14% - nós vamos ser felizes
Ao amanhecer, chan foi o primeiro a despertar, os braços se esticando em direção a cabeceira da cama, tocando a ponta dos dedos contra a superfície gélida.
Changbin estava ao seu lado, miúdo dentro do cobertor, enrolado até o pescoço, apenas os fios ruivos para fora, como flores sobre seus caules verdes vívidos. O moreno acariciou seu cabelo, comprovando sua maciez, desceu os dedos até sua nuca e emaranhou seus dedos ali. Era a parte que estava recém cortada, fazia cócegas quando encostava e chan gostou da textura contra sua pele. Changbin virou em sua direção, se espreguiçando como um gatinho sonolento, os braços bem trabalhados indo em direção ao australiano, o abraçando no processo.
Ele escorregou para perto e encostou a bochecha em seu peito, ainda com os olhos fechados, mas tinha um bico adorável em seus lábios que ocasionou em um sorriso bobo vindo do maior. Chan passou o braço por debaixo da nuca do ruivo, acariciando seu rosto com a mão livre, seus dedos tocando desde suas bochechas banhadas pela luz da manhã que entrava como intrusas pela janela, até suas sobrancelhas finas, passeando o dedo com cuidado sobre o piercing no supercílio.
- eu não tinha visto antes. - comentou baixinho, a voz aveludada pelo sono. Changbin balançou a cabeça devagar, ainda de olhos fechados. - você fica lindo com ele.
O ruivo abriu um dos olhos, encarando o rosto neutro de christopher, e sorriu com as orelhas vermelhas de vergonha. Ele escondeu o rostinho novamente em seu peito, as mãos pequenas apertando a parte de trás da sua camiseta.
- você tem o costume de elogiar as pessoas pela manhã? - indagou abafado, sua voz batendo contra o peito largo do moreno.
- não, mas posso criar o costume se esse alguém for você.
- oh, não esperava que você fosse tão romântico. - ele ergueu o rosto, apoiando os cotovelos no colchão. Chris devolveu o olhar, analisando desde a pequena vermelhidão que cobria parcialmente sua pele cor de oliva, até seus lábios pequenos meio rosados, pareciam macios como pêssegos maduros. Chan quis prová-los, mas ainda era cedo. Muito cedo. - vem, a gente precisa levantar.
Changbin saiu da cama, calçando suas sandálias e bagunçando o cabelo já desgrenhado. Chan ficou deitado, observando ele em silêncio.
- não seja preguiçoso, a gente tem um longo dia pela frente. - o moreno apenas resmungou algo banal, como um "apenas me deixe aqui", no entanto changbin estava determinado até às orelhas para tirá-lo da cama.
Changbin o puxou pela mão, em um solavanco forte, e chan veio mole como gelatina. Praticamente sendo arrastado por ele. Juntos, a dupla escovou os dentes e lavou o rosto, changbin fez questão de novamente esticar seus braços e enxugar o rosto do australiano, esfregando a toalha devagar por suas bochechas, indo da testa ao nariz, sorrindo para ele no final. Chan ficou rubro pela milésima vez, indagando a si mesmo até quando agiria com tanta timidez.
Na cozinha, changbin aconselhou que deixasse os meninos dormindo até o café da manhã estar pronto, uma vez que jeongin ficava de mau humor por conta da fome. Chan ajudou changbin no que pôde, seja organizando os pratos na ilha da cozinha ou lavando a louça do dia anterior. O ruivo se desdobrou em realizar suas tarefas do cotidiano, andando para lá e para cá com seu avental de cupcake.
Mesmo que o silêncio da manhã sempre fosse bem vindo, algo em chan o incomodava. Talvez fosse o desejo de querer esclarecer suas intenções com o ruivo, ou a preocupação em ter aquela conversa sobre o divórcio com felix que tanto queria adiar. Ainda assim, sua cabeça estava longe, pairando entre um pensamento e outro. Iria ter uma tremenda dor de cabeça até o final do dia.
