Capítulo 19
Capítulo 19
— O que caralhos aconteceu com ele? — Estebán berrou enquanto ele e meus perseguidores profissionais ficavam de lado em uma sala quase branca enquanto uma mulher de jaleco branco segurava uma máscara de oxigênio no meu rosto. Não foram as primeiras palavras que Estebán falou desde nosso retorno agitado ao prédio, que evidentemente incluía um andar inteiro composto de instalações médicas, mas eles foram as primeiras faladas em português. — Eu te disse para vigiá-lo, não matá-lo!
— Ele estava bem — protestou Pablo. — Ele só bebeu demais.
Eu queria interpor em seu nome, explicar sobre o cara com a seringa, mas ainda estava tossindo demais para falar. — Apenas respire — a médica ordenou.
—Tem certeza de que ele não é um truque? —, Ramirez perguntou secamente.
— Foda-se você...— Isso foi tudo que eu pude falar antes de começar a tossir novamente, mas ele entendeu a mensagem.
A médica me lançou um olhar mordaz. — Respire, Danilo.
Eu tentei respirar fundo, mas meus pulmões queimaram em protesto. Para minha humilhação, uma vez que eu finalmente consegui ar suficiente para me incomodar em olhar para cima, Estebán estava me observando. Ele sempre parecia me encontrar nos meus momentos mais baixos. Nesse caso, eu fui levado até a porta dele no meio de uma. Eu estava esperando irritação naqueles olhos castanhos tempestuosos, não a preocupação que encontrei.
De alguma forma, isso era pior. Pelo menos quando ele estava zombando de mim, eu poderia me defender. Eu não sabia o que fazer com sua pena e não a queria. Eu tinha sido veementemente contra a ideia da caçada, mas a ideia de que ele pudesse pensar duas vezes sobre isso porque ele me via como frágil ou fraco me fazia querer ir com os três ali mesmo.
Eu tentei dizer a mim mesmo que eu só me importava em parecer forte em torno de Estebán, porque ele se impôs a mim sem negociação, mas a privação de oxigênio estava tornando difícil mentir para mim mesmo.
— Aqui — disse a médica, puxando a máscara do meu rosto para me oferecer a bombinha. — Tente isso agora, acho que você está respirando o suficiente.
Peguei o pequeno dispositivo vermelho e retirei o máximo de ar que pude sem iniciar outro ajuste. Pressionei a bomba de aerossol e respirei fundo, deixando o vapor acre preencher meus pulmões. Queimou, mas de um jeito bom. Prendi a respiração pelo máximo que pude, o que acabou sendo metade dos dez segundos recomendados. Tossi algumas vezes e fiz de novo. Desta vez, a medicação ficou em meus pulmões o tempo suficiente para que eu sentisse que os espasmos diminuíam.
Eu tive crises ruins, mas elas nunca duraram tanto ou foram tão severas. Então, novamente, eu normalmente não era abordado por desconhecidos em banheiros públicos me injetando sei lá o que com uma seringa. Assim que pude respirar de novo, parei de tossir. Estebán, Pablo e Ramirez estavam todos olhando para mim em vários graus de pena e preocupação. — Estou bem. — Eu tossi. —Acontece.
— Há quanto tempo você tem asma? — Perguntou a médico, franzindo a testa.
— Não sei. Desde que nasci?
— E o que você acha que desencadeou essa crise tão severa? Estresse, mudança no clima, ar condicionado? — perguntou a doutora.
Eu hesitei. — Eu estava bem. Fui usar o banheiro e quando estava lavando as mãos um sujeito esbarrou em mim e vislumbrei algo parecendo uma seringa. Comecei a passar mal em seguida. Pensei que tinha sido envenenado e estava morrendo.
— Saiam. — Estebán rosnou para seus homens. Pablo e Ramirez tropeçaram uns nos outros fugindo da sala. Eu ia lhes dever mais do que algumas cervejas para compensar isso. Quando finalmente aconteceu de alguns dos membros da matilha gostarem de mim, tem uma merda para jogar tudo na lama de novo.
Não que eu planejasse ficar. Eu tinha que ficar me lembrando disso. Assim que a chance chegasse, Zeca e eu saímos, presumindo que eu não fosse internado ou morresse antes mesmo dele chegar em casa.
— O que há de errado com ele, Raquel? — Estebán perguntou.
— Difícil dizer sem fazer alguns exames — disse a médica. Ela me observou de perto, continuando a franzir a testa por trás dos grossos óculos amarelos que quase combinavam com a cor de seu cabelo. — Você fazia acompanhamento em um pneumologista? Ou só no clínico geral? Teve alguma piora nesses anos? O que exatamente você sentiu quando o desconhecido injetou sei lá o que em você?
Eu sabia exatamente em que ela estava chegando, e ela provavelmente estava certa, mas eu estava vivendo em negação há muito tempo e outro dia não ia me matar. Isso não iria me impedir de morrer também. Isso é o que eu sempre disse a mim mesmo, então eu teria uma desculpa para não buscar um diagnóstico com um especialista e ouvir com certeza que eu tinha uma data de validade.
— Sempre acompanhei no clínico geral. Ele disse que era apenas asma.
— O seu médico que eu estou assumindo é do sistema de saúde pública, um generalista do postinho do seu bairro— ela disparou de volta.
Eu provavelmente teria gostado dela sob quaisquer outras circunstâncias, mas hoje, ela era apenas mais um obstáculo entre eu e a volta de Zeca. Ela puxou o estetoscópio do pescoço e colocou os botões nos ouvidos. — Respire fundo — disse ela, levantando a minha camisa nas costas para pressionar o metal frio contra a minha pele.
— Faça o que ela diz, — exigiu Estebán, como se pudesse ler minha mente e ver a obstinação se formando.
Eu obedeci, desejando que meus pulmões não me traíssem. Eu aguentei o suficiente de crises respiratórias ao longo da vida, meus pulmões me deviam isso.
— Mais uma vez. — disse Raquel.
Tomei outro fôlego e comecei a tossir. Ela puxou o estetoscópio de volta em volta do pescoço e franziu a testa para mim novamente. Ela ia precisar de uma plástica se não relaxasse sua expressão.
— O que ele tem? — Perguntou Estebán. Eu poderia dizer que ele queria obriga-la a dizer a ele. Pelo jeito que seus braços estavam cruzados e seu pé continuava batendo sua energia nervosa. Mas, ele podia ser civilizado quando queria. Apenas não comigo.
— Eu preciso fazer um raio-x. Há muito barulho. Pode ser fluido ou pode ser congestionamento. Eu não sei até ver as imagens.
— Não — eu disse, levantando-me da maca. —Seja o que for, pode esperar até depois da chegada do Zeca.
A doutora Raquel suspirou e olhou para Estebán. Ele assentiu e ela saiu, um lembrete de que as respostas que dei não importavam mais. Não quando ele sempre as anulava. Aquela tatuagem misturada com sangue nas minhas costas garantia isso.
Eu não podia esperar pelo dia em que deixaria esse otário para trás. Eu só esperava viver o suficiente para ter a chance.
— Você não vai a lugar nenhum até que a doutora dê o aval e descubra o que há de errado com você — ele disse com firmeza. — Vítor vai pegar o Zeca no aeroporto só amanhã à noite.
— Não — eu rosnei, minha voz ainda rouca da tosse. Ele parecia atordoado pela minha insistência, ou possivelmente apenas pelo fato de que ele nunca tinha ouvido a palavra antes, então eu continuei. — Eu não quero Vítor perto do Zeca. Eu não confio nele.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Isso não é uma decisão sua.
— Sim. Esta é sua matilha e ele é meu irmão. Eu joguei por todas as regras que você impôs a mim, mas eu não estou arriscando quando se trata dele.
— Vítor é meu filho, e ele é um dos nossos melhores soldados. — A ofensa por trás de suas palavras veio como um alívio. Pelo menos ele não era totalmente imparcial em relação a sua própria carne e sangue.
— Eu não me importo se ele caga arco-íris e voluntários na igreja no fim de semana. Eu não. Confio nele. Não perto do Zeca.
A testa de Estebán se franziu e pude senti-lo decidindo se ele ia deixar minha insolência deslizar. Para minha surpresa, ele relaxou e disse —Tudo bem.
— Tudo bem? Simples desse jeito?
— Vou mandar Pablo. O que mais você quer?
Ele não seria minha primeira escolha, mas comparado a Vítor, ele era mais aberto a minha presença e eu não ia pressionar a minha sorte. — Obrigado.
Algo me dizia que ele estava apenas me satisfazendo porque eu estava doente, mas eu poderia viver com isso se isso significasse que ele me levaria a sério.
Estebán não disse nada, mas eu podia sentir o peso das palavras que ele queria dizer pressionando meu peito, tornando ainda mais difícil respirar.
— O que você estava fazendo do outro lado da cidade? — Eu sabia que não era o que ele queria perguntar, mas eu estava aliviado que era algo que eu poderia responder honestamente.
— Eu queria saber quem estava me seguindo, então eu tentei dar-lhes o deslize na estação de trem e acabamos tomando cervejas.
Estebán bufou divertido e sacudiu a cabeça. — Pelo que Pablo me disse no telefone, você deu uma canseira neles.
— Eu tentei. Eles são melhores.
— Eles deveriam ser. Eles treinam desde que eram filhotes.
Eu tive que me perguntar que forma eles tomaram então. Filhotes — Pelo menos agora poderei pensar: 'ei, esse é meu amigo Pablo' se ele acabar ganhando a minha bunda durante a caçada.
Estebán franziu a testa. — Veremos.
— Veremos? Pablo disse que estava fazendo isso.
— Vamos ver se essa caçada vai mesmo acontecer. — ele esclareceu.
— O que? Eu tenho que. Você mesmo disse, a Corte não nos reconhecerá como companheiros, a menos que sigamos a tradição.
— Se você estiver doente...
— Besteira, eu não estou doente, eu sou apenas um asmático, eu já era um antes dessa merda acontecer— eu murmurei. — Eu vou fazer isso.
Estebán estreitou os olhos. — Primeiro, você reclama das nossas 'tradições selvagens' e, agora que está realmente em risco, está me dando muito trabalho para ficar de fora?
— Eu tenho que reclamar. Eu sou humano, é o que fazemos — eu respondi. —Não significa que não seguirei as tradições de uma cultura diferente da minha.
— Pessoas saudáveis não desmoronam e têm tosse que nunca desaparece, Danilo — ele disse no mesmo tom que ele sempre usou quando queria me fazer sentir como uma criança. — Eu pensei que você não estava se sentindo bem, mas é óbvio que há algo mais acontecendo se você está piorando ao longo do tempo.
— Você não acha que eu sei disso?
Ele parecia surpreso com a minha raiva mais uma vez, como se ele me visse como um idiota unidimensional e ocasional que nunca teve um pensamento mais complexo do que decidir o que eu queria para o jantar.
— Eu sei que estou doente — eu disse uma vez que recuperei o fôlego.
— Então, por que você nunca pediu para ser encaminhado para um especialista ou fez exames mais completos?
— Então, eles poderiam me dizer que eu estou morrendo e não posso viver por minha conta? Então eu poderia viver às custas da minha mãe pelo resto da minha vida? Você vive em um mundo diferente. Bem, eu também vivi. No mundo em que nasci, nada é de graça. Nada. Eu cresci em uma casa onde eu era indesejado. Tentando agradar a única pessoa que deveria ter me amado incondicionalmente. Quando mamãe chegou para mim, um garoto de quinze anos, assustado com seus 'poderes' de ver coisas que outros não viam, entendendo a própria sexualidade, que eu podia ir me organizando pra sair de casa quando fizesse dezoito; eu fiquei apavorado. Ela nunca soube o que era estar com frio ou com fome ou se admirar pelo mês que teve onde morar.
