Parte II: 31
Em uma noite de sexta-feira, Kim Minjeong sentia-se ansiosa enquanto saia do quarto. A roupa que usava era um dos seus amados tops e calças folgadas. O modelo tinha sido feito sob medida e ficava perfeito nela. Ela havia escolhido um elegante blazer preto e um par de sapatos de salto para complementar o visual.
Hesitante, ela parou em frente ao espelho no corredor e observou sua aparência; seus longos cabelos claros estavam soltos; os olhos azuis, cintilantes e reluzentes.
Sorrindo, ela se afastou e olhou para sua companheira com considerável paixão, pensando que se recuperara completamente, apenas algumas semanas depois de ter sido atingida. Estava bem mais saudável e forte. Formidável como sempre. Arrogante. Adorável. Impossível e irresistível.
Jimin estava parada próxima ao corrimão da escada, observando o movimento dos seus guerreiros logo abaixo. Naquela noite a Irmandade iria se reunir para um jantar a fim de discutir os planos para o futuro. Quando a viu a expressão da lupina se suavizou e ela se aproximou.
– Você está deslumbrante. – Ela beijou seu rosto e a girou para admirá-la. – Gostou da roupa?
– Adorei. Obrigada, meu amor. Sei que custou uma fortuna.
Ela a encarou com um olhar atento.
– Algum problema? – Perguntou Minjeong.
Jimin pigarreou, mantendo o olhar fixo nela.
– Hum... você está linda...
– Bem, Yu Jimin, se correr tudo bem no jantar de hoje, talvez te mostre o que estou usando por baixo mais tarde...
O grunhido que saiu do peito dela foi um lembrete de que sua companheira, na verdade, não era uma mulher comum. Ela era uma dos últimos lupinos puro sangue do planeta – e no que se referia a ela e a sexo, Jimin era plenamente capaz de se tornar uma bola de demolição para pegá-la.
Bom, desde que Minjeong estivesse disposta, claro. Só que, francamente, quando uma mulher tinha a oportunidade de ter um metro e sententa cinco de uma gostosa metida em roupas pretas, que por acaso tinha olhos singulares que brilhavam como a lua e cabelos negros descendo pela já mencionada gostosura?
“Não” não só não fazia parte do seu vocabulário; era um conceito desconhecido.
– Ah, vou garantir que corra tudo bem, querida. Mesmo que precise compensar quando estivermos a sós, sob as cobertas.
Ela sorriu e Jimin a tomou nos braços.
– Temos que ir – falou, dando um beijo em seus cabelos.
– Espere. Você está esquecendo uma coisa. – Ela foi ao quarto e voltou com uma venda em mãos.
A lupina pareceu surpresa.
– Onde eu estava com a cabeça?
– Eu diria que na sua companheira – Minjeong brincou.
Jimin sorriu e pegou o tecido de suas mãos.
– Obrigada. – Ela deu um beijo em seu rosto antes de levar um tempo colocando a venda e arrumando os cabelos.
Minjeong aproveitou para observar sua vestimenta; sabia que sua companheira não gostava muito de trajes sociais, mas naquela noite tinha optado por um. O blazer que ela usava era novo, feito sob encomenda pelo seu alfaiate preferido em Seul. Era preto, com uma única fileira de botões e fendas laterais. Minjeong ficou muito admirada com o blazer, porém mais ainda com a figura atraente que o vestia.
Não há nada mais sexy do que ver sua companheira vestida em roupas sociais, pensou.
– Posso? – Ela se aproximou, tirando alguns fios de cabelo do rosto dela. Então correu as mãos pela manga do blazer até pousá-las sobre seus punhos.
Jimin a encarou com um olhar curioso.
– Você fez questão de tirar minha venda quando dormimos juntas pela primeira vez.
– Eu me lembro.
– Não há outra pessoa a quem eu permita que faça isso além de você. – Ela pegou as mãos dela. – Nós passamos por muitas coisas desde aquela primeira noite.
Minjeong ficou na ponta dos pés para beijá-la, tomando o cuidado de não borrá-la com o batom.
Jimin levou os lábios à orelha dela.
– Não sei como vou me manter concentrada nessa reunião quando tudo o que quero fazer é levá-la de volta para o nosso quarto.
Minjeong deu um gritinho quando ela a envolveu com os braços, erguendo-a para lhe dar um beijo de verdade. Isso a obrigou a retocar o batom e, antes de descer, as duas tiveram que conferir a aparência no espelho.
Jimin segurou a mão de Minjeong durante a breve caminhada até a sala de jantar. Quando entraram, o som de conversas paralelas parou e os membros da Irmandade fizeram uma breve reverência antes de cumprimentá-las. A hora seguinte se resumiu a discutirem todas as medidas que seriam adotadas durante a regência de Jimin como líder da raça em Seul.
– A mansão na costa leste. Estou lhes dizendo, é para lá que deveríamos ir – disse Aeri, enquanto espetava um pedaço de rosbife da bandeja dourada que o assistente lhe oferecia – Obrigada, Sunoo.
Minjeong olhou para Jimin, observando o quão concentrada ela ficava quando assumia uma posição de liderança. A lupina estava acomodada em sua cadeira à cabeceira da mesa, segurando-lhe a mão e acariciando-lhe a palma com o dedo polegar.
Sorriu para ela.
Estavam planejando se mudar daquela região desde que a sua localização fora revelada a um dos membros da Sociedade Inquisidora. Não havia garantias de que Mark não compartilhara informações com seu superior ou que este não tentaria fazer um ataque direto. Então era sábio manter sua localização oculta tal qual os seus inimigos.
– Sabe? Parece-me uma excelente ideia – disse Yujin. – Eu poderia cercar muito bem aquele lugar. É bem isolado, na zona alta da cidade, próxima a um condomínio de luxo. Isso representa um ponto crítico nesta casa, quando... – parou. – E não conta com enormes salões subterrâneos? Poderíamos utilizá-los para treinar.
Mingi concordou.
– Além disso, o lugar é bastante grande. Poderíamos viver ali todos juntos sem acabar nos matando.
– Isso depende mais da sua boca do que de qualquer projeto arquitetônico – disse Jungkook, cruzando os braços.
– O que acha? – Perguntou Aeri a Jimin.
– Não depende de mim. Esse edifício eram propriedade de Baekhyun. Agora passou para Minjeong – Jimin olhou para ela – Você permitiria que os membros da Irmandade utilizassem uma de suas casas?
Uma de suas casas. Suas casas. Como nunca havia sido proprietária de coisa alguma, tinha certa dificuldade em conceber tudo o que agora lhe pertencia. E não eram apenas imóveis. Arte. Terras. Carros. E o dinheiro que controlava era uma barbaridade.
Felizmente, Mingi compartilhava com ela seus profundos conhecimentos sobre o mercado de ações, títulos, ouro. Era extraordinariamente bom com o dinheiro.
Minjeong correu os olhos sobre os lupinos à mesa.
– Tudo o que a Irmandade precisar está à disposição.
Houve um murmúrio de gratidão, e as taças foram erguidas em um brinde a ela.
Jungkook deixou a dele sobre a mesa, mas lhe dirigiu um aceno de cabeça.
Ela se virou para olhar Jimin.
– Você não acha que deveríamos viver lá, também?
– Quer fazer isso? – Perguntou ela. – Tenho uma residência próxima a que mencionamos.
– Podemos viver nela, então. Além disso, os membros da Irmandade são seus guerreiros mais próximos, as pessoas nas quais mais confia. Por que haveria de querer ficar longe deles?
– Espere – disse Yujin – Pensei que o combinado fora que não teríamos de viver proximos a nossa lider.
Jimin lançou um olhar feio a lupina e depois se dirigiu de novo a Minjeong.
– Tem certeza, querida?
– É mais seguro vivermos todos próximos, não?
Ela concordou.
– Mas também estaríamos mais expostos.
– Entretanto, estaríamos em muito boa companhia. Não há ninguém no mundo em quem confio mais para nos proteger do que esses Lupinos maravilhosos.
– Com licença – interveio Yujin. – Não estão todos apaixonados por ela?
– Claro – disse Mingi, erguendo seu gorro. – Completamente.
Aeri apenas sorriu antes de olhar para Jimin.
– Não sei se vou poder me juntar aos demais membros, minha lider. Como sabe tenho uma companheira e não me sentiria confortável em...
– Eu entendo perfeitamente, Aeri. Se não for um problema você e sua companheira podem morar na minha residência. Especialmente porque deve se reportar diretamente a mim.
A lupina pareceu surpresa.
– Eu ficaria grata, minha lider.
Jimin ergueu os olhos para olhar para Minjeong.
– Tudo bem para você?
Ela sorriu.
– Absolutamente. Eu me sentiria bem em ter mais companhia em casa.
Jimin a beijou e olhou para Aeri.
– Então, acredito que já temos um lugar para morar.
– E Sunno também virá – disse Minjeong, quando o assitente entrou na sala. – Não é?
Por favor, diga que sim!
O assitente pareceu enormemente grato por ter sido incluído, e olhou para os membros da Irmandade com alegria.
– Por minha senhora e a lider, faço qualquer coisa. E quanto mais trabalho, melhor.
– Bem, providenciaremos ajuda para você.
Mingi falou, dirigindo-se a Jimin:
– Ouça, com relação aos postos em aberto na Irmandade, o que pretende fazer?
– Está me perguntando isso porque está preocupado ou porque já encontrou uma solução para essa questão?
– Ambas as coisas.
– Por que tenho o pressentimento de que vai sugerir algo?
– Porque é verdade. Os Irmãos da família Lee deveriam se juntar a nós.
– Por alguma razão em particular?
– Andei sondando eles. Os dois tem potencial para serem guerreiros. Além disso a família Lee foi importante nos anos de regência dos seus pais.
– Está certo – Disse Jimin – mas com qualificação ou não, eles devem ser vigiados de perto.
Mingi assentiu.
– Aceitarei a responsabilidade.
– Certo. Quero que se apresentem formalmente dentro de uma semana – Ordenou Jimin antes de olhar para Aeri. – Contate a família Shin e diga que a filha mais velha está sendo convocada pela regente da raça.
— Pensa que ela vai ser uma boa aquisição a nossa causa?
— Saberemos em uma semana. — Ela se voltou para Yujin. — Quero que você descubra tudo o que puder sobre Lee Taeyong. Minjeong me disse que ouviu um dos seus sequestradores mencionar esse nome e tudo leva a crer que essa pessoa seja o atual comandante da Sociedade Inquisidora.
A outra lupina assentiu.
— Não vai ser uma tarefa fácil visto que nosso inimigos são ótimos no quesito anonimato, mas irei me dedicar a isso com a minha vida.
Enquanto os membros da Irmandade começavam a fazer planos, Minjeong baixou o olhar para a mão de sua companheira que estava entre as suas, e sentiu uma absurda onde de sentimentos.
– Minjeong – disse Jimin suavemente. – Você está bem?
Ela assentiu, impressionada ao comprovar que a lupina podia perceber todos os seus sentimentos com incrível facilidade.
– Estou muito bem – sorriu para ela. – Sabe? Justo antes de conhecê-la estava procurando uma aventura.
– Verdade?
– E encontrei muito mais do que isso. Agora tenho um passado e um futuro. Toda... uma vida. Algumas vezes não sei como administrar minha boa sorte. Simplesmente não sei o que fazer com tudo isso.
– Estranho, eu sinto a mesma coisa – Jimin segurou seu rosto entre as mãos e pousou seus lábios sobre os dela – E é por isso que a beijo com tanta frequência, Minjeong.
Ela envolveu-lhe os ombros com os braços e roçou-lhe os lábios com a boca.
– Ah, qual é – disse Yujin. – A gente vai ter que ficar vendo essas duas se beijarem o tempo todo?
– Desejaria ter tanta sorte – murmurou Mingi.
– Bem, você tem razão – suspirou Yujin. – Só o que quero é uma boa companheira. Mas, acho que a pessoa em quem estou de olho ainda não confia totalmente em mim. A vida é mesmo uma droga, não?
Gargalhada geral. Alguém lhe atirou um guardanapo. Sunoo trouxe a sobremesa.
– Por gentileza – disse o assistente –, não comecem a atirar os guardanapos uns nos outros. Alguém deseja morangos?
Enquanto os membros da Irmandade se ocupavam da sobremesa, Minjeong tornou a olhar para Jimin. Ela era uma mulher muito atraente, alta, de uma beleza surreal. Minjeong admirava especialmente o semblante sério e a maneira como seu terno preto e elegante lhe caía com perfeição.
Ela ficou excitada ao se lembrar de como Jimin era por baixo do terno, seu corpo nu sobre o dela. Minjeong se perguntou se ela também teria esse tipo de pensamento quando a olhava. Ainda perdida em suas reflexões, seus olhares se cruzaram e Jimin sorriu para ela. Essa breve demonstração de bom humor fez a mente de Minjeong retornar àquela manhã, quando as duas estavam na cama, e um tremor de prazer percorreu sua espinha de alto a baixo.
Como se lesse o seu pensamento, a lupina se levantou e a segurou pela mão, conduzindo-a para longe dali. Conforme as duas saiam da sala de jantar, Minjeong viu que alguns dos presentes olhavam na direção delas e sorriram de forma cúmplice.
– Para onde estamos indo?
Jimin a conduziu rumo as escadas e começou apercorrê-la, afastando-se o máximo possível dos ouvidos dos demais convidados. Chegando no piso superior, ela a puxou para os seus braços. Ficou calada por alguns instantes antes de suspirar com força.
– O que você me diz de deixarmos meus aliados aproveitarem o restante do jantar sozinhos?
Minjeong sorriu, levando as mãos ao rosto dela e puxando lentamente a venda dos seus olhos.
– Eu pensei que esse jantar fosse algo importante.
– Digamos que tenho outras prioridades.
Como se quisesse provar isso, Jimin a beijou com intensidade, empurrando-a até ela sentir suas costas contra a parede.
Minjeong gemeu quando as mãos dela se emaranharam em seus cabelos. Ela passou os braços em volta do pescoço dela. A lupina deslizou as mãos por suas costas, pressionando os dedos sobre suas costelas. Ela começou a beijar de leve seu pescoço e subiu para puxar o lóbulo da sua orelha com a boca.
– Como está se sentindo?
– Ótima – sussurrou Minjeong enquanto os lábios de Jimin deslizavam por seu pescoço.
Ela se moveu para que pudesse ver o rosto dela, deslizando uma das mãos até descansar sobre o cós da sua calça.
Minjeong respirou fundo.
– Você estava falando sério sobre me mostrar o que está usando por baixo está noite? – Perguntou Jimin naquele com aquele sorriso sombrio que fazia sua pele arrepiar.
– Com toda certeza... – Ela respondeu, enroscando os dedos pelos seus cabelos e puxando-a para mais perto. Jimin começou a explorar suas curvas com as duas mãos antes de mover a boca para beijar seu pescoço.
– Você também não parece mais tão interessada assim no jantar pelo que vejo.
Minjeong tornou a respirar fundo.
– Não vejo mais razão para voltarmos.
– Eu não permitiria mesmo que quisesse – sussurrou a lupina, levando os lábios aos seus.
Ela a beijou de forma intensa, mergulhando a língua na sua boca, obrigando-a a abrir os lábios, enquanto deslizava as mãos para os seus quadris, erguendo-a até Minjengo estar com as pernas envolta dela. A parte de cima de seus corpos se colou enquanto elas continuavam a se beijar, as bocas ávidas e curiosas.
– Vamos para o quarto – A voz da Jimin estava baixa e rouca. – Ou vou possuí-la aqui mesmo nesse corredor.
– Eu não tenho duvidas disso – sussurrou ela, sentindo um tremor de prazer descendo até os dedos dos seus pés.
Instantes depois, Jimin avançou para o quarto delas, fechando a porta atrás de si.
\[...]
Park Sunghoon ergueu os olhos quando o rádio sob o painel de seu carro de patrulha disfarçado comunicou que uma vítima do sexo masculino fora encontrada morta nos arredores da cidade.
O detetive olhou para o edifício do outro lado da rua. Passava um pouco das dez, o que significava que ela definitivamente não apareceria por ali. Era mais uma daquelas noites em que ele se dirigia até aquela região com a falsa esperança de que Minjeong fosse aparecer.
Embora os vizinhos tenham deixado claro que não a viam há meses.
Sunghoon apanhou o fone e disse ao operador que atenderia à chamada, embora estivesse um pouco longe do local. Como o caso dos assassinatos em série no qual vinha trabalhando estava por um fio de ser arquivado depois de tantos fracassos na investigação, ele precisava se agarrar a alguma coisa. No que lhe dizia respeito, quanto mais tempo passasse fora de casa, melhor.
Ligou a sirene e pisou no acelerador enquanto pensava no que o aguardava.
Cerca de meia hora depois, ele estacionou o carro nas proximidades de uma cabana e caminhou depressa em direção à faixa de isolamento, contornando um grupo de oficiais. Ao fazer isso, viu Somi.
Foi direto até ela.
– O que tem para me contar? – Perguntou.
A detetive passou alguns instantes sem responder, parecendo surpresa em vê-lo ali. Por fim, disse:
– Recebemos uma denúncia anônima e faz uma hora que o encontramos. Bem... o que sobrou dele.
– O que sobrou dele?
Somi lhe entregou uma lanterna e fez um gesto sombrio em direção à porta de madeira, que estava aberta.
Sunghoon respirou fundo o ar frio da noite e entrou, mergulhando na escuridão.
O ar ali dentro era fétido... Enjoativo. Como a podridão da morte.
Sacando a lanterna em forma de caneta, iluminou o chão sujo ao seu redor. A cabana estava obviamente abandonada, havia teias de aranha pendendo do ventilador de teto sobre o fogão na cozinha e nas prateleiras vazias sobre as bancadas... o pó cobria todas as superfícies... os detritos de uma mudança apressada obstruíam o caminho até a porta.
Olhando em volta, Sunghoon movimentou o facho de luz em círculos.
Um quarto estava no canto mais distante, a porta aberta, seu interior contendo outra negritude que só Deus sabia o que havia dentro.
Ao esticar a mão para pegar a maçaneta, sua pele ficou clara sob a luz da lanterna, e o barulho dele abrindo ainda mais a porta foi tão alto que fez seus ouvidos zumbirem. Uma sucessão de passinhos enlouquecidos sugeriu que ratos de verdade fugiam ante a sua chegada, e ele deixou que eles passassem por cima de seus sapatos.
O fedor era tão forte que encheu seus olhos de água. O facho de luz entrou antes.
E lá estava ele.
Pendurado no meio do quarto, suspenso por um gancho na nuca, um homem fazia uma excelente imitação de boi.
Sunghoon deduziu que fosse um homem por causa das calças e da jaqueta de couro.
Identificação facial era algo impossível: os ratos o comiam desde o alto da cabeça, usando a corrente que o mantinha pendurado como uma via expressa até a refeição fragrante.
Então aquele, tragicamente, era o cadáver.
– O legista acha que a arma usada foi uma faca comprida e curva de lâmina afiada – disse Somi, aparecendo na soleira da porta.
Sunghoon tornou a reprimir a ânsia de vômito. Tentou absorver toda a cena, gravá-la na mente como se fosse uma série de fotografias, e não a realidade. Manter tudo a uma distância segura era a única forma que ele conhecia de suportar algo assim.
– E, se você olhar mais de perto, vai ver que o pescoço foi dilacerado – disse Somi. – Imagino que esse método de assassinato não é desconhecido para você.
– Definitivamente não. Embora seja uma quebra de padrão encontrar o corpo nesse estado e tão longe do centro da cidade.
– Está dizendo que poderia ser algum tipo de coincidência? – Indagou Somi.
Sunghoon deu de ombros.
– Ou um ato de imitação. Ou nosso assassino resolveu mudar sua abordagem para algo mais intimista. Ou uma combinação dos três. Não sei.
– Você acha que podemos adicionar isso ao caso dos assassinatos em série? – Perguntou Somi de repente.
Sunghoon assentiu e então transferiu a atenção para além do corpo, mais para o fundo da cabana, passando pelos peritos que recolhiam indícios dos objetos no cômodo e virando-se para um fotógrafo que tirava fotos junto a parede.
Contornando o corpo, mantendo uma distância de poucos metros, pôde ver o que o fotógrafo registrava. E parou imediatamente.
Uma espécie de adaga estava fincada sobre uma mesa.
Na superfície de madeira alguém tinha desenhado um X com sangue.
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