Capítulo IV - Atitude
Havia uma mão sobre a barriga de Alice, um toque reconfortante, quase protetor. Ela sentia o calor que emanava diretamente para seu corpo, mesmo através da barreira das cobertas e da roupa de hospital que vestia. Ela estava acordada há algum tempo e refazia as cenas mentalmente, ainda de olhos fechados. Tinha sofrido um acidente, atropelada, estava bastante ferida, seu algoz fora um ator famoso - do qual sempre fora fã, ele permanecia ao seu lado, ele pagou as contas do hospital. Suas pernas não respondiam por algum motivo inexplicável. Um soluço invadiu seu peito e algumas lágrimas rolaram pelo rosto pálido da mulher. Ela tentou conter-se ao máximo, mas acabou chorando baixinho. Limpou o rosto com as costas da mão e abriu os olhos, a visão ainda estava desfocada por causa das lágrimas, mas aos poucos os cabelos castanho-claros de Channing tornaram-se mais nítidos. Ele estava dormindo debruçado no colchão da cama de hospital, sua respiração era tranquila. Alice sentiu o peito se contrair. Num ato instintivo, sua mão alcançou a dele, num toque suave. O moreno teve um pequeno sobressalto e logo ergueu a cabeça, os olhos claros observando-a profundamente. Ele parecia preocupado. Alice não falou nada e ele também. Nenhum dos dois teve coragem suficiente pra romper o toque das mãos.
- Olha quem acordou?
A voz da enfermeira rompeu a bolha em que os dois estavam protegidos, e fez com que se afastassem um do outro, constrangidos.
- Por quanto tempo dormi?
Alice quis saber.
- Mais de 12 horas.
Channing respondeu prontamente, erguendo-se da poltrona e dando espaço pra enfermeira trabalhar.
- E você? Por quanto tempo dormiu?
Ela ergueu uma sobrancelha em sinal de curiosidade.
- Ele não dorme desde que chegaram aqui, querida. Tem feito vigílias todas as noites, e ainda consegue ficar acordado e lindo durante o dia. A mulher se derreteu ao falar do ator mais promissor da atualidade, o que fez Alice corar e deixou Channing desconfortável.
- Nem tanto, enfermeira Lacy.. Estou um trapo hoje, até desmaiei por alguns minutos hoje.
- Você não tem porque ficar. Pode ir pra casa, vá descansar.
Um olhar de censura atravessou a distância entre os dois e atingiu todos os ossos de Alice. Ele estava irredutível.
- Pode esquecer... Eu fico.
Channing sibilou entredentes e seguiu para o banheiro.
- Ele ficou bravo...
A enfermeira constatou o óbvio e Alice revirou os olhos.
- Não sou o cãozinho do estimação dele.
Um resmungo escapou dos lábios de Alice e a enfermeira riu.
- Ele não vai mudar de ideia, querida. Está aqui desde que você chegou, nove dias atrás.
A mulher encolheu os ombros e ofereceu um sorriso acolhedor para Alice.
- Posso tomar um banho?
- Estou aqui para isso, mas primeiro, vamos aferir seus sinais vitais, tomar os remédios e esperar o gostosão sair do quarto.
As duas cairam na risada e Alice ficou corada outra vez.
- Há! Sabia que ele te afetava também!
O comentário foi feito alto demais e foi ouvido por Channing, que acabara de sair do banheiro.
- Vou deixar vocês à vontade. Preciso tomar um café.
Ele observava Alice, com olhar especulativo, e mais uma vez a mulher ficou corada. Não demorou muito pra que ele saísse do quarto.
- Sim... Ele é quente!
A enfermeira comentou em tom divertido e Alice riu, fazendo com que suas costelas doessem.
- Estou liberado?
A voz macia de Channing invadiu o quarto depois de aproximadamente uma hora.
- E alguma coisa é capaz de impedi-lo?
A voz de Alice saiu mais amarga do que ela gostaria.
- Não.
Ele admitiu e sorriu timidamente pra ela. A mulher apenas suspirou e desviou o olhar dele. Em poucos instantes a mão de Channing embalava a mão direita de Alice, e ela rompeu o contato.
- Não faça.
- O que?
- Isso... Me comover.
- Mas eu não...
- Sim! É exatamente o que está tentando fazer!
Alice estava gritando e nem sabia o motivo.
- Você tem o direito de ficar com raiva de mim. Destruí sua vida. Eu sei. Mas estou me esforçando... Estou fazendo o possível e..
- Você não precisa fazer isso! Não quero você aqui! Eu não quero te ver!
- Pois conviva com isso!
A voz dele se elevou, fazendo com que ela se assustasse.
- Eu não vou embora, não vou deixar você sozinha. Está fora de cogitação, entendeu? Está fora!
Os olhos esverdeados dele mantiveram cativos os de Alice. Emanava tanto sentimento, mas completamente turvos, confusos. E ele chorou. Chorou muito e sem pudores, fazendo com que Alice procurasse pelas mãos dele, que tremiam à esta altura.
- Me desculpe, Channing. Por favor, desculpe.
- Eu fiz isso com você. Fui atender a merda de uma ligação no celular, e me distraí! Eu não vi que você estava atravessando na faixa de pedestres, nem o sinal vermelho.
A voz dele estava embargada, e ele tinha dificuldade de pronunciá-las.
- Se você nunca mais voltar a andar, eu...
- Está tudo bem. Escute! Fiquei chateada por causa das minhas pernas, por não poder me mover como gostaria. Por não conseguir sentir minhas pernas...
Alice parou por um instante, e Channing ergueu uma das mãos para tocar seu rosto, suavemente, deslizou os dedos pela bochecha e queixo dela, alcançando os cabelos em seguida.
- Você não vai passar por isso sozinha. Eu não vou deixar.
- Você é famoso. Não precisa ser minha babá.
- Eu quero cuidar de você, não tente me impedir.
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