Prólogo: Acidentalmente Destinados
Minha cabeça martelava e o mundo girava ao redor com uma vertigem incapacitante, tentei voltar a plena consciência, mas esse esforço somente agravou meu estado bastante debilitado. Tendo somente a luz da lua para me orientar, fitei uma sombra que, aparentemente, pela minha dúbia perspectiva, me encarava de volta. Não estava com medo da possibilidade de uma criatura cercada de trevas estar me avaliando, porque, no fim das contas, poderia ser fruto da minha imaginação, um delírio meu. Entretanto, ao se deslocar para um ponto no qual o brilho prateado o atingiu, pude vislumbrar sua forma real: um lobo gigante. Já tinha lido bastante sobre lobisomem e transmorfos nos livros antigos da família, sobre as diferenças e habilidades únicas de cada criatura, porém, nunca vi nenhum de perto tampouco um que não deixava de me sondar.
Forcei meu cérebro confuso a sair da zona de atordoamento e raciocinar, recordando vagamente do acidente. Não havia nada de complexo ou absurdo, estava naquela campina para fazer um ritual com a lua, aproveitando todas as condições corretas para tal e devido a minha distração o lobo anormalmente grande invadiu o espaço e me assustou, me fazendo cair de encontro as pedras e na água... Só não lembro de ter saído dela. Meio tonta, movida por uma curiosidade sem filtro, indaguei:
— Você me salvou, não foi? — o lobo mexeu a orelha e me mirou com estranhamento. — Não precisa me olhar assim, nós dois sabemos que você pode me entender. — ele bufou, nada ameaçador. — Bem, eu sou humana se sua preocupação é essa, mas com poderes. Sou uma bruxa.
Em circunstâncias normais, não tagarelaria assim e confessaria a uma besta aleatória o que sou, contudo, por conta do golpe e da euforia, minha língua estava bastante solta e não contive minhas palavras — um defeito que precisava remediar se quisesse me manter segura. De qualquer forma, ele não agia com hostilidade então não via razões para tratá-lo mal, apesar do susto, se não fosse o socorro dele teria me afogado. Não era por ser uma bruxa e possuir magia que seria, automaticamente, imune a situações mundanas.
Soltei um grunhido ao sentir melhor as roupas ensopadas e o frio impiedoso que rastejava sobre minha pele. Estremeci com a temperatura e me encolhi. Embora tivesse capacidade para invocar fogo para me aquecer, não conseguia permanecer muito coerente sem a pulsão da vertigem me acertar com potência total, era um verdadeiro milagre não ter ficado desmaiada.
O lobo se aproximou, atento aos meus movimentos e me cheirando para checar se estava fora de perigo.
— Eu não estou machucada. — disse, me sentindo meio idiota por estar falando com um ser com compleição animal. — Só preciso trocar de roupa e descansar. — esclareci com as pálpebras pesadas, os sons da pata do lobo diminuindo a medida que o torpor nublava meu senso de realidade e me tragava para as sombras.
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