VINTE E OITO: Seu Coração Está Batendo
A escuridão da noite se tornara uma aliada, a carroça conduzida por Myungjun carregava o corpo quase morto de ChanYeol, coberto por alguns lençóis, para que a imagem degradante do mesmo não viesse a ser motivo de escândalo aos que ainda se mantinham acordados nas ruas. Da mesma forma, Bom se escondia por baixo de uma grossa capa, enquanto violava o seu banimento. Kim Bom, não era bem-vinda na alcateia, não após ter sido taxada como bruxa pelos moradores mais antigos. Porém, o desespero daqueles que a acompanharam naqueles dias, a fazia se sentir corajosa ao ponto de não sentir medo do que provavelmente lhe ocorreria caso fosse encontrada ali.
Se encaminharam até a cabana dos Park, o local mais seguro para manter o corpo de ChanYeol, além de ser o apropriado para a cerimônia, o deitando sobre sua cama.
— Ficarei aqui preparando tudo para o ritual, enquanto vocês procuram. — a mais velha explicava tudo enquanto começava a retirar algumas coisas da bolsa de couro que carregava — Tentem ser discretos, mas rápidos, a mancha está quase no coração, provavelmente só teremos até o amanhecer.
Depois de passarem todas as informações, ambos se dirigiram até o outro lado do vilarejo, mais especificamente para a cabana em que Minseok vivia com Wonsik, que há muito tempo estava abandonada. O que precisavam fazer para libertar ChanYeol parecia algo simples, e era, especialmente por Wonsik já estar morto, esse era um dos itens necessários, agora, só bastava encontrar onde a alma do Park havia sido atada.
Feitiços assim são muito fortes, e precisavam da força vital de quem os fazia, portanto, era necessário ficar perto de quem as fez, muito perto, na maioria das vezes em sua própria casa. O olfato apurado dos alfas seria muito útil naquela situação, podendo farejar o objeto enterrado, que de acordo com Bom, teria um cheiro azedo, porém praticamente imperceptível, sendo bem disfarçado pela terra que o cobria.
JongDae e Jongin farejavam o chão enquanto Kyungsoo e Minseok vasculhavam em busca de parte do piso que obtivesse uma forma diferente do restante, como se houvesse sido mexido. Myungjun havia ficado com Bom, preparando o corpo de ChanYeol junto com Baekhyun, que também seria uma parte importante.
Já era metade da madrugada, tudo estava escuro demais, além dos olhos já começarem a pesar pelo cansaço, os alfas ainda procuravam, enquanto Kyungsoo dormia em uma cadeira velha, tendo seu sono velado por Minseok, que já estava quase o acompanhando.
Fora o alfa loiro o primeiro a sentir algo diferente, um leve cheiro assim que entrou no cômodo que algum dia deveria ter sido o quarto do casal, seu olfato não o enganava, havia algo ali.
— Jongin! — gritou pelo irmão — Acho que encontrei algo!
Em questão de segundos o outro alfa já estava ali, notando também o cheiro leve, e farejando por todas as partes, um ponto parecia mais forte. Os dois arrastaram a cama para o lado, encontrando algumas caixas, e depois e arrasta-las, o espaço de terra mais baixo entregava que havia algo ali.
Jongin começou a cavar com as próprias mãos, e não demorou muito até bater em algo. No buraco havia algo, mais se parecia com um pote de vidro, e dentro dele um saquinho marrom, o alfa não o abriu, assim como sua avó havia dito para não fazer.
— Vamos levar para a vovó, o dia já está quase amanhecendo. — disse Jongin, trazendo o pote de vidro junto com ele.
E após acordarem Kyungsoo, os quatro seguiram de volta para a cabana do Park, sem serem vistos por ninguém, a madrugada estava muito quieta, como se a própria noite fosse cumplice daquele segredo.
Ao chegarem na casa, encontraram apenas Myungjun e Baekhyun, que estavam no quarto com ChanYeol, mas ainda conseguiam ouvir o som de palavras sendo ditas rapidamente, um som que vinha do lado de fora da casa.
