6. Arco-íris
Jade bebia uma poção para não ficar fraca de dia, havia dezenas delas no refeitório a disposição dos filhos de Hécate. Jessica observava a garota com a mão apoiada no queixo.
— O que foi estranha?
Jessica corou, ela se tocou a forma que encarava Jade.
— Nada, você que é estranha — a loira pensou em alguma ofensa. — Sua gótica.
Jade riu.
— Você é péssima nisso.
— Você quem é.
Clarissa adentrou o Chalé, ela estava brava, suas amigas haviam sumido, obrigando à conversar com pessoas de três faces.
— Eu tive que comer sozinha com os irmãos da Jade, filhos de Hécate podem ser muito aleatórios, acho que sou amiga e inimiga de todos.
Jade deu de ombros e fez desaparecer o frasco vazio da poção.
— Onde vocês estavam?
Clarissa colocou as mãos na cintura. Jessica encarou Jade, a morena não transmitia, mas estava nervosa, não queria compartilhar seus momentos de vulnerabilidade.
— Desculpa Clara, nós fomos até a horta, eu precisava entrar em contato com as plantas.
Clarissa suspirou, o uso de seu apelido lembrou-a que ela era um ser que irradiava alegria por onde passava e isso amenizou sua raiva. Jade agradeceu Jessica com os olhos. Clarissa notou o novo acessório de Jade.
— Espera, você deu uma flor pra Jade?
Jessica corou absurdamente, Jade brincou com o adorno em seu cabelo.
— Eu quero uma também.
Jessica sorriu, seu rosto voltou a cor caramelo de antes. Ela procurou por terra e não encontrou no dormitório, então saiu e fez crescer uma rosa amarela na porta do Chalé, a qual recolheu com cuidado e entregou à Clarissa.
— Eu ouvi você cantando músicas infantis hoje, então...
— O CRAVO BRIGOU COM A ROSA, DEBAIXO DE UMA SACADA...
Clarissa saiu cantarolando com a flor. Jessica entrou no Chalé, Jade encarava as cortinas, não precisaria delas durante o dia, pois a poção dura um total de 12h.
— Boo.
Jade não se moveu.
— Que medo.
Jessica sentou-se ao seu lado.
— No que você está pensando?
— Nada.
Jessica torceu a boca. Elas não conversaram sobre a hora anterior, apenas falaram sobre plantas. Jessica preferiu não pressionar Jade, pois sabia que a garota era reservada. Jessica encarou a morena, tentando pensar em algum assunto, quando um pergaminho voador adentrou o quarto assustando Jessica.
— Que porra é essa? — perguntou Jade tocando-o.
O pergaminho se abriu. Era uma mensagem de Belissário, exigindo que Jade fosse ao seu encontro.
— Lá vou eu.
Jade se sentiu estranha em estar indo sozinha, ela se virou e viu Jessica cuidando de sua nova planta em um vaso, um cacto. Jade bateu na porta do Chalé principal, ela se abriu sem muita cerimônia. Hécate e Bel encaravam um mapa preocupados.
— O que houve?
A porta fechou assim que ela entrou.
— Precisamos da sua ajuda.
— Okay. — disse ela sentando na cadeira.
Os dois estavam calados encarando o mapa.
— É sobre as montanhas?
Hécate riu.
— Eu já me resolvi com aqueles rebeldes da magia, eles acham que sabem tudo, mas estavam invocando monstros nocivos a eles...
— É uma missão, já iremos contar os detalhes, só precisamos das outras pessoas. – Bel interrompeu a deusa, antes que ela se empolgasse e passasse a listar todos os erros dos rebeldes da magia.
Jade começou a ficar nervosa, odiava conhecer novas pessoas, odiava todo o processo de tornar-se amiga de outrem. As portas se abriram, Jade encarou as silhuetas, Jessica e Clarissa entraram, Jade respirou aliviada.
— Eu e Jade estávamos no mesmo lugar Bel — Jessica estava com a franja em seu olho. — Era só ter mandado ela me chamar que eu tinha vindo antes, mas não! Você me fez procurar a Clara pelo acampamento inteiro. — Jessica falava irritada enquanto torcia seu cabelo molhado.
— Eu estava na piscina.
—Fazendo o quê?
—Nadando ué, o que mais se faz em uma piscina?
— Tem uma piscina? — perguntou Jade.
— Tem e é aquecida. — disse Hécate sorrindo orgulhosa.
— Eu não sabia que vocês estariam juntas, Jade sempre está só — disse Bel, fazendo um leve rubor subir as bochechas da morena, a qual disfarçou encarando o carpete molhado. — Estamos aqui para discutir sobre a primeira missão de vocês, não é emocionante?
Ele encarou sua mãe divina, Hécate não moveu um músculo facial, Belissário sorria, ele queria dançar de tão alegre que estava.
— Nós estamos muito felizes por vocês — ele encarou a deusa novamente, a qual o julgava. — Enfim, como o Acampamento é novo, precisamos encontrar mais semideuses por um método que vocês conhecem. Vocês se disfarçarão de estudantes e trarão os filhos e abençoados de Hécate.
Hécate apenas assentiu.
— Como nós saberemos quem são eles?
— Boa pergunta minha iluminada Clarissa — a garota riu. — Nós facilitaremos mandando-as para escolas com magia previamente detectada, mas antes, vocês terão um treinamento especial, no qual serão ensinadas feitiços de detecção.
O líder do acampamento batia palmas alegre. Hécate o encarava sem entender toda aquela alegria.
— Quanto tempo?
— Não dura nem 2 semanas.
— Mas eu já acabei o ensino médio. — resmungou Clarissa.
— Todas nós. — disse Jade.
— Espera, onde vamos morar?
— O acampamento está de portas abertas a vocês, seja estadia provisória ou permanente.
Clarissa queria morar ali, não queria voltar para a sua antiga rotina, ela sentia-se em casa e era reconfortante. Jade já via o Acampamento como sua estadia permanente, o seu Pai havia destruído o resto de motivação que ela possuía para se reconstruir em sua cidade, ela só queria ir para longe e agora ela que podia não trocaria isso por nada. Jessica também amava o lugar, mas via-o como férias de verão, ela havia sonhado em morar com suas amigas lá, mas apenas se sentia estúpida por ser tão avoada, a loira não tinha nenhum motivo para voltar para a sua vida, seu Pai morava em outro estado havia anos e ela morava em uma pensão estudantil, agora que acabara o ensino médio, não sabia para onde ir e definitivamente não queria morar com seu pai.
— Eu quero morar aqui. — as três disseram em uníssono e logo se encararam felizes.
— Sejam bem-vindas residentes permanentes. — disse Belissário saltitante.
As três sorriram, Jade encarou Hécate, seu pingente cintilava toda vez que ela estava próxima à deusa, o que fazia Jade sentir-se protegida. Belissário dispensou-as, Clarissa rodopiava com sua rosa amarela cantando "Cravo e Rosa". Jade segurava seu pingente e sorria de canto.
Anoiteceu, como todas as noites, Jade subiu ao telhado, para sua surpresa havia duas intrusas lá. Elas estavam sentadas sobre um edredom, com pipoca e jujuba próximas a elas.
— Boa noite, flor da noite. — disse Clarissa apontando para a cabeça de Jade.
Jade riu e sentou-se no espaço entre as duas. As três observavam o luar, a pedra de Jade cintilava ainda mais a noite. Ela se sentiu segura próxima a elas.
— Vocês sentiram isso?
— O quê? — perguntou Jessica comendo pipoca.
— Caiu uma gota de água em mim, vai chover.
Logo, as três sentiram o gelado das gotículas de água tocando sua pele. Nenhuma das três queria entrar, Jade estava ocupada demais admirando o luar. Mesmo depois de quase se afogar em sua busca por Clarissa, Jessica amava água, ela se sentia renovada. Após a chuva surgiu um arco-íris, o que assustou as três, não havia sol ali.
— Que porra é essa?
— Olha a boca. — exclamou Clarissa.
Jade mostrou o dedo do meio. Clarissa balançou a cabeça em sinal de reprovação. As três encararam o arco-íris, as cores cercaram Clarissa, a fazendo rir.
— Faz cosquinha.
Jessica e Jade se entreolharam, não sabiam o que estava acontecendo, uma buscava respostas no olhar da outra, mas ambas estavam confusas. Jessica secretamente desejava que o seu descobrimento sexual tivesse sido assim, um arco-íris a rodopiando, teria a poupado de muito sofrimento, como fingir ser alguém que ela não é. Jessica achou graça do pensamento, Jade praticamente se escondia atrás da loira, aquela luz a incomodava.
Clarissa foi colocada no chão, seu pingente de arco-íris brilhou como nenhuma bijuteria jamais brilharia.
— Eu sou filha de Íris? — perguntou Clarissa ainda risonha.
— Sim. — responderam as meninas ainda incrédulas.
"Tudo fazia sentido", pensou as duas, as roupas, os olhos mudando de cor conforme o seu humor.
— Eu sou um unicórnio. – Clarissa girava com sua rosa, agora, colorida.
Jessica voltou a rir do seu pensamento.
— Eu queria ter saído do armário assim.
Jessica corou, percebeu que havia dito em voz alta, ela queria se esconder, estava saindo quando sentiu uma mão em seu ombro.
— Eu também. — disse Jade.
Jessica sorriu, se sentia feliz em ter outros membros da comunidade lgbtqia+ por perto. Por muito tempo, Jessica se escondeu. Ela se aceitava, mas por ter sofrido muito rejeição do seu pai, parou de contar aos outros, voltou a se esconder. Se ela se interessava por uma menina, ela tentava piscar para a garota, o que parecia com uma mini-convulsão e nunca dava certo.
Autora: Sim, Jade e Clarissa são filhas de deusas menores e eu tô muito feliz.
~Não esqueçam de votar e se estiverem gostando comentem: Batata~
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