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𝟯𝟵, veronica.


Nathan tinha um sorriso bobo no rosto, o que fez eu me sentir culpada. Afinal, eu não tinha o chamado de amor por puro carinho, mas sim por ciúmes besta.

Ele parou o carro na frente da minha casa, e eu, com medo de ficar sozinha o resto da tarde e me afundar em autopiedade, o chamei para entrar.

Eu já devia saber que ficaríamos no sofá, evitando nos olhar e em silêncio absoluto.

Quando dei o primeiro suspiro entediado, eu ouvi o primeiro trovão. Eu costumava ter medo de raios e trovões quando era pequena, e esse foi um dos poucos medos que eu consegui superar. Um sorriso nasceu automaticamente em meus lábios, e ele percebeu.

─ Não me diga que... ─ não espero ele terminar e tiro os sapatos, correndo para o quintal de trás da minha casa, onde a piscina estava coberta e as espreguiçadeiras guardadas, dando espaço na grama. ─ Você vai pegar um resfriado, Veronica! Pelo amor de Deus, sai daí!

─ Para de ser chato, Maloley. ─ segundos depois, Thunder – que já estava bem mais crescido do que da primeira vez que o vi – passa correndo debaixo das pernas de Nate, vindo até mim e brincando comigo na chuva. ─ Viu só? Até o Thunder é mais legal que você!

Nathan tomou como um desafio e correu até mim, como Thunder havia feito, e me abraçou por trás, nos girando na grama.

Pensei que ficaríamos assim por um tempo, apenas girando e brincando na chuva, mas ele diz:

─ Não temos apelidos, Veronica. ─ ele começa, sussurrando no pé da minha orelha. ─ E eu lembro claramente de você ter me chamado de amor naquela loja. Por quê?

Eu não tinha como fugir dessa vez.

─ Tá legal, eu chamei. ─ me viro, espalmando as mãos em seu peito. ─ Eu chamei porque... ─ viro o rosto, sentindo o mesmo esquentar pela vergonha.

─ Porque...? ─ ele me incentiva, pegando meu queixo com o polegar e o indicador e o levantando para me encarar.

─ Porque eu queria que aquela mulher parasse de te olhar como se ela fosse um Pitbull e você um pedaço de carne. ─ ele sorri, ainda escutando. ─ Foi por isso.

O rosto dele parecia que, a qualquer momento, poderia rasgar. Ele não desviava os olhos dos meus, e eu sustentei o seu olhar, até ele sussurrar:

─ Você ficou com ciúmes. ─ os pelos do meu corpo se eriçaram, ou pelo menos a maioria deles, quando o hálito quente de Nathan bateu no meu pescoço. ─ Você ficou com ciúmes!

─ Eu ouvi da primeira vez, idiota. ─ meu rosto doía da minha longa tentativa de reprimir um sorriso. Eu estava quase conseguindo, mas falhei quando ele, do nada, se ajoelhou na minha frente e levantou a minha camiseta.

─ Você ouviu isso, bebê? Sua mãe ficou com ciúmes de mim! ─ olhei para o céu, sentindo as gotas geladas da chuva. ─ Não é culpa minha se eu nasci gostoso desse jeito. ─ ele ri quando eu o acerto um tapa em sua nuca. ─ Se você for um meninão, eu vou te ensinar a conquistar a mulher da sua vida, só não pode namorar a mãe dela igual eu fiz, pode dar merda no final. ─ mordi a boca.

Ele acabou de falar, indiretamente, que eu sou a mulher da vida dele, ou eu interpretei errado?

─ E se você for menina... ─ ele me olha de relance, aumentando o sorriso – se é que isso é possível. ─ Se você for menina, é só fazer a cara que a sua mãe fez pra mim e você conquista quem você quiser.

Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços em cima da barriga, o encarando enquanto ele abaixava a minha camiseta e se levantava.

─ Essa cara aí mesmo. ─ cerrei os olhos e ele riu, pegando na minha mão. ─ Tá ficando frio e você pode ficar doente, vamos entrar.

