𝟮𝟮, veronica.
A semana seria repleta de jogos, porém eu só entraria em ação na segunda-feira, no primeiro jogo de futebol.
A nossa temporada de primavera duraria uma semana, como todas as outras. Porém, teriam dois jogos de futebol e dois de basquete, pois já estávamos nas semifinais em ambos.
Eu sou animadora de uma das equipes, a primeira, portanto eu apenas apareceria no primeiro jogo, assim como a segunda equipe apareceria apenas no segundo jogo. Seria assim também no basquete, mas aí já são outras duas equipes. É um pouco confuso, mas já estamos acostumados.
Completando a linha de raciocínio, hoje seria a minha chance de me destacar na equipe e ganhar a bolsa esportiva.
─ Muito bem, meus leõezinhos. ─ a treinadora bateu palmas três vezes, chamando a atenção. ─ Essa é a última chance da maioria de vocês, e para aqueles que ainda estarão aqui em setembro, aprendam na prática. Chamem a atenção deles, deixe-os vidrados em vocês, surpresos. Sei que muitos de vocês se sairão bem, mas dêem tudo de si, nada nunca é o suficiente. Acabem com eles!
As poucas palavras trouxeram o lado competitivo de cada um ali. Eu tinha recuperado o tempo perdido no sábado, em um super treino de quase três horas e meia, assim como Sophia.
Em um último aquecimento antes de entrarmos em campo, eu conversava com Olivia sobre as minhas expectativas, quando ouvi uma voz bastante familiar.
─ Você vai acabar com eles, Nash Jr. ─ imediatamente virei a cabeça, enxergando o cabelo castanho de Sammy um pouco longe, mas não o suficiente para que ele não me visse. ─ Olha só, é a rainha da diversão!
Aproveitei que a treinadora não estava inspecionando o nosso aquecimento e corri até ele, o abraçando. Se ele estivesse acompanhado – o que, certamente, está –, eu não saberia, visto que ele estava sozinho.
─ Tinha me esquecido que você é animadora. ─ ele diz, ainda me apertando no abraço.
─ Pois é, quando se é talentosa como eu, fica difícil de lembrar tudo o que eu faço e sei fazer. ─ brinco, mexendo os ombros assim que nos separamos. ─ Oi, Hayes.
─ E aí, Ronnie. ─ ele dá um sorriso leve, transparecendo o seu nervosismo, mesmo que ele seja do segundo ano e não esteja concorrendo a bolsa; ele só é competitivo demais, e eu o entendo.
Hayes só abriu a boca novamente para avisar a Sammy que tinha que ir, e assim fez. Eu, por outro lado, não perdia o aquecimento, mesmo não estando na rodinha.
─ Seria mais sensato você voltar para lá e eu achar logo aqueles cuzões. ─ ele diz, me medindo de baixo a cima rapidamente. ─ Ou eu vou sair daqui direto para o banheiro.
Gargalhei quando finalmente entendi o que ele quis dizer.
─ Rápido, me diz uma coisa brochante! ─ ele desviou o olhar.
─ Onde estão seus amigos? ─ não sei se foi o suficiente, mas provavelmente sim. Pensar em um homem – quando se é hétero – estando excitado deve ser brochante, né?
─ É exatamente isso que eu gostaria de saber. ─ ele resmunga, olhando o campo pela porta do vestiário. ─ Nate disse que sentiu sua falta essa semana.
Engasgo com o ar, como uma idiota.
─ Ele disse?
─ Sim. Ele reclamou que você não aparecia na sua casa depois da aula, então depois de terça ele foi pra casa. ─ ele diz e mexe os ombros. ─ Aparentemente você é realmente a rainha da diversão. Nate não simpatiza nem com a própria sombra.
Arqueio a sobrancelha, confusa. Ele não sabia de nada?
─ Então ele me considera uma amiga? ─ cruzo os braços, a essa altura, sem me preocupar com o aquecimento.
─ Não deveria? ─ ele tomba a cabeça para o lado, sem nenhum pingo de malícia na voz. ─ Até eu considero, gata.
─ Fico feliz em ouvir isso. ─ sorrio, envergonhada.
Ele não disse a ninguém.
─ Vou deixar você voltar ao seu aquecimento. Boa sorte, gatinha. ─ com um beijinho na testa, ele sai.
