33
Minjeong acordou lentamente na manhã seguinte, percebendo os singelos raios de sol invadindo o quarto. Jimin estava adormecida ao seu lado, o braço ao redor de seu corpo. Virou-se para ela: tinha os olhos fechados e a respiração profunda e lenta. Ela sorriu, movendo alguns fios de cabelo do rosto dela.
Deus, há quanto tempo elas não ficavam assim? Pelo menos duas semanas – algo inédito para elas –, ela percebeu o quanto ambas precisavam daquilo. Estática em excesso de todas as exigências que as rodeavam. Estresse demais poluindo as horas. Tanta coisa que acontecera que não tiveram tempo para processar uma com a outra.
Como, por exemplo, depois do tiro no peito, elas conversaram a respeito?
Claro, elas haviam falado sobre o que acontecera naquela noite... Mas Minjeong ainda tinha sobressaltos toda vez que Sunoo abria uma garrafa de vinho ao jantar ou quando os membros da Irmandande jogavam bilhar após o plantão.
Quem haveria de saber que uma bola de bilhar acertada se parecia tanto com um tiro?
Ela não. Não até Wooyoung decidir colocar uma bala no peito de Jimin. Dificilmente o tipo de informação que ela queria ter...
Por motivo nenhum, lágrimas encheram seus olhos e se libertaram.
Então, a imagem de Jimin ferida tomou conta da sua visão. Sangue na jaqueta que ela usara. Sangue na camiseta preta.
Sangue em sua pele.
Os tempos perigosos chegando, a feiura da realidade não mais um bicho-papão imaginário em seu closet mental, mas um grito em sua alma.
Vermelho era a cor da morte para ela.
Jimin acordou com um sobressalto e ergueu a cabeça.
– Minjeong?
Abrindo os olhos, ela sentiu uma onda de pânico por não conseguir vê-la bem, por aquele rosto pelo qual ela procurava em cada sala, não importando a hora, ter desaparecido, pela confirmação visual da vida dela não estar mais ali para ela aproveitar.
Só que tudo o que a meio-sangue precisava fazer era piscar. Piscar, piscar, piscar... E Jimin estava de volta para ela, tão clara quanto a luz do dia.
E isso a fez chorar ainda mais. Porque sua companheira forte e amada quase havia morrido para salvá-la.
– Ah, merda, eu te machuquei.
– Não, não... – Ela tomou o rosto dela entre as mãos. – Não é nada disso.
– Eu deveria ter ido com mais calma...
O modo garantido de fazê-la se concentrar novamente era puxá-la em direção aos seus lábios, e foi o que ela fez, envolvendo o pescoço dela com os braços e a beijando intensamente. E, vejam só, a sensação foi percebida, deixando-a sem palavras e dividida.
– Você nunca me machuca – ela repetiu, tentando atraí-la uma vez mais para sua boca – nunca...
Mas Jimin se conteve, afastando uma mecha de cabelos do rosto dela.
– Não pense nisso.
– Não estou.
– Está, sim.
Não havia razão para definir o que “isso” significava: tramas traiçoeiras. Jimin naquela mesa ornamentada, presa pela posição que ocupava. O futuro desconhecido, e não num bom modo.
– Não vou a parte alguma, meu amor. Não se preocupe com nada. Entendeu? – Minjeong quis acreditar nela. Precisava. Mas temia que aquela fosse uma promessa mais difícil de sustentar do que de fazer. – Minjeong?
– Me abrace – era a única verdade que ela conseguia dizer sem estourar a bolha em que estavam. – Por favor.
A lupina a beijou uma vez. Duas. Então a envolveu em seus braços de forma protetora.
– Me desculpe, eu jamais quis colocar você numa situação como aquela.
– Eu pensei que fosse perder você para sempre. – Minjeong mergulhou o rosto em seu pescoço, abraçando-a com todos as suas forças.
Jimin pressionou os lábios em sua têmpora.
– Uma vez que você estivesse em segurança, eu seria capaz de aceitar o preço. Mas sinto que falhei com você – Ela acariciou seu rosto com o nariz. – Você está chorando.
Minjeong limpou os olhos com a parte de trás da mão, deixando uma trilha de lágrimas em sua pele.
– Nunca diga isso pra mim. Eu jamais vou aceitar que sacrifique sua vida em meu nome.
– Minjeong – Seu tom era um aviso.
Ela continuou com frustração.
– Você entendeu, Jimin? Você não tem o direito de fazer... - As suas palavras foram cortadas pela boca dela.
Jimin a cobriu, a consumiu, engolindo todos os seus sentimentos. Minjeong passou os dedos em seus cabelos, pressionando-se contra ela. A lupina invadiu sua boca, toda doçura e suavidade, um contraste com seu beijo de marca. Ela acariciou sua língua de veludo contra a dela, tocando e provando.