— A Bom está nos fundos, ela disse que precisava do brilho da lua. — fora o beta o responsável por dar a informação — Disse que assim que vocês chegassem, deveriam carregar o corpo de ChanYeol para fora, nós não temos mais tempo para perder.
Ao ouvirem isso, os dois alfas se prontificaram a suspender o corpo do ruivo, o tirando da cama enquanto o carregavam para fora da casa, o quintal. Os demais apenas os seguiram.
Bom estava de joelhos no chão, ela havia cavado um buraco na terra, e posto fogo dentro dele, e também um enorme circulo havia sido desenhado no chão, com cinzas de algo que nenhum deles saberia dizer. Kyungsoo entregou o pote de vidro que havia encontrado, e pela expressão da senhora, era isso mesmo que eles deveriam achar.
— Coloquem o corpo dele no meio do círculo. — ela dizia muito rápido, como quem realmente estava preocupada com o tempo, todos estavam, mas somente Bom sabia o quanto de tempo eles ainda tinham — E Baekhyun, a maldição foi ativada por você, e somente você pode quebra-la.
O ômega parou de imediato, essa parte ele ainda não havia sido informado. De fato, Bom ainda não havia tido tempo de explicar tudo nos mínimos detalhes, tudo era mesmo uma imensa correria.
— O que eu preciso fazer? — perguntou, um certo vacilo pôde ser percebido em sua voz.
— Sente-se no círculo, ao lado do corpo, e coloque suas duas mãos por cima do peito dele.
Como havia sido dito pela mulher, o ômega prontamente o fez, se sentando ao lado de ChanYeol e colocando suas duas mãos sobre o peito do mesmo. Dava para sentir o corpo do Park frio, frio como se já estivesse morto, mas o coração batia fraco.
Bom abriu o pote de vidro, retirando o saco marrom de dentro dele, era pequeno, mas seu cheiro ruim logo se espalhou junto ao vento.
— Assim que eu jogar isso aqui dentro do fogo, Baekhyun, você deve repetir várias vezes "Eu nego a maldição", repita isso até que o ChanYeol dê algum sinal de vida, mas você não pode dizer mais do que 19 vezes, se passar desse número, a maldição será transferida para você. — Bom dizia tudo ainda com pressa, mas tomando cuidado para que Baekhyun entendesse tudo da forma certa.
Baekhyun precisou engolir à seco, não poderia negar que havia ficado com medo, pois sabia que acabaria ficando ainda mais nervoso, e não conseguiria contar quantas vezes iria repetir a frase.
Seu coração martelava forte no peito, se sentia aflito e ansioso, queria muito ver novamente os olhos abertos de ChanYeol, finalmente ter seus sentimentos correspondidos pelo mesmo, ficar ao lado de quem amava. Mas a ideia de perder sua vida ali o deixava amedrontado, isso era inevitável.
Bom jogou o saco marrom no fogo, e uma fumaça negra começou a subir pelo ar, sendo carregada pelo vento tão gelado daquela noite. Baekhyun começou a dizer as palavras "Eu nego a maldição", uma, duas, três vezes. Repetiu ainda uma quarta e quinta vez. Seus sussurros começaram a ganhar um novo tom, dizendo cada vez mais alto, e lá pela décima segunda, haviam se transformado em gritos.
A décima terceira, décima quarta.
Minseok, que estava contando quantas vezes Baekhyun repetia, já estava pronto para fazê-lo parar, mas ao repetir pela décima sexta vez, o próprio Baekhyun parou. Tudo então se tornou um imenso silêncio, como se todos houvessem até mesmo parado de respirar.
— Baekhyun, o meu irmão... — Myungjun fora o primeiro a se pronunciar, as lágrimas já estavam prontas para começarem a rolar pela face do beta, que ainda via o corpo inerte de seu irmão.
— Não, o coração dele. — o Byun falou baixinho, sua voz estava presa junto ao choro na garganta — O coração dele bateu forte, eu senti.
Em um súbito segundo, o corpo de ChanYeol se debateu, e o alfa ruivo começou a tossir de uma maneira desenfreada, fazendo todos se assustarem. A imagem que viam era de um ChanYeol de olhos fechados, tossindo e cuspindo uma sombra negra, como se estivesse vomitando.