Voltei ao círculo, ganhando alguns olhares curiosos, incluindo o de Sophia.
Ninguém teve tempo de fazer perguntas. A voz do diretor soou alta demais, tanto lá fora quanto aqui dentro, e sabíamos que estava na hora.
Meu deus, é agora.
Lentamente, as pessoas foram saindo. Deveríamos estar perto do campo quando fôssemos começar a apresentação.
Porém, para o meu completo pavor, as minhas pernas travaram. Simplesmente travaram. Ao longo dos anos, eu sempre me encontrei em situações onde uma coisinha aleatória me dava um enorme gatilho, e as crises de pânico me destruíam por dentro. Mas não isso. Ser animadora devia me tirar esse pânico, não provocá-lo, e foi exatamente o que aconteceu.
Eu sabia que depois da minha recaída na semana passada elas voltariam com tudo, eu só não imaginava que isso comprometeria o meu futuro.
O ar me faltou e minhas pernas falharam. Eu caí ajoelhada no chão, olhando o palanque do diretor de longe; não demoraria até que ele nos anunciasse.
─ Ronnie? ─ abaixei a cabeça; eu conhecia aquela voz. Conhecia muito bem. ─ O que aconteceu?
Era como se eu não soubesse mais como falar. O meu coração estava acelerado, tão acelerado que eu podia ver o meu peito pulsando por baixo do uniforme azul.
─ Veronica? ─ Nathan se aproximou mais, se abaixando ao meu lado. ─ Você tá tendo aquilo de novo, né?
Não consegui falar, apenas assenti.
─ Merda. O que eu faço? Aliás, eu posso fazer alguma coisa? ─ refleti sobre a sua pergunta.
Valia a pena sacrificar a bolsa – que nem é minha, aliás – para "fugir" com o motivo da minha crise anterior?
Quando a música começou, a minha pergunta foi respondida. Puxei o máximo de oxigênio que eu consegui e, com um pouco de esforço, procurei pelos seus olhos.
─ Me tira daqui.
Não precisei pedir duas vezes. Em questão de minutos, Nathan tinha me colocado sobre o banco do passageiro de seu carro, enquanto eu tentava recuperar o ar suficiente para manter meus pulmões funcionando.
Encostei no banco e relaxei as costas, ainda forçando a traquéia para poder respirar. Foi rápido, porém horrível.
─ Se sente melhor? ─ ele pergunta, e só então noto que já não estávamos mais no estacionamento da escola. Maneio a cabeça em concordância. ─ Você me assustou.
─ Você viu isso acontecendo no outro dia. ─ respondi, apoiando a cabeça na janela.
─ Mas sua mãe estava te acalmando do jeito que só ela sabe. ─ ele faz uma curva. ─ Quer que eu te leve para casa?
─ Não. ─ respondo rápido. ─ Se minha mãe chegar e perceber que eu perdi a apresentação ela vai ficar chateada por mim, e eu não quero isso.
─ Tudo bem.
Eu sabia que ele não iria para a minha casa, mas o caminho que ele estava fazendo era o mesmo. Porém, ao invés de entrar na minha rua, ele virou a esquerda, entrando em outra avenida. Pareceu se passar mais quinze minutos até ele estacionar em frente a uma casa mediana de dois andares, com a fachada branca e a grama seca, porém de um verde vibrante.
─ É a sua casa? ─ pergunto, relutante em sair do carro.
─ Não propriamente. ─ ele solta o cinto e abre a porta; Nate dá a volta no carro e abre a porta para mim quando percebe que eu não estava a fim de me mexer, mesmo sabendo que é necessário.
─ Como assim não propriamente?
─ Eu divido a casa com Sammy, Jack e mais um amigo que você não conhece. Ele provavelmente está lá dentro agora. ─ ele me dá a mão, deixando que eu me apoie nele caso as minhas pernas me traiam novamente.
Quase sorrio quando a porta é aberta e o cheiro de perfume masculino junto com uma essência doce invadem as minhas narinas. Aquele era o cheiro de Nate.
─ Seja bem vinda a minha humilde residência.
vou te esperar na minha humilde residência
pra gente fazer amor
mas eu te peço só um pouquinho de paciência
a cama tá quebrada e não tem cobertor
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