Parte 3
Eric
O restaurante estava relativamente vazio naquela noite. As colunas que sustentavam a tenda externa exibiam pomposos festões verdes com bolotas vermelhas. Os pisca-piscas chamavam a atenção de todos que passavam pela entrada, sendo atraídos também pelo cheiro de comida que vinha da cozinha e impregnava todo o local. Eric estava sentado diante de Nicolas e sua namorada, Caroline. Encarando a pequena guirlanda que enfeitava o pote de sal, o rapaz não fazia questão de disfarçar o seu mau humor. Caroline também não estava no seu melhor momento, pois estava mais calada que o normal e exibia um enorme bico — como uma criança birrenta que havia acabado de afrontar os pais.
— Vinte minutos — a mulher reclamou. — Está demorando demais. Vou chamar o garçom.
— Já deve estar quase pronto, Carol — Nicolas tentou acalmar a sua leoa esfomeada. — Uma pizza demora para ser feita.
— Eu estou com fome — ela explicou, jogando os cabelos ondulados por sobre os ombros. — Não consigo raciocinar.
— Come sal — Eric murmurou, empurrando o pote de sal com a guirlanda malfeita.
— Come você, Siri do Mar — ela empurrou de volta. — Você gosta de sal.
Nicolas suspirou, cruzando os braços. Caroline estava bem-humorada a maior parte do tempo, mas não quando estava com fome — o que levou o namorado a adquirir o hábito de levar biscoitos para ela todas as vezes que saíam. Pelo visto, Nicolas já estava acostumado com ela. Mas não com o mau-humor do seu melhor amigo.
— Quer nos compartilhar algo, Eric? — ele se inclinou um pouco sobre a mesa e Eric sentiu seus olhos sobre o seu rosto. — Aconteceu algo?
— O de sempre, Nico. O de sempre... — Eric viu um garçom se aproximar com uma pizza. Caroline exibiu seu sorriso de covinhas; e ele teve a leve impressão de que o garçom ficou desconcertado.
— Aleluia, finalmente! — Caroline ergueu os braços em agradecimento ao Deus das Pizzas. — Eu estava quase comendo o meu namorado vivo, moço.
As bochechas do garçom ficaram vermelhas quando ele riu. Nicolas a encarou, fingindo estar assustado, mas a namorada estava ocupada demais flertando com a pizza. Caroline atacou o primeiro pedaço, dispensando os talheres. Um pedaço de queijo desceu pelo seu queixo, fazendo-a gemer. Como sempre, uma criança inocente presenciou a cena; colocando a mão sobre a boca.
— Você não tem modos — Eric pegou um pedaço, cortando com a faca. — Tem criança olhando e acho que você deveria dar exemplo.
— E eu acho que você está com dor de cotovelo, por isso está tão chato — ela disse em um tom brincalhão; mudando totalmente o comportamento após a primeira mordida.
— Tem razão. Não vou discutir — Eric confessou. — Você está falhando na sua missão de cupido, Carol. Parece que a sua flecha só acertou de um lado.
— Acho que terei que afiá-la mais... Ou está dando mais certo do que eu pensei — ela deu mais uma mordida, mastigando com prazer. — Hmmmm.
— Manda ela parar de gemer? — Eric olhou para Nicolas.
— Carol, pare de gemer — o rapaz suspirou, já acostumado (ou não) com a troca de farpas entre Eric e a namorada.
— Ok, querido. Vou guardá-los para você — ela deu um sorriso perverso e voltou-se para Eric. Nicolas desviou o olhar, expressando uma fingida incompreensão. — Precisamos voltar à operação cupido, Siri. Eu joguei as cartas para você, mas pelo visto não está sabendo vencer o jogo.
— O que mais você quer que eu faça? — Eric perguntou. — Nada que eu faço parece ser útil. Não consigo conquistar essa mulher. Talvez o problema esteja em mim.
— Ou essas desculpas são só uma forma de fugir do tesão que ela está sentindo por você. Eu já lidei com isso antes!
— Caroline... — Nicolas deu um olhar de advertência.
— Não ligo para as crianças — Caroline ficou séria. — Preciso aconselhar o meu pupilo.
— Não estou falando das crianças...
— Enfim, querido — ela olhou para Eric. — Já lidei com uma pessoa com traumas de relacionamentos antes, e te digo: tenha mais paciência.
