13% - isso responde a sua pergunta?
Chan ficou no sofá enquanto changbin ia até a cozinha da casa para buscar seu kit de primeiros socorros.
A única luz que emitia era da cozinha, tornando o ambiente silencioso e calmo. Em um nível que deixou o australiano melancólico. Todo seu rosto doía, como se tivesse sido acertado por uma bola de vôlei. Fora aquilo, o que mais o incomodava era a discussão com morgana, ele não se arrependia de nada que havia dito, mas sabia que no outro dia ela provavelmente não lembraria de nada, ou pior, fingiria não lembrar.
Não era pra ser daquele jeito, porém parecia que era inevitável. A notícia viria, e chan não podia fazer nada para consolar os sentimentos da mulher, porque era algo que aconteceria de um jeito ou de outro.
Changbin retornou junto com a maletinha branca que ele tinha usado na vez que felix ficou doente, ele sentou na superfície lisa da mesa de centro, pedindo para chan estender o braço. Ao fazer aquilo, o ruivo puxou a manga da roupa do australiano um pouco mais para cima, passando do cotovelo, assim espalhou uma pomada sobre a pele pálida, massageando com cuidado usando os polegares.
— quem fez isso em você? — ele indagou, olhando para o maior. Chan desviou o olhar, sentia que se o olhasse de volta, acabaria falando a verdade como num passe de mágica. — tenho uma ideia de quem seja, mas quero que você me fale.
— changbin…
— não defenda ela novamente. — falou sério, em um nível que o moreno nunca viu. — você sempre tá encobrindo o que essa mulher faz, e olha o que ela fez pra te retribuir. Então, se você defender ela, te deixo passar frio na rua.
Chan se calou, ainda sem coragem de devolver o olhar do ruivo.
— por que ela fez isso com você? — ele não respondeu. — bang chan, por que ela fez isso com você? — repetiu seriamente.
— a gente brigou. Ela falou bobagem e eu também, então isso aconteceu.
— você falou sobre o divórcio, não foi? — chan balançou a cabeça afirmando. — com todo respeito, mas essa mulher é completamente maluca.
— tenho que concordar. — riu baixo da sua própria dor, encolhendo os ombros.
O ruivo se jogou ao seu lado, olhando para o australiano. Ele puxou de levinho o mais velho para se encostar no estofado, e eles ficaram quietos lado a lado. O braço de chan ardia um pouco por conta da pomada, mas nem se comparava com a dor da bochecha. Ele suspirou e esticou o braço, queria coçar mas sabia que pioraria. A mão de changbin cobriu os machucados de unha, ele acariciou a pele — agora — vermelha do australiano com a ponta dos dedos, fazendo a coceira e a dor sumir ligeiramente. Chan o olhou de canto, observando ele alheio, como se estivesse tendo um longo pensamento.
— você vai se divorciar dela? — indagou quebrando o silêncio da sala de estar. Chris tentou relaxar enquanto fitava a televisão desligada na sua frente.
— sim, com toda certeza.
— por que você continuou com alguém que te faz tão mal por tanto tempo?
— eu amava ela, changbin. E não queria enxergar a verdade pelo felix. Inclusive, ele te incomodou? — quis mudar de assunto.
— claro que não, ele foi o primeiro a dormir.
— pensei que jisung fosse dormir aqui hoje.
— eu te falei, teve uma urgência e ele precisou ir pra casa.
— ele e o minho moram juntos?
— sim, eles fizeram faculdade juntos. E não, eles dois não tem nada, o minho namora o seungmin e o jisung é arromântico, única relação que ele quer ter é com os cachorros que cria. A propósito, ele foi pra casa porque o frajola tava estranho e o minho ficou com medo e pediu pra ele voltar.
— frajola?
— nome do dálmata dele.
Chan não conseguiu conter a risada, imaginar um cachorro com nome de gato tinha sido hilário. Changbin o acompanhou, se encostando de levinho nele.
— você quer passar a noite aqui? — o ruivo sugeriu de repente.
— não tenho outro lugar pra ir de qualquer jeito. — admitiu risonho da sua própria infelicidade. Changbin se ergueu ao seu lado, ficando de pé para puxá-lo pelo pulso.
