Capítulo XII - Sem Saída
A intensidade no olhar de Channing suavizara um pouco. Alice estava hipnotizada por ele. Ela tinha ciência de que ele era lindo demais, charmoso demais, carinhoso demais. Eram muitos adjetivos acompanhados pela palavra "demais". Aquilo era DEMAIS para ela. Sentia-se sufocada cada vez que ele dividia o espaço com ela. Channing era... Channing. E quem era Alice? Uma estrangeira, vinda do Brasil, que decidira deixar casa e família para tentar algo novo em outro país. Uma ninguém. Jamais haveria outra chance como aquela, para que algo acontecesse. Alice não pretendia criar uma ilusão. A bondade do artista se devia à gravidade de seu acidente. As pessoas podem ser caridosas no final de tudo. E o beijo...
- Você está bem? - A voz dele estava rouca por causa do sono.
- Ótima, obrigada. - Ela tentou controlar a emoção.
Ele a olhava de soslaio, pouco convencido de que ela estava bem. As lágrimas formando-se nos olhos da jovem serviram para cultivar a dúvida na mente de Channing.
- Desculpe-me. - Channing sussurrou.
- Não tenho sido muito fácil de lidar. - Ela ponderou.
- Nada disso! - O homem levantou-se da poltrona de um salto. Novamente aquele olhar sério, grave. Alice sentiu o coração disparar.
- Eu não tenho pena de você, se é o que pensa.
- Não penso isso. - Alice mentiu.
- Eu gosto de você, Alice. - Ele confessou.
Alice sentia que estava hiperventilando. O coração que já estava acelerado antes, agora ressoava em seus ouvidos, e ela podia jurar que infartaria a qualquer momento.
- Não!! - Ela gritou, incapaz de se conter.
- Como não?
- Isso é... Impossível! - Agora estava realmente hiperventilando, descontrolada.
- Alice, acalme-se... - Ele tocou seu braço com carinho. - Calma. Respira.
Channing acariciava seu braço e ajudou-a a sentar-se melhor na cama, colocando travesseiros à suas costas. Em seguida apoiou o queixo em seu cabelo, confortando-a. Alice não poderia resistir ao contato, ele estava perto demais, o perfume dele sendo inalado. Com certeza seu cérebro havia sido duramente danificado no acidente. Ela aceitou o apoio dele.
- O beijo que trocamos... - Ele começou.
Alice fechou os olhos e desejou estar sonhando. A verdade era que sabia o que viria depois: Dor. Ela não tinha nada a oferecer para ele, além de dores de cabeça.
- Você está confuso também e eu entendo. - Ela cortou o pensamento dele.
- Não estou, Alice.
- Você é casado, tem uma vida. - Ela abriu os olhos e aconchegou-se mais a ele.
- Eu era casado, sim. Tinha uma vida muito ruim. - Ele parou por um minuto, dando tempo para que ela absorvesse suas palavras. - Foram longos anos, mas já estava acabado antes de conhecer você.
- Você não me conheceu. - Ela argumentou. - Simplesmente não teve saída. Eu caí na sua frente.
- Eu te derrubei, na verdade. - Ele riu amargamente.
- Me deve um celular novo. - Ela riu de volta, sabendo que não havia saída para ela também.
- Te devo muito mais que um celular novo. - Ele resmungou.
Alice olhou para as pernas imóveis, e entendeu que ele estava se referindo às sequelas do acidente.
- Você não teve culpa, Channing.
- A terapia ainda não fez efeito em você. - Observou.
- Sim, ela fez. - Alice retrucou. - Ela vem fazendo milagres, e você também precisa fazer algumas sessões.
Ele riu e se afastou suavemente.
- Em um acidente não existem culpados. O nome já fala por si.
- Eu estava dirigindo e deveria ter sido mais cuidadoso. - O tom dele foi duro.
- Sim, e o que espera? - Ela desafiou. - Eu estava distraída também! Se tivesse olhado para os lados, teria visto que seu carro não diminuiu a velocidade.
- Para de criar desculpas para mim, ok? - Ele lhe deu as costas e Alice pôde perceber a tensão em seus músculos.
- Você não pode me ver, porque a culpa te consome. - Ela concluiu.
- Não é issso, Alice. - Ele não tornou a olhar para ela.
- Sim, é exatamente isso. - Ela insistiu. - Você sumiu por tanto tempo porque me ver te magoa. Não há nada que possamos fazer, mas você não consegue.
Ele continuou em silêncio.
- Você precisa se perdoar, Channing.
Incapaz de continuar ouvindo as palavras de Alice, o homem deixou o quarto. Era a confirmação que ela precisava. Alice permaneceu acordada pelo resto da noite. Era absurdo sustentar aquela situação, ela precisava sair da casa dele. Tinha convicção que continuar com tudo aquilo não traria nenhum benefício. O astro estava cuidando excessivamente bem de Alice. Channing contratara a melhor equipe médica, todos os equipamentos necessários, remédios e qualquer outra coisa que Alice eventualmente precisasse. Aquilo tinha que parar.
- Já acordada, menina? - A voz de Lois fez com que Alice voltasse a atenção para ela.
- Sim. Não dormi muito bem. - Limitou-se a dizer.
- Ele está de volta. - Lois sussurrou. - E vocês já brigaram...
A governanta concluiu após examinar o rosto da jovem por alguns minutos.
- Não brigamos, Lois. - Alice empurrou a cadeira para perto do balcão da cozinha, onde pegou uma ameixa. - Ele não consegue lidar comigo.
- Você deveria baixar a guarda.
- Estou de guarda alta? - Indagou incrédula, com a ameixa suspensa próxima à boca.
- Alice, você está em negação. - Lois falou calmamente. - A culpa é dele.
- Mas...
- O fato de Channing ser um astro multimilionário, influente, incrivelmente bonito e ter um rebolado que vale 2 milhões de dólares... - Ambas riram da referência às travessuras que ele fazia quando dançava nos filmes. - Isso tudo o torna extraordinário, mas não faz dele imune. Não o torna um ser elevado ou alheio às necessidades dos outros.
- Eu nunca disse isso. - Alice defendeu-se.
- Mas você o admira. - A senhora concluiu. - Criou uma imagem, um conceito sobre ele. Coloca-o numa posição de intangibilidade que não é real.
Alice não respondeu.
- Channing é culpado. Ele atropelou você. - Lois estava séria agora. - Ele foi imprudente e irresponsável, ele causou o acidente que tirou o movimento das suas pernas.
As lágrimas que formavam-se nos olhos de Alice estavam cheias de ressentimento.
- Você precisa aceitar isso. - Lois afagou os cabelos de Alice. - Você precisa chorar por isso. Ser afetada por um acidente como esse não é uma dádiva. Tudo que ele faz por você é o mínimo que ele pode fazer, deixe que ele tente reparar o mal que te causou.
Alice não percebeu que Lois tinha saído da cozinha. A ameixa não estava em sua mão, havia rolado para o outro lado da cozinha. Estava envolvida em dor. A visão agora mantinha-se turva por causa das lágrimas grosseiras e incessantes. A realidade dura, mas necessária, surgiu de repente e a atingiu como um soco no estômago. Pela primeira vez Alice não se sentiu grata por Channing Tatum ter entrado em sua vida, e ela podia entender tudo que ele sentia, pois ela concordava que ele causara seu sofrimento. Não havia para onde ir, ela estava sem saída.
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