𝟬𝟰, veronica.
Depois de toda boa festa, vem uma ressaca infernal.
Eu estava acordada há quase duas horas, e não importa quantas xícaras de café eu tome, quantos analgésicos para dor de cabeça e o caralho a quatro, a ressaca não passa.
─ Noite difícil? ─ dona Vanessa aparece na sala, abotoando a sua camisa social.
─ Você não imagina o quanto. ─ respondo, massageando as têmporas. ─ Vai trabalhar até que horas hoje?
─ Oito. ─ ela responde, tirando o seu celular do carregador. ─ Capricha na janta, ou pede comida mexicana.
Franzi o cenho.
─ Qual é a ocasião?
─ Você vai conhecer o seu padrasto. ─ ela diz, fazendo pouco caso. ─ Até mais tarde, amo você.
─ Também amo você. ─ respondo, querendo fazer parte do sofá naquele momento.
Minha mãe sempre foi uma mulher muito independente, nunca precisou de ninguém pra nada, até ela engravidar. O meu pai era um dos babacas que davam sonhavam em levar ela pra cama; ele conseguiu, e ela engravidou. Não preciso nem dizer que ele não assumiu, né?
Hoje, pelo que sei, ele se tornou um dos melhores advogados da Califórnia, tem uma esposa e dois filhos, mas nunca, nunquinha mesmo, quis saber de mim. Ele não me viu nascer, nunca veio nas minhas festas, nunca mandou um cartão. Nunca foi um pai.
Até os meus dez anos, a minha mãe estava acabada. Trabalhava feito uma escrava em um salão de beleza e ganhava menos do que tinha direito, e tudo isso por mim. Até ela finalmente terminar o seu curso de especialização em empreendedorismo e, quase oito anos depois, hoje, é uma das melhores empresárias associada á uma multinacional enorme. Por isso, eu não ligo com quem ela transa ou deixa de transar, desde que isso não mude o seu jeito de ser.
Mas vamos combinar que ter um padrasto diferente a cada dois meses não é muito legal.
Passei o resto da tarde assistindo desenho animado, até o relógio bater seis da tarde.
Com o celular na mão, procuro uma receita fácil de comida mexicana na internet, e começo os trabalhos.
Eu sempre fui uma garota "prendada". Sou boa em quase todas as matérias na escola, jogo qualquer esporte, faço uma ótima faxina e sou uma boa cozinheira. Acho que atingi a minha meta de vida.
Coloco a travessa de vidro no forno e ativo o cronômetro para daqui uma hora, e durante esse meio tempo eu poderia tomar outro banho gelado e, pelos meus cálculos, minha mãe e seu novo namorado chegariam bem a tempo.
Passo cerca de trinta minutos no banho, pensando sobre a noite passada. Sem dúvida alguma, aquela foi a melhor foda da minha vida.
Saio do banheiro, com a mente bem longe e com um sorrisinho no rosto, imaginando quando – e se – eu o encontraria novamente.
Coloco um vestido preto soltinho, cheio de bolinhas brancas, e calço o meu chinelo. No momento que penduro as toalhas no cabide atrás da porta, ouço um barulho no andar de baixo, seguido por uma risadinha da minha mãe.
Decido adiar um pouco o inevitável e me sento em frente a minha penteadeira, passando a escova pelo cabelo o mais lentamente possível. Passo desodorante, perfume e até preencho as sobrancelhas, tudo para não ter que encarar a nova vítima no andar de baixo tão cedo.
─ Ronnie, chegamos! ─ suspiro, sabendo que o meu tempo acabou.
─ Já vou! ─ grito, ainda do meu quarto.
Finalizo todo o processo desnecessário com um óleo pra cabelos úmidos e, contra a minha vontade, desço os degraus.
Forço um sorriso assim que desço o último degrau. O meu padrasto estava de costas para mim, enquanto minha mãe estava de frente para ele, e para mim também.
