38
Jimin observou Lee Taeyong sair da mansão e se ocultou atrás das colunas da fachada. A residência de concreto ficava numa área tão remota de Seul que os vizinhos mais próximos estavam à quilômetros de distância. Ele enfiou as mãos nos bolsos e olhou para o céu.
– É mesmo ele... – disse Aeri, parecendo surpresa.
– Veja como parece despreocupado mesmo tendo o sangue de tantas vidas inocentes em suas mãos.
Jimin deu um passo a frente, mas antes que saísse das sombras, um Hummer negro se aproximou lentamente pelo caminho da entrada. Ao passar junto a elas, o perfil de outro homem ficou visível pela janela.
– Parece que ele tem companhia – murmurou Jimin.
– Deve ser um dos seus homens de confiança, minha lider.
– E quer apostar que está trazendo a morte de civis da raça em suas costas?
– Com certeza.
O homem saltou do automóvel e se aproximou de Taeyong.
– Devíamos aguardar até que esteja sozinho – murmurou Aeri. – Assim poderíamos nos encontrar unicamente com ele.
– Não há tempo para isso. O Espírito Ancestral se apresentará no fim da tarde. Farei meu comunicado agora.
Jimin saltou diante dos seus inimigos, obrigando-os a encará-la. Permaneceu em silêncio enquanto Aeri se aproximava pela lateral, avançando furtivamente para onde estavam.
A lupina sorriu quando o motorista do carro deu um passo para trás na defensiva. A sua volta, pôde detectar medo e surpresa. Muito diferente de Taeyong, que mantinha uma postura calma embora estivesse preparado para lutar.
Mas havia algo mais. Algo não estava certo nele. Ela o encarou fixamente através da venda negra. Um instante depois, percebeu, e ficou tão surpresa quando irada. Tantas mortes, tantos ataques liderados por ele, e no fim aquele desgraçado era um meio-sangue? Era alguém que pertencia a raça, mas se aliara ao lado inimigo.
Parado diante dela, Taeyong também a encarou fixamente.
– Finalmente nos encontramos, Karina Yu. Cheguei a pensar que esse momento jamais aconteceria.
Jimin grunhiu.
– E eu jamais imaginei que meu inimigo carregasse o sangue da raça nas veias.
Os olhos de Tayeong faiscaram.
– Então você conseguiu perceber – ele fez uma pausa. – A lider da raça realmente é diferente dos demais lupinos. Isso é inspirador.
Ante o silêncio de Jimin e a pressão no ar a sua volta, Aeri se adiantou. Sem dúvida percebera que as coisas podiam não seguir como o planejado e se aproximou como reforço.
Examinando os corpos imponentes a sua frente, Taeyong travou contato com a líder e sinalizou para que o outro Inquisidor não se movesse.
Ele assentiu, mas não se moveu da sua posição.
Jimin fechou as mãos em punhos.
– Tente alguma gracinha e eu acabo com você em instantes.
– Espero que saiba que não sou como Mark Lee – Taeyong ralhou. – Mas se duvidar da minha palavra, talvez possa perguntar a Kim Baekhyun.
– Do que você está falando? – Jimin bradou.
Ele sorriu.
– Eu o alvejei na Ponte Bampo – disse de um modo que nenhum outro jamais teria ousado. – Você vai gostar de saber que foi uma morte rápida e limpa.
Coisa errada a dizer.
Jimin puxou a venda e avançou com tanta rapidez e acuidade que ninguém estava preparado. Num minuto Taeyong estava de pé na frente da lider, no seguinte ele estava se defendendo de um ataque não só não planejado como também... bem, direto.
E a situação ficou ainda mais tensa.
A lupina o agarrou com força pelo pescoço, prendendo-o. Taeyong ergueu os punhos, pronto para revidar, mas então parou; Sombria e mortífera, Jimin estava sob total controle, completamemte a vontade com toda aquela pressão violenta. E sua fria expressão aliada aqueles olhos que brilhavam por vontade própria incomodavam infernalmente ao Inquisidor.
Taeyong sentia como se o seu corpo tivesse sido golpeado em todas as partes com um taco de beisebol do tipo A, com um gancho na ponta. Mas aquela pressão angustiante sob seus músculos era o menor dos seus problemas comparado a percepção de que mesmo sendo um meio-sangue, ele estava reagindo ao domínio dela.
Como se Jimin soubesse o que estava acontecendo, largou Taeyong e observou enquanto ele tentava recuperar o equilíbrio. Seria fácil acabar com ele ali mesmo, mas não agiria de forma desonrosa como seus inimigos. – Principalmente quando a retaliação colocaria toda a sua raça em risco. – Não, ela não era uma covarde. Agiria de acordo o seu legado e encerraria aquele conflito no campo de batalha.
Afinal, aquela altura seu objetivo se tornara muito maior do que apenas vingar a morte de Baekhyun.
– Parece que você quer tornar as coisas mais divertidas para nós – Taeyong sorriu com sarcasmo enquanto tentava recuperar suas forças.
Aeri deu uma de Jimin ao partir para cima dele. Mas a lider encarou sua aliada e, ela entendeu que deveria permanecer onde estava.
– Acredite, me parte o coração termos de nos separar assim. Mas voltaremos a nos encontrar com você e com o seu contigente. Em breve.
Assim que ela fez menção de se afastar, a primeira coisa com que se deparou foi com a investida do Inquisidor que até então se mativera parado, e quase não houve tempo para o homem esquivar: Jimin o agarrou e o ergueu como se não passasse de uma folha de papel, os pés se balançando acima do chão, os punhos tentando acertá-lá para se libertar.
Sem se abalar, a lider o arremessou com força para o lado...
O homem veio na direção de Taeyong, subindo um metro e meio, os braços mudando de posição ao girar. O meio-sangue não levou isso para o lado pessoal – ainda mais quando o subordinado voou na direção do carro, quebrando o para-choque com o impacto, espatifando o vidro pelo metal, no chão, sob o corpo inerte.
Jimin sorriu friamente para Taeyong e disse:
– Entenda isso como meu presente de boas vindas.
Ela inclinou a cabeça na direção de Aeri, e as duas desapareceram pelo caminho da entrada.
\[...]
Enquanto Minjeong levava uma travessa até a sala de jantar, estava convencida de que Sunoo e Ningning podiam governar juntos um país pequeno. Haviam colocado os membros da Irmandade para trabalhar, pondo a mesa da sala de jantar, substituindo as velas usada por novas, colaborando com a comida. E só Deus sabia o que estava acontecendo no salão principal. A cerimônia aconteceria ali, e Mingi tinha permanecido uma hora no cômodo.
Minjeong deixou a travessa sobre o aparador e retornou à cozinha. Encontrou Sunoo tentando alcançar um grande recipiente de cristal enquanto mexia em uma panela.
– Espere, eu ajudo.
– Oh, obrigado, minha senhora.
Ela apoiou o recipiente na bancada e Sunoo o encheu de sal.
Problemas de hipertensão à vista, pensou Minjeong.
– Minjeong? – chamou Ningning.
– Pode ir à despensa e pegar três frascos de pêssegos em conserva para a guarnição do presunto?
Minjeong entrou na grande sala quadrada e acionou o interruptor de luz. Havia latas e frascos do chão até o teto, de todas as formas e tamanhos. Estava procurando os pêssegos quando escutou que a porta se abria.
– Sunoo, você sabe onde...?
Virou-se e topou diretamente com o corpo de uma desconhecida.
A mulher chiou, e ambas deram um salto para trás enquanto a porta se fechava, deixando-as fechadas ali.
A desconhecida a encarou como se estivesse surpresa, ao mesmo tempo em que assumia uma postura respeitosa.
– Sinto muito, minha senhora – sussurrou ela, tratando de se afastar e inclinar a cabeça. – Não tinha visto você. Espero não ter lhe faltado com respeito.
Ela estava usando uma camisa de mangas longas justa, por isso, quando fechou os punhos a tensão de seus braços e de seus ombros ficou evidente. A mulher não era muito alta, mas forma como curvava o corpo a fazia parecer menor do que realmente era.
Minjeong a encarou, arqueando uma sobrancelha. Então se lembrou do que Jimin mencionara sobre a apresentação dos novos membros da Irmandade.
— Você deve ser Shin Ryujin, certo?
A lupina parecia aturdida quando levantou o olhar para encará-la.
— Oh... sim. É um prazer conhecê-la, minha senhora.
Minjeong sorriu diante de toda aquela formalidade. Sabia exatamente qual era o principal motivo para aquele comportamento e definitivamente não era apenas a posição que ocupava.
Sua companheira e seus aliados muito provavelmente já tinha demarcado o território até onde os novatos poderiam ir se quisessem manter suas cabeças acima do pescoço.
— Você também está auxiliando nos preparativos da cerimônia? — Perguntou numa tentativa de aliviar o clima.
— Ah, sim. Na verdade, eu deveria retornar agora – disse bruscamente – Peço perdão mais uma vez se tiver feito algo inapropriado. Mas estarei ao seu serviço a partir de agora.
Então, pegou alguma coisa e saiu.
Minjeong se recostou contra os frascos e latas e olhou para o espaço vazio lá no alto que ela havia deixado na prateleira. Pepinos japoneses. Levara uma lata de pepinos japoneses.
– Minjeong, encontrou...? – Ningning parou de chofre na soleira da porta. – O que aconteceu?
– Nada demais. Apenas conheci uma dos novatos e posso dizer com toda certeza que Jimin passou a impressão de uma lider de pulso firme.
– Com base no que aconteceu no passado, eu diria que faz sentido ela estar agindo de forma mais rígida em relação a Irmandade – Ningning localizou os pêssegos e desceu algumas latas. – Ouça, por que não vai para o seu quarto e descansa um pouco? Mingi já terminou, assim pode ficar ali um momento, tranquila. Precisa relaxar um pouco antes da cerimônia.
– Sabe? Acredito que é uma ótima ideia.
A lupina assentiu.
– Irei me juntar a você logo mais.
Minjeong sorriu e subiu para o seu quarto, trancando a porta. Então tirou suas roupas e entregou no banheiro. Levou alguns minutos tomando um banho relaxante, deixando a água quente escorrer por seu corpo. Depois, vestiu um roupão de banho e estendeu a mão para a toalha afim de secar os cabelos.
Seus olhos relancearam para o anel de compromisso que Jimin lhe dera. De fato já havia se acostumado com a peça adornando o seu dedo anelar.
Em pensar que conheceria quem o havia lhe dado aquela noite durante a cerimônia de união e posse.
Parou de secar o cabelo um instante. Meu Deus, aquela palavra. União. Quem haveria de pensar que ela...?
Alguém bateu na porta do quarto.
– Olá, Minjeong. Está aí? – a voz de Ningning soou abafada.
Minjeong saiu do banheiro ainda secando os cabelos e se dirigiu para lá, mas não abriu a porta.
– Sim?
– Pensei que você gostaria que alguém a ajudasse a se preparar para esta noite, e trouxe para você as vestes de cerimônia, se por acaso não se incomodar em usar.
Minjeong abriu a porta e, Ningning entrou no quarto, carregando duas caixas grandes estofadas em veludo azul marinho.
– Vou deixar as vestes de Jimin aqui também. Aeri me mandou uma mensagem, avisando que já estão retornando.
Minjeong respirou fundo, aliviada.
– Acho que agora posso relaxar de verdade.
Ningning sorriu, fechou a porta do outro lado do quarto e depositou as caixas sobre a mesinha de centro.
– Mulheres como elas sempre estão correndo atrás de ação, e de vez em quando se envolvem em conflitos realmente perigosos.
– Jimin não quis me dizer o motivo de precisar sair hoje, mas posso imaginar. Ela deve ter conseguido alguma informação crucial para nossa vitória na guerra contra os Inquisidores.
Ningning abriu uma das caixas, revelando “toneladas” de cetim branco.
– Nossas companheiras vivem pela causa, mas as vezes gostaria que as coisas fossem diferentes. – Ela virou-se e sorriu. – Mas deixemos isso de lado. Está preparada para a cerimônia?
– Talvez não – riu Minjeong – quer dizer, soube que as principais famílias do clã foram convidadas e tenho medo de não seguir a tradição corretamente.
– Você vai se sair bem – o rosto de Ningning se suavizou –, uma vez que teve a benção do Espírito Ancestral creio que não tem nada mais a temer.
– Foi assim com você também? Digo, quando se vinculou a Aeri.
Ningning ficou vermelha, mais de ansiedade do que de alegria, ao que pareceu.
– Sim. Todas as uniões da primeira familia e das familias pertencentes a Irmandade devem ser presididas pelo Espírito Ancestral – ela inclinou-se e pegou a vestes brancas. – E então, gostaria de experimentar? Temo lhe informar que não seguimos os padrões da sociedade humana.
A vestimenta consistia em uma calça com túnica curta e uma capa com capuz, com bordado em fios prateados e as camadas caindo em cascata. O cetim branco ondulava à luz baixa, conservando o brilho na profundidade de suas dobras.
– É... espetacular – Minjeong estendeu as mãos e acariciou o tecido.
– A lider me pediu para providenciá-la há algumas semanas. Podemos eliminar a capa se quiser, mas acho que complementaria o seu visual.
– Está doida? Até parece que vou querer alterar alguma coisa nessa maravilha. Principalmente por ser algo tradicional.
Minjeong pegou a vestimenta e praticamente correu para o banheiro. Vestir a roupa foi como viajar ao passado, e quando voltou para o quarto não podia parar de tocar na capa que lhe cobria parte do corpo.
– Está esplendorosa – disse Ningning.
– Sim, porque é a roupa mais linda que já vesti na vida. Pode me ajudar com o capuz?
Os dedos de Ningning executaram a tarefa de forma hábil e rápida. Quando terminou, inclinou a cabeça para um lado e juntou as mãos.
– Faz-lhe justiça. A combinação de branco e prateado faz um jogo perfeito com seu cabelo. Jimin vai desmaiar quando a vir.
– O que exatamente ela vai vestir?
– Uma veste semelhante a sua. Na verdade, ela deve vir se aprontar na sua companhia já que as duas devem descer juntas – Ningning consultou seu relógio de diamantes. – Vou lá embaixo para ver como vão os preparativos. É muito provável que Sunoo esteja precisando de ajuda. Os membros da Irmandade sabem muito bem como comer, mas sua habilidade na cozinha é deplorável. Poderiam ser melhores com uma faca, se considerarmos como levam a vida.
Minjeong virou-se.
– Se você me der uma mãozinha com essa vestimenta antes de sair, eu agradeceria.
Ningning arqueou uma sobrancelha.
– Não pretende se aprontar agora?
Ela balançou a cabeça.
– Temos algumas horas antes da cerimônia, certo? Pensei que essa era a oportunidade perfeita para mostrar algo a Jimin... E meio que não quero estragar essas roupas.
Depois de ajudá-la a tirar a capa, Ningning sorriu.
– Tenho certeza que minha lider vai adorar a surpresa. É natural para nossa espécie permitir que seu parceiro reconheça sua forma lupina. E você comentou que isso ainda não aconteceu mesmo depois de semanas após sua tranformação.
– Infelizmente não encontrei uma forma de fazer isso – disse Minjeong, pensando que o tempo havia voado. – Por mais que Jimin tenha deixado claro essa necessidade, não tivemos muito tempo desde que ela saiu da clinica. A preparação da cerimônia, a reformulação da Irmandade e todas as outras questões relacionadas a posse ocuparam-na bastante.
Ningning respirou fundo.
– E é provável que as coisas continuem assim por um tempo. Então acho que você faz bem em aproveitar esse momento logo antes da cerimônia.
– As vezes ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo.
– Eu posso entender, sabe? Foram muitas mudanças na sua vida em tão pouco tempo.
– Sim, o que me lembra... – Minjeong se aproximou da lupina, segurando suas mãos. – Obrigada. Por tudo.
Ningning balançou a cabeça.
– Não fale assim comigo, ou vou acabar ficando emocionada.
– Falo sério. Sinto-me como se... não sei, como se estivesse em família. E nunca tive uma família verdadeira.
O nariz de Ningning ficou vermelho.
– Somos sua família. É uma de nós. E fique quieta agora! Ou fará com que eu comece a chorar.
Minjeong sorriu, levantando as mãos.
– Tudo bem. Se você vir a Jimin pode pedir para ela me encontrar nos jardins?
– Claro – Ningning caminhou até a porta e se virou. – A partir de hoje você será reconhecida oficialmente como uma das líderes da raça. Mas quero que saiba que apesar da posição que você e eu ocuparemos, continuo sendo sua amiga
Dessa vez foi Minjeong a sentir seus olhos lacrimejarem.
– É bom saber que pense assim, porque não aceitaria que fosse diferente.
– E eu jamais contrariaria minha lider – Brincou a lupina antes de se retirar.
Depois que ela saiu, Minjeong foi até o espelho e respirou fundo.
– A vida está cheia de maravilhosas surpresas – murmurou.
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