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Parte 7

Eric

Eric se olhou no espelho pela sétima vez em menos de três minutos. Alisou a camisa social vermelha, conferindo os botões. Seus cabelos castanhos escuros cobriam parte das orelhas; o que significava que precisava de um corte. Tentou mantê-los o mais comportados possível. Os pelos da rala barba que cresciam desordenadamente em seu rosto jovem foram retirados antes do banho. Linn, sua gata, observava seu humano inspirar e expirar mil vezes enquanto apalpava as calças jeans — talvez tirando os pelos dela.

Sônia bateu na porta semiaberta, observando o neto diante do espelho do guarda-roupa. Já de pijama, estava pronta para assistir a um filme natalino de qualidade duvidosa — como era o hábito há anos. A família havia pedido um sanduíche nada-saudável e todos comeram juntos à luz de velas douradas e muito ketchup. A avó costumava evitar esse tipo de alimentação, mas ela cedia aos desejos de sua juventude em datas especiais.

— Estou feio? — Eric perguntou, sentindo-se um pouco patético com aquela camisa social.

— Claro que não, meu bem — Sônia se aproximou, ajeitando a parte do ombro. — Hum... Só acho que não há necessidade de fechar tantos botões. As damas acham charmoso um peitoral masculino.

— Se eu tivesse um peitoral definido, vó — Eric baixou o rosto, observando a avó desabotoar alguns botões.

— Te darei dicas se resolver entrar na academia. Isso é fácil. Muito treino, proteína e determinação. Mas você está lindo, querido! Vá e arrase o coração da sua gatinha.

Eric sentiu as bochechas corarem. Sônia era a única da família que o rapaz conseguia, de fato, conversar sobre os assuntos do coração sem se sentir envergonhado ao extremo. Amanda, sem chances — era uma tremenda intrometida e mulherenga. A mãe, sempre ocupada com o trabalho, parecia não se lembrar do que era estar apaixonada. A avó, por outro lado, sabia falar a linguagem dos jovens e parecia entender os sentimentos do neto.

Meow — Linn miou, esticando-se na cama de Eric.

— Certo — Eric balançou a cabeça. Apertou carinhosamente os ombros fortes da avó, pegando os presentes que havia separado sobre a cômoda. De repente, lembrou-se de algo importante. — E meu cheiro? Estou cheirando bem?

— Perfeitamente. Está um cavalheiro, Eric — Sônia garantiu.

Eric deu um sorriso nervoso, desistindo de tentar agir naturalmente. A situação, agora, era outra. Ele não ia se encontrar com Elisa em uma feira de livros ou ir ao shopping para tomarem um sorvete. Era uma situação nova, completamente diferente: Era Natal, iria se encontrar com a família de Elisa e as coisas estavam tomando um novo rumo. Não tinha como pensar diferente depois do dia anterior.

Agradecendo por não estar chovendo, Eric saiu do prédio em que morava e apressou os passos rumo à casa de Elisa, que ficava há alguns quarteirões da sua rua. A noite estava clara e muitas luzes piscavam pela avenida. Sua mente era tomada pela imagem de Elisa a cada passo. Sentia uma vontade insuportável de vê-la — mais do que o habitual. Cada passo era uma tortura. Quando finalmente parou diante do portão da casa onde Elisa morava, não hesitou ao tocar o interfone.

Quem é? — uma voz soou pelo aparelho. Eric não sabia bem se era Elisa ou Fernanda.

— Eric — ele respondeu, aproximando-se do interfone.

Aaah, o Eric! — o rapaz teve certeza de que era Fernanda. Ouviu-se um click quando o portão menor se abriu.

Ele respirou fundo e empurrou o portão, deparando-se com Puppy correndo em sua direção. Ele rebolava o traseiro, chicoteando o rabo no ar enquanto Eric abaixava-se para afagar suas orelhas. Elisa o esperava na varanda. Como de costume, Eric se derreteu com o sorriso branco da moça. Ela usava uma camisa branca e um xale vermelho cobria seus ombros e costas. Com calça jeans e os cabelos soltos, ela não precisava de muito para ficar bonita.

— Elisa — Eric falou baixinho quando se aproximou. — Oi.

— Está elegante, Eric — Elisa levantou sua sobrancelha fina. — Definitivamente, camisas de botões combinam com você.

— Isso porque eu odeio botões. Mas serei obrigado a fazer as pazes com eles — ele riu, desviando o olhar para a criança que se aproximava com um patinete roxo. — Olá, Julia.

— Tio Eric! — ela exclamou, exibindo as banguelas. — Acredita que Puppy fez cocô no tapete de novo?

— Que coisa, Puppy — ele olhou para o cachorro. — Você precisa aprender a ter modos, se não, o Papai Noel não vai trazer petiscos para você. Falando nisso... O Papai Noel passou lá em casa mais cedo e trouxe isso para uma tal de Julia Fernandes... Acho que ele errou o endereço.

— Ah! Sou eu! — a menina apoiou o patinete na parede. Eric ergueu um dos presentes para a criança, que sorriu ainda mais. — Obrigada Siri!

— Foi o Papai No... — Eric começou a dizer, incrédulo, mas a menina já estava do outro lado da casa; provavelmente louca para abrir o presente em um local sagrado para as crianças. Desde que a menina ouviu Caroline chamando-o daquela forma, Julia não perdia uma única oportunidade de expor aquele apelido ridículo.

No entanto, valia à pena se expor ao ridículo, pois Elisa sempre ria. A risada daquela mulher era uma música para os ouvidos de Eric.

— Obrigada, Eric. Ela ama ganhar presentes.

— Quem não ama? — ele ergueu o outro presente. — Feliz Natal, Elisa... Peço para que leia a carta quando eu não estiver aqui, por favor.

Elisa pegou o presente. Dentro da sacola natalina havia bombons de chocolate com morango. Um envelope verde e um pequeno estojo de veludo vermelho estava no fundo do pacote. Elisa pegou o estojo, curiosa. Dentro dele, havia um colar prateado com um pequeno pingente de copo de café — mais especificamente, um mocaccino. A moça passou a mão pela delicada espuma de leite que saía do copinho.

— Que coisa mais linda, Eric — as bochechas de Elisa ficaram levemente coradas. — Um mocaccinozinho.

Eric riu.

— Eu achei a sua cara. E...fofo, também. — ele trocou o peso das pernas. — Posso colocar em você?

Elisa assentiu, entregando o colar a ele e virando-se. Eric se sentiu em um filme de romance clichê. Sentiu-se tão bem em satisfazê-la — mesmo que fosse com o mínimo — que seu coração o presenteava com picos de alegria. O rapaz colocou o colar no pescoço dela, tocando nos seus fios de cabelo e admirando seu delicado pescoço. Depois, Elisa virou de volta para ele com um sorriso ainda maior no rosto. Fitou o colar com o copinho pendurado em seu peito.

— Obrigada — Elisa deu um passo à frente, envolvendo-o em seus braços. Como sempre fazia quando a moça o abraçava, Eric fechou os olhos e aproveitou aqueles preciosos segundos. Ele sentiu os lábios de Elisa irem ao encontro de sua bochecha, beijando-o. — Vamos, Fernanda e Jonas estão te esperando na área de lazer.

Com um sorriso idiota no rosto, o rapaz deixou ser guiado por Elisa, que agarrou a sua mão e o puxou para os fundos da casa. O cheiro de algo sendo assado no forno invadiu seu nariz.

Eric tinha a impressão que aquele seria o melhor Natal da sua vida. 

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