Sede
ᨖ 𝐄𝐯𝐚 𝐒𝐢𝐧𝐜𝐥𝐚𝐢𝐫 ᨖ
Volterra
Jasper seguiu a estrada pelo mesmo caminho que viemos. Um silêncio profundo se instalou no carro, como se precisássemos desse momento de quietude para processar os últimos acontecimentos. Bem, não sei ele, mas eu precisava. A cena dele tendo sua cabeça quase arrancada por Félix se repetia em minha cabeça várias vezes de forma agoniante.
Joguei o manto negro dos Volturi descuidadamente no banco atrás de mim, me cansando daquele amontoado de tecidos. A escuridão lá fora já era suficiente e não precisávamos mais nos esconder. Apoiei-me na janela, tamborilando os dedos pensativamente. Sabia que teríamos cerca de uma hora até chegar ao aeroporto, mas lembrei de um detalhe importante.
— Preciso caçar antes de irmos. – anunciei, atraindo a atenção de Jasper.
Ele desviou brevemente os olhos da estrada, colocando sua mão sobre a minha perna. Seus olhos estavam tão escuros quanto os meus. Ele também estava sedento, mesmo que tentasse não demonstrar.
— Ainda não sei onde poderíamos fazer isso por aqui, a cidade é muito movimentada. – respondeu, com pesar em sua voz. Soltei um suspiro frustrado.
— Não vou conseguir ficar dentro de um avião por horas novamente, estou com muita sede. – assoprei uma mecha de cabelo que insistia em entrar em meus olhos.
Jasper continuou a dirigir, pensativo, parecendo buscar uma soluços para o problema.
— Vamos dar um jeito. – afirmou, tentando me tranquilizar. Mordi o lábio, aflita.
— E se eu perder o controle?
— Você sabe que não vou deixar que isso aconteça!
— Ah, vai me atacar como fez antes? – sorri maliciosamente. — Talvez eu perca o controle de propósito.
Ele revirou os olhos, exasperado, enquanto um sorriso torto brincava em seus lábios apetitosos.
— Você não presta! – acusou, divertido. — Nós quase morremos há menos de 30 minutos.
— Assim fica mais excitante. – brinquei, mordiscando meu lábio inferior. Ele estreitou os olhos para mim.
— Te odeio!
— Você é maluco por mim! – retruquei, inclinando-me em sua direção. Comecei a distribuir beijos em seu pescoço, enquanto ele tentava se concentrar na estrada. — Mas não posso te culpar.
— Vai acabar causando um acidente desse jeito. – sussurrou, me olhando pelo canto dos olhos.
— Nem você acredita nisso, amor. – zombei, sorrindo ladino. Alisei suas pernas com carinho.
Uma luz no painel brilhou, indicando que estávamos ficando sem combustível.
— Merda, vamos ter que fazer uma parada. – Jasper bufou, impaciente.
Fizemos um pequeno desvio da Autoestrada Firenze-Siena, pegando a Via Leonardo da Vinci. Em alguns minutos, paramos no primeiro posto de combustível à beira da estrada que achamos.
O lugar era simples, com uma placa desgastada que dizia "Aquila Energie: Self Service". Jasper estacionou o carro em uma das vagas, saindo para fora logo em seguida. Eu o acompanhei, torcendo o nariz com o cheiro extremamente enjoativo da gasolina.
— Saudades do meu desvio de septo. – desabafei, escorando-me no carro com um ar de cansaço. Jasper riu baixinho em resposta. — Sério, esse negócio de olfato aguçado é uma merda.
Ele terminou de abastecer o veículo, fechando a tampa do tanque com um clique. Então, voltou seu olhar para mim, divertido.
— Você vai ter bastante tempo para se acostumar, ruivinha. – zombou, provocando uma careta minha.
— Já falei que odeio quando me chama assim, loirinho? – inclinei-me na direção dele, lançando-lhe um olhar torto.
— E eu já falei que não me importo? – fingi rosnar com sua resposta, fazendo-o rir alto. — Vem, idiota. Vamos pagar. – segurou meu braço e me puxou em direção à loja de conveniência ao lado do posto.
— Precisamos mesmo? – fiz um biquinho, fazendo-me de descontente.
— Nós temos que falar sobre essa sua compulsão em querer roubar qualquer coisa. – ele me deu um peteleco na testa, enquanto me olhava reprovador.
Me calei assim que entramos. O estabelecimento estava praticamente vazio, exceto por um homem de aparência medíocre que estava no caixa.
Era uma típica lojinha de conveniência, com uma variedade de itens que iam desde alimentos e bebidas até itens de higiene pessoal. Meus olhos percorreram as prateleiras, com curiosidade.
Caminhei lentamente até um corredor repleto de guloseimas e passei os dedos pelas embalagens coloridas, lendo os rótulos sem realmente prestar atenção. Minha mente estava em outro lugar. Por um momento, me peguei pensando em como seria se ainda fossemos humanos, se pudéssemos desfrutar daquelas guloseimas sem pensar nas consequências e saciar essa fome de uma vez, mas essa era uma realidade muito distante. Meus olhos se fixaram em uma prateleira de chocolates. Diversos sabores, marcas e tamanhos estavam à minha disposição. Peguei uma barra de chocolate amargo, vendo a marca "Caffarel" reluzir em dourado. Caramba, eu sempre quis provar um chocolate chique desses.
— O que você tá aprontando? – Jasper questionou atrás de mim, curioso.
Levantei uma sobrancelha, fazendo suspense. Abri o chocolate, revelando o aroma amargo e ao mesmo tempo enjoativo que emanava dele, de forma desagradável. Ergui a barra aos meus lábios e mordi um pedaço, sentindo o sabor extremamente amargo se espalhar pela minha boca.
— O que você achou? – ele indagou, rindo da minha cara de desgosto.
— Uma merda. – fui sincera, enquanto estendia o doce em sua direção. — Quer provar?
— Já cometi esse erro há mais de um século, obrigado. – riu mais alto, tirando o chocolate da minha mão. — Vamos pagar por isso logo.
Arregalei os olhos, puxando o doce de volta para mim.
— Espere, você não vai pagar por uma por porcaria dessa! – ele estreitou os olhos, me repreendendo. — Sério, Jasper! Isso aqui é um lixo. Beber o sangue de um rato com leptospirose seria menos desagradável.
— Você é horrível! – acusou incrédulo, mas sem conseguir conter a risada. Dei a língua para ele. — E muito madura, devo ressaltar.
— Já entendi que você me ama, Cinderela.
— Não começa… – diz ele, parando de rir.
O puxei até o balcão do caixa rindo, enquanto ele pegava seu cartão no bolso.
— Ciao! – o humano cumprimentou. Percebi ele me analisando de cima a baixo, discretamente, me fazendo revirar os olhos. — Voi due non siete di queste parti, vero? – ele perguntou, me encarando de soslaio. Fiquei confusa, sem entender o idioma. Jasper se adiantou para responder em meu lugar.
— No, signore! Siamo turisti. – o loiro respondeu, aparentando impaciência.
— E chi sarebbe la bella ragazza? – o homem perguntou, me olhando de cima a baixo mais uma vez. Franzi as sombrancelhas, confusa e descontente com sua indiscrição. Jasper me puxou para mais perto dele, claramente irritado.
— Lei è la mia fidanzata. — respondeu, seu tom de voz seco.
Jasper se inclinou para perto do meu rosto, sussurrando algo inaudível para o humano.
— Esse bastardo está morrendo de tesão. – vociferou, indignado. Eu cobri minha boca, tentando conter a gargalhada.
— Para de manjar o pacote dele, eu vou ficar com ciúmes. – fiz um biquinho, fingindo estar chateada. Jasper revirou os olhos e, nesse momento, seu telefone começou a tocar.
— É a Alice. Você pode pagar por mim? – perguntou, me entregando o cartão depois de conferir a tela do celular. Apenas acenei com a cabeça, enquanto ele atendia a chamada. — Pode comprar o que quiser.
— Agora você falou minha língua! – lhe dei uma piscadela, vendo ele sair da conveniência rindo.
O homem no balcão ainda aguardava, com os olhos fixos em mim. Eu estendi o cartão em sua direção, com um sorriso amarelo.
— Ah, prendo il distributore di carte, solo un minuto. – ele afirmou, gesticulando para mim enquanto entrava em uma salinha atrás do balcão. Seja lá que merda ele disse, eu apenas fiquei esperando ali, impaciente.
Bisbilhotei a loja novamente. Além dos salgadinhos, besteiras, bijuterias e acessórios fajutos, não havia muita coisa realmente interessante. Apenas um óculos de sol bonitinho me chamou a atenção.
— Ecco qui! – o homem exclamou assim que retornou, estendendo a máquina de cartão para mim. Aproximei o cartão de Jasper e efetuei o pagamento.
Ele foi guardar a máquina em uma bolsinha, mas, ao fechar o zíper, acabou prendendo o dedo nos dentes metálicos. Um pequeno corte surgiu, e meu corpo inteiro ficou em alerta. Tranquei minhas vias respiratórias, mas era tarde demais, o sangue fresco já havia atingindo meu olfato com voracidade.
— Scusa... Succede sem… – antes que ele pudesse terminar a frase, cobri sua boca com minha mão, silenciando-o após aparecer atrás do próprio com rapidez.
— Shh… Vai ser rápido. – sussurrei. Quase não reconheci minha voz quando a ouvi. Eu vi de soslaio minhas sombras tremerem, sussurrando estímulos para que eu me deleitasse.
Não consegui resistir à tentação. Cravei meus dentes em seu pescoço, iniciando uma sucção voraz do seu precioso líquido vital. A sensação daquele sangue delicioso inundando minha boca era inebriante, uma mistura de prazer e êxtase que quase me fez revirar os olhos. Puxei o homem para mais perto de mim, como se minha própria vida dependesse daquele alimento. Não conseguia pensar em mais nada que não fosse o quão saboroso era o sabor. Estava extasiada, completamente dominada pelo frenesi.
Em um estado de transe, consumi cada gota do sangue, sentindo-me saciada pela primeira vez em tempos. Meu corpo vibrava com a satisfação, e um arrepio percorria minha espinha. Era um deleite pecaminoso, um momento de pura euforia. Só me afastei quando suas últimas gotas de vida se esvaíram, deixando-o sem vida no chão.
A realidade me atingiu como um soco na cara. Olhei para o corpo inerte do homem, agora privado da vida que um dia possuíra. Um sentimento de pânico e culpa se apoderou de mim. Como eu iria explicar isso para Jasper? Ou para Carlisle? Eles iriam me odiar por isso…
Merda!
Respirei fundo, tentando acalmar minha mente tumultuada. Preciso me livrar das provas. Pensei, olhando para as três câmeras de segurança que haviam registrado toda a cena. Agarrei algumas latas de refrigerante da prateleira e arremessei-as com força, destruindo tanto as câmeras quanto as latas. Minha força foi suficiente para aniquilar qualquer prova, mas nada aliviava meu remorso.
Em seguida, desferi um soco no monitor do balcão que exibia as gravações, tornando-o inutilizável. Encarei o corpo do homem, lutando contra minha consciência dilacerada. Era cruel deixá-lo ali, mas não tinha como escondê-lo. Deixei-o no chão, com peso na consciência. Amaldiçoei os Cullens mentalmente por terem me feito aprender a sentir esse tipo de compaixão. Era tudo o que eu menos precisava naquele momento.
Cacete, eu sou um monstro! Pensei horrorizada, enquanto me afastava da cena do meu próprio crime.
Antes de sair, observei meu reflexo no vidro da vitrine, cuidadosamente limpando o sangue que manchava meus lábios. Peguei os óculos que havia visto antes para cobrir meus olhos agora tingidos de carmesim. Após isso, saí da loja, encontrando Jasper apoiado no carro, encerrando sua ligação.
— Tudo bem, Lice. Ela chegou aqui. Chegamos aí em menos de dois dias. – disse ele, desligando o celular. — Opa, ruivinha. Você demorou!
— Desculpa. – pedi, entrando no carro pelo lado do passageiro.
Jasper ocupou o assento do motorista e me encarou com um olhar desconfiado. Ele conseguia sentir meu remorso, e eu me xingava mentalmente por permitir que isso transparecesse.
— Você está bem? – perguntou, preocupado. — Por que os óculos? – apontou para o acessório, com uma pitada de desconfiança em sua voz.
— Eu gostei e comprei. – menti, afundando-me no banco.
— Mas de noite? – ele insistiu.
— É proibido usar de noite agora? – fui mais grossa do que pretendia ao tentar cortar seu interrogatório.
Ele desistiu de insistir e voltou sua atenção para a rua enquanto dirigia de volta para a estrada principal. Eu me recostei na janela, perdida em meus pensamentos. Não conseguia acreditar que havia sido tão fraca. Não sabia se seria capaz de encarar Carlisle depois do que tinha feito, depois de tudo o que ele havia feito por mim. Não consegui cumprir seu único pedido. A culpa borbulhava no meu interior.
Enquanto eu estava distraída me remoendo, Jasper fez um movimento rápido em minha direção e arrancou os óculos de sol do meu rosto.
— Qual é o seu problema? – indaguei, indignada.
— Meu problema? Você matou aquele homem e pergunta qual é o meu problema? – questionou, sua voz cheia de irritação. — Achou mesmo que eu não perceberia? Senti o cheiro do sangue em você assim que entrou no carro.
— Ele começou a sangrar na minha frente e eu não consegui me controlar! – me defendi, desconfortável.
— Não devia ter feito isso. – ele cuspiu as palavras, voltando seu olhar para a estrada.
Afundei-me ainda mais no banco, emburrada. Eu já me culpava o suficiente sozinha, mas ouvir o desprezo em sua voz me trouxe uma sensação ruim, inexplicável. Sua opinião significava muito para mim, e saber que ele estava tão decepcionado me corroía por dentro. Queria poder voltar no tempo e nunca ter entrado naquela maldita conveniência.
— Achei que, entre todos, você não me julgaria. – sussurrei, amarga.
Um silêncio opressivo e desconfortável se instalou entre nós, enquanto eu me afogava em ressentimento e remorso. Eu me sentia sufocada, como se estivesse presa em uma caixa muito apertada. Não sabia o que dizer, era como se uma muralha tivesse sido construída entre nós. Encarava a janela com uma intensidade quase furiosa, evitando qualquer contato visual.
Passamos muito tempo naquele silêncio, até que o aeroporto de Florença surgiu em meu campo de visão. Notei com amargura que agora eu estava satisfeita o suficiente para permanecer dentro do avião. Jasper estacionou o carro, mas permaneceu imóvel, sem sair ou sequer destravar as portas.
— Eva…
— Abre a porta. – pedi, cortando sua fala.
— Espera…
— Só abre a porra da porta antes que eu quebre, Jasper! – irrompi, irritada.
— Me deixa falar. – pediu com uma voz suave, quase suplicante.
— Já sei o que você vai dizer! Já entendi que cometi uma puta burrada e que desapontei todo mundo. Já entendi, tá bom? – desabei, sentindo a raiva me consumir. Meu tom de voz aumentava mesmo que eu tentasse controlá-lo. — Desculpe por não ser a perfeição que você estava procurando. Não pedi para ser...
Antes que eu pudesse concluir minha fala, seus lábios colidiram contra os meus, interrompendo meu discurso. Ele se afastou um pouco, antes que o beijo progredisse.
— Desculpa, foi a única maneira que encontrei para fazer você se calar. – disse ele, ajeitando-se em seu assento. Mantive-me em silêncio, desconcertada. — Eu não tenho o direito de julgar você, Eva.
— Pois é. – concordei, minha voz tão baixa quanto um sussurro.
Ele se inclinou sobre o meu assento, acariciando minha bochecha. Não recuei.
— Me desculpa. – pediu, enquanto seus dedos afagavam meu rosto. Seus olhos dourados brilhavam intensamente com carinho, daquela jeitinho que sempre me deixava boba
— Me desculpe também. – pedi em seguida, colocando minha mão sobre a dele em meu rosto, retribuindo seu carinho.
Ele depositou um beijo suave em minha testa. Eu me inclinei e encostei minha cabeça em seu ombro, aproveitando aquele momento de conforto.
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Notas:
Demorei, mas voltei! Como vocês estão?
Sinceramente, eu estava bem relutante em postar esse capítulo, mas acabei postando mesmo assim. Talvez seja algo que apague ou altere em uma futura revisão, mas por enquanto ele está aqui. Vocês gostaram?
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