Parte 9
Eric
Quando Elisa voltou, ela parecia um pouco atordoada. No entanto, seu sorriso e seu andar leve não parecia ser de alguém melancólico — como a Elisa de alguns meses atrás costumava ser. Havia algo nela que brilhava mais do que os pisca-piscas que enfeitavam o jardim.
Borboletas bêbadas começaram a saltar no estômago do rapaz.
— Vou procurar Puppy. Ele sumiu, deve estar aprontando de novo — Elisa disse, dirigindo-se para a lateral da casa, onde havia um pequeno pomar.
— Eu vou te ajudar — Eric se levantou. — Acho que ele está lá embaixo.
Eric foi na direção oposta de Elisa, descendo pelas pedras que compunham o caminho até a garagem. Ao passar pela porta da sala, avistou Puppy dormindo em sua caminha. Fingindo que não o viu, continuou andando até dar uma volta na casa. Encontrou Elisa entre as árvores, tocando no pé de jabuticaba.
— Acho que Puppy não subiria em uma árvore — garantiu o rapaz. — Ele está dormindo na sala.
— Eu sei. Eu o vi — Elisa consertou o xale, cobrindo seus braços. — Eu sabia que viria se eu desse alguma desculpa para sumir dos olhos de Nanda e Jonas.
— Quer ficar sozinha?
— Não, eu quero conversar com você — Elisa disse em tom sério, mas seu timbre continuava suave como sempre. Eric tremeu de dentro para fora. Ele estava prestes a perguntar se tinha feito alguma coisa de errado quando a moça revelou: — Eu li a sua carta.
Eric sentiu o rosto esquentar.
— Hã...
— Eu sei que me pediu para ler quando não estivesse mais aqui. Me desculpe. Mas eu senti que precisava ler enquanto você estivesse aqui — ela deu um passo à frente, pegando nas mãos dele. — Era o que eu precisava ler. Obrigada.
Havia um misto de alívio e ansiedade dentro de Eric. Alívio por ter atingido o seu objetivo e ansiedade por estar tão próxima dela. Ele tirou uma das suas mãos da dela e acariciou o seu braço, ousando aproximar-se do seu pescoço. Sentiu Elisa entrelaçando seus dedos no dele; a respiração entrecortada.
— Eu queria muito fazer uma coisa agora... Mas não vou fazer nada se você não permitir. — Eric falou baixo, passando os dedos delicadamente pelo seu pescoço alvo. Ele sentiu o corpo de Elisa aproximar-se do seu.
— Faça — ele sentiu o hálito doce de Elisa em seu rosto.
O coração de Eric aumentou a frequência; as borboletas bêbadas em seu estômago rebolando ao som de alguma música eletrônica cujo compositor estava loucamente apaixonado. Com uma ânsia e uma vontade que tinha há meses, Eric aproximou seus lábios do dela. Naquele momento, um êxtase tomou conta de todo o seu corpo. O cheiro embriagante de Elisa envolveu Eric, e de repente era como se ambos se fundissem. Ele nunca havia sentido aquilo antes. Nunca havia beijado, de fato, alguém que era verdadeiramente apaixonado.
Definitivamente, aquele foi o melhor presente de Natal da sua vida.
Ele se lamentou por ter que se afastar daqueles lábios tão doces, tão macios, mas Eric precisava recuperar o oxigênio dos pulmões. Com os olhos fechados, Elisa apoiou a cabeça em seu ombro.
— Acho que o jantar está pronto — disse a moça. Aquilo soou tão romântico aos ouvidos de Eric que ele riu. — O que foi?
— Vamos jantar, então — ele beijou a testa dela. — Vamos pegar Puppy e fingir que achamos ele do outro lado do bairro.
Elisa riu também, puxando-o em direção à área de lazer novamente. Suas mãos permaneceram entrelaçadas, como se o toque estendesse aquele momento o qual Eric jamais se esqueceria.
☕☕☕
Fernanda e Jonas pareciam querer soltar foguetes secretamente. Eles sabiam que o súbito sumiço dos dois não foi para procurar Puppy. Ainda assim, ninguém perguntou nada. Porém, o sorriso estampado no rosto de Eric entregava tudo — ele nunca conseguia disfarçar nada, então nem tentou parecer menos idiota.
O rapaz flutuava. Enquanto comia a deliciosa torta de frango com queijo, sentia o ombro de Elisa tocar de leve no dele. Lamentou ter que usar a sua boca para comer e não aproveitar o suficiente a sensação que permaneceu em seus lábios. Mas algo lhe dizia que Eric teria muito tempo para aquilo.
Após o jantar, Jonas e Fernanda pegaram a sobremesa. Julia se esbanjou na torta de chocolate, perguntando a cada cinco minutos se já estava na hora do Papai Noel chegar. Jonas disse que iria ao banheiro, e cinco minutos depois, disse que havia escutado passos dentro de casa quando estava no corredor.
Julia disparou para dentro de casa, só parando quando chegou na sala e se deparou com Puppy e uma árvore de natal rodeada de presentes. A menina soltou um grito e chamou por todos. Elisa riu, olhando para Eric.
— A infância e suas inocências... — ela disse.
— Que Papai Noel ligeiro — Eric murmurou, passando o braço ao redor do ombro de Elisa. Seguiram Jonas e Fernanda, que encontraram a filha com um enorme presente embalado com papel e fitas roxas.
— Acho que esse é seu — Jonas franziu o cenho.
— Acho...acho que é um patins com rodas brilhantes! — exclamou a criança.
— Espero que o Papai Noel não tenha esquecido o capacete — Fernanda murmurou.
Elisa foi até a árvore e pegou um embrulho retangular.
