Capítulo 44
Jimin aguardava pacientemente no corredor do hospital. A mãe de Jungkook estava com ele no quarto e junto a ela estava o médico responsável pelos cuidados do Jeon.
Ele ainda não tinha acordado, mesmo depois de 13h que chegaram ali. Jimin não saiu do hospital desde então. Não queria deixá-lo sozinho.
Lembrava-se com desgosto das feições do Jeon quando gritou por ajuda e Amélie junto com Jeonjoon entraram no cômodo e acederam as luzes.
Ele estava pálido, o corpo frio, olhos fundos e lábios ressecados. Seus joelhos sangravam e os pés tinham muitas cicatrizes recentes. Chegou a conclusão de que ele passou os dias de confinamento andando sobre os pedaços do espelho quebrado.
Seus cabelos estavam desgrenhados e cheios de nó. Seus pulsos tinham marcas que ele nem gostava de pensar no motivo para elas estarem ali.
Só conseguiu chorar ao imaginar a cena caótica que Jungkook estava vivendo nos últimos dias.
Ainda no corredor, sentado em uma das cadeiras, com os braços apoiados nas coxas, ele ouvia seu celular tocar. Era Taylor. Mas ele não tinha cabeça para falar com ninguém, precisava muito ouvir um parecer do médico antes de qualquer coisa. Não estava bem para conversar sobre qualquer outro assunto.
Ele ouviu a porta abrir e se pôs de pé em um pulo. A mãe de Jungkook saiu de lá chorando. A única coisa que conseguiu fazer foi abraçar Jimin.
— Calma, Sra Moreau, ele vai ficar bem. — nem ele sabia como conseguiu chamá-la pelo novo sobrenome. Ainda era estranho não chamá-la mais de Sra Jeon.
O médico fechou a porta depois de sair e se dirigiu à mãe do Jeon.
— No momento ele está estável. Já aplicamos as vitaminas que ele precisava e ele já está sendo hidratado pelo soro. No nos resta aguardar que ele acorde.
— Tudo bem, Dr.
— Eu volto para vê-lo em uma hora. — o médico se despediu com o menear.
Jimin assentiu enquanto confortava a Sra Moreau.
— Eu fui vê-lo algumas vezes, mas ele se recusava a receber qualquer um. Sabia que ele não estava bem, só não tinha ideia de que estava...— ela segurou o choro.
— Ele pode ser muito teimoso quando quer. — Jimin tentou acalmá-la.
— Eu devia ter pedido aos seguranças para arrombassem a porta. Ele não estaria assim agora se eu tivesse sido mais firme.
— Não vai adiantar nada a Sra ficar se culpando agora. — apertou mais os braços em volta dela. — Precisamos mesmo é ficar ao lado dele nesse momento. Ele precisa de nós.
— Muito obrigada, Jiminie. Obrigada por não desistir dele.
Jimin suspirou pesaroso.
Ele já havia desistido do Jeon, já tinha alguém que estava ganhando o lugar que por muito tempo pertenceu a ele. Não sabia se era realmente digno das palavras daquela mãe preocupada em seus braços.
Não disse nada sobre o assunto, mas conseguiu convencê-la a ir para casa e descansar. Prometeu que daria notícias a ela assim que o médico retornasse.
Mesmo cansado, depois de mais de 30 horas de voo, a primeira coisa que Jimin fez, foi ir até a casa de Jungkook. Precisava vê-lo.
No entanto, as coisas foram muito diferentes do que ele esperava. 15 horas depois de chegar, lá estava ele, encarando um Jeon desacordado em uma cama de hospital.
Jungkook abriu os olhos e sua visão estava embaçada.
Depois de alguns minutos ele reconheceu o cômodo como sendo um quarto de hospital.
Sentou-se na cama e sentiu um incômodo no braço esquerdo. Era o acesso preso em seu antebraço. Ele encarou a bolsa de soro pendurada e decidiu se livrar dela. Não precisava de cuidados quando tudo o que realmente queria era dar fim a tudo.
Do que adiantava todos aqueles cuidados médicos, se tudo o que ele queria era que a dor que consumia seu peito o levasse para sete palmos abaixo da terra?
Pegou o acesso e antes que pudesse puxá-lo, ouviu um longo suspiro vindo do outro lado do quarto.
— Jimin-ssi? — JK sussurrou e engoliu seco ao ver Jimin dormindo desconfortável em uma poltrona logo à frente.
