VINTE E QUATRO: Você e Ele são Sujos
— Eu nunca vi algo parecido.
Baekhyun estava em caos, aparentemente aquela era a única esperança de todos, enquanto a maioria encarava a imagem da mulher parada ao lado do corpo quase de ChanYeol, Baekhyun não conseguia ver mais nada, suas vistas estavam desfocadas pelas lágrimas, e seu coração doía tanto que mais parecia que iria explodir a qualquer momento. Era como se a culpa lhe pesasse, e por aquele momento passasse a acreditar que havia feito a pior coisa do mundo. Ele dormiu com o Park na busca de saciar seus desejos, enquanto o Park havia dormido com ele na busca de acabar com toda a sua dor.
Talvez não houvessem culpados, ou pelo menos, não em vida.
— Vó, a senhora precisa nos ajudar! — ouvira JongDae implorar, havia um certo desespero em seus olhos — Não há nada que possa fazer?
A mulher tocou o rosto do rapaz, ele estava um pouco frio, mas não era como o frio da morte, abriu suas pálpebras procurando por qualquer sinal de vida que houvesse nele, ouviu seu coração, sentiu sua respiração. Mas aquelas marcas pelo corpo e pelo rosto lhe pareciam coisa de outro mundo.
E talvez fosse.
— Preciso pesquisar em alguns livros, verei o que posso fazer, mas não sei quanto tempo temos até que o corpo morra por si só. — ela encarava os demais presentes, todos os expressões assustadas e devastados, sem saber ao certo para onde focar — Três semanas até que morra de fome, mas provavelmente vá morrer de sede em menos tempo, e também não sabemos o que essa coisa na pele dele é, pode ser que o mate em questão de dias.
Se Myungjun já estava chorando, o beta agora soluçava alto em completo desespero.
— Deixem o corpo aqui. — ela disse — Mas preciso que dois de vocês fiquem para cuidar dele, o corpo é pesado e provavelmente será preciso move-lo algumas vezes, além de limpa-lo e molha-lo para que sua pele não desidrate.
— Eu fico. — o beta foi o primeiro a se pronunciar, praticamente jogado sobre o corpo do irmão.
— Eu também fico. — Baekhyun se pronunciou logo em seguida, e ninguém ali parecia querer contestar a sua decisão, o que provavelmente não adiantaria de nada, sendo que o ômega não mudaria de ideia.
Ficaria ao lado de ChanYeol até o fim.
[... Mordida de Alfa ...]
— E agora o Baekhyun está lá com ele.
JongDae havia contado para Jongin tudo o que havia acontecido no dia anterior, e por sua vez o alfa estava contando para Kyungsoo, que precisou se sentar para processar tudo o que estava acontecendo. Aparentemente, as coisas eram bem mais profundas do que qualquer um pudesse ter imaginado.
— Pobre Baekhyun, o alfa que ele tanto ama... — o ômega suspirou pesado, se sentia muito mal diante da situação de seu amigo.
Aquele era um sofrimento que não desejaria nem para inimigos.
— Ei! — o moreno segurou em seu rosto, estando de joelhos ao lado da cadeira em que o menor estava — Não se preocupe tanto, confie na minha avó, ela vai dar um jeito.
O alfa recostou a cabeça sobre o colo do ômega, recebendo o carinho do mesmo em seus cabelos. O suspiro solto pelo Kim deveria ter sido ouvido de longe. Ele estava cansado. Cansado de se sentir incapaz diante da situação em que se encontravam. Ele não conseguia curar a tristeza de seu próprio ômega.
Kyungsoo estava triste, isso era algo evidente em seus olhos, especialmente após descobrir que Zitao estava esperando um filho. Todos conseguiam, menos ele. Seu desejo por uma criança era evidente, por mais que tentasse esconder de Jongin. Haviam momentos em que esquecia que era marcado, e seus sentimentos eram compartilhados com ele, Jongin sabia exatamente o que estava acontecendo com ele, e isso o preocupava cada vez mais a cada dia que se passava.
— Eu o amo tanto. — o ômega recaiu-se sobre o Kim, aspirando o cheiro de seus cabelos e da pele de seu pescoço, em suma sinceridade, seus sentimentos ao alfa o traziam a vontade de seguir seus dias, com filhos... ou sem filhos. Afinal, Jongin lhe seria tudo o que havia de bom? — Jongin, se houvesse ao menos uma chance...
Erguendo a cabeça, o moreno o encarou, segurando em seu rosto com a delicadeza que um alfa poderia ter. Seus lábios se encontraram de maneira calma, suas línguas se enlaçaram de forma lenta, com o sabor único que apenas ambos tinham o poder de experimentar.
— Kyungsoo, se você ainda acredita, eu também acredito.
Teriam trocado mais beijos apaixonados se o barulho de algo esbarrando em alguma coisa não os tivesse atrapalhado. A imagem de Minhyuk segurando a vasilha que acabara de quase derrubar, com um sorriso torto nos lábios parecia ser o tipo de coisas que ambos já estivessem acostumados a ver, pra falar a verdade era bem comum o beta acabar os encontrando em momentos íntimos, e saindo de fininho fingindo que não havia visto nada. Algumas vezes ele acabava se atrapalhando e batendo em algo, o que era o caso.
— Me desculpem, eu não queria atrapalhar. — o mais novo já estava saindo pela mesma porta que entrou, seu rosto estava um pouco vermelho.
Não tão vermelho quanto no dia em que os encontrou sem roupas sobre a mesa.
— Não, está tudo bem. — o alfa foi quem o disse — Mas onde você estava?
Já era um pouco tarde da noite, e Minhyuk havia saído cedo, antes de anoitecer. Não era como se Jongin e Kyungsoo fossem controladores, apenas se preocupavam com o mais novo, especialmente por conhecerem o preconceito que alguns estrangeiros recém-chegados sofriam.
— Na casa do tio Junmyeon, estava brincando com o Young Ho. — respondeu, seu rosto estava ficando um pouco mais rubro — Mas aí o Yixing chegou e eles... Bem, era melhor eu vir pra casa. — em alguns momentos, Kyungsoo achava engraçado a forma como o beta se envergonhava fácil, Minhyuk era um garoto tímido na maioria das vezes, e talvez esse detalhe fizesse o casal se sentir culpado por quase ter arrancado dele a inocência — Eu vou pro meu quarto.
Dito isto, o beta seguiu caminho passando por eles e sumindo pela outra porta.
— Ele chama o Junmyeon de tio? — Kyungsoo revirou os olhos pela pergunta de Jongin, parecia que o alfa só tinha escutado isso.
— Deixa eles.
[... Mordida de Alfa ...]
Yifan poderia ser considerado o pai mais coruja do mundo, e Zitao era incapaz de reclamar disso, na maioria dos casos, obviamente haviam os momentos em que o alfa exagerava, porém tudo sempre acabava com beijinhos e abraços, e um alfa dizendo o quanto é apaixonado por seu ômega e faria de tudo para vê-lo feliz.
Haviam se mudado para uma nova casa, por ser mais distante das demais do vilarejo, a cabana do Wu não parecia ser o lugar ideal para criarem seus filhos, no plural, claro, porque Yifan não fazia o tipo de alfa que pararia no primeiro, e pra falar a verdade ele já estava ansioso por ver sua casa lotada de filhos, quantos filhos seu ômega pudesse lhe dar, e então todos poderiam ver o quão bela era a família que construíram juntos.
— Eu quero uma com um quintal bem grande. — Zitao dizia enquanto caminhavam pelas ruas pouco movimentadas, que ficavam mais ao leste do vilarejo — Assim as crianças podem brincar perto de mim, onde eu posso ver o que elas estão fazendo.
— Gosto assim. — o alfa o respondeu, passando um de seus braços ao redor dos ombros do menor — Um ômega bem preparado e que pensa em tudo.
Zitao o olhou, sorrindo de forma meiga e ganhando um beijinho rápido do marido. Ele estava tão feliz, feliz ao ponto de acreditar que seu coração iria explodir a qualquer momento. Zitao nunca foi de acreditar que pertencer a alguém fosse ser algo bom, mas a cada dia que se passava, quanto mais de Yifan ele se tornava, mais feliz se sentia, o alfa o tratava como nunca havia sido tratado em toda a sua vida.
E não, ele não trocaria aquilo por nada.
— Esse cheiro... — ouviu o sussurro do mais alto.
Farejou o ar de forma curiosa, sem encontrar nada que fosse digno de chamar atenção, mas já era o esperado, o olfato dos alfas era bem mais apurado que o dos ômegas, ainda mais por Yifan ser um lúpus.
Zitao acompanhou o marido enquanto o mesmo parecia seguir algo, estava confuso, principalmente pela expressão preocupada no rosto do Wu. O mais velho procurava em todos os lados, até parar em um beco mais afastado do movimento, haviam muitos caixotes e barris empilhados como se escondesse algo. Dessa distância, o ômega já conseguia sentir o forte cheiro de sangue.
Sangue humano.