─ Finalmente! ─ ela diz, sorridente. ─ Filha, esse é o Nathan. Nate, essa é a Veronica, minha filha. ─ o sorriso no meu rosto se desmancha completamente no momento em que meus olhos batem nos seus.
Eu sabia que não deveria ter ido na merda daquela festa!
O olhar de dona Vanessa agora é de confusão, mas ela não deixa de sorrir.
─ Vocês se conhecem? ─ ela pergunta, mais feliz do que eu pensei que estaria.
Antes que um de nós dois respondesse, o cronômetro apitou e eu balancei a cabeça, novamente forçando um sorriso.
─ O jantar tá pronto. ─ digo, praticamente correndo até a cozinha.
Desligo o forno e coloco a luva térmica, colocando a travessa de vidro sobre o suporte do passa pratos.
─ Vocês podem ir arrumando a mesa enquanto eu tomo banho? Juro que não demoro! ─ ela diz e sobe antes que eu consiga contestar.
Continuo em silêncio, pegando cada panela e colocando em cima do mármore do passa pratos. Nathan estava na sala de jantar, encarando o chão, porém percebe a movimentação perto de si e desperta para o mundo real.
Ele não diz nada, apenas vai pegando cada panela e colocando sobre cada suporte em cima da mesa.
─ Então... ─ ele tenta puxar assunto.
─ Não. ─ o corto. ─ Não fala nada.
Ele suspira, passando as mãos pelo tecido jeans da sua calça.
─ Alguma hora a gente vai ter que conversar! ─ ele afirma, pegando os pratos e os colocando na mesa.
─ É, mas não hoje. ─ retruco, seca.
Nathan suspira em derrota, finalmente se calando.
Quando a mesa já está posta, dona Vanessa desce as escadas com os cabelos molhados, vestida em uma camiseta cinza e um short jeans.
─ Espero que tenham conversado o bastante pra não ter aquele climão. ─ ela diz, sorrindo.
Minha mãe é a pessoa mais sorridente que eu conheço.
─ Conversamos. ─ respondo, voltando da cozinha com o refrigerante na mão.
Minha mãe e Nathan se deliciavam com a comida que eu havia preparado, enquanto conversavam sobre a vizinhança.
─ Ela adora falar sobre a vida dos outros. ─ dona Vanessa diz. ─ Quando nos mudamos ela foi a primeira a querer socializar, sempre querendo saber da nossa vida. Nunca vi mulher mais chata que ela.
Nathan ria, sorria e as vezes respondia as coisas que minha mãe dizia, mas eu estava em total silêncio. O namorado da minha mãe traiu ela comigo. Eu fiquei com o namorado da minha mãe.
─ Não é, Ronnie? ─ levanto a cabeça, confusa. ─ Você nunca deu uma chance para o filho da vizinha só porque ele é dois anos mais novo que você. ─ ela diz, rindo, como se tudo aquilo fosse uma grande piada.
Eu amo o senso de humor da minha mãe, mas em uma situação como essa, eu só sorriria quando ele sair da minha casa.
─ É, você sabe que eu sempre gostei de caras mais velhos que eu. É a minha filosofia de vida. ─ digo, mexendo o garfo no prato, sem levantar o olhar para nenhum dos dois.
Ouço Nathan tossir, como se tivesse engasgado com a comida.
─ Mais velho quanto? Quantos anos você tem? ─ o olho e seguro a minha vontade de revirar os olhos.
Estava claro, muito claro, que ele é mais velho do que eu, só não sei quanto.
─ Faço dezoito no começo de agosto. ─ respondo, sem humor. ─ E normalmente, até cinco anos mais velho.
E é claro que a minha mãe ia fazer alguma piadinha.
─ O Nate tem vinte e três, mas é meu, viu? ─ ela brinca, rindo.
Ah, mãe, se você soubesse...
kkkkeu to mt animada c essa fic
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro