Capítulo 15
- RHIARA! RHIARA!
A filha de Rapunzel acabara de se levantar quando ouviu os gritos e as pancadas na porta. Com um gesto de mão e um revirar de olhos, Gwendolyn abriu a porta, abrindo e fechando a boca ao ver uma multidão adentrar a sua casa. Uns de espadas em punho, outros com os olhos brilhantes...
Os amigos de Rhiara estavam todos ali.
- Rhiara! - exclamou Harry, correndo para junto dela.
O rosto da princesa iluminou-se.
- Harry!
Envolveu o pescoço dele com os braços, abraçando-o fortemente, enterrando o rosto na pele do seu pescoço e inspirando o seu odor a mar. O seu pirata estava ali, viera a correr para salvá-la, mesmo sabendo que ela não precisava, conseguia virar-se muito bem sozinha. Atrás dele, Audrey levou a mão ao peito, aliviada por ver a melhor amiga bem, trocando um olhar significativo com Evie, que também ficara preocupada. Carlos, Jay, Uma, Gil... até Ben e Mal estavam ali. Rhiara fungou, emocionada ao dizer:
- Eu estou bem. - afastou-se de Harry, acariciando suavemente o rosto dele - Está tudo bem, acabou.
- Rhiara.
A voz séria de Gwendolyn fê-la virar-se, vendo-a junto à cama onde Rapunzel repousava. A princesa arregalou os olhos, tirando o pequeno frasco do bolso, agradecendo aos céus por este estar intacto. Apressada, correu para junto dela, ignorando as perguntas e questionamentos dos restantes. De supetão, retirou a tampa de cortiça e verteu o líquido encarnado para os lábios da mãe, observando atentamente a respiração demasiado lenta da mesma.
- Mãe? Mãe, por favor acorda...
As pálpebras de Rapunzel remexeram-se. Lentamente, a Rainha abriu os olhos, sonolentos, tentando focar o rosto da filha. Ao distinguir os contornos familiares de Rhiara, a mais velha sorriu, apertando suavemente a mão envolta na sua.
- Olá, querida.
- Mãe!
Rhiara soltou uma risada, abraçando a mãe com entusiasmo. Ela estava salva. O pesadelo terminara e tudo estava bem. Rapunzel afagou os cabelos da filha, os olhos esmeralda abrindo-se e fitando a mulher ao lado da mais nova. Com um pequeno empurrão para colocar Rhiara trás de si, a Rainha olhou em volta, pegando no candelabro pousado na mesinha de cabeceira ao lado da cama onde estivera deitada e empunhando-o com veemência, apontando-o a Gwendolyn, cujos braços se ergueram num sinal de rendição.
- Fica longe de nós! - brandiu Rapunzel, abanando o candelabro, ameaçadora.
- Mãe! Está tudo bem... - a mais nova tentou intervir, sendo bruscamente interrompida pela Rainha.
- Rhiara, fica atrás de mim! Esta foi a louca que me raptou!
- Louca? - Gwen torceu o nariz, encolhendo inocentemente os ombros - É, pode-se dizer que sou louca. Somos todos loucos aqui.
- Gwendolyn, cala-te. - repreendeu Rhiara, puxando a mãe pelo braço para força-la a encará-la - Ela não nos vai fazer mal... Não mais.
- Eu conheço-te. - disse Rapunzel, de sobrolho franzido - Pareces... familiar.
- O meu nome é Gwendolyn, filha de... Gothel.
Rapunzel arregalou os olhos, baixando o candelabro lentamente. As palavras saíram dos lábios encarnados de Gwendolyn numa enxurrada imparavel, contando à Rainha e a todos os presentes a sua história. Ela não queria que a olhassem com pena ou misericórdia mas era importante para ela que a loira a conhecesse... finalmente. Quando terminou, viu os olhos esmeralda de Rapunzel marejarem, emocionados ao dizer:
- Eu ouvia-te. Debaixo dos meus pés, debaixo do meu quarto... Às vezes parecia que ouvia vozes e perguntava-me se a solidão me enlouquecera. Eu.. Eu sabia que estavas lá. Só não sabia quem eras ou se eras real.
As duas mulheres trocaram olhares, sentindo um conjunto de emoções inexplicável. A vilã engoliu em seco, endireitando os ombros e adotando uma postura ereta, firme, segura de si. Já tivera emoção que chegasse por um dia. Ela ainda era filha de uma vilã, ela ainda era uma bruxa impiedosa, ela ainda era Gwendolyn, a feiticeira da Lua.
- Como é que nos encontraram? - perguntou Gwen, de sobrolho franzido - A cabana está enfeitiçada para ser indetetável...
- Não para alguém que saiba lançar um bom Feitiço de Localização e tenha bastante magia no sangue. - respondeu Mal, balançando algo na sua mão.
Algo azul, pontiagudo e mágico.
- A Brasa de Hades. - disse Rhiara, sorrindo - Matreira.
- Na verdade, foi a Audrey que teve a iniciativa de pedir ajuda à Mal assim que saíste disparada com a Varinha na mão. - esclareceu Uma, pousando a mão no ombro da filha da Bela Adormecida, cujas bochechas adotaram um tom rosado - E foi ela que disse para usarmos o Feitiço de Localização na tua pessoa.
- E-Eu...
- Ela foi a heroína da noite. - afirmou Uma, lançando um olhar significativo a Audrey - Todos podemos ser as duas coisas, princesa: os bonzinhos e os mauzinhos.
- A Varinha da Fada Madrinha. - Ben apontou para o chão, aproximando-se e pegando delicadamente no objeto, os olhos castanhos fitando Rhiara em choque - Tu roubaste-a?
- Sim, eu...
- A culpa é minha. - disse Gwen, dando um passo em frente - Eu forcei a Rhiara a ressuscitar a minha mãe, a roubar a Varinha...
- Mas fui eu que o fiz! - protestou Rhiara, cruzando os braços.
- Ressuscitaste a Gothel? - questionou Rapunzel, empalidecendo.
- Mas o plano era meu. E lamento ter-te posto nesta situação, Rhiara. - a feiticeira ergueu os olhos, fitando o Rei e a Rainha de Auradon - Eu pago pelos meus crimes. Deixem-na fora disto.
Mal assentiu, com firmeza.
- Jay, prende-a por favor.
O filho de Jafar lançou um olhar apologético a Rhiara, caminhando em direção a Gwen com as algemas da mão. Entrara na Guarda Real de Auradon recentemente e as algemas vinham com o conjunto. Com um breve acenar, esperou que a vilã colocasse as mãos atrás das costas antes da prender, encolhendo os ombros ao ver o olhar furtivo de Rhiara sobre si
- Não! - exclamou a princesa de Corona - Isto não está certo. Passaste a vida toda presa... Mal, não podes fazer isto!
- A Rhiara tem razão. - disse Rapunzel, aproximando-se de Gwen - Auradon não tem justificação sobre este caso. Ben, houve um atentado à vida da monarca de Corona, não aos monarcas de Auradon. Este caso é nosso. A Gwendolyn será levada para as masmorras do castelo de Corona e lá será declarada a sua sentença. Ela tem que pagar pelos seus crimes, verdade, mas será julgada por mim e pela futura Rainha de Corona. - olhou para a filha, piscando-lhe o olho - Ela dirá o veredicto.
Ben trocou um olhar com a esposa, fitando Rhiara em seguida e observando o ar de expectativa dela. Com um suspiro, assentiu, ciente de que a filha de Rapunzel iria dar uma segunda chance à vilã.
Afinal de contas, Rhiara não seria Rhiara se não visse o Bem em toda a gente.
- Ainda assim, ela terá de ir para as masmorras enquanto não for julgada. - declarou Rapunzel, encarando a filha - Ainda sou a Rainha.
- Mas..
- Rhiara, é justo. Eu sou culpada, fui eu que raptei a Rainha e armei isto tudo. Eu escolhi as minhas ações. A nossa história diz muito do nosso caráter mas não nos define, não justifica todas as escolhas erradas que fazemos. - retorquiu Gwen, abanando a cabeça- Não tenhas pena de quem é culpado, Rhiara. Tem pena daqueles que são inocentes e nem sequer têm a oportunidade de se justificar. - pousou a mão sobre um dos seus ombros, encarando-a com um sorriso torto - Eu ainda me vou vingar por me teres salvo a vida sem eu querer.
- Não o fiz por ti, fiz porque era a única forma de nos salvarmos. - resmungou a princesa, cruzando os braços.
- Continuas a ser a criatura mais irritante do planeta.
- A criatura aqui salvou-te...
- Eu não queria ser salva!
- Temos pena!
As duas sorriram. Noutra vida, talvez pudessem ter sido amigas. Noutra vida, Gwen não teria enveredado por um caminho de escuridão, de magia negra, de necromancia. Noutra vida, Rhiara talvez pudesse ter conhecido a tia noutras circunstâncias. Noutra vida, Rapunzel e Gwen teriam sido irmãs, teriam crescido juntas e nenhuma teria de sofrer sozinha o tormento provocado por uma mulher insana.
Mas isso seria noutra vida, eram muitos "e se..." e não havia nada a fazer em relação a isso. Com um suspiro, Rhiara assentiu brevemente com a cabeça, os olhos esmeralda fitando Gwendolyn com seriedade.
- Irei certificar-me que o julgamento seja justo.
- Eu sei. - Gwen sorriu, os olhos verde-musgo pela primeira brilhantes e vivos - A princesa que gosta de vilões não iria deixar esta vilã ficar mal.
Harry observava tudo em silêncio. Os olhos azuis fitavam a jovem dos cabelos castanhos com atenção, memorizando cada movimento, cada traço do seu rosto, o som da sua voz. Poucas horas antes, quase a perdera e antes disso forçara-se a deixá-la ir para protegê-la.
Ele não a queria perder novamente. Não podia.
Ele queria que ela fosse o seu "feliz para sempre", se sequer merecesse um.
Observou os fios de cabelo castanhos da princesa, os olhos esmeralda vivos e brilhantes como quando a conhecera pela primeira vez, a força e a coragem que pouca gente tinha misturando-se com a ingenuidade e alegria de uma jovem que adorava o oceano e viajar pelo mundo, mas que amava a família e os amigos mais.
Para Harry Hook, a princesa Rhiara era o seu mundo, governando um reino ou sendo apenas a rapariga que gritara efusivamente que ele era um pirata como se tivesse sido a melhor coisa que lhe acontecera na vida.
- Rhiara, princesa e futura Rainha de Corona... - o pirata ajoelhou-se, pegando com suavidade na mão dela - Dás-me a honra de te fazer feliz para o resto da tua vida? Permites que um pirata idiota ser o teu "final feliz", minha dama?
Rhiara levou a mão livre à boca, em choque. O seu coração batia ruidosamente contra o peito, como se quisesse saltar e juntar-se ao coração de Harry, que batia com igual força. Havia um brilho diferente nos olhos azul-água dele, cheios de coragem, determinação, lúcidos como raramente os vira. Ele sabia o que queria e não estava disposto a deixá-la ir novamente. Tivera um vislumbre de quão miserável era a sua vida sem a sua dama e faria o que fosse preciso para estar junto dela... até ser o esposo da Rainha de Corona.
- Sim! - exclamou a morena, dando pulinhos de alegria - Claro que sim!
Harry sorriu abertamente, pondo-se de pé para a envolver num abraço que a ergueu no ar, rodopiando-a, beijando-a profundamente quando a pousou. Rhiara sentiu-se derreter contra ele, sorrindo contra os seus lábios, incapaz de conter a felicidade. Nunca tinham realmente conversado sobre o que acontecera entre eles... e Rhiara não precisava. Ela sabia o que ele fizera, porque ele o fizera e sabia a verdade. Ainda assim, o coração falhou-lhe uma batida ao ver o pirata afastar-se dela, esboçando um sorriso ladino ao dizer:
- Amo-te, minha dama.
Rhiara mordeu o lábio inferior, numa tentativa vã de engolir as lágrimas.
- Eu também te amo, meu pirata.
Ambos sorriram, alheios aos gritos de entusiasmo dos amigos, que pareciam tão ou mais felizes que o próprio casal.
- O Harry vai casar? - Uma deu uma cotovelada a Gil, que batia palmas, entusiasmado - E dizem que os milagres não acontecem! O pirata mais cobiçado da Ilha dos Perdidos vai casar!
- Isto é maravilhoso, muitos parabéns, vou ser a madrinha... - interrompeu Audrey, afastando o casal com os olhos castanhos arregalados - Mas nós temos uma coroação para ir, lembram-se? Já passa da meia-noite, feliz aniversário já agora... Agora vamos!
E puxou a melhor amiga pela mão, arrastando-a dali para fora.
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