Ele o levou em silêncio ao andar de cima, caminhando em passos confiantes pela penumbra que se esgueirava entre as paredes de tom salmão. Changbin abriu a porta do seu quarto e chan ficou receoso em entrar.
— vou só te emprestar uma roupa pra tomar banho. — o ruivo esclareceu, como se entendesse a confusão no rosto do homem.
O moreno esperou pacientemente o menor achar alguma peça de roupa que coubesse em seu corpo, enquanto isso, ele observou a mobília ao redor: uma cama de casal grande com lençóis de cor marfim, duas cômodas em suas beiradas, uma com um abajur e na outra continha uma pequena jarra de água, na frente da cama havia uma televisão presa a parede e ao lado um pequeno guarda roupa branco com portas de correr e superfície de vidro, dentro era amplo e cheio de cabides, com roupas de cores frias e escuras, desde o branco ao preto. Chan nunca imaginou que o ruivo pudesse ser tão organizado e minimalista, até os quadros da sua parede tinham uma simetria impressionante.
— aqui. — ele entregou ao mais velho uma camiseta verde escura e uma calça preta de tecido um pouco grosso. — é a única que provavelmente vai ficar boa em você, minhas roupas são menores. — ele explicou e chan assentiu manualme. — a porta do banheiro é do lado da minha, tem toalha nova na prateleira do lado da pia e escova de dente dentro do armário, você pode usar qualquer uma, são todas novas. E também. — ele se abaixou rente a uma das gavetas do guarda roupa, jogando para o australiano uma roupa íntima dentro de um plástico lacrado. — agora vai lá, vou buscar gelo pra sua bochecha.
Chan não podia medir sua gratidão em relação ao mais novo, sabia que se o agradecesse por aquilo, ele o mandaria ficar quieto e apenas fazer o que era preciso. Então com isso em mente, ele andou até a porta indicada pelo ruivo e tomou um banho, escolhendo uma das várias toalhas brancas e macias que continha nas prateleiras que viu. Após a ducha rápida, sua imagem no espelho da pia era agonizante. A marca da mão da mulher preenchia boa parte da sua bochecha esquerda, esperava que sumisse até o amanhecer, não queria deixar felix preocupado ao ver aquela marca enorme em sua face. E seria pior ainda admitir a ele que quem tinha feito aquilo era morgana.
Ele se vestiu ali mesmo e escovou os dentes com uma das cinco escovas novas que viu embaixo da pia, não entendia porque ele tinha tantas, mas presumiu que fosse pelos amigos que vinham dormir na sua casa. De banho tomado e se sentindo menos deprimido, chan saiu do banheiro com a toalha ao redor do pescoço, impedindo que os respingos do seu cabelo chegassem ao colarinho da camisa. Ele passou pela porta onde jeongin e felix dormiam juntos, a cama pequena sendo o suficiente para os dois, o rostinho do bang estava escondido nas costas do outro garotinho, enquanto ele o abraçava como um urso. O moreno sorriu pela imagem e fechou a porta devagar para não assustá-los, deixando que os meninos tivessem seu merecido descanso.
Parando para analisar agora, percebeu que changbin não estava mais com seu adorável pijama de morangos, algo que o decepcionou um pouco, queria ter visto ele usar aquele conjunto vermelho e perambular pela residência como um grande pomar. Não soube o que fazer exatamente enquanto esperava o ruivo surgir, ficou sentado na beirada da cama por minutos, entediado e com sono, pensou em deitar um pouco e descansar, mas não era tão folgado assim. Suas mãos tatearam o lençol embaixo do seu corpo que cobria o colchão, era macio e liso, tinha o cheiro de changbin em cada canto daquele quarto e o moreno se sentia rodeado pela fragrância doce do rapaz.
Ele observou a janela meio aberta com pesar, sendo inevitável não pensar em como morgana poderia estar agora. Se sentia um fracasso por ser tão preocupado até mesmo com as pessoas que conseguiam tratá-lo feito um lixo, mas fora criado assim, independente do que fizessem, chan apenas os desejaria o melhor.
Se assustou quando changbin entrou de repente no quarto, sua presença suave a calma preencheu o cômodo e trouxe ao australiano uma quietação espantosa. Ele tinha uma bolsa de água na mão coberta por um pano fino e branco, ele deixou o celular sobre a cama e ficou na sua frente, o corpo rijo e as mãos polidas. Changbin pediu para chan erguer um pouco o rosto, e assim ele pressionou com cuidado o gelo contra o machucado, uma de suas mãos frias tocando o lado bom da face do rapaz. O moreno fechou os olhos, suas orelhas ficando tão vermelhas quanto o cabelo do moço por quem era ajudado. Se sentia tão tímido que nem sabia onde deixar as mãos, a proximidade o deixava ainda mais inquieto, seu coração batia na garganta e ele quis tocar changbin, alisar seu corpo cheio de curvas como um labirinto criado por Dédalo. Ele quis se aproximar e descobrir se o coração dele estava tão elétrico quanto o seu, se ele se sentia nervoso apenas por estar a alguns palmos de distância. Se ele o queria do mesmo jeito que chan estava o querendo há semanas.
Mas não fez nada porque simplesmente não podia, ainda estava com morgana e não agiria de forma burra apenas por seus desejos carnais.
— você pode segurar um pouco? — chan abriu levemente os olhos, seus cílios finos dando espaço para íris castanha. A mão de changbin foi substituída pela sua, segurando a bolsa de água gelada em seu rosto.
O ruivo subiu na cama e puxou a toalha que estava ao redor do pescoço do maior, a levando até os fios negros e volumosos. Ele esfregou e enxugou seu cabelo, até a raíz com seus dedos hábeis, como se houvesse um tipo de costume naquele ato simplório. Chan novamente fechou os olhos pela massagem agradável, deixando que sua postura se fosse como um rio descendo uma montanha.
Changbin continuou naquilo enquanto o australiano dava pequenos intervalos entre o gelo encostado na sua bochecha, sentindo aquela área dormente e débil. Quando o ruivo terminou de enxugar seu cabelo, ele pegou a bolsa de água do mais velho e saiu do quarto junto com a toalha dele, deixando a porta encostada por um breve momento.
— por que você não deita? Tá com uma cara de quem vai cochilar sentado. — changbin comentou após seu retorno do andar de baixo, indo até às portas corrediças do quarto roupa para vestir um moletom por cima da camiseta preta que já usava. A noite escorria pelo céu como uma pequena enxurrada, trazendo com ela uma brisa fria de tremer os dentes.
— pensei que você fosse me mandar dormir no sofá.
— você quer dormir lá? — o olhou com uma sobrancelha erguida. Chan engoliu em seco, temeroso em admitir que preferia ficar com o ruivo. — só deita aí e descansa, okay? Sua noite foi cheia e nós dois precisamos dormir.
Continuou agindo no automático até estar deitado na cama, se olhasse para o lado, veria a janela ainda um pouco aberta, deixando que a brisa da madrugada envolvesse o ambiente numa bolha fria e confortável. Changbin apagou a luz e o poste ali perto fez seu trabalho em iluminar parcialmente as paredes brancas, como um nascer do sol sintético, brilhando na coloração amarelada. O ruivo se ajeitou em seu canto e por debaixo do cobertor seus pés se encostaram, como um choque térmico que fez o corpo do australiano se arrepiar, os pêlos da sua nuca ficaram ouriçados e ele — agindo como um tolo beirando a paixão — se virou contra o menor, encolhendo as pernas para se proteger de algo que nem sabia porque tanto temia.
Segundos, minutos e até mesmo horas se passaram como o tique irritante de um relógio cuco, ele ficou acordado com os olhos entreabertos e um pouco marejados pelo sono. Chan realmente quis dormir, mas parecia que tinha um peso enorme sobre seu peito, como uma bigorna. O silêncio ao redor parecia querer engoli-lo como um monstro marinho engole um navio, mesmo que pedisse para dormir, o sono apenas era capaz de deixar seu corpo letárgico, nada de cochilos ou pausas. Acreditava que enlouqueceria até o início da manhã.