– Posso? – Ela se afastou, seus olhos de cores distintas se dirigiram com avidez em sua mão.
Minjeong estava confusa. Mas quando os lábios dela tocaram o anel em seu dedo, ela entendeu.
Aqueles olhos de brilho cristalino e dourado fixos nos seus enquanto ela beijava o anel de forma reverente. Então Jimin a beijou novamente, mordicando seu lábio inferior calmamente.
– Suas lágrimas derramadas são minha culpa – ela sussurrou. – Me perdoe.
– Eu derramaria mais do que isso para mantê-la comigo.
Os olhos de Jimin arderam, e ela a beijou novamente, toda a restrição cedendo. Minjeong respondeu, movendo a língua em sincronia com a dela. De repente, a lupina estava sobre ela, uma mão acariciando-lhe o rosto, pescoço e clavícula.
– Tem algo que preciso contar a você. – Ela mordiscou seu queixo, então depositou um beijo ali. – Iremos oficializar nossa união diante do nosso povo na noite da minha posse como regente.
– Como assim? – Ela recuou, confusa.
– Como você sabe, a Irmandade já a reconhece como minha companheira. Mas seguindo os costumes da nossa raça precisamos oficializar isso em uma cerimônia diante das principais famílias do clã. Depois que isso acontecer ninguém irá questionar sua posição como líder.
Uma onda de ansiedade atravessou a meio-sangue, e ela ficou em silêncio.
– Minjeong. – Jimin levantou a mão dela e encostou as costas nos próprios lábios. – Eu sei que todas essas novidades são difíceis de assimilar, mas eu prometo que vou esclarecer tudo o que for possível.
– Jimin por favor, eu só...
A lupina abaixou a cabeça para beijar o ombro dela.
– Não quero que você se preocupe com essas coisas agora. Nesse momento tudo o que precisa fazer é permanecer nos meus braços um pouco mais.
Minjeong respirou fundo.
– Você não está facilitando, Jimin.
Ela sorriu.
– Temos muito tempo a nossa disposição. Eu só quero aproveitá-lo na companhia da mulher que amo.
Minjeong a puxou para que pudesse sussurrar em seu ouvido:
– Então me ame um pouco mais.
Jimin levou sua boca à dela, provocando-a com a língua antes de pressionar seu corpo contra a cama.
\[...]
Quando Stephanie Young Hwang, conhecida como Tiffany, sentou-se atrás da sua mesa, tentou medir a reação dos três Inquisidores que bateram à sua porta, marcharam para dentro de sua residência em Jeju e agora permaneciam parados em seu escritório, encarando-a como se estivessem medindo a sua mortalha.
Na verdade, não. Ela acompanhou apenas uma expressão – a do Inquisidor que estava mais afastado do que os outros, recostando-se contra o papel de parede de seda, com as botas de combate bem fincadas sobre o tapete persa.
Os olhos dele estavam obscurecidos pelas sobrancelhas abaixadas, as íris tão escuras que não era possível determinar sua cor exata, se azul, marrom ou verde. Seu corpo mesmo em repouso, representava uma ameaça direta, uma granada com um pino frouxo. E a reação dele ante a sua presença?
Nenhuma alteração na expressão, o lábio não mais que uma fenda, a mesma carranca. Nenhuma demonstração emocional.
Ficou claro que o Inquisidor-chefe Lee Taeyong e o lider do seu primeiro esquadrão, que levaram ele até ali, haviam mentido. Aquela não era uma “conversa a respeito do futuro” – não, algo desse tipo sugeriria que Tiffany teria alguma escolha.
Aquele era um tiro lançado contra o arco da sua linhagem, um aviso de todos a bordo, para o qual só existia uma resposta.
E, mesmo assim, as palavras saíram da sua boca daquele modo, e ela não poderia mudá-las.
– Tem certeza da sua resposta, senhora? – Perguntou Taeyong, com uma sobrancelha arqueada.
– Não sabia que me fizeram uma pergunta – disse Tiffany.
Ela era uma típica representante do Conselho sul-coreano e de seu patrimônio financeiro, refinada a ponto de demonstrar despeito da sua raça, vestida num terno caro, sem nem um fio de cabelo fora do lugar. Estabelecera-se na ilha de Jeju de onde coordenava a Sociedade Inquisidora e compartilhava informações com os demais membros ao redor do país.
Os olhos de Tiffany passaram para o pergaminho antigo emoldurado na parede ao lado das portas duplas. Não conseguia ler as letras pequenas daquele lado da sala, mas não havia necessidade de se aproximar. Ela sabia cada palavra de cor.
– Se importaria de ser prático, Taeyong? – Disse, cruzando as mãos sobre a mesa. – Ou veio aqui apenas para me fazer perder tempo?
Taeyong sorriu com falsidade e caminhou um pouco, passando os dedos sobre uma cumbuca de prata com maçãs, a coleção de relógios de mesa da Cartier sobre uma mesinha lateral, um busto de bronze na janela em alcova.
– Como lhe disse, tive alguns problemas de insubordinação recentemente e estou reformulando meus esquadrões – ele parou proximo ao novato. – Este é Jeong Yoon-oh e penso em designá-lo para a posição do meu antigo braço direito.
Tiffany permaneceu em silêncio.
– Embora seja um novato, ele tem as qualificações necessárias para esse trabalho – Taeyong olhou por sobre o ombro. – Você concorda, não?
Tiffany desejou expulsar ele e seus subordinados do seu escritório.
De todas as coisas que considerava de sua responsabilidade, a forma como o Inquisidor-chefe geria seus esquadrões não lhe era de nenhum interesse. Desde que trouxessem resultados para a causa, pouco lhe importava quem fazia o quê. E Lee Taeyong sabia muito bem disso o que só podia significar que não era sobre aquele assunto que realmente queria tratar.
– Faça como quiser – disse ela em tom sério. – Não acredito que tenha se deslocado até aqui para tomar o meu tempo com uma questão tão frívola.
– Nada escapa aos seus olhos, senhora. – O Inquisidor-chefe sorriu novamente. – Sei que visa resultados acima de tudo. Sendo eu mesmo um lider, entendo seus sentimentos; com subordinados, é preciso ter certeza de que façam o trabalho bem.
Tiffany cruzou os braços na frente do corpo quando ele voltou a caminhar lentamente pela sala.
– Sabe, você não sente certa segurança em pensar que existem demarcações tão claras em nossa sociedade? Os relacionamentos corretos resultaram num grupo específico de indivíduos, e nos é solicitado pelo bom senso preservar nossas associações exclusivamente com humanos. Consegue imaginar um dos nossos se casando com um lupino?
As últimas palavras ficaram suspensas, carregando a entonação de uma exclamação e a ameaça de uma pistola armada.
– Não, não consegue – Taeyong respondeu ele mesmo.
Na verdade, Tiffany já tinha visto isso acontecer certa vez. E a forma como acabara ainda lhe fazia ter pesadelos.
Mas aquilo não vinha ao caso, vinha?
Taeyong fez uma pausa para relancear para os retratos a óleo pendurados diante da vasta coleção da família de primeiras edições dispostas numa prateleira. As obras de arte eram, naturalmente, de ancestrais, com o mais proeminente deles suspenso sobre a cornija da imensa lareira.
Um homem famoso na história da Sociedade Inquisidora, e da linhagem de Tiffany. O Nobre Redentor, como era conhecido na família.
O pai de Tiffany.
Taeyong gesticulou, abrangendo não só o escritório, mas a casa, todo o seu conteúdo e as pessoas debaixo daquele teto.
– Isso vale a pena ser conservado, e o único modo de isso acontecer é se expurgarmos a raça lupina da face da terra. Os princípios que nós, a Sociedade Inquisidora, buscamos apoiar são a verdadeira base daquilo que você tem esperanças de propiciar as futuras gerações. Sem eles, quem sabe onde a humanidade poderá acabar.
Tiffany o encarou fixamente, perguntando-se onde queria chegar com aquela história.
– Bom, vim hoje aqui para lhe informar que a lider da raça lupina em Seul... está vinculada a uma meio-sangue.
Os lábios de Tiffany se entreabriram. Como acontecera com todos os membros do Conselho, ela fora informada a respeito da união, e apenas isso.
– Pensei que ela tivesse se unido com a filha de alguma das famílias nobres do clã.
– Na verdade, não. Meu último informante era um dos valiosos membros da Irmandade e garantiu que ela escolhera uma meio-sangue como companheira.
Houve uma pausa, como se Tiffany estivesse recebendo a oportunidade de mostrar surpresa ante tal revelação. Quando ela não se mostrou chocada, Taeyong se inclinou e falou lentamente.
– Você não me parece muito surpresa, senhora.
– Embora raro, já tivemos conhecimento de uniões como essas no passado. Você melhor do que ninguém sabe disso, Taeyong.
– Um fato. Por certo concorda, porém, que existe uma tremenda diferença entre uniões de menor importância... e uma lider que é substancialmente dessa raça horrenda vinculando-se a uma meio-sangue.
– Admitindo-se que isso seja verdade...
– É verdade.
– O que espera de mim? Como deve saber, essa informação não altera em nada a forma como a Sociedade Inquisidora deve agir em relação aos nossos inimigos.
– Eu simplesmente estou colocando-a a par da situação. Não passo de um Inquisidor preocupado.
Então, por que chegar com a retaguarda protegida?
– Bem, agradeço por me manter informada...
– Antes que minha breve aliança com esse lupino chegasse ao fim, consegui uma informação valiosa.
– De que tipo?
– O nome da meio-sangue a quem ela se vinculara: Kim Minjeong.
Tiffany ficou em silêncio, relanceando o olhar para o Inquisidor recostado na parede. Ele mal parecia respirar, mas estava bem longe de estar dormindo.
Quanto tempo levaria até que a ruína recaísse sobre sua cabeça se ela não fizesse bom uso daquela informação? E se permitisse que o passado viesse a tona?
Imaginou o nome da sua familia sendo manchado perante o conselho e sendo excluído pelo restante do seu futuro. Ela mesma torturada e depois morta de alguma maneira violenta.
Não permitiria que aquilo acontecesse em hipótese alguma.
– Quero um relatório completo sobre tudo que esse seu informante compartilhou a respeito dessa meio-sangue – Disse ela seriamente. – E você já deve imaginar que essa informação não deve sair daqui.
– Absolutamente, minha senhora – respondeu Taeyong. – É o que se deve fazer.
– Agora podem se retirar, caso seja necessário eu mesma solicitarei sua presença em minha residência.
Com isso, o insolente “inquisidor preocupado” saiu, esvaziando o cômodo juntamente com seus homens.
O coração de Tiffany bombeou ao ser deixada sozinha... E depois de um instante de silêncio gritante, a raiva começou a se fazer presente.
Em pensar que ela tivera uma filha, pensou.
Quando Tiffany ouviu a porta da frente fechar ao longe, se recostou em sua cadeira e olhou para o retrato do seu pai.
Houve sinais de perturbação no último ano: rumores e murmúrios indicando que a lider da raça lupina coreana estava viva; boatos quanto a uma tentativa de homicídio; insinuações quanto à formação de um grupo de conspiradores prestes a atacar. E depois ocorreu a reunião do Conselho, em que ficou claro que Karina Yu não só permanecia viva, mas como criara a Irmandade em uma ameaça direta a Sociedade Inquisidora.
Fora a primeira vez que se teve conhecimento dela desde... desde tanto tampo que Tiffany nem mais se lembrava. De fato, ela não conseguia se lembrar quando alguém cruzara pessoalmente com a governante. Claro, houve confrontos disseminadas – e editais progressistas, na sua opinião, já atrasados em muito.
No entanto, havia quem discordasse da veracidade daquelas informações.
E, obviamente, estavam errados de acordo com o mais recente relato de Taeyong.
Voltando-se para o retrato do pai, tentou encontrar uma medida de solução dentro de si, algum tipo de fundamento no qual fincar os pés a fim de defender o que achava certo: e daí se a lider da raça se casara com uma meio-sangue, se isso não faria diferença alguma para os planos do Conselho?
Entretanto, havia um quê de preocupação quanto ao nome da sua companheira: Kim Minjeong. Seria muita coincidência que aquele sobrenome voltasse a assombrá-la depois de tantos anos. Mas o olhar astuto de Taeyong deixava claro que não havia engano.
Obviamente, Tiffany não pretendia se recostar para assistir enquanto tramas eram maquinadas contra ela. A notícia ruim era que seus inimigos também marcavam o território, trazendo sua própria força bruta.
Ela enfiou a mão dentro do bolso do paletó e sacou seu celular. Encontrando um dos números em seus contatos, iniciou uma ligação e ouviu os toques com meio ouvido.
Quando o homem atendeu, ela disse:
– Preciso saber se você está sozinho agora.
O homem não hesitou.
– Sim, estou. Ele acabou de me despachar de volta para Seul. Disse que ainda precisava resolver algumas coisas em Jeju.
Tiffany respirou fundo.
– Quero que se mantenha de olho nas ações dele.
– Como quiser. Mas tem certeza que ele não vai desconfiar? – O homem suspirou profundamente. – Taeyong não é um tolo. E conseguiu ter avanços significativos desde que assumira a posição de Inquisidor-chefe.
– Irônico que logo alguém como ele tenha conseguido isso.
– Não mais do que a ironia do Conselho em aceitá-lo na sua causa, minha senhora. – A voz do homem abaixou. – Tem certeza que o Conselho tomou a decisão certa.
– Taeyong tem a sede de vingança necessária para cumprir nossos objetivos. Até lá não temos motivos para desconfiar de sua lealdade.
– Bom, continuarei a cumprir a missão que me foi designada. Precisa que eu faça algo quanto a meio-sangue?
– Quero que descubra tudo o que conseguir sobre ela.
– Como desejar.
Quando Tiffany por fim desligou, fixou os olhos nos do pai. Seu coração lhe dizia que seu passado estava seguro, mesmo que o Conselho descobrisse da existência dela. Mas seus anos de trabalho a ensinaram a nunca deixar pontas soltas.
A única coisa pior do que não ter legado algum... era se ver obrigada a viver de acordo com aquele recebido.
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