Parte 5
23 de dezembro de 2024
Nada. Eric não fez nada. Nada a não ser não criar expectativas. Seu coração o tempo todo dizia: Você vai se encontrar com Elisa! Viva!, mas Eric tentou calar essa vozinha e se convencer que ele estava indo porque queria comprar HQ's e alguns livros para ler nas férias. Se esforçou ao máximo para não imaginar possíveis cenários na cabeça; o que era um hábito toda vez que saía com Elisa. Para a sua surpresa, ele conseguiu isso. Seu coração gritava de alegria quando estava ao lado dela, mas Eric tentou agir o mais natural possível. E deu certo. Sentia-se menos ansioso para uma resposta ou um acontecimento mirabolante. Ao contrário: os momentos mais simples entre eles, naquela tarde chuvosa de domingo, foram os mais valiosos.
Eric não conseguia parar de lembrar de seus sorrisos espontâneos, de sua voz calma e baixa, de seu olhar interessado sobre os livros. Seu momento favorito foi quando sentaram-se juntos no grande puff vermelho; juntos o suficiente para que Eric sentisse o seu calor e o ombro dela tocando no seu. Ele amou ver ela saboreando o algodão doce que havia comprado; aparentemente tão leve e tão confortável com ele. Elisa não lhe deu uma resposta, mas não precisava. O coração de Eric ainda queria aquela resposta, mas se deu conta que as coisas não funcionam daquela forma. A paciência não era sua maior qualidade, mas se ele queria conquistar aquela mulher, tinha que se acalmar. Tinha que ser ele mesmo.
De qualquer forma, Eric duvidava que conseguiria ficar longe dela caso tomasse essa difícil decisão. Seria quase impossível. Eles moravam no mesmo bairro e Elisa frequentava a cafeteria a qual ele trabalhava; e mesmo que ele mudasse de emprego ou ela parasse de ir ao Café Essência, as chances de se esbarrarem pelas ruas eram quase certas. Também doía-lhe profundamente pensar na possibilidade de perdê-la de vista para sempre.
Sua paixão por Elisa só aumentava. E naquele dia, no Café Essência, o fogo de seu coração apaixonado estava destinado a aumentar ainda mais.
☕☕☕
Quando Elisa chegou com o seu suéter vermelho e os cabelos soltos, Eric teve um déjà-vu. O rapaz parou de lavar as louças, com o risco de quebrá-las, no momento em a viu adentrando a cafeteria. Ela cumprimentou a todos, sorrindo para Eric ao vê-lo em seu avental marrom e seu elegante uniforme. Ela já havia admitido que Eric ficava muito bonito com aquele uniforme; mas o elogio se estendia a todos que o usavam. Mesmo assim, sentia-se diferente todas as vezes que Elisa ia frequentar o café. Sabia que estava devidamente apresentável.
Como havia combinado com os seus colegas de trabalho, Eric foi atendê-la. Elisa estava sentada nos fundos, em uma das mesas que compunham o pequeno espaço de leitura. Coffee, a gata mais velha dos gatos do Café Essência, já se esfregava em suas pernas.
— Um mocaccino natalino? — ele pegou o bloco de pedidos no bolso.
— Com uma arte de alce, por favor — ela pediu, acariciando as orelhas da gata.
Eric deu uma piscadela e foi até Hassan, pedindo para o rapaz caprichasse. Quando ficou pronto, Eric levou dois mocaccinos — um para Elisa, é claro, e outro para ele. A moça gostou tanto do alce que tirou uma foto, lamentando o fato de que iria ser destruído em poucos segundos.
— Posso me sentar com você? — ele pediu. Surpresa, Elisa deu espaço para que Eric se sentasse ao seu lado. Ele poderia ter escolhido o assento oposto, mas não perderia a oportunidade de ficar mais próximo dela.
— Mas...não está trabalhando? — a moça perguntou, olhando para o alce com olhinhos esbugalhados flutuando sobre o mocaccino.
— Fiz horários extras o suficiente esse mês para tirar um tempinho — Eric explicou. — Sou um bom funcionário.
— Disso eu tenho certeza — ela riu, experimentando a bebida. — Hum...Está ótimo, como sempre.
Eric sorriu. Ele amava o fato de Elisa sempre pedir a mesma bebida e não enjoar nunca. Deve ser por isso que ela sempre tinha um aroma adocicado de chocolate e cafeína. O rapaz bebericava lentamente o mocaccino, observando os dedos da mão direita de Elisa segurando a xícara sobre a mesa. O alce feito de espuma de leite já estava deformado. Eric colocou a mão direita debaixo da mesa, pousando na sua própria coxa. Seu coração começou a disparar ao se dar conta que a outra mão de Elisa estava tão próxima à sua. Eu devo me arriscar?, ele se perguntava. Temendo se sentir rejeitado com mais um recuo de Elisa, ele permaneceu com a mão ali, a poucos centímetros da dela.
Eric olhou para a janela de vidro do outro lado, observando um dos gatos deitado no parapeito. Uma chuva rala caía do lado de fora, como era comum naqueles dias na cidade. O rapaz estava prestes a perguntar a Elisa se ela estava ansiosa para o Natal quando algo aconteceu. Algo que ele nunca achou que poderia acontecer, sobretudo nos últimos meses — que sugou as suas esperanças de todas as formas possíveis.
Em um movimento sutil, Eric sentiu o dedo de Elisa sobre o seu. A princípio ele achou que fosse um acidente, mas ela não recuou. Depois, dois dedos de Elisa tocaram os seus em uma carícia tímida. Eric parou de respirar por um momento, o coração à mil. Sem conseguir se segurar, ele envolveu a mão dela por inteiro, lentamente, até sentir seus dedos entrelaçados nos dela. Nunca achou que poderia sentir uma sensação tão maravilhosa com um simples toque de mãos. Em um simples entrelaçar de dedos.
Eric se segurou para não sorrir e nem olhar para ela. Seu corpo ansiava maior proximidade, mas sabia que um passo enorme havia sido dado. Aquela era a resposta que ele precisava. Elisa sentia algo, afinal. Ele queria gritar, comprar fogos de artifícios, sair correndo pela chuva dizendo o quanto ele estava apaixonado.
— Está ansioso para o Natal? — Elisa perguntou de repente, quebrando o silêncio que havia se formado entre eles.
— Engraçado... eu estava pensando em perguntar o mesmo — ele finalmente olhou para ela, deixando brotar o sorriso que quase rasgava o seu rosto.
— Gostaria que passasse lá em casa no Natal. Coisa rápida — Elisa disse. — Faremos um jantar e teremos sobremesa de sobra.
— Não ligo de poder ficar mais tempo. C-claro, se vocês não se importarem... — Eric se sentia levemente nervoso. — Minha família não é muito ligada ao Natal e coisas assim. Pedimos uma pizza ou um sanduíche e pronto, só para não passar batido. Todos dormem às 22h.
— Então, se não se importar em dormir depois das 22h... — a moça deu mais um gole de mocaccino.
— Seus pais vão...?
— Não — Elisa parecia quase aliviada. — Vão viajar.
— Bom, não será sacrifício nenhum dormir um pouco mais tarde — Eric começou a acariciar um dos dedos de Elisa; suas mãos ainda grudadas como se fossem uma só. Ele não poderia acreditar que aquilo estava acontecendo. Mas estava. O próximo passo, Eric, ele pensou. O próximo passo... — Eu adoraria passar o Natal com vocês.
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