- sobre hoje de madrugada. - a voz meio grave de changbin irrompeu o silêncio, chamando atenção de christopher. - eu gosto mesmo de você. - admitiu baixinho, mesmo que houvesse apenas eles dois naquele recinto. Chan estremeceu, olhando para o seo que se mantinha de costas, suas mãos ocupadas em não deixar queimar as panquecas. - você sempre foi tão legal com jeongin, diferente de todos os outros caras que já me relacionei. E bom, eu não sei se tô pronto pra algo sério agora e você ainda é casado, então a gente podia ir nos conhecendo melhor antes de qualquer coisa. Meus antigos namoros foram péssimos e sempre acabava antes mesmo de completar um mês, e eu... quero que dure com você, porque você é incrível e eu não quero te perder tão rápido.
Changbin se assustou quando chan o abraçou por trás, as mãos deslizando por seu abdômen e se enroscando, como um cachecol quente em um inverno febril. Chris se aconchega no menor, aspirando seu cheiro como um perfume de alfazema agradável. O ruivo riu baixinho, sua mão acariciando o braço do australiano, a pele macia dos seus dedos contras os pequenos pelinhos dourados do antebraço do homem mais velho. Chan ficou lá, quieto e sereno, aspirando a fragrância da manhã agarrado a changbin.
- eu também não quero te perder. - assumiu em um sussurro, como um segredo que apenas era deles. Chan não podia ver, mas aquelas palavras deixaram changbin estupidamente feliz, como um garotinho que via o mar pela primeira vez, os dedos do rapaz se embrenharam no cabelo preto e meio cacheado do maior, realizando um cafuné singelo. Chan acreditava fielmente que poderia derreter com aquilo. - por enquanto, não vamos apressar nada. Vou entrar com os papéis de divórcio e conversar com felix, quero que ele fique ciente de tudo por mim, porque sei que morgana provavelmente vai fazer um estardalhaço quando voltarmos pra casa. - changbin assentiu manualmente, concentrado em finalizar as panquecas e passar para o prato ao lado.
- você acha que o felix vai aceitar de boa quando a gente virar um nós? - tinha uma certa insegurança na fala do ruivo que chan tinha visto poucas vezes, na verdade, pouquíssimas vezes.
Changbin sempre exalava aquele tipo de autoconfiança que fazia você querer ficar perto dele, como se ele pudesse ser capaz de resolver qualquer problema com apenas um bom diálogo. Chan se sentia daquele jeito perto do ruivo, acolhido e bem. Ele acreditava que poderia ser vulnerável e fraco ao seu lado, pois o seo era capaz de cuidar de tudo muito bem, ele era maduro o suficiente para aquilo. Mas agora era diferente, ele tinha medo do que aquela futura relação poderia trazer a felix, que sempre teve os pais juntos apesar de todas as discussões e brigas. Não queria que o bang mais novo o odiasse ou algo parecido, tinha um grande apreço pelo garotinho.
Chan suspirou e depois do menor desligar o fogão, ele virou changbin com delicadeza em sua direção, as mãos firmes em sua cintura. O ruivo o olhou fixamente, o rosto ainda meio inchado pelo sono e o cabelo bagunçado. Lindo. O moreno sorriu e levou as mãos até as bochechas gordinhas do seo, às mantendo ali, sentindo a maciez e os pequenos detalhes contra sua pele, tateando e apertando. Changbin fez bico e chan sorriu.
- felix com toda certeza vai amar te ter como namorado do pai dele. - changbin revirou os olhos com um sorriso, dando um soquinho fraco no peito do australiano. - eu tô falando sério, bin.
- não sei se devo confiar.
- vou conversar com ele sobre a gente quando tudo isso passar, okay? Isso te deixa mais tranquilo? - deitou a cabeça um pouco para o lado, analisando changbin meio rubro contra a pele pálida das suas mãos. Ele assentiu depois de um tempinho, segurando em seus pulsos, os olhos analíticos caindo sobre o australiano.
- você quer que eu fale com jeongin também?
- por favor. Innie parece ser do tipo super ciumento. Aposto que ele pode me empurrar da escada a qualquer momento se eu vacilar com você.
- ele não faria isso. - changbin fez uma pausa. - bom, talvez.
- talvez? - repetiu atônito.
- é que ele tá comigo desde novinho, e acompanhou todas as minhas decepções amorosas, então ele é um pouco super protetor. Ele também é assim com a mãe. Acho que não fomos bons pais nesse quesito. - o ruivo riu fraco, desviando dos olhos castanhos do maior.
Os lábios de chan se curvaram numa linha firme, ele olhou atentamente para o menor que parecia querer fugir daquele assunto. Talvez abordá-lo novamente fizesse ele se sentir mal, porém, o australiano não queria que o seo pensasse isso de si mesmo, o achava um ótimo exemplo de pai.
- acho você um pai incrível pro innie.
- talvez. - changbin deu de ombros, virando o rosto.
- eu tô falando sério, changbin.
- eu sei. - ele finalmente o encarou, a mesma expressão suave no rosto. O ruivo ergueu as mãos e tocou as linhas da testa do australiano, que vinham quando ele franzia as sobrancelhas. Ele passou os dígitos por cima, desfazendo as marcas. - você aperta as sobrancelhas quando tá falando algo sério. - changbin disse casualmente, e chan fechou os olhos, encostando sua testa na dele.
Poderiam ficar horas apenas naquela posição, sentir o menor por perto já era o suficiente, mesmo que lá no fundo não fosse verdade. Chris deslizou as mãos pela cintura de changbin, até às laterais da sua barriga, apertando apenas para ouvi-lo arfar e rir. O ruivinho enlaçou seu pescoço e o abraçou, ficando na pontinha do pé para se impor, por mais que não fosse tão necessário. Eles tinham alturas pouco semelhantes, talvez compatíveis. Chan não se importou, apenas o envolveu em seus braços e apertou com força, ouvindo ele reclamar em sua orelha sobre o tanto de força que o rapaz usou para abraçá-lo.
Em seguida, eles subiram para acordar os meninos que ainda dormiam juntos. Felix tinha uma coxa por cima das costas de jeongin, enquanto o seo mais novo escondia o rosto no travesseiro, mesmo que sua mão direita estivesse segurando na pontinha da orelha do bang. A dupla de pais riram e se aproximaram, changbin abriu as janelas e chan carinhosamente os acordou, com palavras sutis e tapinhas fracas em seus bumbuns.
Como de costume, o bang mais novo despertou primeiro, coçando os olhinhos enquanto se jogava nos braços do pai. Jeongin apenas acordou quando ouviu a voz de changbin, ele abriu levemente os olhos e tocou o rosto do pai, desde suas sobrancelhas até o queixo pontiagudo. Os dois australiano apenas observavam changbin sussurrar para o pequenino levantar enquanto deixava ele tocar seu rosto.
Quando finalmente o menino acordou e ficou de pé, changbin pegou ele no colo e assim o - agora - quarteto desceu para cozinha. Chan observou encantado changbin conversar com os menores, como sempre fazia, ele conseguia dar atenção para os dois e sempre ria das suas brincadeiras, por mais bobas e sem sentido que pudessem parecer. Seu coração vacilou como se tivesse tropeçado quando o ruivinho o olhou, sorrindo tímido. Oh, ele estava perdidinho.
Depois do café da manhã, os dois se espremeram na pia para lavar a louça, lado a lado, eles realizaram aquela tarefa em silêncio, apenas ouvindo felix ensinando algumas palavras em inglês a jeongin, que se enrolava com a pronúncia e dava soquinhos no bang para ele não rir dos seus erros. Chan se virou para os dois em algum momento, somente para vê-los brincando.
- preciso falar com o lix sobre o divórcio. - chan disse baixinho, voltando a sua tarefa de enxugar os copos e guardar no armário.
- vou subir com o jeongin e você pode falar com ele a sós. - o mais velho assentiu, vendo changbin enxugar as mãos no pano que carregava no ombro. - vem comigo, pestinha. - foi até o menor que ainda estava sentado à mesa, pegando ele no colo e subindo ligeiramente até o andar de cima, deixando somente a dupla de estrangeiros.
Okay, ele precisava encarar isso de uma vez.
Inúmeras vezes sonhou com esse dia, e não podia se classificar exatamente como um sonho, estava mais para pesadelo. Em todos eles felix acabava o odiando, e morgana o levava embora para sempre da sua vida, os dois sumiam como se não tivessem passado de uma mera lembrança em sua existência. Chan tinha medo que isso acontecesse agora que o divórcio estava certo para acontecer, não queria que felix o odiasse, não queria vê-lo ir embora para sempre. Amava tanto o menorzinho que apenas a ideia de estar machucando-o doía em seu peito, como facadas.