Lentamente ele puxou o lençol que o cobria e saiu da cama. Ainda não tinha recuperado todas as forças, suas pernas não tinham total firmeza, ainda assim, andou bem devagar no chão frio e se aproximou de Jimin.
O Park estava encolhido na poltrona, sua cabeça pendia sobre sua mão direita, parecia dormir tranquilamente.
Jungkook ergueu a mão, aproximou-a do rosto de Jimin, queria tocá-lo, mas hesitou. Não tinha certeza que o que via era real. Apertou forte o punho, respirou fundo com os olhos fechados e quando os abriu, Jimin ainda estava lá, do mesmo jeito, com os cabelos caídos sobre os olhos. Jungkook ousou tocar seus fios.
Era real, Jimin estava mesmo ali, e ao mesmo tempo que queria sorrir, uma vontade avassaladora de chorar surgia.
Jimin-ssi... Meu Jimin-ssi...
O que está fazendo aqui? Porque veio atrás de mim? Onde esteve nos últimos meses? Porque não permaneceu longe? Eu sou perigoso demais para você ficar assim tão perto.
Afastou sua mão dele. Voltou para a cama e deitou-se observando seu Baby Moon.
Ficou pelo menos duas horas assim, vendo-o dormir, vendo-o respirar. Vendo suas bochechas coradas e seus lábios rosados. Vendo-o apagado, porém vivo.
Já passava das 10h da manhã quando JK acordou. A primeira coisa que fez foi olhar para a poltrona.
Jimin não estava mais lá.
Jungkook suspirou aliviado por não vê-lo mais ali, mas ainda sabia que Jimin estivera ali, sabia que ele havia se arriscado a se aproximar dele outra vez.
A porta abriu, JK olhou imediatamente para ela. Jimin estava lá. Viu quando ele abriu seu mais belo sorriso ao vê-lo acordado.
Não, Jimin-ssi, você não pode ficar feliz em me ver.
— Jungkook! — se aproximou rápido. — Que bom que está acordado!
— O que está fazendo aqui, Jimin-ssi?
— Eu estou cuidando de você. — Jimin tentou pegar a mão dele, mas JK foi rápido em se desviar daquele contato. Sabia que não resistiria ao toque do amor da sua vida. — Sua mãe já está vindo para cá...
— Jimin-ssi, pare! Não faça isso. — alertou.
— Eu não tive escolha, ela ficaria uma fera se eu não avisasse que você está melhor. — voltou a sorrir para o Jeon.
— Você precisa ir embora. — disse sério, olhando fixamente em seus olhos.
— Jungkook, eu preciso cuidar de você...
— Você não pode ficar! — dessa vez foi ríspido.
— Jungkook?!
JK sabia que precisava ser mais incisivo, caso contrário, ele ainda permaneceria lá.
— Eu não...— mordeu o lábio inferior com força. Sabia que sua palavras o magoaria outra vez, mas não tinha escolha. Tinha que se assegurar que ele não voltaria a se aproximar. — Eu não quero você perto de mim. — o sorriso no rosto de Jimin morreu por completo.
— O quê?
— Você não devia ter ido a minha casa. Não devia ter permitido que me trouxessem para cá. Não devia ser tão intrometido. — desviou o olhar, não queria ver a tristeza no rosto dele.
— Jungkook, eu...
— Vai embora! Eu não quero mais que você volte a me ver. Eu não quero mais você na minha vida. — seus olhos ardiam, as lágrimas ameaçavam cair. Ainda assim o encarou nos olhos. — Eu nunca mais quero ver você!
Uma lágrima despontou no olho do Park, e JK a acompanhou descer pelo rosto delicado dele e pingar no lençol que o cobria.
— Volte por onde veio, volte para os seus sonhos. Volte para a sua vida. — por mais que sua voz fosse baixa, ainda era séria e convicta. — E me esqueça de uma vez por todas!
Jimin se sentia traído.
Traído por suas próprias convicções.
Traído pelos próprios sentimentos.
Traído pelo seu próprio amor.
Doía muito ouvir o Jungkook falar daquele jeito. Doía saber que suas ações e promessas não valiam nada para ele. Doía ainda sentir alguma coisa por Jungkook.
Jimin não disse nada. Deu um passo atrás, encarando JK que sequer ousava dizer aquelas coisas olhando em seus olhos.
Finalmente se virou, seguiu para a porta e saiu.
Foi melhor assim...
Foi melhor assim...
Ele ficará melhor estando longe de mim. Eu sei que ficará!
Foi melhor assim!
JK voltou a se deitar, respirando fundo e tentando se convencer que havia feito o certo.
