04
O vento tinha diminuído quando Wonyoung saiu no sol calido do lado de fora de um agradável café na zona marítima de Seul. Iates com velas brancas passavam devagar pela água e ela respirou fundo, observando as ilhas, as árvores e a água.
Wonyoung sorriu enquanto caminhava pelo calçadão. Embora fosse esparsa, a paisagem era linda e elegantemente minimalista.
Um casal animado passou por ela, estavam satisfeitos, de mãos dadas, perdidos no seu próprio mundinho particular.
Isso deve ser maravilhoso, pensou.
A verdade é que ela tinha ido aquele lugar para relaxar, pois não se sentia confiante.
Estando tão próxima de Jimin àquela noite, pôde sentir sua dor e, por sua intensidade, sabia com certeza que a morte de Baekhyun a tinha afetado.
Se tivessem uma relação normal, não haveria dúvida: correria para ela para tentar aliviar seu sofrimento. Falaria com ela e a abraçaria, choraria a seu lado. A acalentaria com o calor do próprio corpo.
Porque era isso que as companheiras faziam por seus parceiros. E o que também recebiam deles. Consultou o relógio em seu pulso.
Ainda era cedo, ela provavelmente estaria em casa. Se quisesse vê-la, teria de fazê-lo já.
Wonyoung hesitou, estava se iludindo. Não seria bem-vinda. Desejou que fosse mais fácil apoiá-la, desejou saber o que ela precisava que pudesse lhe dar. Certa vez, há muito tempo, havia falado com Yizhuo, a companheira de Aeri, na esperança de que ela pudesse lhe dar algum conselho sobre o que fazer. Como se comportar. Como conseguir que Jimin a considerasse digna dela.
Afinal de contas, Yizhuo tinha o que Wonyoung queria: uma verdadeira companheira. Alguém que retornava para casa por ela; que ria, chorava e compartilhava sua vida e que a abraçava.
Alguém que permanecia ao seu lado durante as torturantes e, felizmente, raras ocasiões em que entrava no seu cio; que aliviava com seu corpo sua intensa ânsia pelo tempo que durasse o período de necessidade.
Jimin fazia isso por ela – ou com ela. Mas jamais permitira qualquer tipo de ligação emocional entre elas. Nesse estado de coisas, Wonyoung tinha aceitado a única coisa que ela podia lhe oferecer. Semelhante prática a envergonhava.
Tinha esperado que Yizhuo pudesse ajudá-la, mas a conversa fora um desastre. Os olhares de compaixão da outra lupina e suas respostas cuidadosamente meditadas tinham desgastado as duas, acentuando tudo o que Wonyoung não possuía.
Fechou os olhos, sentindo novamente a dor de Jimin.
Tinha de tentar se aproximar dela, porque talvez isso mudasse as coisas. E que outro sentido havia em sua vida a não ser servi-la?
\[...]
Tinha parado de chover, mas o asfalto ainda estava úmido. Minjeong respirou fundo e voltou para a cozinha onde deixara as chaves do apartamento sobre o balcão. Precisaria sair dentro de alguns minutos se não quisesse ouvir uma reclamação do seu editor-chefe logo no primeiro horário do dia.
Seu almoço com Sunghoon na tarde anterior havia sido surpreendentemente fácil. Ele havia lhe passado alguns detalhes sobre uma Magnum modificada que encontraram no beco e por mais improvável que pudesse ser aquela informação lhe seria útil no trabalho. A pistola não parecia oferecer muito, mas eram a única coisa que tinham nesse quesito.
Quanto ao sujeito encontrado morto, ela não tinha necessidade de saber os detalhes sobre o caso, ainda que estivesse curiosa sobre o fato. Além disso aquela região da cidade era um lugar ideal para os criminosos, muito exclusivistas em relação aos seus territórios.
Ela tornou a respirar fundo e pegou suas chaves. Nem sequer sabia porque estava tão preocupada em conseguir informações. Seu trabalho não estava levando a lugar algum. Como editora de base, não deveria estar envolvida no trabalho realizado pelos "nomes importantes". E mesmo tendo um ótimo desempenho com os manuscritos que lhe eram entregues, não tinha garantia alguma de que conseguiria levar os créditos pelo trabalhando que vinha fazendo.
Uma onda de desânimo caiu sobre Minjeong com tanta força que ela precisou balançar a cabeça para afugentar aquela onda de pensamentos
Após recolher seu material e pegar o blazer, ela saiu do apartamento, certificando-se de ter trancado a porta. Desceu as escadas até o térreo, perguntando-se se conseguiria chegar a editora antes que recomeçasse a chover.
Quando Minjeong deixou seu edifício, franziu o cenho ao ver o carro de polícia estacionado do outro lado da rua. Sunghoon saiu dele e caminhou em sua direção a passos largos.
– Estava de passagem e resolvi tentar a sorte – disse ele com um meio sorriso.
– Bom, meio que estou de saída para o jornal.
– Tudo bem, levo você para o trabalho.