— Você mal teve paciência para esperar uma pizza e quer me aconselhar a esperar mais?
— Ei, eu estou ouvindo — Nicolas cutucou a namorada.
— Eu sei, meu amor — ela passou o braço ao redor do ombro dele, beijando-lhe a bochecha. — Eu não falo nada pelas suas costas, lembra? Sou uma pessoa muito honesta. E convenhamos que você me enrolou, mas não tanto quanto a querida do Eric.
— Eu disse a ela que precisava de uma resposta — Eric contou. — Amanhã vamos nos encontrar na feira e eu espero que ela tenha essa resposta.
— Como ele é analítico! — Caroline exclamou. — Acho que vocês deveriam ir para a ação ao invés de ficar só na teoria. Nicolas só percebeu que eu poderia valer a pena quando provou dos meus lábios. E eu também cheiro bem.
Nicolas colocou a mão sobre a testa, largando o garfo. A impressão que Eric tinha é que o amigo estava prestes a enfiar a cabeça em um dos lixos de alumínio próximo à porta.
— Então acho que, pelo menos, eu deveria comprar um perfume melhor. Meus lábios não parecem atrativos o suficiente — Eric murmurou, lembrando-se do dia em que estavam sozinhos na casa de Elisa. Sentados juntos no jardim, os dois observavam Puppy brincar na grama. E foi nessa hora que Eric se arriscou a beijá-la, sem sucesso. — Eu já tentei.
Caroline ficou boquiaberta.
— Essa mulher precisa de vinho — ela concluiu. — Muito vinho.
— Não, isso está errado. Não vou embebedá-la.
— Não, sério, não é possível — Caroline gesticulava, incrédula. — Ela precisa de uma dose de algum afrodisíaco.
— Ou ela só precisa perceber que Eric será um bom parceiro para ela — Nicolas propôs. — Precisa se sentir segura, e não pressionada. Acho que tem que acontecer naturalmente, cara.
Eric arqueou de leve as sobrancelhas.
— Você acha que eu estou pressionando ela? — perguntou, de repente sentindo-se culpado. Depois, ficou irritado. — Mas eu faço de tudo para agradá-la!
— Justamente — Nicolas falava com cautela. — Sei que gosta de presenteá-la e convidá-la para passeios românticos, mesmo que não sejam um casal. Mas talvez... Talvez você só tenha que relaxar e ser você. Tire um pouco essa máscara de conquistador e só seja você.
— É por isso que eu te amo, Nicolas — ela fechou os olhos, sorrindo. — Tudo que sai da sua boca é lindo. Inclusive a sua baba.
— Ah, não começa.
— Sabia que ele baba quando dorme? — Caroline apontou para Nicolas, fitando Eric. — Parece um bebezinho.
O casal começou a discutir carinhosamente, mas Eric já não prestava mais atenção desde a frase "só seja você". Nicolas tem razão, ele pensou. Talvez eu esteja pressionando demais Elisa. Sobretudo nos últimos meses, quando Eric tentou investir mais em sua difícil conquista, Elisa parecia mais resistente. Ela poderia até sentir algo por ele, mas o exagero não-proposital de Eric poderia estar deixando-a confusa. Era como se, quanto mais ele fosse atrás, menos ela fosse alcançável.
— Eu acho que você tem chance, Siri — Caroline observou. — Ela não é indiferente a você. E é verdade o que Nico disse... As coisas só começaram a acontecer de fato quando eu e ele começamos a sair sem propósitos românticos. Sabe? Sem essa de "vou sair com Elisa e eu tenho que dar o meu melhor, se não ela não vai gostar de mim". Ou "hoje eu tenho que beijá-la". É, realmente não dá... Estar apaixonado é fogo, mas é um fogo que precisamos controlar.
— Ou ele pode queimar vocês dois — Nicolas piscou para o amigo.
Eric deu um leve sorriso, sentindo-se de repente menos aflito. Foi como se aquela conversa (e a pizza, é claro) tivesse lhe proporcionado um brilhante insight; o qual ele mais sentia do que compreendia racionalmente.
— Hum... — ele murmurou, de repente com mais fome. Pegou mais um pedaço de pizza, desafiando o olhar penetrante da amiga. — Acho que já sei o que posso fazer.
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