Colocou as duas mãos no rosto e desatou a chorar.
Ele sabia que tinha que matar o amor que sentia por Jimin. Era o certo a fazer.
Jamais se perdoaria se algo ruim acontecesse com ele por sua culpa, e o único jeito de evitar isso, era mantendo-o afastado, longe. Então, para evitar qualquer tipo de contato por parte dele outra vez, a solução seria o magoando novamente.
Se odiou ainda mais por isso.
Naquele mesmo dia, depois de sentir seu coração ser estraçalhado outra vez por Jungkook, Jimin voltou para a Califórnia.
Depois de uma semana no hospital, JK voltou para casa.
Não que seu inferno pessoal o deixasse em algum momento, mas estar ali, naquela casa, só o fazia ficar pior.
Por todos os cantos haviam lembranças de Shivani. Por todos os lados ela estava presente. Principalmente dentro de si.
Dentro da banheira, a espuma estava cobrindo toda a água. Inclusive seu pulso esquerdo. JK passou a mão pelas cicatrizes recentes e suspirou melancólico.
Tudo estaria bem agora se não eu não fosse tão covarde! — passou os dedos pelas marcas de sua tentativa falha em se juntar a Shivani. — Eu me odeio tanto pelo que fiz você sofrer. Me odeio tanto por tê-la magoado. Me odeio muito mais por tê-la matado.
Encostou-se na banheira e afundou na água.
Jungkook voltou para casa há 4 dias, e antes dele, a pequena Mahya já havia recebido alta.
A Sra Milth se encarregava 24h por dia dos cuidados da nova Jeon. Por mais que estivesse sempre com a ela, não tinha visto Jungkook passar pela porta do quarto da pequena para vê-la.
Ela sabia que a menina precisava do pai agora, no entanto, sabia também os demônios que ele estava enfrentando. Aquela seria mais uma noite na qual a menina choraria por horas.
Porém, por volta das 2h da manhã Mahya dormiu. A Sra Milth, já se sentindo exausta, desceu para tomar um banho. Nas últimas noites, quando a menina pegava no sono, não durava mais do que 1 hora, seria tempo suficiente para descer, tomar um banho e comer alguma coisa antes que ela acordasse com os terríveis desconfortos abdominais, também denominada como cólica.
Era quase 3h da manhã quando JK acordou. Não era novidade alguma o som que o despertava, já estava familiarizado com ele. No entanto, não gostava nem um pouco.
Depois que voltou do hospital, JK conseguia dormir um pouco. Geralmente de 2 à 3 horas por dia. Nada mais que isso. E ele não tinha um horário específico, apenas deitava e o sono o embalava.
A única certeza era que nunca acontecia durante a noite. Isso porque a pequena Mahya não deixava. Chorava praticamente durante todo o período noturno. Ele não tinha paciência para tal incômodo.
Sentou-se na cama e colocou as mãos nos ouvidos. Detestava aquele som. Principalmente hoje que, além de ter conseguido pegar no sono, ele sonhava com Shivani.
Na verdade, eram lembranças de quando ela ainda estava ali, sob o mesmo teto, de quando dividiam a mesma cama, os mesmos carinhos, o mesmo amor.
Ele levantou impaciente da cama, saiu apressado do quarto e caminhou irritado até a última porta do corredor.
Entrou e nem se deu ao trabalho de acender as luzes. Os dois pequenos abajures sobre as cômodas eram suficientes para que o ambiente não fosse tomado por completo pelo breu.
Ele se aproximou do berço e a viu, debatendo os braços e as pernas e emitindo aquele insuportável choro agudo.
— Porque você faz isso todas as noites? — agarrou com força às laterais do móvel. — Porque não me deixa pensar nela? Porque não me permite relembrar do pouco tempo em que fui feliz ao lado dela? Porque não me deixa aproveitar um único momento longe das garras da culpa? — ele sussurrava olhando fixamente para sua pequena estatura inquieta no berço. — Eu só preciso de um tempo com ela...— se ajoelhou ainda agarrado ao móvel e sem tirar os olhos dela. — Eu preciso de apenas isso para não ficar louco ao saber que ela não está mais aqui. — a ardência de seus olhos expele lágrimas silenciosas. — Por favor...— suplicou.
Ele juntou as mãos sobre as laterais e colocou a cabeça junto aos pulsos, ainda ajoelhado. Implorava para àquele pequeno ser inconsciente por uma chance de ainda poder viver.
— Eu a amava. Amava muito! — mesmo sabendo que ela não se importaria em vê-lo chorar, ele escondeu o rosto. — Mas eu não soube ser o homem certo para ela. Não soube ser homem que ela merecia. Não soube fazê-la feliz todos os dias, como prometi quando me casei com ela. — lamentou baixo. — Eu juro, juro que se pudesse, trocava de lugar com ela. Juro que se fosse por escolha minha, você jamais a teria perdido.
Jungkook tendia a passar a maior parte do tempo se martirizando pela morte de Shivani. Era como se a culpa fosse sua mais nova companheira até o fim de seus dias, mas ter Mahya interrompendo seu martírio diário, comprometesse seu novo "eu".
Ele agora tinha grandes feridas e fazia o possível para que elas não se fechassem.
No entanto, em seu subconsciente, se culpar fisicamente, sentimentalmente e psicologicamente, o deixava mais próximo dela. Não conseguia evitar de sentir assim.
— Sr Jeon? — a Sra Milth entrou no cômodo devagar. Se surpreendeu ao vê-lo ajoelhado ali, com a cabeça baixa e murmurando algumas palavras. — Está tudo bem?
Ele não respondeu. Levantou-se e saiu do quarto.
A Sra Milth o observou até que ele passasse pela porta. Não era uma visita que ela esperava ver naquela hora. Menos ainda que o encontraria tão suplicante ao lado de uma Mahya acordada e em um silêncio reconfortante.
A olhou para a pequena, tão quieta, tão serena. Como se entendesse o que ele lhe dizia.
A Sra Milth puxou uma cadeira para o lado berço e apenas apreciou ela permanecer em silêncio e em poucos minutos pegar no sono outra vez.
Na noite seguinte foi o mesmo processo. Mahya chorou a maior parte do tempo e JK não conseguiu dormir ou pensar em qualquer coisa que agradasse sua mente. Fosse pensamentos bons ou ruins sobre si mesmo.
Na terceira noite, a mesma coisa. JK saiu de seu quarto e foi até Mahya, com passos hesitantes. Olhou para ela dentro do berço e instantaneamente seus olhos arderam.
Ela usava uma das roupinha que Shivani havia gostado muito. Ela achava que ficaria lindo vê-la dentro daquele macacão cor de gema com pequenos ursinhos.
— Você tinha razão, Shivani, ficou lindo nela! — sorriu triste.
A Sra Milth entrou no quarto com uma mamadeira na mão. Essa noite ela não estava tendo cólica, apenas tinha fome.
— Sr Jeon...— se aproximou dele.
— Por que ela chora tanto? — ao lado do berço, ele mantinha as mãos no bolso da bermuda de moletom, a observando.
— Os bebês choram por vários motivos, Sr. Mas hoje ela está apenas com fome. — ao lado dele, ela se curvou e pegou a menina no colo.
JK a olhou mais de perto. Ela tinhas cabelos negros, bochechas rosadas e olhos pequenos. Era linda, pensou consigo.
— O Sr gostaria de tentar segurá-la? — a Sra Milth olhou para ele e depois para Mahya. Ele fez o contrário, olhou para Mahya e depois para a Sra Milth. Deu um passo atrás.
— Não é uma boa ideia. — engoliu seco. Nunca havia segurado um bebê antes, tinha medo de segurá-la.
— A qualquer hora é hora de aprender algo novo. Não acha, Sr? — Jungkook estava atento aos movimentos da menina. Observando cautelosamente cada sugada que ela dava na mamadeira e o líquido se esvair aos poucos.
— Em outro... — deu outro passo para trás. — momento. Agora eu não consigo. — apressou os passo até a porta e saiu.
Entrou em seu quarto, fechou a porta e encostou nela. Sentia-se nervoso. Olhou para baixo e viu suas mãos tremerem. Não entendia o porquê de estar assim. Afinal de contas, era sua filha.
Mas seu medo ia além do físico. Ele quis muito pegá-la no colo, porém, o medo era grande.
Ela era muito pequena, indefesa, e o fato de se parecer muito com Shivani o assustava ainda mais. Tinha um medo indescritível de destruir também uma vida tão pura. Estar perto dele, criar algum tipo de conexão, algum vínculo, fosse afetivo ou físico, poderia acarretar em danos irreversíveis.
Era esse tipo de pensamento que fazia bem. Agarrar-se nesse pessimismo para que mais ninguém a sua volta se machucasse. A própria tortura psicológica o deixava inquieto.
As noites não mudaram nada.
