17% - vermelho como um camarão
Antes de conhecer sua antiga esposa, chan nunca teve um envolvimento íntimo com um homem.
Sendo mais específico, ele nunca teve nada com outro cara. Quando se descobriu bissexual já estava noivo, e céus, ele nunca se sentiu tão esquisito quando notou o quão atraente era seu colega de quarto da faculdade, ou quando começou a perceber que aquela admiração por corpos musculosos não era apenas admiração. E imagine só sentir tudo isso de uma vez quando estava prestes a se casar? Aquilo tinha sido uma época completamente maluca em sua vida.
Depois que se casou com morgana, o moreno deixou aquilo um pouco de lado, mas não dava para fugir de quem você realmente é. Ele nunca falou sobre sua sexualidade à loira, pois ela não parecia incomodada com isso e ele não se sentia muito seguro para falar sobre aquilo com a mulher. Apenas duas pessoas sabiam disso, sendo elas sana e changbin, nem mesmo sua família tinha noção. Nunca pensou que precisaria se assumir para eles, tinha quase vinte e seis anos, sua sexualidade poderia não ser mais importante para sua mãe ou seu pai, era um adulto agora, não precisava ficar falando sobre cada passo que dava a eles.
Quando contou a changbin, a coisa acabou fluindo tão naturalmente que quando viu tinha falado com todas as palavras que gostava de homens. Que era bissexual. Podia ser um tema comum para alguém mais novo, mas aquilo significava um grande passo para christopher. Sabia que tinha sido bobo por confiar tão cegamente no ruivo, já que mal o conhecia, mas changbin sempre parecia tão confiável e cativante que chan apenas abriu o jogo. E ser tão facilmente aceito fez uma coisa pesada sair dos seus ombros, talvez o medo que a sociedade sempre impôs nele se dissipou pela simplicidade que o menor agiu depois daquela revelação.
Às vezes — bem às vezes — chan ainda se sentia incomodado com aquilo, como se fosse errado sentir o que sentia, mas não gostava de pensar dessa forma, era apenas a imposição social agindo em sua cabeça. Ele poderia amar quem bem entendesse, não era da conta de ninguém com quem ele se relacionava, seja homem, mulher ou quem a pessoa escolheu ser.
Mas não negava que se sentia bem inseguro na situação atual. Sua falta de experiência no assunto fazia com que ele se sentisse retraído com o ruivo. Sentado na cama com o cabelo meio molhado pelo banho, chan observava changbin de pé em frente ao espelho do guarda roupa, ele enxugava o cabelo usando a toalha que chan tinha emprestado a ele, alheio o suficiente para não notar a confusão se apossando da cabeça conturbada do australiano.
Era a primeira vez que ele assumia para si mesmo que estava apaixonado por um cara, e que estava tudo bem, era um homem — quase — solteiro agora, não precisava se retrair tanto. Estar casado com morgana fez o moreno atrasar alguns anos de autoconhecimento sobre seu corpo e seus gostos, e aquilo trazia a ele um grande estrago. Se sentia tão ansioso e inseguro que queria entrar debaixo da cama e ficar lá escondido, como uma criança assustada.
Quando changbin enfim terminou de enxugar o cabelo cor de cereja, ele se virou para chan, que se assustou como um gatinho frágil. O menor riu, deixando a toalha ensopada estendida em cima da cadeira da penteadeira ali perto, se sentando ao lado do australiano. Changbin usava um conjunto de calça preta e casaco verde, a parte de cima era grande e de tecido grosso, porém parecia confortável. Chan se limitou a usar um moletom e uma calça de pijama que ele dormia normalmente, a vontade o suficiente para deixar que os cachos naturais do seu cabelo surgissem após o banho.
— no que você tanto pensa? — changbin dobrou as pernas para cima da cama, virando na direção do homem mais velho. Chan esfregou as mãos no tecido da calça, mas parou assim que o seo segurou uma delas, puxando-a até seu colo.
— como eu deveria te tratar? — changbin deitou a cabeça um pouco para o lado, tentando entender o que o maior queria dizer. — eu nunca… namorei um homem nem nada do tipo, e não sei como agir com você agora. Não quero te tratar mal, então se você pudesse, sei lá, me orientar, talvez assim eu não me torne um namorado tão ruim.
Ah, estava tão envergonhado agora.
Chan virou o rosto, tentando esconder suas bochechas rubras. Estava tão vulnerável depois de dizer tudo isso. Não soube nem de onde tirou coragem para declarar aquilo tão abertamente, com certeza changbin deveria achá-lo um completo careta inexperiente. E talvez ele tomasse consciência que estava prestes a se relacionar com alguém tão fracassado quanto uma criança recém nascida que nem mesmo sabia comer sozinha.
Entretanto, o que ouviu foi somente uma risada fraca e sincera, como um ar saindo por suas narinas. Changbin puxou seu braço devagarinho, tentando convencê-lo a olhá-lo nos olhos, mas céus, chan estava com tanta vergonha que queria pular pela janela e sumir no mundo apenas para não trombar com o ruivo pela rua. Mas o menor era tão teimoso quanto era forte, e ele ficou de pé entre suas coxas e delicadamente pousou as palmas nas bochechas do australiano, o forçando a olhá-lo. E acredite se quiser, a última vez que changbin viu algo tão vermelho igual o rosto do australiano foi um camarão que comeu em um bar na praia.
