Anjo
Izuku era uma linda morceguinha, tinha a pelagem esverdeada e pêlos que a deixavam de certa forma fofa ─ pelo menos para si ─ na região do peito. Ela não era uma vampira, ela só se alimentava de frutas, mas ainda sim muitos animais ainda tinham medo de si ou achavam que ela era carnívora e ia matar a todos.
Ela vivia junto com os outros morcegos dentro de uma gruta que havia na floresta, eram como uma família, mesmo que a morceguinha não tivesse de fato pais. Já que eles haviam sido mortos, infelizmente. Ela tinha um amigo de infância muito querido, bem, pelo menos para si era querido.
Katsuki era um morcego um tanto violento, a pelagem clara na cor marfim e o porte másculo faziam com que ele fosse aterrorizador. Para Izuku era bonitinho, mas o mesmo possuía uma personalidade péssima. Muitas das fêmeas nem se importavam com o jovem morcego por seu temperamento.
Bem, morcegos só enxergavam em preto e branco, então era difícil para eles de fato saberem que possuíam uma cor distinta, mas como possuíam um ótimo sonar, tinham a capacidade de se comunicar. Então Izuku sempre saberia quem era Katsuki.
Mas Izuku amava o amigo, para falar a verdade, queria ser bem mais que uma amiga para o mesmo. Ainda mais que já tinha idade o suficiente para ter uma família, desejava ter junto ao amigo de infância, o problema que ao longo dos anos o morcego mudou e muito, ainda mais consigo, não entendia o motivo da mudança. Já que ao seu ver, nunca havia feito nada para o mesmo.
─ Kacchan! ─ Chamou a esverdeada, começando a voar para alcançar o amigo, que pelo jeito daria mais uma volta sozinho para se alimentar.
─ Para de me seguir, Deku! Mas que inferno! ─ Falou o morcego irritado, virando para a mesma que fez uma expressão triste. ─ Ao invés de ficar perdendo seu tempo me seguindo, por que não vai cuidar de seu corpo, que está péssimo?
Aquilo deixou a mesma extremamente triste, ela nem ao menos seguiu o morcego, não se achava a morcega mais bonita do local, mas também não era uma aberração como o outro fez parecer. Vocês podem se perguntar o motivo de Izuku, simplesmente não investir em outros morcegos.
O problema era que ela não fazia parte daquela comunidade, ela havia entrado órfã e foi acolhida pela família de Katsuki que acabou lhe ajudando em um momento difícil, mas o resto dos morcegos não a aceitavam de fato como família, então ela era um tanto rejeitada dos demais morcegos da gruta. O esquentadinho tinha sido seu único amigo, não por obrigação, mas por gostar mesmo de Izuku, ela gostava tanto de ficar se divertindo e saindo com o Katsuki, só que agora ela era rejeitada até mesmo pelo seu primeiro amor.
Não havia mais ninguém naquela gruta a quem recorrer para uma conversa, era muito tímida e tinha problemas com a autoestima que seu amigo não ajudava muito. Acabou por se isolar de todos ali e nunca tentou se misturar e fazer parte de fato do local.
Cansada daquilo e com o coração partido, a morcega voou para longe da gruta chorando. Estava tão machucado seu pobre coração, ela só queria ser amada pelo morcego na qual tanto gostava, qual era o problema nisso, afinal? Estava difícil voar e chorar ao mesmo tempo, já que não conseguia prestar muita atenção ou usar seu sonar de forma correta.
Pousou em uma árvore, mesmo que fosse arriscado ficar sozinha em cima de uma árvore ─ afinal, ela possuía predadores também ─, ela esfregava as patinhas em seus olhos molhados enquanto soluçava. Era uma noite fria, não possuía tantos pêlos assim, então estava começando a ficar gelada, mas não se importava muito. Afinal, ninguém se importava consigo.