Em sua cama, sentado, ele ouvia o choro ecoando pelo corredor. JK suspirou. Queria ir até lá, tentar acalmá-la, mas sabia que não devia.
Ela está melhor longe de mim...
Ela está melhor longe de mim...
Ela está melhor...
— Merda! — saiu da cama e foi até o quarto ao lado.
Ao entrar, viu a Sra Milth com Mahya no colo. Ela estava com a menina deitada em seu antebraço, balançando-a vagarosamente enquanto a outra mão deslizava pelas costas da pequenina.
— Sr Jeon, ainda bem que está aqui! — JK arregalou os olhos surpreso com as palavras dela. — Venha...— foi até ele, o pegou pelo braço e o levou até a cadeira de balanço.
— O que está fazendo? — ela colocou a mão em seu ombro, o obrigando a se sentar.
— Eu preciso descer e pegar o remédio de cólica para ela. O Sr só tem que ficar aqui e esperar que eu volte.
— Mas eu...— ela o encostou na cadeira e colocou a menina deitada de bruços em seu peito. — Eu não sei o que fazer. Quanto tempo tenho que ficar aqui? — a Sra Milth colocou uma das mãos dele nas costas de Mahya e a outra sobre o bumbum, indicando que ele deixasse leves tapinhas no local.
— Eu volto em dois minutos. Sei que o Sr consegue fazer isso nesse tempo. — deu um impulso na cadeira, fazendo-a balançar. — Mantenha-se sempre balançando. Eu não demoro. — virou-se e seguiu para a porta.
O ouvido de JK fazia um zumbido irritante com o choro estridente e tão próximo da menina.
A Sra Milth parou na porta e o observou por alguns segundos. Ele estava com os olhos fechados, apertava-os com força. Bem diferente dos tapinhas que deixava nas costas de bumbum da menina. Tinha medo de colocar força demais e machula-la. Os pés estavam apoiados no chão e impulsionava a cadeira para trás, balançando-a com sutileza.
Saiu do cômodo e não teve pressa alguma para voltar. Sabia que ambos precisavam desse momento. Sabia também que ele estava pronto para dedicar um tempo a sua filha. Mesmo que hesitasse a todo momento.
— Porque você chora tão alto? — Mahya virava a cabeça de um lado para o outro, ainda estava desconfortável. Ele abriu os olhos e observou os movimentos dela. — Isso é mesmo tão ruim assim? — o choro dela diminuiu de tom. — acho que fazer isso realmente ajuda, não é? — continuou a balançar a cadeira.
Ficou em silêncio, fazendo apenas o que lhe foi dito para fazer. Ela voltou a berrar um choro agudo.
— Ahh, minha nossa...achei que estivesse melhorando. — aumentou a velocidade em que batia com a mão nas costas dela. — Onde está a Sra Milth?
Foi aí que JK notou que o choro dela diminuía quando ele falava com ela.
— Você gosta que conversem com você? — a menina deitou a cabeça no peito dele. — Então você será uma menina muito falante, eu suponho. — ele riu nasalado. — Eu não sei o que conversar com você, muito menos conheço histórias infantis. Então não sei como posso te ajudar. — o choro dela sessou por completo. — Tudo bem...eu não sei histórias mas posso tentar, assim, sei lá, — deu de ombros. — cantar uma música. Não sei se você vai gostar, mas acho que ouvir alguém falando te deixa mais calma, não é? Então...
Mahya estava tão quieta em seu peito que, ele achou que ela pudesse ter dormido. Mas ao parar para pensar em uma música, ela voltou a ficar inquieta.
— Tudo bem, tudo bem. Vamos lá.
I'm in my bed
And you're not here
And there's no one to blame
But the drink and my wandering hands
Forget what I said
It's not what I meant
And I can't take it back
I can't unpack the baggage you left
What am I now? What am I now?
What if I'm someone I don't want around?
I'm falling again, I'm falling again, I'm fallin'
What if I'm down?
What if I'm out?
What if I'm someone you won't talk about?
I'm falling again, I'm falling again, I'm fallin'...
Menos de 10 minutos depois, Mahya já havia pego no sono.
A verdade era que, a menina não tinha ainda como saber quem falava ou cantava para ela. Com a cabeça no peito do Jeon, as vibrações emitida pelo corpo dele a acalmaram. Era como se sentir dentro do útero outra vez. Tudo era absorvido de forma indireta, o que não gerava nenhum tipo de atrito físico, auditivo ou psicológico nela. Era mais confortável se sentir em sua própria bolha, seu próprio mundo.