— do que você tá com vergonha, hein? Não tem problema nenhum em ser inexperiente, hyung. — changbin disse calmamente, à sombra de um sorriso pairava sobre seus lábios cor de pêssego. — você passou seis anos casado com morgana, e provavelmente passou mais algum tempinho só se relacionando com mulheres, então é normal que você pense sobre isso agora que tá comigo. E olha, tá tudo bem, eu também já me senti assim, e sei como é horrível pensar que não é o suficiente por não saber o que deveria fazer, ainda mais para você que é super certinho e organizado. — chan sorriu um pouco, tendo suas bochechas ainda esmagadas pelas mãos gordinhas de changbin. — não se preocupe com isso, tá? A gente dá um jeito.
O mais velho balançou a cabeça, fechando os olhos quando changbin encostou a testa na sua, como fazia com jeongin quando o menininho parecia irritado ou chateado com algo. Ele respirou devagar a fragrância de flores do menor, suas mãos se erguendo calmamente até a cintura do ruivinho. Ele arfou pelo contato frio das palmas do seo em seu pescoço, seu peito tão doído que o ar simplesmente sumiu. O moreno ergueu a cabeça e seus narizes se encostaram, dava para sentir os lábios do menor a centímetros de distância, tão próximos que poderiam se tocar a qualquer momento se um dos dois tomasse atitude. Chan apertou a curva fina da cintura do baixinho e ele riu fraquinho, roçando levemente a carne macia e úmida dos seus lábios na bochecha de changbin.
— não podemos. — changbin relembrou, e chan quis deixar de ser racional por um momento.
— por que? — indagou com falsa inocência, tentando buscar os lábios de changbin ainda de olhos fechados. As mãos de changbin tremiam ao redor do seu pescoço e ele parecia prestes a cair, tanto que teve que apoiar um dos joelhos no espaço entre as coxas do maior para se manter de pé.
— você sabe o porquê.
— não podemos esquecer isso só um pouco? — changbin hesitou para responder e chan sorriu.
Ele se afastou um pouco do menor apenas para tirar a aliança do dedo anelar, jogando dentro do cesto de roupa suja, caindo lá perfeitamente. Changbin o encarou surpreso e o moreno sorriu, enlaçando sua cintura completamente apenas para deitá-lo na cama, ficando por cima do seu corpo miúdo e forte. Ele observou com vislumbre o rostinho do ruivo tornar-se em uma expressão de espanto, o cabelo cor purpúreo ficou bagunçado pelo lençol branco, as mãos dele seguraram com força seus braços pelo susto. Chan riu baixinho, esfregando seu nariz no de changbin.
— e agora?
— ainda quero esperar você se divorciar. — o bang fez bico, deitando seu corpo em cima de changbin com cuidado para não machucá-lo. — mas foi bem legal você jogando a aliança fora. Parece que a gente tem algo sério. — disse o que estava pensando em voz alta, como sempre acontecia, enquanto sua mão fazia círculos pelas costas largas do homem que estava em cima da sua barriga. Chan não era tão pesado quanto parecia.
— a gente vai ter algo sério. — ditou usando as mãos para erguer o rosto e mirar no ruivinho.
— eu sei, chan hyung. — acariciou o rosto dele, subindo até seu cabelo. — voltando aquele assunto de antes. — chan murchou instantaneamente em cima do ruivinho, que riu brevemente. — você não precisa se preocupar tanto em como deve agir comigo.
— não quero te deixar desconfortável com alguma atitude minha.
— duvido que isso vá acontecer, você é muito gentil.
— gentil bom ou ruim?
— existe um gentil ruim?
— não sei. — o ruivo riu levemente. — changbin. — chamou por ele, o olhando de cima, o corpo suavemente pousado sobre o seu. Changbin ainda tinha aquela expressão serena, atento ao que ele iria falar.
— sim? — seus braços fortes enlaçaram o corpo de christopher, o girando para o lado. Os dois se encararam com os rostos próximos, tão próximos que o moreno não sabia até quando podia se controlar.
— eu gosto de você.
— eu também gosto de você.
— as coisas vão ficar bem daqui em diante, né? — chan se sentia inquieto desde que morgana se fora, um sabor amargo cobria seu paladar: medo, apreensão, preocupação. Mas estava longe de estar arrependido.
Changbin suspirou, fechando os olhos levemente, como lindas plumas suaves. Chan o observou em silêncio, admirando sua mera existência com deslumbre. Como alguém podia ser simplesmente bonito? Até parado e quieto ele era lindo. Não era necessário maquiagem ou roupas caras, vestido com seu pijama costumeiro e com o rosto lavado, para o bang, changbin se enquadrava como um deus grego com todo seu esplendor e divindade.
— vamos ficar bem. — ele garantiu com tanta certeza em sua voz que chan não tentou constatar. Eles ficariam bem. Juntos. — vou apagar a luz pra gente dormir. — avisou, mas antes que pudesse ir, a mão de chan segurou no seu pulso e o impediu de dar mais um passo, puxando changbin de volta para a cama.
O moreno enroscou suas pernas na coxa do menor, abraçando ele no processo e assim manteve, changbin estava tendo um grande abraço de urso e não era sufocante, chan sabia onde deveria colocar os braços e em que medida podia apertar, com todo o cuidado que sempre possuiu. Ele rapidamente se rendeu a carência do outro, deitando com o rosto em direção ao teto. Chan se ajeitou e beijou a bochecha do menor, sem a menor intenção de soltá-lo. Poderia passar a noite toda assim e talvez ele fosse mesmo.
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