Não questionei dessa vez, apenas deixei que ele me levasse até o interior da minha casa e, como já fez algumas outras vezes, me deu banho cuidadosamente, passando a bucha com mais lentidão na minha barriga e sorrindo para ela.

Nathan me enrolou no roupão e me deixou na cama enquanto procurava por alguma roupa perdida dele, seja na lavanderia ou até no quarto da minha mãe. Ele voltou já vestido e passando a toalha na cabeça, com a expressão sonolenta.

Mesmo que aparentasse querer dormir por dez horas, ele pegou o secador na minha penteadeira e secou meu cabelo, como se eu não fosse capaz de fazer isso sozinha. De vez em quando ele encarava a nossa situação no espelho e sorria, mas não falava nada, nem uma palavra sequer.

Depois que o meu cabelo estava perfeitamente seco, ele o penteou e depois me vestiu com o meu pijama de sorvetinho, rindo para si mesmo com as figuras dos sorvetes coloridos espalhados pela calça e a camiseta.

─ Quer ver um filme? ─ perguntei, surpreendendo a nós dois.

Nate nunca tinha passado mais de uma hora aqui desde o término com a minha mãe, e ela chegaria do trabalho em pouco tempo. Seria mais do que embaraçoso ficar no mesmo cômodo que os dois, e aparentemente ele sentia o mesmo.

─ Ou a gente pode só ficar conversando... ─ mexi os ombros, tentando não demonstrar o meu pânico.

─ Tenho uma ideia melhor.

Deito no canto da cama enquanto ele liga o meu notebook e coloca na Netflix logo em seguida. Ele encaixa o notebook entre nós e deita na ponta da cama, puxando um cobertor sobre ele e eu o outro. Ouço ele dizer que havia colocado o filme mais popular daquele dia, e logo Enola Holmes começou.

Não demos um pio durante todas as duas horas do filme, embora eu suspirasse de leve toda vez que aquele garoto, o Lorde Tewksburry – que eu não conseguia pronunciar o nome da forma certa nem se tentasse mil vezes – aparecia na tela do notebook. Tive a impressão de ouvir a porta bater há meia hora, e confirmei isso quando o chuveiro foi aberto no momento que o filme acabou. Dona Vanessa estava em casa.

─ Que cara é essa? ─ ele pergunta, colocando o notebook de volta na escrivaninha.

─ Apenas pensando que se eu fosse a Enola, tinha dado um puta beijo naquele garoto quando ele abriu os olhos de novo. ─ digo e mexo os ombros. Não era o que eu estava pensando, mas também não menti.

─ Sério? ─ ele ironiza.

─ Completamente. Ah, ele sim faz o meu tipo. ─ reprimo a risada quando vejo Nate cerrar os olhos.

Me encolho na parede quando ele se aproxima, na posição exata para me torturar com cócegas.

─ Achei que seu tipo fosse... Sei lá, moreno, lindo, engraçado, inteligente, gostoso... ─ ele diz em tom baixo, se aproximando mais a cada segundo.

─ Você percebeu que acabou de descrever o garoto? ─ provoco e vejo seus olhos cerrarem ainda mais.

Ele estava perto o suficiente para nossas respirações virarem uma só, mas antes que eu pudesse pensar no que poderia acontecer, a minha mãe grita, do fundo do corredor:

─ Ronnie, me ajuda tirar as tralhas do último quarto?! A Valentina chega na sexta feira. ─ esfreguei as mãos pelo rosto, saindo da cama.

─ Quem é Valentina? ─ ele pergunta, com o cenho franzido.

─ Minha prima. ─ suspiro. ─ A gente não tem uma relação exatamente boa, e ela vai ficar aqui até começar o próximo semestre, ela vai estudar na USC. ─ outro suspiro.

Nate apenas balança a cabeça, percebendo que eu não queria mais falar sobre o assunto.

─ Quer ajuda no quarto? ─ cerro os olhos pra ele, que ri. ─ Saio assim que vocês duas se trancarem lá. Boa sorte.

Como dito, assim que fechei a porta do último quarto, o clique da porta principal foi ecoado de forma baixa.

E lá se foi ele, saindo escondido como um adolescente.

preparem o coração 🥳

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