─ Está tudo bem? ─ perguntou uma voz, fazendo a pequena se assustar e dar um pulinho. ─ Oh, não queria assustar, mas lhe escutei chorando e acabei acordando.
─ Me perdoe, eu não queria lhe acordar, é melhor eu ir embora ─ Izuku abriu as asas, pronta para voar e sair daquela árvore, pois o que menos precisava era alguém falando mal de sua aparência também. Afinal, sempre falavam de sua aparência horrorosa.
─ Você é um anjo? ─ perguntou um tanto mais alto, vendo a esverdeada se virar para si, um tanto confusa, enquanto batia suas asas.
─ Um anjo? ─ respondeu com outra pergunta, nunca haviam lhe chamado daquele nome.
─ Sim, você é bonita e voa como um anjo ─ o mesmo falou animado, vendo a mesma corar com aquilo. ─ Eu sou Eijiro, o esquilo. E você? Qual seu nome?
─ Sou Izuku, um morcego. Não tem medo de mim? Todos têm medo de mim ─ falou pousando novamente e voltando a ficar um tanto deprimida.
─ Eu te acho linda! E se você fosse uma morcega ruim, já teria me atacado! ─ comentou se aproximando da mesma, balançando sua cauda peluda e fofa. ─ Sua cor verde, é muito bonita.
─ Oh, verdade? Eu não consigo ver cores, então para mim sou branca. ─ falou ainda um tanto tímida. ─ Qual a sua cor?
─ Um vermelho, mas fica difícil explicar se você não sabe a cor das cores ─ falou o roedor vermelho, que tinha os pelos um tanto arrepiados, mais do que o normal, para um esquilo.
─ Imagino que seja muito bonito, mas para mim sua cor é preta e branca. ─ falou para o esquilo que jogou a cabeça para o lado, um tanto confuso com aquilo.
─Que estranho ser preto se eu sou vermelho ─ disse passando as patinhas em seu rosto.
─ Oh, você também tem asas! ─ falou apontando para a pelagem que o roedor possuía abaixo dos braços.
─Não, mas eu posso planar quando eu pulo, então parece que estou voando as vezes ─ Eijiro estava nervoso, não costumava falar com fêmeas, ainda mais tão bonitas quanto aquela a sua frente, estava ficando nervoso e isso só acabaria o atrapalhando. ─ Você quer me ver colocar 5 nozes na boca?
─ Nossa! ─ a morcega ficou um tanto espantada com aquilo.
Eijiro escondeu o rostinho entre as patinhas, envergonhado. Quando estava nervoso ele sempre falava coisas idiotas e sem sentido, queria impressionar a bela morcega e não falar aquele tipo de coisa. Sabia que não eram da mesma espécie, mas não podia negar a beleza da mesma. Todo seu corpo o impulsionou para que falasse com ela, ainda mais ao vê-la chorando daquele jeito.
Ela era tão fofa e bonita, não sabia o motivo de sempre falarem que morcegos eram feios, não que ele tivesse visto vários para tirar uma opinião mais concreta, mas Izuku era realmente belíssima e parecia tão gentil e fofa.
─ Bem, eu acho que consigo colocar 3 frutinhas na minha boca ao mesmo tempo ─ comentou chamando a atenção do esquilo, que lhe encarou um tanto surpreso pela resposta.
─ Nossa, que legal! Você quer tentar colocar duas nozes na boca?! ─ Eijiro queria as vezes pular dentro de um abismo para que assim pudesse parar de falar aquele tipo de coisa.
─ Eu não tenho dentes para quebrar a casca de uma noz, eu nunca comi ─ falou coçando o queixo com sua patinha.
Os dois ficaram conversando sobre "coisas que consigo colocar na minha boca em grande quantidade", não era o assunto mais normal, ou mais romântico que Eijiro poderia pensar, mas a conversa estava fluindo e estava adorando conversar com a morcega, sem contar que tinha se apaixonado ainda mais pelas risadas da mesma.