— não consegue dormir? — a voz de changbin rompeu entre a escuridão, vindo de trás das costas do moreno. — porque se a resposta for sim, eu também não consigo.
— tem algo te incomodando? — quis se engajar em um assunto para cobrir sua efêmera solidão.
— não sei na verdade, faz tempo que eu não durmo com alguém que não seja o jeongin. — ele comentou num tom divertido e chan sorriu. — você já sabe o que vai fazer depois que se divorciar?
— antes eu queria voltar pra Austrália com o felix e continuar minha vida lá, mas agora não sei mais o que fazer. — disse num suspiro. — provavelmente ela vai querer brigar na justiça pela guarda do felix, mas com certeza é apenas para apaziguar o desejo de superioridade. Eu sei muito bem que morgana não é capaz de criar o felix sozinho.
— e você vai se mudar pra longe depois de tudo acontecer? — havia algo por trás daquela indagação que fez chan se virar na direção de changbin, demorando um pouco para o moreno notar o quão perto eles estavam agora. A luz do poste vacilou entre as cortinas e ele se viu encantado pela beleza serena que envolvia o rosto do ruivo. Aqueles olhos pequenos e honestos, de cílios curtos e espessos como plumas, changbin parecia carregar um clarão cegante para o coração fragilizado de chan, que por um momento quase jogou para o ar toda a razão para satisfazer o desejo de tocá-lo como quem dedilhava uma harpa.
— com certeza não. — sua voz saiu como um sussurro claro, e changbin tinha um tipo de alívio no rosto que fez o moreno acreditar que tinha algum tipo de chance o aguardando. — a casa tá no meu nome e do felix, então se alguém precisa sair de lá não sou eu.
— fico feliz em saber disso. — changbin admitiu com sinceridade, sorrindo pequeno em seguida. — imagina ter que virar vizinho de uma megera ao invés de um cara bonitão? Eu ficaria realmente decepcionado. — tinha uma estranha honestidade em suas palavras mas eram facilmente escondidas por seu humor habitual. Chan riu pela primeira vez desde que aquele dia maçante iniciou, e changbin não demorou em acompanhá-lo.
Quando tudo foi tomado novamente pelo silêncio, eles se encararam através da fina luz que vinha do lado exterior. Changbin ainda tinha aquele sorriso de tirar o fôlego, seus lábios puxados para cima e os olhos amorosos, que mais pareciam uma lagoa cristalina. Chan ficou mais uma vez encantado por algo que provavelmente as pessoas diriam que não era nada fora do comum, mas para alguém que estava se apaixonando, a simplória — mas ainda exuberante — beleza de changbin poderia deixá-lo hipnotizado como um truque de mágica.
— sei que a gente se conhece a pouco tempo, mas eu te acho um cara legal. — o ruivo admitiu de repente depois de longos segundos apenas fitando o australiano devolver seu olhar. — sabe, você é inteligente, esforçado, bonito, e tem um filho incrível. Qualquer pessoa se apaixonaria por você.
— então, posso criar esperanças que você possa se apaixonar por mim?
Silêncio. Nem mesmo chan sabia de onde tinha arrumado coragem para falar aquilo, foi mais como um pensamento alto, algo que apenas saiu como um sopro num dente de leão. Changbin ficou tão quieto que o moreno quis dizer que era apenas uma brincadeira, então eles poderiam rir novamente e esquecer. Porém, o ruivo sorriu e buscou a mão do australiano por debaixo do lençol, e ao achá-la, levou a palma quente até seu peito, deixando que o maior tirasse suas conclusões.
O coração de changbin batia forte como um tambor através do moletom grosso que vestia. Chan sentiu contra seus dedos, contra sua pele e contra seu próprio coração. Ele corou fortemente e o ruivinho riu também com as bochechas amendoadas cobertas por uma fina camada de carmesim.
— isso responde a sua pergunta? — changbin indagou com ar de graça, ainda banhado pela timidez.
Chan o encarou de pertinho, a luz do poste iluminando parcialmente o rosto bonito e jovial.
Talvez estivesse entregando seu coração cedo demais, todavia, não tinha um pingo de arrependimento em seus pensamentos ou em seu peito.
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