– Obrigada, mas prefiro ir andando – Sunghoon fez um gesto como se quisesse se opor e ela respirou fundo. – Há alguma razão particular para que tenha escolhido vir aqui hoje, detetive?
Ele deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos.
– Só pensei em visitar uma amiga.
– Então, por que está me incomodando?
– Você mora em uma otima localidade – disse ele, olhando em volta.
– Que mentiroso.
– Ei, pelo menos está perto do centro da cidade. Que é mais do que posso dizer sobre onde tenho morado atualmente – seus profundos olhos castanhos se desviaram para o rosto dela e lá permaneceram. – Agora, tem certeza que não quer uma carona até o seu trabalho?
Ela cruzou os braços sobre o peito.
Ele riu de forma singela.
– Caraca, o que tem Somi que eu não tenho?
– Quer uma caneta e papel para anotar? A lista é longa.
– Ai! Essa doeu! Você é dura, sabia? – seu tom era divertido. – Diga-me, você só gosta de quem não está interessada?
– Olha, estou esgotada...
– Sim, você tem saído bem tarde do trabalho. Às nove horas, mais ou menos. Falei com Somi. Ela me disse que sua rotina se tornou extremamente cansativa na última semana.
Minjeong engoliu em seco quando um leve ruído fez com que desviasse o olhar para a porta corrediça de vidro. Um dos seus vizinhos terminava de entrar no edifício.
– Você deveria tirar umas férias, Minjeong – seu olhar se suavizou.
– Sunghoon...
– Bom saber que está de acordo – ele disse em tom sério. – Agora é melhor eu agilizar as coisas por aqui.
Minjeong hesitou antes de perguntar:
– Você tem alguma novidade sobre o caso?
– Eu estou seguindo esses carniceiros desde os assassinatos do ultimo ano – disse Sunghoon, enquanto olhava para o céu. A luz enfraquecida do sol estava sendo ofuscada pelas nuvens carregadas.
Ele passou a mão nos cabelos.
– Às vezes eu acho que estou logo atrás deles. Às vezes eles passam do meu lado, tão perto... tão perto que eu quase sinto eles respirarem.
– Afinal, como tudo isso começou?
Ele olhou de novo para Minjeong. Ela realmente levava o trabalho a sério, mas apesar da estima que tinha, Sunghoon não podia expor nada mais sobre aquele caso. Principalmente por que não queria que a vida dela fosse colocada em risco.
Ele respirou fundo, frustrado.
– Você precisa entender como isso é perigoso. Nem mesmo a polícia tem todas as respostas. Então mantenha seu trabalho na zona segura.
– Não é a primeira vez que escuto isso – disse, Minjeong dando de ombros. – Se você quiser compartilhar alguma nova informação, sabe onde me encontrar. Agora preciso ir ou vou me atrasar.
Ela inclinou o rosto na direção do carro de polícia do outro lado da rua.
– Sei que você precisa fazer o mesmo, detetive.
\[...]
Jimin permaneceu imóvel, parada no alto de um edifício, olhando fixamente a silhueta da filha de Baekhyun. Kim Minjeong era simplesmente linda. Tinha os cabelos longos, claros e fartos, olhos azuis, pele cremosa e uma boca talhada para ser beijada. O corpo era escultural. Cintura fina e seios perfeitamente proporcionados.
Entretanto, não estava sozinha. Estava falando com alguém. Um homem em quem ela, aparentemente, não confiava, ou que não a agradava, porque só dava respostas curtas.
– Você não facilita mesmo as coisas para mim, né? – dizia o homem.
Jimin observou-a respirar fundo e olhar para cima. Seus olhos estavam fixos em sua direção, mas sabia que não podia vê-la. A distância a escondia por completo.
Uma brisa fria soprou e Minjeong precisou mover a mão para tirar alguns fios de cabelo do rosto.
Jimin sentiu sua respiração alterada ao distinguir o cheiro da mulher. Verdadeiramente bom. Como uma flor intensamente perfumada. Do tipo que floresce à noite. Respirou fundo e fechou os olhos enquanto o corpo reagia e seu sangue se agitava. Baekhyun estava certo: ela carregava o seu sangue. Farejava isso nela. Meio-sangue ou não, o poder oculto que carregava era inegável.
Ela colocou a mão no bolso da calça enquanto se virava para o homem. Sua voz era muito mais clara agora, e Jimin gostou de seu tom.
– Já tivemos essa conversa antes. Você sabe que não estou interessada dessa forma...
Ao ouvir isso, Jimin ficou atenta.
– Minha vida está muito conturbada ultimamente e eu agradeceria se mantivessemos as coisas em um nível profissional.
O homem caminhou até ela, tentando atraí-la para um abraço, mas ela recuou, colocando certa distância entre os dois.
– Você acha que consegue fazer isso? – Perguntou.
O homem assentiu com a cabeça.
– Sim, com certeza.
Jimin observou ele ir embora no carro de polícia antes de voltar às profundezas do seu quarto em sua mansão, sentia-se esgotada. Fechou a porta atrás de si, trancou-a, e sentou na cama. Levando as mãos ao rosto, puxou a venda que cobria seus olhos. O tecido escorregou de sua mão para o chão.
Eram raros os momentos em que se permitia fazer isso, em que deixava visível o único traço que a destacava de todos os outros da sua espécie.
Baixou a cabeça e pronunciou as palavras em sua língua materna, fazendo as sílabas subirem e descerem no ritmo de sua respiração, rendendo homenagem a sua linhagem original. Quando terminou de falar, levantou-se, tirou a roupa e entrou no banheiro. Precisava de um banho.
Enquanto deixava a água quente correr por sua pele, ela tornou a baixar a cabeça e fechou os olhos.
Mentalmente, viu a filha de Baekhyun.
Não devia tê-lo tratado daquela forma. Quase o atacara, quando tudo o que ele queria era explicar-lhe por que em breve sua filha iria precisar dela. Talvez também tivesse planejado lhe dizer por que sentia que não viveria por muito mais tempo.
Oh, sim, havia conduzido a situação maravilhosamente. Com a delicadeza de um tanque de guerra.
Jimin se concentrou na dor que sentia naquele momento.
Enquanto sua mente divagava, viu o rosto do guerreiro morto e sentiu o vínculo que tinham compartilhado em vida.
Precisava honrar a última vontade daquele membro da Irmandade. Era o mínimo que podia fazer por quem servira à raça tantos anos junto com ela.
Meio-sangue ou não, a filha de Baekhyun nunca mais voltaria a caminhar pela cidade desprotegida. E não enfrentaria sozinha o que estava por vir.
Após sair do banho, Jimin voltou para o quarto e se dirigiu ao guarda-roupa, examinando as roupas que estavam ali. Apanhou uma camisa negra de mangas compridas, uma calça escura e... uma nova venda. Em hipótese alguma poderia sair sem aquilo.
A primeira coisa que tinha de fazer era estabelecer contato com a filha de Baekhyun. Sabia que o tempo estava se esgotando, porque a segurança dela estava em risco. E, depois, tinha de contatar Mingi e Yujin para saber o que tinham averiguado com base nos pertences do Inquisidor morto.
Dez minutos mais tarde, Jimin desceu para a sala de estar.
– Sunoo? – chamou em voz alta.
– Sim, minha lider? – o assistente parecia grato por ter sido chamado.
– Estou de saída. Caso algum membro da Irmandade entre em contato cuide dessa questão para mim.
– Claro.
Jimin habitualmente não gostava de designar tal atribuição ao seu assistente, mas naquela noite estava disposta a dar-lhe esse mérito.
– Deseja comer alguma coisa antes de sair?
Jimin balançou a cabeça.
– Talvez quando voltar? – a voz de Sunoo sumiu quando Jimin o encarou.
– Está certo. Sim. Obrigada.
O assistente estufou o peito, satisfeito em ter um propósito.
Pelo amor de Deus, parece estar sorrindo, pensou Jimin.
– Mandarei que preparem cordeiro, minha lider. Como prefere a carne?
– Bem passada.
– Devo providenciar algo mais durante sua ausencia?
– Não prec... – Jimin calou-se. – Peça para que preparem um dos quartos de hospedes.
– Com prazer.
Jimin se virou e caminhou em direção à porta.
– Minha lider?
– Sim? – grunhiu.
– Boa sorte na sua missão. Tenho certeza que terá êxito.
Jimin se deteve e olhou por cima do ombro.
Era tremendamente estranho ter alguém a apoiando daquela forma mais simplista.
Saiu da mansão e se encaminhou até a garagem onde deixara sua lamborghini. Então acelerou pelo longo caminho que ligava a porta principal à rua arborizada. Um relâmpago cortou o céu, antecipando a tempestade que ela farejara estar vindo do sul.
Onde diabos estaria a filha de Baekhyun naquele momento? Tentaria primeiro no apartamento.
Jimin acelerou o carro enquanto entrava e saía do trânsito na avenida principal. Ela poderia ter evitado o tráfego pesado e tomado uma rota mais eficiente, mas não o fez. Dirigir era uma das poucas coisas do mundo humano a qual ela tinha apareço.
Pouco tempo depois, ela saltava de seu carro e seguia em direção ao pátio traseiro que já conhecia, espiou pela janela do apartamento de Minjeong. Como ela não estava lá dentro, Jimin sentou-se à uma mesa que tinha ali. Esperaria uma hora mais ou menos. Logo teria de ir ao encontro dos outros membros da Irmandade. Se fosse o caso, poderia retornar no final da noite, embora, considerando como as coisas eram, imaginasse que despertá-la às quatro da manhã não seria a jogada mais inteligente.
Ela respirou fundo e cruzou os braços na frente do corpo.
Como iria lhe explicar o que estava para acontecer e o que ela teria de fazer para sobreviver à sua herança genética?
Teve o pressentimento de que não se mostraria muito feliz ao ser informada das novidades.
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