III - Depressão
Vitor esperava por ela do lado de fora do escritório, que parecia ficar no centro da cidade. Warren não estava à vista.
– Ele foi para casa. – Respondeu à uma pergunta não dita. Não viu o motorista também, o que a deixou com a ñoção de que estava sozinha com ele. Os calafrios aumentaram e seu estômago embrulhou.
Vitor parecia maior, mais velho e muito parecido com os monstros das histórias que ela uma vez escutara. A noite estava escura e os postes de luz não iluminavam o suficiente do seu rosto coberto pela barba. Helena duvidou que seus olhos sempre tivessem aquele tom escuro.
Ignorando qualquer palpitação, ele se virou e foi até o carro, balançando a cabeça e resmungando algo parecido com "não me pagam o suficiente por esse trabalho".
Sem muita escolha a não ser ficar na rua deserta, Helena entrou no carro.
– Você tem uns pensamentos muitos insistentes aí, sabia? Eu acho que poucas vezes eu fui tão insultado. – Ele comentou depois de dar partida.
– E quem te deu permissão pra ficar espionando a minha mente? – Rebateu, com raiva.
– É o meu trabalho, garotinha. Você é minha última tarefa do dia e eu estou tentando dar o meu melhor pra terminar logo isso e ir para a minha casa.
– Eu não sou seu trabalho.
– Segundo a minha folha de ponto, você é, sim.
– E precisa ficar espionando os meus pensamentos o tempo inteiro? – Tentou soar calma, mas dizer aquilo em voz alta era ainda mais assustador. Ninguém deveria ter permissão ou poder pra fazer essas coisas.
– E como eu iria saber se você está planejando uma fuga? – Vitor ergueu as sobrancelhas pelo espelho retrovisor e lhe deu um sorriso de lado.
Helena abriu a janela e aspirou o ar noturno, ignorando o comentário. A brisa tinha um cheiro engraçado, lembrando-a quão perto ela estava do mar. Eles estavam dirigindo por alguma rua recém asfaltada, passando por vários lotes de casas aparentemente vazios. As ruas eram iluminadas por uma luz laranja que deixava tudo muito assustador. Mais de uma vez Helena achou ter visto vultos circulando pelas árvores que ladeavam as calçadas. Ela tentou olhar para longe quando passaram por uma rua que parecia dar no mar. Grandes muros se erguiam, como uma cortina de ferro, os separando do continente. Como ela, supostamente, poderia fugir? Relaxou contra o banco do carro, cerrando os olhos. Como havia se metido nessa confusão?
– Estamos chegando. – O rapaz comentou por cima do seu sofrimento.
Helena abriu os olhos e tentou achar seu destino. Não foi difícil, já que apenas um dos vários lotes naquela área estava ocupado.
Uma pequena multidão de cinco pessoas estava parada na calçada, quase como se esperando por ela. Helena ficou tensa e prendeu a respiração enquanto Vitor manobrava o carro até finalmente desligar o motor.
– Hora de sair, garota. – Ele lhe deu um sorriso solidário, abrindo a porta.
Depois de um minuto que pareceu uma eternidade, ela aprumou a postura e saiu do veículo. Iria enfrentar o que quer que fosse.
– Seja bem-vinda. – Uma mulher de longos cabelos loiros se aproximou dela. O corpo de Helena se retesou e a mulher lhe lançou um sorriso. – Seu nome é Helena, certo?
A garota apenas assentiu.
– Eu me chamo Elizabeth, mas prefiro que me chamem de Beth. Eu serei a responsável por você a partir de agora.
– Enquanto eu estiver aqui. – Helena a corrigiu. A mulher lançou um olhar inquisitivo para Vitor.
– Ela vai refazer o teste daqui três dias. – disse, dando de ombros. Mesmo depois de terminar sua fala, ele continuou olhando para a mulher.
– Entendo. Bom, se é assim, vou ser sua responsável enquanto você estiver aqui. Agora, deixe-me apresentar os demais.
– Essa é a minha deixa. – Vitor disse, tocando na aba de um chapéu invisível. Beth lançou um sorriso e observou o carro partir. – Venha, vamos conhecer os demais.
Já se acostumando à não ter muitas escolhas, Helena a seguiu.
Julia, uma garota um pouco mais velha, foi a primeira a se apresentar. Ela era ruiva, o rosto cheio de sardas e um olhar muito afiado. David parecia ter a mesma idade que ela, porém alguns centímetros a mais. Manchas escuras circulavam o seu olho e, assim que terminou de se apresentar, deu meia volta e entrou na casa. Philip tinha sido o último a chegar antes de Helena e carregava um olhar curioso. Finalmente, Caroline, que tinha o belo cabelo loiro tingido de algumas mechas de vermelho. Ela era a veterana da casa, a primeira a chegar aos cuidados de Beth. Parecia a segunda no comando também, com a forma com a qual dispensou os demais para que Beth apresentasse a casa.
– Você não precisa se preocupar com colegas de quartos, cada um tem o seu próprio cômodo, então vocês podem ter mais privacidade. – Beth lhe disse, indicando uma porta no meio do corredor.
– Hnm... Obrigada. Er... Boa noite. – Helena se sentia desconfortável e estava torcendo para aquele pequeno passeio terminar logo. Todos pareciam tão normais que ela quase esquecia onde estava, se não fosse por aquele cheiro de magia. Beth abriu a porta e permitiu que a garota entrasse, mas ela ficou encostada no batente.
– Tome o seu tempo, o.k.? Qualquer problema, é só chamar meu nome no corredor. Estarei aqui em um instante.
Helena anuiu mais uma vez, no meio do quarto. Com um último sorriso, Beth fechou a porta atrás de si. Um burburinho se iniciou, mas logo foi silenciado. Helena foi até a cama de solteiro, próxima da janela. Olhou para as cortinas e, como se não pudesse evitar, caiu no choro.
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