Quis desistir quando mirou em seus olhos amendoadas brilhantes, ele tinha aquele sorrisinho de dentinhos pequenos e fofos, as sardas se espalhando por suas bochechas como pingos de chuva. Ele caminhou até o menino, se sentando ao seu lado, estava tão tenso que suas mãos suaram, transpirando o suficiente para ter que limpar as palmas no tecido da calça. Felix pareceu notar o nervosismo estranho do mais velho, se aproximando dele devagarinho, ficou de joelhos sobre o estofamento da cadeira e tocou no rosto naturalmente pálido do pai, arregalando os olhinhos para encará-lo. Chan riu, sua inquietação sumindo.
- o que você tá escondendo, papai? - felix indagou, ainda com os olhos esbugalhados e as mãos firmes nas bochechas dele.
- por que você tá fazendo essa careta feia?
- me responde.
Não conseguiu se manter sério enquanto era encarado daquela forma. Ele puxou o menininho para seu colo e beijou a pontinha fria do seu nariz, fazendo ele rir e passar a mão nos olhos, alegando que estava ardendo pelo tanto de tempo que ficou com eles abertos.
Chan não sabia nem por onde começar.
- lix, o que você acha da sua mãe?
- mamãe me assusta às vezes. Sabe quando ela grita e começa a falar aquelas coisas feias? Eu tenho medo, mas o senhor me protege, então fica tudo bem. - chan afagou o cabelo do menino para ele continuar. - papai, por que a mamãe não pede desculpa quando fala aquelas coisas pra você? O senhor não é est- estu- como se pronuncia isso?
- estúpido. - corrigiu ele. - é uma palavra feia, lix.
- se é uma palavra feia, por que a mamãe não pede desculpa depois de falar?
- é complicado, filho.
- você não é essa palavra, papai. Você é legal. - o coração de chan se aqueceu como em um inverno frio, ele abraçou o menino e apertou com cuidado, fungando para conter as lágrimas que brotaram em seus olhos como intrusas.
- me desculpa, felix. - pediu, trazendo ele para perto. - me desculpa, de verdade.
- o senhor não fez nada de errado, papai. - proferiu com a voz abafada, erguendo o rostinho para olhar o semblante do mais velho.
- eu e sua mãe não vamos mais ficar juntos. - disse de uma vez. - nós vamos pedir divórcio, na verdade, eu pedi ontem. Por isso dormi aqui, brigamos e chegamos nessa conclusão. Já faz um tempo que eu quero isso, mas não queria que você ficasse bravo comigo porque vou separar nossa família. - chan falou tudo num suspiro só, respirando fundo no final para conter o choro. - por isso, me desculpa, por favor.
Um silêncio tremendo abraçou o ambiente. Chan quis chorar copiosamente, aguardando por uma reação negativa, talvez um empurrão ou um grito desaprovando sua decisão, mas o bang mais novo apenas ficou quieto em seu colo.
De repente, ele se afastou e christopher pensou que era o fim, mas felix apenas o encarou, os olhos pequenos fixos nos seus. Ele usou a manga do casaco para enxugar o rosto do pai, meio úmido pelas lágrimas que vieram a escorregar por acidente. Felix limpou seu rosto com cuidado, sorrindo para ele logo após.
Seus lábios tremeram ao abraçar o filho novamente, escapando um suspiro aliviado. Ele não o odiava.
- ah papai, você tá chorando igual uma criancinha. - felix zombou, dando tapinhas nas costas do moreno para consolá-lo. Chan riu, passando a mão nos olhos para estancar as lágrimas.
- não seja rude, é um momento delicado.
- você é um chorão. - o mais velho beliscou de levinho sua bochecha. Felix resmungou de dor.
- então, você não me odeia?
- nem um pouquinho. - disse sincero. - o senhor tem que ser feliz, mesmo que não seja com a mamãe. - fingiu que iria chorar novamente e felix puxou suas bochechas, esticando elas até doer, mesmo que não fosse intencionalmente.
Chan riu, segurando em seus bracinhos, beijando suas mãos e seu rostinho, apertando ele contra seu peito com força o suficiente para ouvi-lo resmungar mais uma vez.
- eu vou ser feliz, lix. - alegou, olhando até a escada que era de frente para entrada da cozinha, changbin e jeongin estavam lá sentados, o bang tinha um dos seus vários dinossauros nas mãos, dando atenção somente aquilo, já o ruivo olhava em sua direção, tinha um sorriso pequeno e uma expressão afetuosa. - nós vamos ser felizes. - prometeu num sussurrou, sorrindo para changbin.
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