A sombra negra se espalhou pelo ar, se dissipando.
O silêncio voltou com total força, todos os presentes olhavam estáticos para ChanYeol, que ainda estava sentado no chão, até que ele finalmente abrisse seus olhos, encarando a todos os presentes em confusão, seus olhos assustados entregavam o que sentia. Parou assim que encontrou a imagem de Baekhyun, que havia começado a chorar, o ômega ficou de joelhos, aproximando as mãos de seu rosto.
— Meu amor... — o ômega sussurrou — Eu achei que tivesse te perdido pra sempre.
Ainda confuso, ChanYeol não assimilava bem as coisas, ainda permaneceu com os olhos abertos por alguns segundos, chegou até mesmo a tocar a mão de Baekhyun que estava sobre seu rosto.
— Baekhyun...
[... Mordida de Alfa ...]
ChanYeol estava se recuperando rapidamente, Bom havia dito que seria essencial que Baekhyun estivesse sempre com ele, para mostrar para a entidades que o assombravam, que agora ChanYeol estava livre. E o ômega havia levado isso ao pé da letra, passando praticamente o dia inteiro com o Park, indo para casa apenas quando anoitecia, e às vezes nem isso.
Myungjun também passava muito tempo com eles, mas após certa parte da recuperação de ChanYeol, o beta começou a dar mais privacidade para o irmão e Baekhyun, pois sabia que os dois precisavam de um tempo apenas para eles. Cuidava da casa para passar o tempo, ou ficava vagando por aí, sem saber ao certo o que fazer.
Pra falar a verdade, Myungjun estava começando a se sentir sozinho, ele ainda era jovem e tinha muito tempo para encontrar alguém, mas quando se estava com o coração ainda em fase de correção, o sentimento de solidão é algo difícil de se evitar. Depois que deixara Lu Han ir, Myungjun passou a se sentir daquela maneira, como alguém que simplesmente havia sobrado. Era quase certeza que em pouco tempo ChanYeol iria se unir à Baekhyun, e os dois certamente iria precisar de um espaço só para eles. Só para eles. O beta teria que aprender a viver sozinho.
Mesmo com as viagens de ChanYeol, a solidão não era vista daquela maneira.
Havia ido pegar água no poço, pois os potes de casa já estavam quase todos secos, parara ao lado do poço, após encher o balde que havia levado, sentando-se ali como quem queria apenas gastar o tempo atoa. Gostava de ver as pessoas que iam até lá, a maioria eram ômegas, que carregavam seus baldes com certa dificuldade, enquanto outros pareciam acostumados com o peso. Junto ao poço, sem juntava certa quantidade de ômegas casados, que aproveitavam daquele tempo para papear um pouco.
Mas naquele dia, tudo parecia vazio demais, todos que vinham, logo iam embora.
— Você sabe prender isso?
Despertou de seu devaneio quando ouviu uma voz, outro beta, que segurava o balde pertencente ao poço, e a ponta da corda que havia soltado. Myungjun respondeu que sim com a cabeça, tomando o balde e a corda de suas mãos.
Enquanto amarrava a corda ao balde, notou que o rapaz o olhava, e não era como se prestasse atenção apenas na corda, ele olhava para o seu rosto. Depois de bem presa, lançou o balde novamente na água.
— Agora você pode tirar. — o informou.
Voltou a sentar-se na pedra ao lado do poço, olhando o rapaz que enchia um balde consideravelmente grande, passou a reparar nas feições do mesmo, ele era incrivelmente bonito. A beleza dos betas era diferente da beleza dos alfas, que possuíam feições mais duras, porém não era como a delicadeza dos ômegas. A beleza dos betas era como uma mistura de ambas, e a cada nova expressão, era como assistir a um espetáculo de transformações.
— Obrigado por me ajudar. — foi a última coisa que o rapaz disse antes de pegar seu balde cheio e ir embora.
Myungjun ainda ficou o olhando até que sua imagem sumisse em algum ponto qualquer do caminho. Naquele momento ele não entendeu o motivo de seu coração ter batido mais forte, só sabia que aquele beta tinha algo de especial, e que a imagem da beleza do mesmo não sairia assim tão fácil de sua cabeça.
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