Quatro noites depois, JK voltou e fez a mesma coisa. Ela voltou a dormir tranquilamente durante toda a noite. Já ele partiu de um sentimento de imponência ao ser comumente necessário nas noites dela. No entanto, ainda tinha reservas.
Naquela noite, depois que Mahya dormiu, JK sentiu-se cansado. Deitou em sua cama e também não demorou a dormir.
— Jungkook?! — Shivani sentou-se de lado em seu colo, abraçando-o pelo pescoço. JK colocou o rosto em seu pescoço, inalando seu perfume.
— Hm?
— Você precisa parar de ser tão rude consigo mesmo. — sentiu JK deixar um beijo em seu pescoço.
— Eu não estou sendo.
— Está sim. — ela se afastou olhando nos olhos dele. — Ela precisa de você por inteiro.
— Eu não posso dar a ela o que precisa. Ela pode se machucar.
— Jungkook...— colocou as mãos no rosto dele. — Tem ideia de o quanto eu a amo? — ele não disse nada, apenas engoliu seco. — Eu abdiquei do meu carinho, do meu amor, da minha vida para que ela tivesse o seu apoio incondicional. E que você a tivesse ao seu lado em todos os momentos. E você está me decepcionando.
— Me desculpe! — pegou nos pulsos dela, deslizando suas mãos por seu rosto e beijando carinhosamente sua pele. — Eu não sou capaz de fazer isso. Não sem você aqui.
— Meu amor, você é capaz de fazer tudo o que quiser. — encostou sua testa na dele, fechando os olhos e suspirando. — Por favor, não a deixe só. E acima de tudo, — se afastou outra vez encarando seus olhos. — não se permita ficar só. Você precisa de alguém ao seu lado, precisa de um apoio. Pare de sofrer tanto pelo que já passou.
— Eu não posso. Eu mereço isso, por tudo o que fiz você passar. Por ser responsável por sua morte.
— Você acha mesmo que estou feliz em vê-lo assim? Decaindo a cada dia? Acha que sou egoísta a esse ponto?
— Não! — ele a abraçou forte. — Não, eu sei que você é generosa demais para tais sentimentos. Eu não acho que seja justo ainda ter qualquer tipo de felicidade depois disso tudo.
— Jungkook, eu o amava muito. — sentiu o corpo dele soluçar sob o choro reprimido. — E eu a amei desde o momento em que a descobri. Mesmo que não fosse sob as circunstâncias mais adequadas, mesmo que não estivéssemos de acordo ou em paz juntos, eu a amei. Então por favor, — passou levemente as mãos por seu rosto. — não a deixe só. Ame-a, proteja-a, cuide dela como gostaria de fazer se eu ainda estiver aqui. Não deixe que esse amor escape por seus dedos também. — secou as lágrimas no rosto dele. — O amor é algo puro e raro, então não o deixe escapar de você outra vez. Hm? — sorriu esperançosa.
— Eu prometo, por você, pelo amor que eu sinto por você, pelos momentos que partilhamos juntos, que nunca a deixarei só. — ela sorriu ainda mais quando as lágrimas desceram por seu rosto. — Eu te amo tanto.
— Eu também amo você, para todo o sempre!
— Shivani...— JK passou as mãos pelo rosto ao abrir os olhos e perceber que tudo não passava de um sonho. Colocou o travesseiro sobre o rosto e chorou.
Geralmente seus sonhos com ela eram apenas lembranças, mas essa noite, tudo foi diferente.
Por mais que esperasse que em algum momento sonharia com ela, não imaginava que seria dessa forma.
Ele temia por seu rancor, por seu desdém, por sua ira. Ele a decepcionou, a magoou, a fez sofrer. E era o causador de sua morte. No entanto, ela deixou claro que deseja que ele fosse feliz, que seu coração seja preenchido por algo tão único como o amor. Ela era generosa demais com ele ao lhe pedir que fosse feliz.
Chorou ainda mais.
Levantou da cama e partiu em disparada para o quarto da filha. A Sra Milth estava com Mahya no colo naquela manhã. Ele não disse nada, se aproximou e com todo o cuidado desse mundo a pegou do colo da governanta, a abraçando da maneira mais aconchegante que pôde e beijou sua testa.
— Você era o desejo dela, você era seu porto seguro, você era tudo o que ela atribuía ao sentido do amor. — gemeu em meio ao choro. — Agora você é minha promessa, meu futuro, meu amor para vida toda, meu mundo, meu tudo!
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