— Parece que o Papai Noel não se esqueceu de você — ela estendeu o presente para Eric. Surpreso, ele pegou o pacote e sorriu.
— Pelo visto, fui um bom menino — o rapaz se sentou no sofá, abrindo o presente. Foi como voltar à infância; quando recebia presentes inesperados. Eric sorriu ainda mais quando viu o livro versão de luxo de Star Wars. — Mentira! Como...?
— Você disse que o pequeno Eric era fã de Star Wars e eu te vi vigiando esse livro na livraria — explicou Elisa. Eric estava prestes a dizer: isso é caro!, mas a moça parecia tão preocupada em agradá-lo que não queria soltar uma frase estúpida como aquela. Eric faria o mesmo por ela.
Se não fosse a presença da criança e do casal, o rapaz a beijaria ali mesmo. Impossibilitado de tão tentadora ação, ele encarou aquele par de olhos castanhos que Eric tanto amava e sorriu, agradecendo-a. Naquele momento, ele se deu conta que não havia motivos para se esconder ou deixar de expor suas descobertas sobre si mesmo. Pois era exatamente aquilo que estava acontecendo naqueles últimos meses: Eric estava conhecendo a si mesmo, e Elisa, de alguma forma, estava fazendo parte daquela jornada. A grande jornada de Jack Hall, o garoto destinado a encontrar um grande tesouro.
Olhando aquele par de olhos brilhantes, Eric teve certeza de que ele já havia encontrado.
☕☕☕
Já era mais de meia-noite quando os dois se despediram diante do portão da casa. Eric não resistiu e arriscou mais um beijo, perguntando-se como conseguiria ficar longe daquela mulher nas próximas horas. Elisa se entregou àquele momento, envolvendo o rapaz em seus braços e beijando-o com intensidade. Qualquer que fosse a sua insegurança em relação a ele, parecia ter se dissolvido naquele primeiro beijo.
— Nos vemos amanhã — Eric garantiu, segurando-a pela cintura e beijando-a suavemente. — E depois de amanhã.
— Sobrou muita sobremesa — Elisa disse.
— Minha avó vai adorar saber que tenho uma crush chocólatra.
— Nada mais afrodisíaco que chocolate — a moça riu, apertando as mãos dele. — Vai. Está ameaçando chover. Nos vemos amanhã...
Eric beijou-a mais três vezes, recusando-se a ir embora. Era como se algo, como um imã, impedisse que o seu corpo se afastasse do dela. No entanto, ele tinha outro compromisso naquele momento. O rapaz se afastou, acenando quando chegou na esquina. As sombras das árvores impediram que ele observasse Elisa por mais tempo, e a chuva que ameaçava cair fez com que ele se apressasse logo. Cheio de energia e sem sono, Eric começou a correr rua abaixo, os braços esticados enquanto o vento batia em seu rosto. O asfalto brilhava conforme as luzes das casas piscavam incessantemente. A euforia que o tomou fez com que ele soltasse um grito seguido de uma gargalhada, que ecoou pela rua praticamente vazia.
Eric parecia um bêbado quando parou diante da pequena casa de Nicolas. Ele já o esperava na varanda. Antes disso, Eric havia mandado uma mensagem para ele: Aconteceu. O passo número dois. Como o amigo tinha uma inteligência acima da média, não precisou fazer muitas perguntas.
Ele sorriu ao ver o estado de Eric, que sorria de orelha a orelha.
— Nicolas! — o rapaz não conseguia parar de rir. Ofegante, ele cambaleou para trás. — Ela é...ela é...
— Cara, sai do meio da rua e entra aqui — Nicolas disse, puxando-o para o jardim. Caroline, vestida de Mamãe Noel, apareceu na porta da sala com uma taça de vinho.
— ...Ela é incrível — Eric continuou, tentando recuperar o ar dos pulmões. — Ela beija tão bem. Nico... Eu estou morto de apaixonado por essa mulher. Eu preciso... Preciso que ela seja minha namorada. Me ajude...a ser um bom namorado.
— Ih — Caroline encarou Eric, as sobrancelhas levantadas. — Aconteceu mesmo. Milagres de Natal.
Nicolas riu, levando o amigo para o sofá da sala; dirigindo-se para a cozinha logo em seguida. Caroline balançava a taça com o restante do vinho suavemente. O gorro vermelho e branco deixava-a ridiculamente engraçada.
— Mamãe Noel Sexy — Eric comentou. — Mas Elisa ficaria melhor nesse roupão ridículo.
— Você parece um bêbado. — Carol murmurou. — Um bêbado insuportável de chato. Mas eu estou feliz por você, Siri. Finalmente usou a sua saliva para algo útil. Finalmente! Vamos comemorar. Meu amor, pegue mais queijo, por favor?
Nicolas voltou da cozinha com um corpo d'água e uma tigela com pedacinhos de queijo. Eric bebeu o líquido com vontade, atacando o queijo. O amigo sorria, orgulhoso da conquista épica do mais novo.
— Eu sabia que uma hora ia acontecer — Nico maneou a cabeça. — Minha intuição não falha.
— O que é isso na sua mão? — Caroline olhou para a sacola com o livro.
— Ela me deu um livro do Star Wars. Não é romântico?
— Nerds — Caroline jogou-se na poltrona e cruzou as pernas. — Dois nerds.
— E você está ridícula com esse roupão — Eric devolveu.
Caroline quase se engasgou com o vinho ao reprimir uma risada. Quando se deu conta, Eric estava rindo novamente. Nicolas se juntou a eles, contagiado pelas gargalhadas exuberantes do amigo e da namorada.
— E viva o Siri beijoqueiro! — Caroline ergueu a taça de repente, servindo-se de mais vinho. — Feliz Natal!
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