─ Oh, acho que estou atrapalhando sua noite! Já está ficando tarde e eu nem ao mesmo comi ainda, eu preciso procurar algumas frutinhas antes que fique claro demais, não quero correr o risco de ser atacada por alguma cobra ─ falou olhando para o céu e vendo que já não estava tão escuro como antes.
─ Eu tenho frutinhas estocadas, se quiser podemos comer juntos no meu ninho! ─ falou, então ficou ainda mais vermelho, notando o que havia falado─ Digo... Eh... Não... não precisa.
─ Oh, eu adoraria! ─ comentou, Izuku não fazia ideia do que era ninho, ela vivia numa gruta, no máximo saberia o que seria uma toca, pois era algo similar. ─ Mas o que é um ninho?
Eijiro quase tivera uma parada cardíaca por tamanho nervosismo por sua gafe, ficou até mais aliviado ao saber que a mesma não sabia e não tinha pensando que ele era um tipo de tarado. Ofereceu a pata a morcega, pois via o quanto ela tinha dificuldades em ficar sentada, talvez tivesse problemas de equilíbrio.
A morcega entrou dentro da árvore, vendo não só algumas comidas, mas também algo que deixava o tronco da mesma um tanto mais macio e confortável, além de estar bem quentinho lá dentro ─ comparado a lá fora ─, estava encantada por ver um ninho, afinal morcegos não faziam um, já que dormiam de cabeça para baixo, para que pudessem ficar mais protegidos, deitados ficariam muito expostos aos perigos, então o teto era o melhor lugar.
─ É bem quentinho aqui! ─ falou se ajeitando e vendo o esquilo voltar com algumas frutas. ─ deve ser gostoso passar a noite assim, protegido dos predadores. ─ Queria poder viver assim.
─ Quer passa a noite aqui? ─ Eijiro então travou novamente, lá estava ele novamente perguntando coisas indecentes. ─Eu... eu... eu... não quis...
─ Eu posso mesmo? ─ perguntou a morcega próxima do esquilo, perto o suficiente para fazer o mesmo começar bater a pata contra o piso de tão animado, era um costume seu, sua cauda balançava também rápida e agitada. Seu rosto estava mais vermelho que o normal, não sabia se era inocência ou ela notava que não havia maldade em sua voz.
─ Sim, você pode tudo, tudo mesmo ─ disse feito um bobo apaixonado pela morcega, que provavelmente nem tinha noção do que estava causando no pobre esquilo.
Os dois comeram as frutinhas e depois se arrumaram para deitar, Eijiro ofereceu a cauda fofa para a mesma usar como um tipo de coberta, quando ela deitou próximo de si, voltou a tremer e ficar nervoso, ela estava tão linda e fofa sorrindo enquanto dormia. Se sentia no céu, perto de alguém tão maravilhosa quanto Izuku.
Depois desse pequeno encontro os dois sempre se viam. Izuku adorava a companhia do esquilo, o mesmo lhe tratava tão bem, sem contar que achava fofo o jeito que ele ficava nervoso as vezes. Enquanto o esquilo se apaixonava todo dia mais, se possível, pela bela morcega. Eles até mesmo já estavam saindo juntos para procurar comida, procuravam coisas para brincarem e competiam em quem conseguia colocar mais frutinhos na boca.
Izuku estava um tanto nervosa, ela via a movimentação na floresta e sabia que o dia na qual a maioria dos animais encontrava um parceiro ou se acasalavam estava próximo, ela sabia que ficaria sozinha naquele dia e não queria obrigar Eijiro ficar ao seu lado por compaixão.
A pequena morcega não achava que o mesmo lhe amava, afinal sua autoestima não era uma das melhores, sem contar que eram de espécies diferentes, não teria sentido aquilo. Então ficou um tanto tristonha, o que acabou chamando atenção do esquilo.