Abaixo dos caixotes e com um pano grosso o cobrindo, o corpo de um homem completamente machucado estava escondido, a cena era terrível de se ver, Zitao fechou seus olhos no momento em que sentiu que ficaria tonto se continuasse a olhar aquilo, precisou tapar o nariz para não vomitar com aquele cheiro de sangue seco.
— Ele está morto? — perguntou, seu estômago estava embrulhando.
— Não. — o alfa o respondeu, cobrindo novamente a cabeça com o pano grosso e ajeitando-o para conseguir erguer o corpo quase morto — Ele ainda respira, mas se não estancarmos o sangramento logo, ele poderá morrer.
Yifan colocou o homem nos braços, por sorte não haviam muitas pessoas por perto para se questionarem daquilo, ele era pesado demais para ser um ômega, por mais que suas feições fossem bastante delicadas, logo Yifan deduziu que era um alfa. Alfas raramente se esforçavam para salvar outros alfas, pois eram comum que se sentissem ofendidos por serem socorridos. Tolice. Isso era de longe a atitude mais tola e imbecil dos alfas, se deixando levar por orgulho, obrigando a si mesmos a encarar a morte de perto, ao invés de clamar ajuda, aceitarem serem ajudados.
Por sorte, Yifan não era assim.
O alfa levou o homem desacordado até sua casa, onde rapidamente Zitao foi atrás de panos que lhes servissem como ataduras, e também para estancar o sangue. O lúpus estendeu o corpo do homem próximo ao tanque de água, começando a despir suas roupas, que praticamente estavam todas grudadas em suas feridas, se ele estivesse acordado, provavelmente seria algo extremamente doloroso.
— Um alfa? — Zitao se assustou quando se deparou com o corpo despido do rapaz, o rosto delicado do mesmo o havia enganado, mas os músculos de seu corpo o entregavam, pra não dizer que ele havia visto o tamanho do que o homem tinha no meio das pernas.
— Sim. — Yifan limpava todo o sangue seco do tórax do rapaz, encontrando a fissura em sua costela, que provavelmente estava quebrada — Isso não foi um acidente, ele foi espancado, e pela quantidade deve ter sido por duas ou mais pessoas.
Zitao observou seu alfa cuidar dos ferimentos do rapaz, da forma que podia, o ajudando em algumas coisas, e quanto mais o corpo era lavado, mais cortes e hematomas horríveis eram encontrados, especialmente em suas costas e braços. Yifan deduziu que ele havia tentado se proteger se encolhendo no chão, por isso a maioria dos hematomas estavam na região lombar. Alguns de seus dedos estavam quebrados e havia um inchado aparente em seu rosto sobre o osso do boxeador.
Ele estava em um estado deplorável, mas ficaria vivo.
Depois de vesti-lo com algo frouxo, o colocaram em uma cama no quartinho dos fundos, o rapaz ainda estava desacordado, mas a respiração parecia estar normalizada, e uma faixa tapada o rasgo em sua costela, além de seu pé estar imobilizado, da mesma forma que suas mãos.
— Que tipo de monstros fazem isso? — os olhos ainda assustados de Zitao encaram o alfa sobre a cama, era difícil até de se ficar olhando.
Yifan o abraçou de lado, beijando seus cabelos.
— Vá se deitar, Tao, esse tipo de emoção não faz bem pra você.
O ômega assentiu e deixou os dois alfas sozinhos. E assim como Zitao, o rapaz desconhecido dormiu o restante do dia quase todo, até o cair da noite ele continuava desacordado, despertando cada vez mais a preocupação do lúpus, que mal saiu do quarto por aquele tempo.
Já estava escuro quando o corpo até então inerte começou a se mexer, em alerta o mais velho parou ao lado do rapaz, que quase entrou em surto no momento em que o viu parado ali. Seus olhos assustados focavam todos os lugares do quarto, ele precisou ser segurado para não entrar em pânico.
— Fica calmo! — Yifan pediu calmamente, tentando manter o rapaz parado, para que ele não se ferisse mais se mexendo daquela maneira — Você não pode levantar, seu pé está quebrado, fique calmo, está seguro agora.
O alfa respirava pesado, mas tentava a todo custo se manter calmo, não reconhecia a imagem do homem que aparentemente era o seu salvador, não sabia como havia ido parar ali, e a ultima coisa que se lembrava era de estar cercado por três homens, que começaram a o agredir sem aparente motivo, mas uma única frase ainda circulava e estava bem nítido em sua mente "Você e ele são sujos".
— Qual seu nome?
Ele ainda meneou se respondia ou não, se sentia desconfiado.
— Eu sou... — sua voz estava fraca, sua costela doía muito — Lu Han, Xiao Lu Han.
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