Eu comecei a tossir de novo e ele estava ao meu lado no segundo seguinte, agarrando meus ombros. Amaldiçoei meu corpo e ele quando ele segurou um copo de água aos meus lábios, me dando aquele olhar de pena que me fez querer matá-lo da maneira que eu deveria ter querido no momento em que eu percebi quem ele era. Eu o empurrei e me recompus.
— Eu sabia desde o dia me que saí de casa que eu teria que aceitar as consequências de viver sem nenhum apoio e por conta própria — eu disse com voz rouca. — Era um preço que eu estava disposto a pagar. Talvez você esteja certo e possa dar a Zeca uma vida melhor do que eu jamais poderei, mas isso. Ele ainda precisa de mim, e eu não vou deixar meus malditos pulmões me impedirem de protegê-lo. Ou esse veneno. Ou sei lá o quê que me injetaram.
Ele me observou, a frustração transformando sua expressão vazia em uma carranca. — E deixar que seu orgulho atrapalhe um possível tratamento deve ajudá-lo? Tudo o que você está fazendo é garantir que você não estará lá para ele.
— Eu já sei o que esses raios-X vão dizer. — eu gritei. — Você não vive comendo restos de feira e colocando soro na bombinha pra ela durar mais e não sabe que isso não vai ter consequências.
Ele apertou sua mandíbula e suas narinas se alargaram enquanto ele me observava. Eu podia vê-lo calculando seu próximo modo de ataque, sua próxima tentativa de raciocinar com o idiota sem instrução na frente dele. — Existem coisas que podem ser feitas. O dinheiro não é um obstáculo e eu posso ter os melhores médicos do mundo aqui em questão de horas. Talvez o seu orgulho tenha impedido você de cuidar disso antes, mas a escolha não é mais sua.
Eu não tinha certeza se ele estava sendo intencionalmente arrogante, ou apenas discutindo por uma questão de argumentar. Ele era esperto demais para não saber que o único diagnóstico que o médico estava dando era uma sentença de morte. Isso deixou apenas uma explicação que fez algum sentido.
— Você mesmo disse que o vínculo entre nós é mínimo — eu disse. —Não deve afetá-lo quando eu morrer, desde que a caçada de acasalamento aconteça e Zeca esteja sob sua custódia.
Ele olhou para mim com uma expressão ilegível que gradualmente se tornou raiva. — Isso é o que você pensa sobre isso?
— O quê mais? É isso que você me deixou claro.
Seu rosnado me arrepiou. O médico veio antes que eu pudesse começar uma discussão com ele, e eu não tinha certeza se queria. — Estamos prontos para ele. — disse a doutora Raquel.
O hábito que todos os lobos tinham de se dirigir a Estebán, em vez de a mim, sempre me irritou, mas eu estava sem energia e muito cansado para me preocupar com mais interação social. — Se eu fizer isso, quero que você me prometa que ninguém olha para os resultados. Não até a chegada Zeca. Eu não quero essa merda no meu cérebro.
Estebán não respondeu no começo. Ele finalmente olhou para Raquel e murmurou: — Faça os exames, mas mantenha os resultados até o próximo domingo.
Domingo. Ele estava me dando uma semana para ficar com meu irmão, sem a inevitabilidade do que poderia ser. Vai saber que tipo de substância colocaram no meu sistema? Eu tinha um palpite de que seja lá o que for aceleraria a deterioração da minha respiração.
— Tudo bem — disse ela, claramente desorientada por sua mudança nas ordens.
— Obrigado — eu murmurei, sem nada para dizer. Normalmente, eu faço uma observação maliciosa e espero por sua devastação verbal em resposta. Agora tudo que eu podia fazer era agradecer a ele.
Estebán não olhou para mim e ele não respondeu, então saí da sala e segui a médica pelo corredor antes que ele pudesse mudar de ideia.
**
olá lobinhes,
zeca tá voltando. danilo envenenado com alguma coisa ruim lá. e Estebán? com sua arrogância e necessidade de controle. tem uma situação não prevista e incontrolável. isso pode despertar o pior e o melhor nas pessoas. vamos ver como nosso alfa vai se comportar. hehehehehe.
bjokas e até a próxima att.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro