10% - somos amigos
— que horas você sai daí?
— não sei, talvez em trinta ou quarenta minutos, essas reuniões com a gestão da escola sempre são demoradas. — chan explicou rapidamente enquanto guardava alguns papéis dentro da bolsa, a colocando no ombro em seguida.
Tinha um longo dia pela frente e apesar de já ser férias para os estudantes, precisou ir hoje para conversar com alguns superiores sobre as provas e alguns alunos que ficaram de recuperação.
Changbin do outro lado da linha soltou um longo suspiro, ficando em silêncio em seguida. Chan não comentaria, mas ficou contente que as coisas não ganharam um rumo diferente após a noite anterior. Sabia que tinha deixado uma impressão diferente do de costume, talvez estivesse sendo muito transparente com o que estava se passando dentro da sua cabeça. Se havia uma coisa que tinha certeza era que changbin conseguia lê-lo facilmente, igual felix conseguia.
Mas antes de sair para o trabalho, changbin surgiu com jeongin em sua porta sorrindo como de costume, e perguntou se ele queria almoçar mais tarde com ele e seus amigos. Repensou bem sobre a proposta, mas era impossível negar algo ao ruivo quando ele sorria daquele jeitinho espontâneo e bonito, como se nada pudesse abalá-lo.
— vai ficar muito apertado o horário pra você? — chan indagou, saindo da sala com o celular próximo a orelha e o ombro, tentando equilibrá-lo enquanto terminava de ajeitar seu material.
— não, eu vou dar um jeito. Te vejo na frente da escola?
— claro, bin. Até mais tarde.
— até, hyung.
Guardou o celular no bolso da calça antes de entrar na sala da diretora, cumprimentando respeitosamente alguns colegas. Chan ocupou uma cadeira na ponta da mesa quadrada, deixando a bolsa sobre seu colo e tentou prestar atenção na conversa que se desenrolava, por mais que quisesse apenas ir embora. Essas reuniões eram um terror de tão entediantes, mas precisava se manter ali, nem que seja por alguns longos minutos.
(...)
Finalmente liberto, chan recolheu suas coisas e saiu às pressas. Estava atrasado. Ele desceu as escadas para o térreo, se despedindo de forma temporária de alguns zeladores e o porteiro, não precisava voltar ao instituto por um tempo por conta das férias de inverno, o que veio a calhar, precisava de um pouco de descansar, mesmo que não conseguisse relaxar quando estava em casa.
Assim que atravessou os portões, ele avistou as mechas flamejantes de changbin entre a multidão, junto com ele havia mais dois rapazes desconhecidos e jisung, o quarteto conversava animadamente enquanto se aproximava do bang que tentava desfazer alguns amassados da camisa. Quando o seo sorriu ao vê-lo, sentiu sua garganta ficar seca e ele apenas conseguiu retribuir com um breve aceno de cabeça, reconhecendo que tinha agido como um tonto.
— tudo bem? — o ruivo indagou assim que ficaram próximos. Chan balançou a cabeça, comprimindo os lábios. — gente, esse é o chan. Chan, esse é o minho e o seungmin. — o de cabelo loiro e olhos felinos foi o primeiro apertar a sua mão, ele tinha aquele semblante de quem era um ótimo amigo e poderia ser seu pior pesadelo caso virasse seu inimigo. Chan se sentiu intimidado por ele. Logo em seguida, o menino de aparelho superior e cabelo castanho repetiu o mesmo ato que o outro, apertando sua mão firmemente. Não sabia o que sentir quanto ao garoto mais alto, ele parecia gentil porém calado. — jisung não é importante, vamos andando. — changbin puxou chan, começando a marchar em direção ao restaurante escolhido por eles.
— yay! — jisung exclamou, andando alguns passos mais rápidos que a maioria para acompanhá-los. — seu chato! Vou contar pro chan hyung que você vive falando dele lá na agência. — aquilo foi o suficiente para chamar atenção do moreno que estava tentando não surtar por tanta aproximação.
— você acabou de dizer, hannie. — seungmin observou, rindo em seguida pelo jeito que o garoto esbugalhou os olhos, surpreso. Parecia que ele não tinha notado o que acabou de falar.
— eu não fico falando do chan! — changbin tentou se defender.
— pior que fala sim. — minho retrucou, recebendo um tapinha fraco no braço pelo castanho.
— não vou pagar o almoço de vocês. — decidido, o ruivo virou o rosto, andando mais rápido.
— eu tava brincando, chefinho! — mais uma vez, jisung correu para acompanhá-lo, mas a calçada estava escorregadia pela neve acumulada da noite anterior e aquilo quase fez ele ir ao chão e levar changbin junto.
Chan riu pelo momento, andava um passo atrás deles por costume, notou que minho e seungmin estavam de mãos dadas na sua frente e aquilo fez um sorriso pequeno surgir. Eles formavam um casal bonito.
Mesmo coberto dos pés a cabeça, o frio do inverno ainda era rígido e severo, então encontrar um lugar agradável e com aquecedor foi como um sonho se tornando realidade. O agora quinteto conseguiu uma mesa larga no fundo do restaurante, foi preciso dois garçons para anotar os pedidos deles. Em silêncio, chan observou changbin brincar e implicar com seus amigos, ele sempre procurava encaixar o bang nas conversas, por mais que ele apenas falava o necessário e depois voltava a ficar quieto. Do seu lado direito, seungmin ria das palhaçadas de jisung, e minho usava seu ombro como apoio para cabeça, ele mexia no celular distraído, às vezes olhava para o kim a fim de checar algo e depois voltava para o aparelho. O moreno ficou curioso com aquela atitude, mas não questionou. Talvez fosse algo comum dele.
Do seu lado esquerdo, changbin tinha uma vagarosa discussão com o han sobre pizza ser ou não um ótimo almoço. Aquele tinha sido o pedido do garoto de fios alaranjados, pizza de quatro queijos de tamanho médio. Eles riam e falavam um pouco alto, mas não o suficiente para incomodar as pessoas ao redor. Em algum momento o ruivo aparentou estar cansado de brigar e se encostou no australiano, as mechas lisas roçando em seu queixo e o cheiro característico de morango surgindo pelo ar.
O pequeno grupo ficou quieto por um instante, e o moreno aproveitou aquilo para organizar seus pensamentos. Changbin ainda o usava de apoio, mesmo que estivesse mexendo no celular sem notar o quão próximo pareciam. Chan tentou conter o impulso de passar o braço por trás das costas do rapaz e trazê-lo mais para perto, talvez abraçá-lo de lado e se aconchegar nele. Nunca tinha parado para pensar, mas o ruivinho parecia ser tão macio e fofo.
— não acredito que fiquei de vela aqui. — jisung comentou, chamando atenção dos outros que estavam na mesa.
— deveria estar acostumado, o minho e o min sempre deixam a gente de vela. — changbin disse, voltando a olhar o celular, sem mexer um músculo para se afastar do bang. O han estreitou os olhos na direção da dupla, e chan ficou tenso.
— não tô falando só deles dois, tô falando de vocês também.
— a gente? — changbin encarou o moreno, que deu de ombros, fingindo que não estava entendendo o que o menino queria dizer. — não inventa coisa onde não tem hannie, somos amigos.
— o minho e o seungmin também eram amigos antes de começar a namorar.
— isso não quer dizer que vai rolar com a gente. E o chan é casado, seu idiota. — o menor se afastou, tomando postura. Ele parecia chateado agora.
Quis interromper a conversa vendo que jisung não iria parar, porém os dois garçons de antes surgiram com os pedidos e o clima da mesa rapidamente mudou.
Às vezes sentia que minho estava encarando, mas não tinha coragem de se virar para checar. Não que estivesse com medo, mas tinha algo nele que deixava o australiano em alerta. O almoço passou até mais rápido que moreno pensou que seria, quando notou, já estavam pagando a conta e se organizando para sair e dar lugar para outro grupo de pessoas que queriam degustar de um almoço ligeiro. Com as mãos no bolso da jaqueta, chan apenas observou o quarteto de fotógrafos se olhando, como se tivesse conversando via telepatia.
