Capítulo I - Descobertas
Ao sentir a cabeça latejando, tivera certeza de que algo havia acontecido. Seus olhos piscavam lentamente, mas permaneciam pesados, incomodados com o esforço para abrirem-se. A mente parecia embaralhada e havia uma confusão de sentimentos e pensamentos. Seu queixo estava dolorido e o lábio inferior cortado na parte interna. O ombro direito parecia dilacerado e as costelas reagiam quando tentava respirar fundo.
- Não estou bem...
A mulher conseguiu sussurrar enquanto levava a mão esquerda aos cabelos que estavam desgrenhados. O mais simples movimento levava pontadas de dor em vários locais de seu corpo. Percebeu um tubo de soro que estava conectado a um curativo em seu pulso esquerdo. Logo seus olhos abriram-se em alerta, num tom castanho escuro, aproximando-se do negro, brilhantes e curiosos. Entendeu que estava deitada em um leito de hospital. Deveria ter percebido pelo odor forte de desinfetante, mas ainda não raciocinava perfeitamente. Olhou em volta... Janela, prateleiras, um jarro com flores refinadas sobre uma mesa, TV de plasma presa à parede amarelo claro. A porta fechada lhe dizia que não fora internada em uma enfermaria. Persianas levemente abaixadas cobrindo a janela interna. Um sofá revestido em couro de cor bege, duas almofadas azuis-escuro. Mesa reclinável para refeições, um homem sentado na poltrona que estava ao lado de seu leito. Seus olhos retornaram para o rosto do homem e fixaram-se no par de olhos verdes que a olhavam incessantemente e demonstravam um misto de surpresa, alívio, pânico e alegria... Talvez houvesse algo mais, mas ele separou os lábios, como se fosse dizer-lhe algo, tornou a fechá-los, e a abrir e a fechar. Uma expressão de completa descrença invadiu o rosto do homem. Por um minuto a beleza daquele figurão a afetara, como se tivessem acertado um soco em seu estômago. O silêncio estava sufocando-a.
- Deus... Eu morri e estou no céu?
Uma risada escapou dos lábios da jovem e refletiu nos lábios do homem. Uma dor dilacerante nas costelas a fez gemer.
- Você está acordada! E viva... E com dor... Eu... Eu vou chamar...
Ele ergueu-se de um salto, mas ela estendeu a mão direita para impedi-lo, o que levou uma onda de dor para seu ombro direito.
- Espera... O que foi que eu fiz?
- Como assim?
A testa franzida do homem demonstrava que ele não entendia o que ela estava dizendo.
- Eu falei em português? Desculpe... Estou meio tonta.
A expressão do homem de olhos verdes suavizou no mesmo instante.
- Eu fiz alguma besteira, né? O que eu fiz?
Ela sorriu com certa timidez e um vinco se formou na testa dele, como se estivesse preocupado. Logo a tensão irradiava pelos ombros largos do homem e ele alcançou a beirada do leito, pegando sua mão direita com suavidade, porém mantendo-a firmemente presa entre a dele e o colchão.
- Fui eu... É minha culpa.
Os olhos do homem ficaram marejados.
- Não minta pra me fazer sentir melhor.
- Acredite. Não estou mentindo. Foi minha culpa.
Ela revirou os olhos e sentiu como se o simples movimento doesse.
- Eu sei quem você é! Você pode fingir muito bem, porque é o seu trabalho. Famoso, reconhecido e bonito.
Ela fechou os olhos, concentrando-se em respirar mais devagar.
- Ei... Não tem porque ficar agitada... Vamos esclarecer tudo isso, ok?
- Como vou saber se está sendo sincero? Você é capaz de olhar nos olhos de alguém e mentir... Preciso que me diga a verdade.
Ele ergueu a sobrancelha em total confusão.
- Preciso que me diga com honestidade, certo? Estou desfigurada?
Ele foi incapaz de controlar a risada e acariciou o rosto da jovem com a mão que estava livre.
- Seu rosto está intacto, exceto por uma vermelhidão na parte de baixo da mandíbula e um pequeno corte na parte interna do lábio inferior.
Ela suspirou em alívio.
- Pelo menos minha cara não está pior do que antes.
Ele fez uma careta como se tivesse ouvido o maior dos absurdos. Ela riu de novo e sua costela doeu.
- Precisa descansar, senhorita.
- Você parece horrível, Channing. Tem dormido no sofá?
Ela ergueu a sobrancelha em sinal de vitória dupla. Ele levantou os braços, rendido.
- Você é esperta. Eu não tenho dormido, na verdade.
- Estou viva. Você pode ir.
- Não vou deixa-la sozinha aqui.
A mulher bufou de irritação e estremeceu com dores nas costelas.
- Não faça tantos movimentos, vai sentir mais dor.
- Você é sempre autoritário? Estou bem. Preciso me levantar um pouco.
Ele voltou pra perto da cama de hospital.
- Isso não deve ser seguro... Vou chamar a enfermeira e...
Channing parou de falar no instante em que percebeu que o sangue abandonou o rosto da mulher à sua frente.
- Ei! Você está bem? O que houve? Ei! Fala comigo!
Ele não sabia o que fazer, ela parecia sem ar e ele não conseguia se mover.
- Minhas pernas!
Ela cuspiu as palavras num grito desesperado.
- Não sinto minhas pernas! As minhas pernas! Não sinto! Não sinto!
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