Viver no meu mundinho é o melhor que faço.

Esse pensamento me fazia ser recuada.Me fazia querer me esconder das pessoas e preferir estar sozinha lendo,escutando música ou até estudando do que estar com amigos.Até porque eu não tinha amigos.

Mas eu sabia que estava errada porque todos precisamos de um amigo.Era assim que eu costumava pensar e acreditava nas pessoas.Para mim  as pessoas ruins podiam mudar um dia,porque eu acreditava que existia algo bom em todo mundo.

Eu sabia que não estava certa em querer me afastar dessa vez.Não iria agir certo e iria acabar deprimida.Minha vida continuava agora e eu sentia que uma nova jornada estava começando.

Havia acontecido o velório dos meus pais.Regina estava comigo e ficou o tempo todo perto de mim.Eu chorei muito abraçada a ela enquanto me permitia uma última vez com meus pais.Aquele momento foi tão difícil.Minha despedida final a eles e somente me lembraria deles na minha memória.Nunca queria esquecer de como eles eram e guardaria aquela única foto de nós três com carinho.

Regina e eu fomos ao conselho tutelar um dia depois do velório e eles conseguiram localizar meus tios.Como não conseguiriam? Eles moravam muito longe,mas a distância não importava agora porque eu seria mandada para casa deles.A última palavra seria do conselho tutelar,eu não tinha escolhas somente uma opção.Ou duas,mas a segunda era ir para um orfanato e isso não aconteceria.

O casal ficou muito surpreso ao saberem da notícia de que meus haviam falecido. Eu iria morar com eles dentro de poucas horas e estava com um frio na barriga.Uma agitação,ansiedade e medo do que viria acontecer.As mudanças fazem parte da vida e precisamos delas,mas eu tinha medo de coisas novas.Simplesmente porque podiam vim coisas boas e ruins e eu nem os conhecia direito.

Os últimos dias tinham sido agitados.Eu sentiria saudades da escola,porque tinha professores excelentes e alguns rígidos,mas alguns gostavam de conversar comigo.Em particular eu preferia três professores que sempre quando tinham um tempo conversavam comigo ou me perguntavam se eu estava bem.

Era meu último dia na casa que eu cresci,onde fui criada,meu último dia no bairro onde só tinha gente rica.Nunca mais veria eles nem os alunos riquinhos da escola e muito menos a Regina. O dia estava custando a se passar e as horas pareciam se arrastar.Eu estava escrevendo em um caderno o que sentia naquele momento só para não precisar desabafar com ninguém.

Fiz um esforço para não chorar mais enquanto escrevia,mas acho que não tinham mais lágrimas para derramar.Meus olhos estavam vermelhos e inchados.O telefone tocou na sala eu me levantei e atendi no terceiro toque.

-Alô-disse e escutei uma respiração do outro lado.Franzi as sobrancelhas.

-Bianca?-uma voz de mulher gritou do outro lado.Afastei o telefone do ouvido com o susto.

-Sim é ela quem está falando?-escutei muitas vozes e risadas.

-É sua tia querida.Carmem tudo bem?-suspirei.

-Não esperava sua ligação...tia-era estranho a chamar de tia,porque não tínhamos contato.

-Eu sinto muito pelo que aconteceu.Não tivemos como ligar antes,mas hoje iremos te pegar ok?

-Meu tio também vem?

-Sim querida.Seu tio vai também.Estamos tristes pelo que aconteceu,mas não vamos se deixar levar pela tristeza.Aqui você será bem vinda-terminou e me senti como uma criança por causa do seu jeito de falar comigo.

-Está tudo bem tia-forçei um sorriso-Eu vou superar tudo isso em breve.

-Com certeza.Olha vamos demorar para chegar aí,porque vão ser três horas de viagem.Chegamos mais ou menos 18:00 da noite ok?Já fez suas malas?

-Falta fazer só uma mala-olhei para cima-Espero vocês então até a noite.

-Espera-sorriu-Já vai desligar?Vamos conversar um pouco querida.Faz muito tempo que vi você e depois disso nunca mais vieram nos visitar.

-Meus pais trabalhavam muito tia Carmem-sentei no sofá-Não tinham tempo para viagens ou passeios e eu sempre estava ocupada com a escola.

-É mesmo.Eles eram muito trabalhadores.Onde você estuda?

-Estudava-a corrigi- Em uma escola integral.

-Não me diga que seus pais a deixavam sozinha em casa?

-Como eu disse estudei integral por isso passava os dias na escola.E não eu não ficava sozinha,porque tenho a Regina que sempre cuidou de mim.

-Entendi.Preciso desligar até a noite.

-Tudo bem.Até mais tia-desliguei antes dela e balancei a cabeça.

Guardei meu caderno e lápis na mochila peguei minha mala grande e subi as escadas.No quarto comecei a pegar minhas sandálias,sapatos e meu all-star vermelho,algumas roupas de dentro do guarda roupa e coloquei tudo na mala.Peguei meu celular e verifiquei se tinha alguma mensagem.Não havia nenhuma desliguei o e o coloquei no bolso.

Quando terminei de ajeitar tudo e meu quarto também eram 16:40.Passei o restante das horas finais da tarde junto com Regina.Ela havia feito tudo o que faltava na casa e já estava pronta para sair.Não sabia o que seria dela agora,mas esperava que ela conseguisse outro emprego.Aquele momento foi mais para descontrairmos e passarmos juntas afinal estava perto de nos desperdirmos.Conversamos muito e até rimos para nos distrair da tensão e tristeza.

A noite eu já estava arrumada somente esperando meus tios virem me pegar.Um carro buzinou e eu corri para abrir a porta.O que vi foi um carro preto com os vidros levantados.O vidro da frente abaixou e vi uma mulher branca de cabelos loiros.No seu rosto tinha maquiagem.Ela sorriu me olhando e saiu do carro.Continuei parada no mesmo lugar.

-Como é bom te ver minha sobrinha-ela andou até mim com elegância.Cada passo que ela dava transmitia segurança.Minha tia era muito bonita.Sua sandália de salto alto a fazia ser mais elegante.Ela usava uma roupa colada ao corpo.

-Oi tia-sorri sem saber o que dizer.

Regina apareceu na porta e ficou atrás de mim.

-Olá-ela falou sorrindo para Carmem-Finalmente conheci a sua tia Bianca.Ela é muito bonita e olha esse carro filha-sussurrou só para mim.

-Oi-estendeu sua mão e a apertei logo depois Regina também apertou-Nossa o trânsito aqui é tão diferente de lá onde moramos.Ainda estou triste por tudo Bianca,mas vamos juntos superar.

Minha tia falava normalmente comigo como se tivéssemos intimidade.

-Temos que ir logo,porque teremos uma viagem novamente.

Olhei para Regina e a abracei forte enquanto a agradecia mais uma vez por tudo que ela fez por mim.Peguei minhas duas malas uma de rodinha e a outra sem e fui até o carro.Um homem saiu do carro e me ajudou com as malas.Não o chamei de tio,mas eu sabia que era ele.Meu tio também era alto,cabelo preto,pele branca e olhos azuis.Minha tia tinha olhos pretos.

Entrei no carro e acenei para Regina.Ela sorriu,acenou e colocou a mão na boca prestes a chorar.Quando olhei para o lado me assustei ao me deparar com uma menina muito branca de cabelo castanho escuro.Ela sorriu pra mim exibindo suas covinhas.

-É tão bom te conhecer-ela agitou as mãos-Sou Natasha prazer.

-Na-Natasha?-perguntei sem entender nada.

Meus tios não tinham filhos.Se tivessem eu havia visto no dia que fomos os visitar.Quem era aquela menina?

-Se controle Natasha.Eu disse que um dia você conheceria sua prima então agora aí está ela-tia Carmem disse se virando para nos olhar.

Prima? Mas como assim? Eu não tinta nenhuma prima...ou tinha?

-Vocês tem uma filha?-perguntei desentendida.

O casal se entreolhou e meu tio sem falar uma palavra ligou o carro.Natasha continuou parada e percebi que ela tentava não me olhar por isso se distraia mexendo em sua saia.

-Vamos lá amor-minha tia disse enquanto colocava o cinto.

Abri a boca e a fechei rapidamente,porque sabia que me ignorariam de novo.Encostei a cabeça na janela e o carro começou a andar.Fechei meus olhos suspirando e quando os abri vi que estávamos próximo a padaria.Meu olhar se direcionou para um canto do lado esquerdo onde havia umas crianças brincando de pular corda.No canto esquerdo havia uma coisa que mais parecia uma pessoa parada.

A coisa usava um capuz preto que lhe cobria o rosto.Enquanto o carro andava se distanciando da coisa eu vi rapidamente ela levantar a cabeça e olhar para o carro.Meu coração quase saiu pela boca ao ver que era uma pessoa mais parecia um homem.A distância não me permitia ver direito,mas eu me virei para trás e percebi que ele sorria enquanto acenava para quem quer que fosse dentro daquele carro.

Mais um capítulo para vocês.Me desculpem pela demora,mas eu estava ocupada esses dias.Espero que gostem deste capítulo e não se esqueçam de votar.Dêem sua estrelinha e comentem o que estão achando. Bejos até o próximo capítulo que vai ser semana que vem.