Minho empurrou changbin até o bang, como se ele fosse um boneco de pano. Surpreso, chris segurou o menor antes que ele caísse.
— vaza vocês dois. — ele disse simplesmente do nada. Chan não gostou da atitude dele, mas seungmin conseguiu contornar e explicar melhor.
— binnie hyung comentou uma vez que seu filho estuda na mesma escola que o innie, e hoje eles vão sair mais cedo porque é o último dia de aula. Então por que vocês não vão lá buscar eles? É aqui perto, e caminhar é bom pra digestão. — ele finalizou com um sorriso.
— além do mais, nós temos umas coisas pra resolver em outro lugar. — jisung completou.
— tudo bem pra você a gente ir agora? — mirou em changbin, que olhava seriamente para seus amigos, mas nenhum deles parecia dar bola.
— claro, sem problemas. — ele deu um sorriso pequeno ao australiano. — não se esqueçam que quem paga o salário de vocês sou eu. — changbin disse antes de virar as costas e andar em direção ao colégio dos meninos.
Sem entender o que ele quis dizer com aquilo, chan o seguiu em silêncio.
O australiano quis perguntar o que aconteceu segundos antes, mas o ruivo ainda parecia chateado com algo, então preferiu não importuná-lo. Ao seu lado, eles seguiram até o colégio dos menores, um edifício pequeno com dois andares, suas paredes eram pintadas em cores mistas e estava lotado de carros pelas calçadas, crianças iam e viam com seus pais, sumindo logo em seguida ao entrar em algum automóvel. A dupla de homens teve dificuldade em entrar na escolinha, uma vez que a recepção estava lotada, do lado de fora eles aguardaram diminuir um pouco antes de ir buscar os meninos em suas respectivas salas. Como felix era um ano mais velho, estudava no segunda andar, enquanto jeongin ocupava uma das salas do térreo.
Se manteve com as mãos atrás do corpo, mas precisou puxar changbin um pouco para o lado uma vez que algumas pessoas sem atenção acabavam esbarrando nele.
— fica aqui. — chan pediu, tomando seu lugar e deixando que o ruivo ficasse no canto.
Changbin o encarou por alguns instantes, os olhos analíticos desbravando os pequenos detalhes do maior, mas ele não chegou a dizer nada, apenas o encarou e depois desviou os olhos. Chan sentiu que tinha algo errado e quis saber como resolver isso, aquele não era o habitual do menor.
— changbin. — o chamou, no entanto, ele não olhou. Talvez distraído com algo. Chan decidiu prosseguir, se abaixando um pouco em direção a seu ouvido. — você tá chateado com o que o jisung disse mais cedo?
De repente, ele virou o rosto na sua direção, pela aproximação seus narizes quase encostaram. Muito vermelho, chan se afastou atordoado, changbin também não ficou para trás, talvez ele realmente estivesse distraído para não notar o quão perto o australiano estava. Meio constrangidos, eles conseguiram entrar na escola para buscar os menores, tomando rumos diferentes brevemente.
Enquanto ia até a sala do bang mais novo, tentava desesperadamente acalmar seu coração. Sentiu que poderia desmaiar quando o baixinho virou o rosto, estavam tão perto, um avanço e chan poderia ter beijado ele. Só aquela possibilidade deixou o moreno ainda mais constrangido. Com certeza perderia a amizade do rapaz se fizesse uma besteira dessa.
Já com felix e jeongin, eles voltaram para casa em silêncio. Os dois meninos iam na frente de mãos dadas, mantendo um diálogo bobo que divertia ambos. Chan observou changbin sorrindo ao vê-los juntos, como um pai orgulhoso, e quando o ruivo notou que o australiano estava olhando, abriu um sorrisinho pequeno e se aproximou dele com cautela.
— eu não tô chateado. — ele disse simplista, batendo de leve seu ombro no braço do australiano para tranquilizá-lo. — jisung sempre fala besteira e levar o que ele diz a sério é perda de tempo às vezes.
Chan assentiu, mesmo que ainda pudesse ver que ele está inquieto. Talvez incomodá-lo com isso apenas piorasse seu humor, então decidiu deixar aquilo de lado.
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