Ele tinha notado o comportamento estranho da mesma, nem mesmo quando ela decidiu ficar de vez em seu ninho e não voltar mais para gruta tinha ficado tão triste. Afinal o que poderia estar ocorrendo com a sua morceguinha? Izuku tinha aceitado que não valia a pena retornar para um lugar onde ninguém a desejava, era mais feliz ao lado do esquilo.
─ Izu, aconteceu algo? ─ perguntou se aproximando da mesma, que estava um tanto triste.
─ Eu sinto que estou atrapalhando sua vida, Eiji... Você não conhece outros esquilos, muito menos tenta conhecer outras fêmeas. Vou só atrapalhar se continuar aqui, afinal todos se afastam com minha presença ─ falou abaixando suas orelhinhas.
─ Oh, não diga isso. Sabe o quanto gosto de sua companhia. Nenhum outro esquilo fez eu me divertir e rir como você, eu gosto muito de ficar com você, Izu ─ falou feliz, colocando sua cauda em volta da morcega. ─ Eu sei que somos diferentes, que talvez você só me considere um amigo idiota, mas eu me preocupo com você, desde o dia que lhe encontrei chorando, eu gosto de cuidar de você... De fazê-la rir, se sentir acolhida e amada, eu gosto da vida que levo ao seu lado, não é uma esquila que vai me trazer tudo isso, pois eu já tenho tudo isso estando com você.
Izuku ficou em choque ao escutar aquelas palavras, seu pequeno coração batia em ritmo acelerado, não poderia estar mais feliz escutando algo do gênero. Abraçou o esquilo, que ficou surpreso pelo ato, mas logo retribuiu o carinho da morcega. Estava feliz em tê-la ao seu lado e ver que a mesma parecia retribuir seus sentimentos. Ela se afastou e deu um selinho no esquilo, fazendo o mesmo escorregar e cair no tronco com uma expressão apaixonada, fazendo a morcega rir e puxá-lo para mais um beijo.
Ao longe um morcego via tudo desacreditado, não tinha notado o sumiço de início da ex-melhor amiga da infância, só foi notar semanas depois quando percebeu que algo estava estranho. Até mesmo seus colegas tinham comentado sobre o desaparecimento de Izuku, que provavelmente ela tinha morrido ou se mudado.
Próximo da estação de acasalamento, Katsuki saia toda noite procurando a morcega. Estava preocupado, era estranho sentir aquele sentimento, já que há muito tempo ele não sentia. Só que ao notar que todas as fêmeas lhe repudiavam e julgavam sua personalidade, foi que notou que a morcega era a única que aceitava e o amava como ele era.
Queria tentar algo, pois queria filhotes, sempre desejou. Só não esperava ser tão mal recebido pelas fêmeas da espécie, então pensou que Izuku certamente seria uma ótima mãe e o aceitaria, como sempre aceitou no passado.
Mas depois de tanto procurar, ele finalmente havia encontrado, a mesma feliz junto a um esquilo ─ uma combinação no mínimo estranha e inusitada ─, ele ficou em choque, havia sido substituído, tinha chegado tarde demais, mas então refletiu melhor e pensou que no dia que Izuku tinha ido embora, talvez ele já havia de fato a perdido.
Ele suspirou tristemente, notando então o erro fatal que havia cometido, sua mãe sempre lhe alertara que não haveria morcega no mundo que o amaria mais que Izuku, que ele tinha que tomar cuidado, se não a perderia. Tinha cometido vários erros, o maior deles foi o afastamento e a mudança de tratamento com a menor, nunca entendeu a mudança.
Mas agora percebia e sentia a falta que a pequena morcega fazia em sua vida e nada que fizesse ou falasse, a traria de volta para sua vida. Deu meia volta, cansado de ver a única pessoa que lhe amou de verdade, feliz nos braços de alguém que pelo jeito a amava tanto quanto ela ansiava que um dia Katsuki a amasse.
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