco tempo depois, para a alegria dele, a resposta chegava, e ela trazia consigo tantos detalhes intrigantes que o menino começou a sonhar com eles e com o misterioso remetente."

"Esses sonhos se tornaram tão realistas que, em determinado momento, ele decidiu seguir os corvos para chegar ao tal lugar maravilhoso. No fim de sua viagem, encontrou uma torre de vidro e descobriu que o dono das cartas na verdade era uma linda garota. Ela deu ao menino uma refeição digna de reis, presenteou-lhe com joias, roupas finas e lhe mostrou sua casa, na qual viveram juntos durante muitos dias."

"No final, a garota disse a ele o seguinte: 'Se convencer as pessoas da sua aldeia a virem para cá, eles receberão tudo o que sempre sonharam'. O menino então retornou para casa o mais rápido que conseguiu e contou ao seu povo sobre a garota na torre de vidro, mostrando as joias e as roupas que havia ganhado dela. Convencidos e animados, a aldeia inteira viajou até o lugar, mas, quando chegaram lá, suas almas foram absorvidas, e seus corpos, devorados. A torre de vidro se desgrudou do chão depois de se alimentar de tanta vitalidade, e a bela garota que morava nela ofereceu uma oportunidade ao menino: 'Venha comigo, e sempre terá o que deseja'. Ele aceitou ir com ela, sem hesitar."

Mitam piscou para Seokjin.

Eu sou a garota, e o menino é Taehyung. Nós dois fizemos este lugar ser o que é hoje, como um rei e uma rainha. Juntos... — Ela sussurrou no ouvido do humano, como numa provocação.

Seokjin fitou Taehyung sobre o ombro, com uma face que não demonstrava os pensamentos dentro de sua mente. Ele quis respirar fundo diante do olhar culpado e sombrio do imortal, mas, sem pulmões funcionando, apenas balançou os ombros e voltou a se concentrar no enorme coração de vidro.

— História interessante. Obrigado por me contá-la. Agora... com licença. — Mostrou a cuia para Mitam, esperando ser soltado pelas mãos dela.

A imortal entendeu e o soltou, abaixando a guarda pela primeira vez. Porém, não o suficiente para agir e quebrar o vidro.

Então ele continuou a encenação. Ergueu a cuia para enchê-la com o líquido translúcido e a trouxe de volta até que seus lábios a tocassem. Depois de controlar outro tremor, Seokjin virou o conteúdo na boca e começou a bebê-lo. Para sua sorte, não havia sabor nem nada que atrapalhasse o foco de sua mente.

Ao vê-lo engolindo toda a bebida, Mitam relaxou e finalmente baixou toda a guarda.

Seria agora ou nunca.

Concentrando toda a força que tinha nos braços, Seokjin virou a cuia e usou a parte mais fina do recipiente para perfurar o vidro brilhante. O impacto fez a vidraça rachar em mil estilhaços, e o que havia dentro dela transbordou para fora numa enxurrada branca e luminosa.

O que aconteceu depois disso foi caótico.

Mitam avançou contra o humano, decidida a cortá-lo ao meio apenas para lhe dar uma lição, mas Taehyung a agarrou antes que ela pusesse um dedo nele e a acorrentou com seus braços e asas.

Os outros filhos de Morpheus entraram num confronto entre si. Os apoiadores dos planos de Taehyung, que compartilhavam do cansaço dele depois de terem passado milênios naquele lugar, lutaram contra os leais a Mitam, que amavam aquela vida. Seokjin aproveitou o caos para continuar a quebrar o vidro, perfurando-o mais e mais num ritmo acelerado, nutrido pelo seu desespero.

Em determinado momento algum imortal tentou impedi-lo, puxando-o pelas costas, mas asas de mariposa apareceram na visão do humano e o livraram da prisão de mãos.

— Quebre aquilo de uma vez! — gritou Jimin, com olhos injetados de raiva e molhados por lágrimas.

Novamente livre, Seokjin pegou a cuia e continuou a quebrar o vidro até que toda a superfície tivesse quebrado e caído na poça logo abaixo do coração. Quando isso aconteceu, a imensa concha pulsante começou a implodir. Podia-se ouvir um grito inumano saindo de dentro dela, somado ao som do tremor de todo o Reino dos Sonhos.

Morpheus estava morrendo. Era o fim.

O QUE VOCÊ FEZ!? — Mitam vociferou para Seokjin. Seu corpo se desfazia, sendo levado pelo chão instável.

De repente, os dois globos sombrios que eram seus olhos se arregalaram quando viram algo no humano. A partir daí, mesmo se desvanecendo para todo sempre, ela começou a gargalhar.

QUERIDO KIM SEOKJIN, VOCÊ IRÁ DESAPARECER! TORNOU-SE UM DE NÓS, ENTÃO LOGO VIRÁ PARA O INFERNO COMIGO!

Ela riu até seus membros serem totalmente consumidos, tornando-se ossos e caindo entre todos os esqueletos que faziam parte da estrutura daquela redoma macabra. A visão era quase a consagração de um carma.

Com o sumiço das gargalhadas, restou apenas o tremor e o silêncio depois do caos.

— Seokjin, você...— murmurou Taehyung.

Os dois cruzaram olhares e se observaram atentamente.

— Acho que sei o que vai dizer. — Seokjin tentou sorrir, mas tudo parecia estranho, até seu próprio corpo. — Então é essa a sensação de se tornar um filho de Morpheus?

Taehyung sabia que ele estava tentando amenizar o peso daquela situação com uma conversa, então o seguiu:

— Como se sente?

— Horrível. Será que finalmente posso vomitar?

— Infelizmente, não. — Taehyung soltou uma risada profunda e se aproximou do outro rapaz. — Vômitos e criaturas bonitas não combinam, de qualquer maneira.

— O-o quê?

— Eu disse que você seria uma magnífica borboleta, Kim Seokjin. Veja suas costas.

Seokjin virou a cabeça o máximo que pôde para observar as duas grandes asas que imitavam as de uma borboleta-azul, com membranas coloridas em azul royal que se mesclavam às tingidas num nanquim negríssimo.

Ele não sabia o que pensar daquilo, mas se permitiu admirar por um instante o que havia se tornado.

— Ah, observe! — falou Taehyung, olhando para além do garoto.

A chuva de luz que tinha jorrado do vidro quebrado agora pairava sobre eles como pontos brilhantes, pequenas estrelas flutuantes que pareciam se dirigir para uma mesma direção. Para fora do subterrâneo.

Todos os que estavam lá dentro as seguiram, curiosos e esperançosos, alguns com a sensação cálida de que a libertação finalmente havia chegado.

Já fora do subsolo, eles viram o Reino dos Sonhos se quebrando e virando poeira espacial, misturando-se às estrelas e à negritude do céu noturno.

Os pontos de luz que flutuaram até ali se uniram às sombras de cada imortal, libertando as almas que estavam presas nelas.

As almas saltaram de Morpheus e sumiram entre as nuvens, sendo levadas para um outro plano que provavelmente era o verdadeiro lugar delas. Talvez um paraíso cheio de paz.

Jimin seguiu uma alma específica até a beirada do reino flutuante. Ela tinha o andar, o sorriso e os olhos grandes de Jungkook. Antes que pulasse, eles trocaram murmúrios, lágrimas, pedidos de desculpas e um adeus doloroso, mas com a promessa de que talvez se veriam num outro lugar, num outro universo, já que existiam tantos.

Quando Jungkook pulou, Jimin olhou para trás, na direção do irmão de carma, Taehyung, e sussurrou uma despedida. Em seguida, ele se deixou ser levado pelo vento.

— O que fazemos agora? — Seokjin perguntou, sentindo um vazio no peito.

— Acho que apenas esperamos... — O outro imortal se sentou no chão e olhou para cima, admirando as estrelas. — Finalmente acabou.

Seokjin sentou ao lado dele, em silêncio.

A quietude só foi interrompida alguns segundos depois, quando Taehyung encarou o rapaz e disse, melancólico:

— A história que Mitam contou sobre eu tê-la ajudado a tornar Morpheus nesta grande coisa é real.

— Hm...

— Não vai me condenar por isso?

— Eu não quero perder os meus últimos momentos sendo o seu juiz. — Seokjin abraçou os joelhos dobrados, piscando enquanto observava o horizonte noturno. — Mas, se realmente quer saber o que acho... Acho que você teve muitos anos para remoer seus erros, e que sinceramente se arrependeu deles. — Ele sentiu o peso dos olhos de Taehyung sobre si, sabia que havia compreensão e gratidão neles. Desconcertado, Seokjin o empurrou levemente com o ombro e murmurou: — Além de tudo isso, não dou sermão em gente velha.

As risadas dos dois soaram como melodia em meio aos sons dos destroços de Morpheus.

Quando pararam de rir, Seokjin olhou para os pés de Taehyung, para o vazio deixado pelas sombras que já tinham se libertado. Ele se lembrou daquela que parecia bastante próxima do outro imortal.

— Mais cedo, enquanto falava com Mitam, você disse algo sobre ter destruído uma pessoa há centenas de anos. Ela foi o último humano que trouxe para cá antes de você decidir mudar suas atitudes, não é?

— Como descobriu?

— Então estou certo...

Taehyung adquiriu um semblante pensativo.

— Cada pessoa que eu trouxe para este lugar mudou algo em mim. Ensinou-me alguma coisa. Aquele humano, em especial, mostrou-me que o que eu tinha com Mitam não passava de uma relação abusiva que destruía a minha humanidade. Custei a aprender sobre coisas como confiança, parceria, compaixão e amor... Mas, no final, aprendi.

Um sorriso sincero e genuinamente feliz apareceu em seus lábios. Pela primeira vez desde o momento em que o conheceu, Seokjin pôde ver um humano por baixo daquela máscara de perfeição sobrenatural.

— E o que eu ensinei a você? — perguntou com uma fingida indiferença, mas, internamente, estava muito curioso para descobrir a resposta de Taehyung.

O sorriso do outro rapaz pareceu crescer.

— Ensinou-me sobre segundas-chances, ainda que minha segunda-chance se conclua no inferno. Obrigado, Kim Seokjin.

— Por que no inferno?

— O inferno provavelmente é a próxima parada para os filhos de Morpheus, já que somos basicamente demônios

— Então, aparentemente, eu também estarei lá.

— Você não merece ir para o inferno.

Eles cruzaram olhares, em silêncio.

— Acabamos de falar sobre segundas-chances e sobre erros quitados, Taehyung. — Seokjin franziu as sobrancelhas para o outro imortal, mas seu olhar era terno. — Definitivamente o nosso próximo encontro não será no inferno.

— É muito gentil da sua parte pensar assim.

Os dois trocaram sorrisos e ficaram assim por um tempo, até que uma ventania começou a beijar seus corpos, levando consigo fragmentos deles.

— É hora de ir — balbuciou Seokjin, sentindo um aperto em algum lugar dentro de seu corpo imortal e vazio.

— Sim. — Taehyung se ergueu do chão e ofereceu a mão para ele. — Desejas ter uma última dança comigo? O baile que tivemos não foi muito divertido.

Seokjin sorriu e aceitou a mão.

Juntos, com corpos colados e de mãos dadas, os dois bateram suas asas e começaram uma dança silenciosa no céu. O vento parecia cada vez mais forte ali em cima.

— Se nosso próximo encontro não será no inferno, então onde será? — Taehyung perguntou num murmúrio.

— Não sei, mas espero saber como lhe encontrar.

— Como saberemos?

— Hm... — Seokjin observou as asas negras do outro e, depois de pensar um pouco, sugeriu: — Pássaros pretos. Vou encontrá-lo com pássaros pretos.

Taehyung apertou o abraço entre eles.

— Então eu o encontrarei com borboletas azuis.

Seokjin sorriu contra o ombro dele e devolveu o aperto.

— Até logo.

— Até logo.

Finalizaram a promessa com um beijo cálido nos lábios, e ficaram assim até a última rajada de vento levá-los para longe, como névoa de chuva.

O Sol apareceu em seguida, reduzindo os últimos pedaços do falso Reino dos Sonhos em cinzas, os quais caíram nas montanhas logo abaixo e ficaram ali para todo o sempre, num fim eterno, como bem mereciam.

Mas o fim se limitava a isso, pois, quanto às almas que prometeram retornar, elas realmente retornariam... em alguma outra história.

Fim

✥✥✥✥✥

#FilhosDeMorpheus

Então, acabou... O que vocês estão sentindo agora? Eu estou melancólica, tipo aquela sensação de uma tarde parada e nublada, com chuviscos e uma brisa calma. Acho que é porque não parece realmente uma despedida... Bem, de fato não foi, se repararem no finalzinho. Mas o que isso significa?... Quem sabe no futuro eu explique?

Eu amei escrever sobre esses personagens, ainda que tudo tenha sido bem rápido. Fazer personagens imperfeitos e moralmente discutíveis é algo que ainda estou desenvolvendo. Jimin e Taehyung de Morpheus são meus amores, meus monstrinhos que foram perdoados no final por Jungkook e Seokjin... Espero que os acontecimentos entre os dois casais tenha envolvido os sentimentos de vocês. Se consegui tirar dos meus leitores um sorriso, um resmungo de raiva ou uma lágrima, já vou me dar por satisfeita, porque essa é a minha razão de escrever, hehe.

Muito obrigada por ter lido tudo isso, por ter me acompanhado até aqui e pelo apoio que recebi. Obrigada e obrigada!

Mas saibam que até o final da semana estarei trazendo um Anúncio importante^^, para mais informações, meu IG é @Kaka.leda e meu twitter é @Kakaguinho.

Beijões! Vejo vocês nas próximas histórias💜

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro