Calamidade
ᨖ 𝐉𝐚𝐬𝐩𝐞𝐫 𝐇𝐚𝐥𝐞 ᨖ
— Las Vegas é muito linda, Bree. – Eva disse, olhando fixamente para a tela do celular.
— Sério? – a morena respondeu na vídeo chamada.
— Sim, muito! Tem um bando de lugares esquisitos, mas te juro que é incrível. – a ruiva confirmou, um sorriso se alargando cada vez mais em seu rosto. Ela estava feliz, mesmo diante das circunstâncias. Eu nem precisava ser um empata para notar isso. Só percebi como sua felicidade pareceu aumentar gradativamente assim que viu a Tanner no visor do seu telefone. — Um dia eu te levo lá, prometo.
— Com que dinheiro? – Bree brincou, e então pude ouvir a risada de Emmett no fundo da sala em que ela estava.
Eva deixou o sorriso desaparecer, dando lugar á um olhar cético.
— Não vou te dar mesada quando estiver milionária, pode anotar isso.
Soltei uma risada fraca com sua fala e continuei segurando sua cintura enquanto andávamos, embora não fosse realmente necessário guiá-la. Ela então arregalou os olhos repentinamente e inverteu a câmera do celular.
— Olha, Bree. Achei um parente seu! – ironizou, apontando indiscretamente para um homem que estava caminhando do outro lado da rua.
Meus olhos se arregalaram quando notei que ela estava apontando para o mesmo porque ele não tinha um dos braços. Eu rapidamente abaixei sua mão antes que ele notasse, ouvindo sua risada ao ver minha expressão indignada.
— Vai se fuder! – a mais nova ralhou no auto falante, enquanto eu conseguia escutar o som de suas palmas estapeando o braço de Emmett, que não se esforçava nem um pouco para rir baixo.
— Ei, não foi assim que eu te eduquei, cacete! – Eva exclamou, com indignação passando pelos seus olhos. Pela tela, vi Bree devolver o olhar com ceticismo, como se não acreditasse no que a ruiva acabou de falar.
— Nós estamos indo caçar agora. – a voz da mais nova cortou as risadas de Emmett.
Enquanto as duas se despediam ao telefone, meu olhos vagaram em direção à concentração de comércios e tendas que preenchiam aquela rua.
Nova Orleans era um pouco barulhenta, mas não de uma maneira desagradável, nada parecido com o ruído irritante e constante das grandes cidades urbanas. As músicas de jazz ressoavam em cada esquina. Eu conseguia ouvir cada banda tocando sua música em cada canto daquele lugar, criando uma sinfonia desorganizada, mas ainda assim agradável de se escutar. Era perfeito. Do jeito que eu queria que Eva conhecesse.
Assim que ela guardou o celular, eu puxei-a em direção aos comércios. A ruiva me seguiu, olhando curiosamente para todas as direções.
— Olha só! – apontou discretamente para uma prateleira, cheia de amuletos e objetos de vodu.
Paramos diante daquela tenda consideravelmente grande, com suas cores vibrantes e uma fachada envelhecida que indicava anos de história. A entrada era decorada com tecidos coloridos de diversos tons e penas. Uma criança — que se balançava para lá e para cá em uma cadeira de repouso — nos observava com olhos curiosos.
— Parece interessante, não acha, Jasper? – Eva murmurou, estudando o lugar com curiosidade.
— Vamos dar uma olhada. – ofereci meu braço para ela, que o segurou rapidamente com um sorrisinho de canto.
Ao entrarmos na tenda, fui imediatamente envolvido por uma atmosfera mística. Havia algo peculiar pairando no ar, apesar de parecer ser frequentada apenas por humanos. Velas iluminavam a pequena sala escura, criando sombras que dançavam nas paredes cobertas por cortinas vermelhas e roxas.
Uma jovem mulher com cabelos curtos negros, uma franja repicada caindo suavemente sobre os seus olhos castanhos e roupas que lembravam um vestido de época nos cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso amigável.
— Bem-vindos, meus amigos. Como posso ajudá-los hoje? — sua voz era suave e melódica, contrastando com o tédio que eu sentia emanando no seu ser.
A ruiva e eu trocamos olhares antes de começarmos a explorar a tenda. Haviam prateleiras cheias de frascos contendo poções e amuletos, cada um com uma explicação escrita à mão sobre seu propósito. Óleos aromáticos, velas perfumadas e incensos de todas as fragrâncias imagináveis estavam à nossa disposição. Não levaríamos nada, a não ser que ela pedisse.
Enquanto Eva examinava os produtos com interesse, meus olhos foram atraídos por um cartaz que dizia: "Leitura de Mãos – Conheça Seu Destino".
— Vocês gostariam de experimentar uma leitura? – a mulher humana perguntou com um sorriso gentil, se sentindo pronta para arrancar dinheiro de turistas. Olhei para a vampira, que finalmente desviou seus olhos curiosos dos amuletos da prateleira.
— Você gostaria? – quis confirmar. Eu não tinha uma forte crença na veracidade desse tipo de coisa, mas tudo o que me importava era o que Eva queria fazer.
Ela ponderou por alguns segundos, depois acenou com a cabeça. — Vamos. Pode ser divertido.
A atendente de vestes antigas nos conduziu mais fundo na tenda, abrindo a cortina carmesim para nós.
— Por favor, entrem. Mama Dhara está lá dentro. – nos deu um sorriso gentil antes de fechar a cortina atrás de nós.
Lá dentro, uma mulher mais velha, com longos cabelos brancos e encaracolados, nos esperava sentada no chão, logo à frente de uma mesa de madeira escura extremamente baixa. Instintivamente analisei sua aparência, seus olhos fundos que pareciam esconder segredos e rugas que denunciavam sua idade. A aparência de quem está definhando lentamente, perto da morte. Não era tão diferente de outras idosas, mas havia algo nela que me incomodou. E me incomodou mais ainda eu não saber o que era.
— Sentem-se. – sua voz rouca arranhou o ar como uma nota desafinada de um piano desgastado pelo tempo.
Eva foi a primeira a sentar, parecendo alheia a todos os detalhes estranhos que nesse lugar habitavam. Eu me acomodei no chão ao seu lado, atento. A mesa de madeira estava quase vazia, exceto por algumas cartas de tarô e duas taças de vinho dispostas em cada extremidade.
A velha quiromante estendeu a mão para Eva, que retribuiu prontamente, deixando sua mão esquerda sob os toques da senhora.
Mama Dhara começou a percorrer os dedos pelas mãos de Eva, traçando um caminho nas linhas das palmas. Ela continuou em um silêncio profundo, sua expressão impenetrável não transmitia nenhuma dica para se ver a olho nú, e quando tentei sentir suas emoções, não consegui sentir nada. Existia alguma barreira invisível que parecia bloquear meu dom. Aquilo era estranho, pensei que seria melhor se não tivéssemos entrado aqui.
— Vocês estão fugindo de algo, eu posso ver isso. – sua voz estridente, ainda que rouca, era tão incômoda quanto o rangido de uma porta deteriorada pelo tempo.
Eva trocou um olhar intrigado comigo, parecendo surpresa e até um pouco animada.
A senhora voltou a ficar em silêncio, e isso durou alguns terríveis e lentos minutos. Até achei que ela poderia ter morrido, mas as batidas lentas do seu coração e sua respiração pesada provava que não. Seus dedos agarraram a mão de Eva com mais força, ao passo que seu semblante se enrijeceu e tornou-se mais sombrio. Por um momento, consegui sentir uma fagulha de horror passando por dentro de si, mas a frequência das suas emoções era muito mais baixa do que deveria ser, quase imperceptível.
Ela abriu os olhos de repente, largando a mão de Eva rapidamente.
— Calamidade.
— Como? – a ruiva franziu a testa, surpresa. Eu retirei a mão dela de cima da mesa apressadamente, estreitando os olhos para a senhora maluca.
— É tudo o que você tem no seu caminho. – declarou, seu olhar neutro tornando-se desdenhoso ao encarar Eva. E então ergueu sua mão, com seu dedo magro e ossudo apontando para a vampira ao meu lado. — O mal que corre em suas veias é demoníaco. Você é destruição, garotinha. Só trará ruína para o mundo enquanto não morrer.
Ela bateu sua mão com força na mesa, fazendo com que o vinho na taça diante de Eva se derramasse completamente, tingindo sua camiseta branca de roxo.
Eu me preparei para defender a minha mulher, mas a atendente que nos cumprimentou anteriormente entrou pelas cortinas abruptamente.
— Vovó! – repreendeu a idosa, enquanto a própria ainda lançava um olhar severo para Eva.
— Acho melhor irmos embora. – me levantei do chão, puxando a ruiva para fora dali junto comigo.
Ela se manteve quieta, com o olhar perdido na sala que acabamos de sair. Eu segurei seu rosto em minhas mãos, atraindo seus olhos de volta para mim.
— Ei… – cochichei baixo, chamando a sua atenção.
— Você acha que…
— Não dê ouvidos para isso, Eva. – interrompi, franzindo meu cenho e com um semblante sério marcando minha expressão. — Nada do que ela disse é verdade.
Ela ficou em silêncio por mais alguns segundos, enquanto eu mandava ondas de tranquilidade numa tentativa de apaziguar sua tensão.
— Isso foi bizarro pra caralho. – arfou, alternando o olhar entre mim e sua camiseta manchada de vinho.
— Me desculpa, era para ter sido divertido para você. – lamentei, passando meus dedos nas maçãs do seu rosto.
— Não foi culpa sua. – afirmou, segurando meu pulso com leveza. — Eu estou bem. Só achei estranho.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, a atendente saiu por de trás das cortinas com um semblante sério.
— Lamento muito por isso. Mama Dhara não costuma agir dessa forma.
— Não tem problema. – Eva tentou tranquilizar, embora seu sorriso fosse fraco.
— Como eu posso recompensar vocês por isso?
— Não é necessário. – afirmei, só querendo sair dali logo. Mas ela parecia determinada a fazer alguma coisa em troca.
— Por favor, deixe-me pelo menos emprestar uma roupa para você.
— Eu posso me trocar depois. Não tem problema. – Eva tentou negar, mas a mulher não estava disposta a aceitar uma recusa.
— Olhem, vai acontecer um grande baile de máscaras na cidade daqui a duas horas. Vocês deveriam vir.
— Desculpa, nós nem temos fantasias. – mais uma recusa.
— Meu irmão tem uma loja bem ao lado, eu posso emprestar alguma coisa para vocês.
— Não queremos incomodar. – Eva devolveu.
— Eu insisto!
Eu podia sentir a impaciência reinando nas duas, só multiplicando a minha própria irritação com aquela enrolação desnecessária.
— Tudo bem, nós aceitamos. – me meti no meio da conversa antes que Eva pudesse dar continuidade.
A humana sorriu, parecendo extremamente satisfeita enquanto a ruiva me lançou um olhar afiado, desgostosa com a derrota.
Ela nos guiou para fora da tenda até um pequeno ateliê na mesma rua. Quando entramos, a primeira coisa que notamos foi o atendente atrás do balcão. Seus cabelos eram tão escuros quanto o da mulher que estava na nossa frente, sua pele era ligeiramente mais pálida, e seu coração não batia. Ele não era humano. Era um de nós.
Eva e eu paramos imediatamente, e eu me coloquei na frente dela, preparado para qualquer coisa. Os olhos vermelhos dele — agora cobertos por lentes de contato verdes — se fixaram em nós com hostilidade. Ele rosnou, sem sair de trás do balcão.
— Esperem. – a humana se posicionou entre nós e levantou suas mãos para o homem. — Eles não são inimigos, Cass!
Ela nos deu as costas momentaneamente. Eu poderia aproveitar esse momento e usá-la ao meu favor para fazer o vampiro recuar sem alvoroço, mas não o fiz. Não só porque isso traria desgosto para a família que me acolheu, mas também porque não queria fazer algo assim com Eva observando. Não na frente dela.
O vampiro desconhecido pareceu acalmar os nervos quando ouviu as palavras da mulher. No entanto, Eva e eu não relaxamos.
— Quem é você? – perguntei com firmeza, mantendo meus olhos fixos no homem. Não fui respondido, e isso estava torrando a minha paciência. — Quem é ele? – questionei novamente, dessa vez para a humana à minha frente. Um misto de nervosismo e medo se acolheu no seu inteiro mesmo que ela não demonstrasse isso fisicamente.
A mulher se apressou para recuar alguns passos e responder, embora eu não tenha empregado um terço da ameaça que queria na minha voz.
— Me desculpem, eu não nos apresentei. Eu sou a Gabrielle e esse é o meu irmão, Cassius.
— Tem certeza que ele é seu irmão? – Eva indagou por mim, saindo de trás das minhas costas, seus olhos estreitos e cheios de desconfiança.
— Cassius foi mordido por um deles há cerca de dois anos. – Gabrielle explicou às pressas, afobada. A corrente de nervosismo que eu enviava para ela com certeza não facilitava.
— Por quem? – voltei a questionei, ainda encarando fixamente o vampiro.
— Ele se chamava Volturi. Vocês conhecem? – a voz grave do homem se fez presente pela primeira vez, enquanto ele saia de trás do seu balcão com passos lentos.
Eva e eu nos entreolhamos antes de responder.
— Volturi não é uma pessoa. – foi somente o que eu disse antes de me silenciar, atento em cada movimento de Cassius.
— O que é, então?
— Os Volturi são um clã. Provavelmente quem fez isso com você é um dos membros da guarda. – Eva respondeu por mim. Suas sobrancelhas se uniram antes de ela me dar um olhar confuso. — Não tenho certeza se isso é permitido pela lei deles. Um membro da guarda não deveria simplesmente transformar alguém sem motivo e sair impune. – compartilhou comigo. Realmente, não fazia sentido.
— Talvez haja um traidor. – devolvi. Minha voz ecoou pelo salão, sendo devorada pelo silêncio que veio em seguida.
O vampiro, Cassius, alternou seu olhar desconfiado entre mim e Eva. Enviei uma onda de tranquilidade para todos sem que percebessem, mantendo a situação sob controle.
— Essa pessoa matou nossos pais antes de deixar Cass agonizando na rua. – Gabrielle foi a primeira a quebrar o silêncio, sua voz trêmula refletindo a tristeza que eu podia captar em suas emoções. — Se vocês souberem como podemos encontrá-lo, precisamos que nos digam. – suplicou, seus olhos transmitindo por si só a agonia de seu pedido.
Cassius não se esforçou para pedir também, sua cara amarrada não estremeceu um milímetro sequer. No entanto, ele não precisava ser expressivo para que eu soubesse o quanto estava ansioso pela nossa resposta.
— Não podemos contar. Vocês seriam mortos antes mesmo de descobrir quem fez isso. – Gabrielle tentou protestar, mas Eva tomou a frente. — Estou falando sério, isso não é uma boa idéia.
— Vocês vão contar! – o vampiro sibilou, dando longos passos em nossa direção, ficando cara-a-cara comigo. Sua raiva oscilava com a tranquilidade que eu o forçava a ter. Ele estava travando uma batalha contra o meu dom e nem sabia disso.
— Nós não vamos contar nada. – sibilei de volta, encarando-o no fundo dos olhos.
Ele não pareceu gostar da minha resposta, mas eu tampouco me importava com isso.
— Nós não somos inimigos. Estamos fugindo dos Volturi. – Eva se meteu no meio de nós dois, empurrando ele para longe de mim. Cassius lançou um olhar mordaz para ela. — Não podem ir até eles. Vão acabar denunciando nossa posição.
Minha paciência estava diminuindo rapidamente. Se ele lançasse um olhar ameaçador a Eva novamente, eu não permitiria que ele saísse dali ileso.
— Eu não me importo. – o moreno rebateu, ainda impassível.
— Cassius! – fora Gabrielle quem o repreendeu, atraindo a atenção do irmão para si. — Não vamos brigar. Não hoje.
O vampiro permaneceu indiferente, mas recuou alguns passos para trás, finalmente cedendo. Gabrielle alternou seu olhar entre nós três, focando em Eva logo em seguida.
— Eu quase me esqueci. Vamos dar um jeito nas suas roupas.
Minha namorada se permitiu ser puxada para o fundo da loja, me dando um último olhar desconfiado antes de sumir do meu campo de visão. Cassius e eu ficamos sozinhos, em completo silêncio apenas observando os passos um do outro
Isso duraria por um longo tempo...
NOTAS DA AUTORA:
O que vocês estão achando, vadias? Preciso da opinião de vocês. (Sem gracinhas hoje, se não quiserem levar facada)
A nossa querida Gabrielle é uma homenagem para a minha namorada bellacruellax. Ela me implorou por isso de joelhos ontem, não pude negar um pedido desses 😍
Não revisei o capítulo, então perdoem os vários erros que devem ter. Algum dia nessa vida eu paro para revisar tudo.
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