02 Vários Nãos, Um Sim
Joseline era perfeitamente ciente de sua fragilidade, mais como uma característica pessoal do que de gênero. O que não significava que gostasse de demonstrá-la aos outros.
Entretanto, depois da saída da proprietária e de ver os olhares curiosos de seus vizinhos que haviam saído para fora de suas casas a fim de verem que movimentação diferente era aquela, ela começou a fraquejar abertamente. Os braços acolhedores do noivo prontamente a rodearam, enquanto ela, envergonhada, deixava escapar o choro que se julgava capaz de reter.
" Não pagaram o aluguel "
" Quase que ficam na rua "
" Ouvi dizer que mal têm o que comer, como vão pagar o aluguel? "
Escutar o falatório precariamente disfarçado era tão doloroso quanto saber que era verdade o que diziam. Maurício a ajudou a entrar em casa, visto que ela mal enxergava, tendo os olhos embaçados pelas lágrimas constantes.
Joseline queria gritar para os vizinhos que fossem cuidar da própria vida e arrumassem o que fazer, mas as palavras se embolavam com o choro e os soluços. Apenas se deixou guiar para o interior da casa, resignada.
Maurício se sentou no sofá ao lado de Joseline, enquanto ela enxugava os olhos, com as pontas dos dedos.
- Que vergonha, meu Deus! - dona Joana, mãe de Joseline disse, fitando o marido com descrença. - Você nem avisou que não tinha pagado nada. Pelo menos a gente se preparava 'pro' vexame.
- E eu ia pagar como? Já estava devendo gás do mês passado, e tinham três contas de água acumuladas! Qualquer hora vinham cortar. Fora que a luz aumentou também e...
- Que deixasse cortar a água! - Explodiu a mulher. - A gente se virava, pedia os vizinhos. Qualquer um arranja um balde de água. Agora o que a gente não pode é ficar na rua, Genésio!
- Você esquece que tudo nesta casa fica nas minhas costas! Tudo o quanto há sou eu que tenho que pagar...
- Você sabe muito bem que sempre que aparece uma faxina, eu...
- Chega! - Joseline gritou, tentando pôr um fim à discussão dos pais. - Eu já não falei que vou arrumar emprego? Eu vou arrumar! É questão de honra, agora. Já estava mesmo na hora de eu trabalhar. Você vai ficar em casa cuidando dos meninos, mãe. E eu vou trabalhar. Vou trazer dinheiro pra dentro dessa casa e vou continuar ajudando vocês, mesmo depois que eu casar.
- Meu bem - Maurício tocou carinhosamente o braço da noiva. - Eu também posso ajudar você com os aluguéis atrasados.
Ela olhou para ele, os olhos vermelhos e inchados. Um soluço escapou de sua garganta e ela abanou a cabeça.
- Não. Eu agradeço, meu amor. Mas não precisa. Você já está gastando muito com a construção da nossa casa. Essa responsabilidade é minha, não se preocupe.
- Você é muito gentil, Maurício - disse Joana. - Mas Joseline tem razão. Isso é com a gente aqui - e encarou o marido, que desviou o olhar.
Depois, ela saiu da sala. Era a hora do banho de Samuel, o filho mais novo, o caçula de quatro anos. Nesse momento, o próprio veio de um dos quartos, gritando pela irmã.
- Oi, Sassá! - Joseline o pôs no colo, beijando seu rostinho.
- Você 'tava' chorando, "puquê? - O pequeno passou as mãos pelos olhos da irmã, observando a vermelhidão.
- Nada, meu amorzinho. Bobeira minha!
- Vem, Samuel! A água já tá boa! - Joana gritou de lá.
- Vai lá tomar seu banho, a mãe tá te chamando - ela o fez descer para o chão. Depois, encostou-se no sofá, soltando um suspiro cansado.
🌻
Depois que o noivo se despediu e voltou para casa, Joseline ainda permaneceu no sofá, a mente à mil por hora, sem acreditar em como aquele dia perfeito na casa da avó havia acabado de forma tão terrível. Quase despejados!
A vida nunca havia sido um mar de rosas. Joseline tinha noção de seu lugar no mundo e do quão pequeno, simples e escasso era esse lugar.
É claro que queria e tinha esperança de que a situação da família melhorasse com o tempo, mas, por mais que desejasse, as coisas pareciam que nunca iriam mudar.
Tudo era mais fácil quando o pai ainda conseguia trabalhar e colocar pelo menos o básico na mesa. Mas, ultimamente, ele vinha fraquejando. E quem podia culpá-lo por trabalhar tanto, feito um condenado, arrebentando as costas e a coluna, carregando pesos exorbitantes e fazendo esforços que estavam além das capacidades de seu físico débil?
A cada volta para casa, os calos nas mãos do pai pareciam maiores e o cansaço era visível até no modo encurvado e cabisbaixo que ele andava.
Como se não bastasse, Pedrinho vinha sentindo umas dores estranhas. Não tinha vontade de brincar com as outras crianças na rua e seu aspecto era claramente de alguém doente. Ele também parecia magro demais para uma criança de sete anos. As idas ao médico não haviam exatamente adiantado nada até agora, já que as dores voltavam sempre. Isso era preocupante e angustiante, visto que ela, Jane e Sassá tinham uma saúde perfeita.
Às vezes, Joseline queria ter o poder de resolver todos os problemas da família de uma só vez. Arrancar todos aqueles males e problemas e nunca mais ver a ruga de preocupação que estava constantemente na testa de sua mãe. Ver a mãe toda nervosa e sem paciência com o pai, só servia para ela perceber como queria ser diferente. Seria uma esposa compreensiva e carinhosa, mesmo quando as coisas não estivessem indo muito bem.
Joseline se deitou na cama, repousando a cabeça no travesseiro fino, de panos remendados. Essa era a parte que mais gostava de sua vida: pensar em Maurício e sonhar com a felicidade que esperava ambos.
🌻
Durante a semana que se seguiu, Joseline tentou, desesperadamente, conseguir um emprego.
Saía sempre às sete da manhã, com seus currículos em mãos, dentro de uma pasta roxa que a irmã havia lhe emprestado. Antes do meio dia, já estava exausta de tanto caminhar pela cidade, entregando um por um em lojas, supermercados, farmácias ou qualquer estabelecimento que encontrasse pelo caminho.
Não era exatamente "o" currículo, já que ela nunca havia trabalhado antes, mas deixava bem claro o seu imenso desejo de ser útil e de aprender tudo o que fosse preciso.
Sua esperança estava nas alturas. Ela tinha total certeza de que, assim que chegasse em casa, o telefone tocaria e ela precisaria escolher para qual entrevista de emprego iria primeiro. Joseline tinha fé em si mesma. Podia nunca ter trabalhado, mas conhecia seu potencial e sabia que poderia fazer qualquer coisa que lhe ensinassem.
No entanto, os dias começaram a passar e ninguém ligava. Ela estava ficando sem tempo. A dona da casa havia sido clara: " Uma semana. " Não achava justo, mas o que poderia fazer?
Joseline voltava aos lugares onde havia deixado um currículo. Talvez não tivessem tido tempo de ligar, eram muito ocupados. Mas as respostas variavam:
" Quando estivermos realmente precisando, a gente liga para você. "
" No momento nosso quadro de funcionários está completo. "
" Você pode substituir fulana de tal que vai entrar de férias no mês que vem..."
Mas Joseline não podia esperar até o próximo mês. O tempo estava passando. Ela precisava trabalhar! Precisava pagar o aluguel atrasado, ou não queria nem pensar no que poderia acontecer.
As negativas vieram, uma após a outra, frustrando o coração de Joseline que, antes tão confiante, agora já saía de casa temendo o próximo não que levaria.
🌻
Quando deu por si, a semana já havia passado e ela, num ato de desespero, tocava incessantemente a campanhia de uma bela casa num bairro de classe média.
- Mas que perturbação... - alguém veio reclamando lá de dentro. A mulher de roupão rosa e bobs na cabeça a olhou de cima a baixo, espantada. - Você...?
- Bom dia, dona Cláudia - Joseline cumprimentou, tremendo.
- Mas o que você está fazendo, que escândalo todo é esse?
- Eu preciso falar com a senhora.
- Veio pagar o aluguel?
Joseline não queria ser expulsa dali imediatamente, por isso não respondeu. Apenas perguntou se poderia entrar.
A proprietária da casa permitiu que ela entrasse, fechando o portão com estardalhaço e sempre reclamando.
- Espero que tenha vindo me pagar, como prometeu, pra vir uma hora dessas na minha casa.
Joseline foi introduzida numa sala grande e larga, onde uma mesa redonda de pedra estava posta com um café da manhã que quase a fez salivar. Havia saído cedo de casa, estava de estômago vazio.
Um homem passava manteiga em um pão e levantou a cabeça rapidamente para cumprimentá-la com um bom dia.
- Então, garota. Como vê, estou tomando café com meu marido. Esse momento é sagrado pra nós. Desembucha. Trouxe o dinheiro?
Joseline tentou conter a tremura em suas pernas e enxugar o suor em suas mãos.
- Na verdade, dona Cláudia, eu... - ela engoliu a seco.
Sentia-se tão boba por deixar aquela mulher com aqueles bobs ridículos na cabeça intimidá-la. Mas precisava ser forte.
- Eu não consegui o dinheiro. Ainda não.
A mulher a olhou com as sobrancelhas muito finas erguidas.
- Então o que está fazendo aqui? Deveria estar arrumando sua mudança. Eu fui bem clara com você.
- S-sim, a senhora foi. Mas eu não consegui trabalho até agora, dona Cláudia. Eu... procurei muito, mas até agora não fui chamada em lugar nenhum. E eu não tenho como recorrer a outro meio, não tenho a quem pedir emprestado, eu...
- Isso não é problema meu, garota. Cada um com seus problemas. Eu preciso receber os meus alugueis. Então, se não tem como pagar...
- Eu pensei em um jeito! - Joseline se adiantou. - Eu pensei que... Que talvez, a senhora, a senhora mesmo, poderia me empregar. Aqui na sua casa. Eu faria de tudo, até cozinhar, se a senhora quisesse. Eu faria a limpeza da sua casa, e não precisaria me pagar em dinheiro, apenas descontar no aluguel.
O homem largou seu pão para olhar para Joseline e a esposa o encarou também, balançando a cabeça.
- Não, não. Isso não será possível. Eu já tenho uma funcionária, ela vem três vezes na semana. E sou eu que faço nossa própria comida, não deixo ninguém encostar no meu fogão.
O tom da mulher fez Joseline engolir em seco. Sua garganta estava apertada.
- Mas... mas eu poderia fazer qualquer outra coisa. Qualquer coisa...- enfatizou, sentindo seus olhos arderem.
- Não! Você não entendeu? Eu já tenho alguém, não preciso de mais uma. É melhor você ir embora e providenciar sua mudança.
- Por favor! - Joseline se aproximou dela. - Não faz isso, dona Cláudia, o tempo que a senhora deu foi muito curto e não é tão fácil assim conseguir emprego. Minha família não tem pra onde ir...
A mulher se afastou, a olhando com espanto.
- Ei, calma - ela sentiu uma mão em seu ombro. - Calma, menina.
Joseline olhou para o homem, que havia se levantando e agora estava perto delas.
- Me desculpa... - ela disse, num fio de voz, para ambos.
- Tudo bem - o homem a fitou e Joseline reconheceu algo como que um carinho paternal em seu olhar. Ele parecia... tão benevolente. E era.
- Não precisa se desesperar, está bem? - A mão permanecia no ombro de Joseline. Ele percebeu o quanto ela tremia.
- Vocês têm mais um mês pra pagar tudo - disse ele, sob o olhar descrente da esposa. - Você pode procurar emprego com mais calma.
- De jeito nenhum! A minha palavra é uma só - disse a mulher. - Eu disse uma semana. Uma semana e nada mais!
- Aquela casa também é minha. E eu estou dando mais um mês pra ela.
Ele voltou a olhar Joseline, que mal conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Agora ela realmente queria muito chorar.
- Eu sei como as coisas estão difíceis. E você, meu amor... - ele passou o braço pelo ombro da mulher, que encarava Joseline com fúria - precisa aprender um pouco sobre empatia.
Joseline passou os minutos seguintes agradecendo aquele senhor. E voltou para casa mais leve. Ainda existiam pessoas boas no mundo.
🌻
A esgotação física e mental a fez se deitar mais cedo naquele dia. A boa ação do marido da proprietária havia sido de grande ajuda, mas agora, ela precisava se empenhar ainda mais, em busca de um emprego. E essa busca estava demasiadamente difícil. Ninguém parecia de fato interessado nela e seu currículo não era nada atrativo.
O suspiro que saiu de sua garganta foi de frustração.
- Se não está conseguindo emprego, pode trabalhar para mim.
Joseline se virou, para ver a irmã do outro lado do quarto, sentada na segunda cama que havia ali, rodeada de tecidos e apetrechos de costura.
- É o quê, Janinha?
Jane sorriu para ela, e em seguida, voltou a olhar para a boneca de pano, que era seu manequim naquela noite.
- Eu vou ser uma estilista de sucesso um dia, então você vai poder, sei lá... vender as minhas roupas. Ser uma vendedora, em uma das minhas lojas.
Joseline riu da fala da irmã mais nova. Achava simplesmente adorável o talento de Jane para costurar e era a primeira a admirar as roupas que ela costurava para as bonecas. Era inegável que sua irmã poderia ser uma grande estilista um dia. Mas até lá...
- Eu ia adorar trabalhar pra você, maninha, mas preciso de um emprego pra ontem! O mais rápido possível. Acho que você vai demorar um pouquinho ainda...
Jane deu de ombros, e voltou a se concentrar na costura.
E Joseline fechou os olhos, pedindo a Deus um pouco daquela fé pura.
🌻
Acordou com os cachorros do vizinho latindo enlouquecidos. Era sempre assim. Não eram nem seis e meia da manhã e eles já estavam estressados. Joseline se arrastou para o banheiro minúsculo da casa, e lavou o rosto com o último pedaço do sabonete que um dia havia sido grande. O creme dental também já estava nas últimas - ela teve de espremer o tubo até seus dedos ficarem brancos.
Depois, tomou um gole do café que a mãe acabara de passar e saiu, com seu último currículo em mãos.
🌻
Joseline gostava de valorizar as pequenas coisas boas que aconteciam ao longo do dia, mesmo que o dia em si estivesse sendo ruim como um todo. A coisa boa daquele dia foi ter encontrado sua amiga Laisa no centro. Laisa precisava apenas retirar dinheiro no caixa eletrônico para sua mãe e, ao terminar essa tarefa, grudou seu braço ao de Joseline e declarou que iria com ela, entregar os currículos.
- Mas na verdade... eu só tenho um. Este é o último - ela mostrou a folha para a amiga.
Aquilo não pareceu desanimar Laisa.
- Então a gente precisa entregar esse currículo no lugar certo. Vai ser no lugar que você vai trabalhar. O último tem que ser também o que vai fazer você conseguir. Você vai ver!
Joseline a olhou, dando um sorriso amarelo, incerto.
- Ânimo, Jô! Vai dar tudo certo, amiga!
Joseline agarrou o braço dela, com mais força. Laisa não tinha ideia do quanto ouvir aquilo a confortava. E só de andar ao lado da amiga, as coisas pareciam mais fáceis.
- E de qualquer forma, a gente pode comprar mais currículos depois. Afinal...
Laisa foi interrompida por alguém, que lhe empurrou para o lado, passando rapidamente entre ela e Joseline.
- Mas que falta de educação...
Foi então que notaram a movimentação estranha na porta de uma das lojas, naquela avenida onde estavam. Um amontoado de gente caminhava para lá, parecendo estranhamente interessados em alguma coisa.
- O que está acontecendo...?
Ao invés de obter uma resposta, Joseline percebeu que ela e a amiga eram cada vez mais empurradas pelas pessoas que não paravam de passar e de tentar chegar até a tal loja.
Quando deram por si, estavam dentro do lugar, que era imenso e estava lotado. Alguns funcionários tentavam conter a balbúrdia.
- Olha ali, Jô - Laisa a cutucou. - Estão contratando aqui... Olha o papel.
Joseline observou o aviso fixado em uma das pilastras próximas à saída, que a amiga a mostrava. " Vagas para atendentes " dizia o pequeno cartaz.
Então era por isso aquele empurra empurra. Pelo visto, não era só ela que estava desesperada por um trabalho.
Mas Joseline percebeu que não eram somente as vagas que estavam chamando a atenção das pessoas ali. Seus olhos pousaram naquele homem, totalmente cercado, em grande parte por mulheres. Ele era grande, possuía um rosto a um só tempo rude e atraente. Era inegavelmente mais velho, provavelmente já chegara aos cinquenta, mas tinha um quê de sedução nos olhos e no modo como ele sorria, como se soubesse que cada voz estridente feminina que o chamava demonstrava o quanto elas o desejavam.
Então, muito perturbada, Joseline desviou os olhos, quando percebeu que, de repente, ele pareceu enxergá-la, no meio daquela gente toda.
Aparentemente não só ele, como também uma mulher que parou na frente dela e de Laisa e parecia verdadeiramente muito irritada. Joseline viu o nome dela no crachá e soube que ela era a gerente.
- Podem, por favor, se retirar? - disse a gerente. Ela reparou no currículo na mão de Joseline e pareceu ficar ainda mais brava.
- Não há mais vagas! Todas as vagas para atendente já foram preenchidas. Podem dar meia volta e sair daqui. Por favor - acrescentou, para não parecer tão rude.
Joseline tentou ser corajosa, mesmo estando intimidada por aquela mulher tão autoritária.
- Eu... - ela limpou a garganta. - Eu posso pelo menos deixar meu currículo aqui? Para quando aparecer alguma vaga. Eu preciso muito de um trabalho, senhora.
- Mas é claro que não pode! Não me ouviu, garota? Estamos completos. Pode se retirar, por favor - a gerente parecia louca para se livrar daquelas pessoas e de Joseline.
- Mas é claro que pode deixar seu currículo - a voz masculina e perturbadoramente grave chegou até Joseline e ela viu que aquele homem agora estava muito perto dela.
Ele pegou o currículo das mãos dela e só olhou para ele depois de fitá-la por alguns segundos que pareceram horas para ela.
O homem parecia um pouco intimidador visto mais de perto, mas mantinha aquele sorriso, que fazia amenizar sua expressão.
- Joseline Assis... - ele leu o nome dela no alto da folha. - Joseline - repetiu, e parecia um tanto afetado ao olhar de volta para ela.
- Está contratada, Joseline.
Joseline sentiu seu coração dar um pulo, assustado e emocionado. Aquele homem era o dono da loja. E ela não tinha como saber naquele momento quantas mais ele possuía. Muito menos poderia imaginar que sua vida estava prestes a mudar completamente.
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