01 - O caso mais difícil
Nova York, 02 de maio de 2018
Tenho um trabalho muito particular, eu sei... Levo anos dedicando a minha vida a juntar corações solitários, assessorando pessoas tímidas que se achavam incapazes de conquistar alguém. A maioria das vezes, com sucesso. Milhares de casais felizes e satisfeitos. E quando não dá certo, é porque não tiveram paciência e decidiram desistir antes do tempo.
É como eu digo para os meus clientes: — Não existem amores impossíveis. Se realmente é amor, é possível. Eu garanto isso!
É claro que falar sempre foi muito mais fácil que fazer.
Meu nome é Anahí, mas me chamam de "Miss Heart". Eu vou rumo a uma ilha grega, ao caso mais difícil da minha vida.
Uma semana atrás...
O som gritante do telefone tocando impaciente me despertou. Meus olhos ainda estavam pesados em consequência da noite anterior "agitada" onde apenas dois copos de gin não foram suficientes. Deixei que tocasse por mais alguns minutos até cair em si e perceber que era meu telefone particular de trabalho. saltando da cama, cambaleei de olhos fechados pelo corredor, apenas seguindo o som.
— Olá? — falei depois de um longo bocejo.
— Quem é você? — a voz feminina e estridente do outro lado da linha tirou todo o restante de sono que pudesse haver em mim — James! — ela tornou a gritar.
Minhas pupilas ficaram contraídas e enfim consegui ver as horas em um relógio de parede. Eram oito e meia da manhã, mas esta foi a parte mais simples da situação toda, a pior foi não reconhecer o lugar onde eu estava, até um corpo estranho de pouca roupa surgir. Ele devia ser o tal do James que a mulher tanta repetia ao telefone.
"Onde você veio parar, Anahí!"
— Rose, me desculpe — disse pegando o telefone da minha mão e pondo ao seu ouvido — Mãe, já pedi para não ligar tão cedo!
Eu estava confusa. Aquele nome devia ser mais um dos falsos que eu sempre falo. Olhei para mim mesma e foi deprimente estar só de roupas intimas na frente daquele desconhecido. Obviamente ele teria visto bem mais que isso. porém, o resto de vergonha que me sobrou eu usei para perguntar onde era o banheiro. Ainda com o telefone nas mãos, ele apontou na direção de um corredor e eu segui.
Na frente do espelho o resto da maquiagem foi retirado só com água e sabão. Prendi o cabelo em um coque, voltei ao quarto, juntei minhas roupas do chão e as vesti. Chequei a bolsa o celular e os documentos. Tudo no lugar. Estava prestes a sair quando o bonitão de cueca voltou. Me fiz um breve elogio interno por mesmo estando bêbada ter sempre um bom gosto para homens.
— Queria pedir desculpa mais uma vez.
— Está tudo bem. Fui eu quem atendeu um telefone que não me pertencia.
— Você já está de saída? — perguntou observando meu estado.
— Sim, James.
Pelo menos a mulher me ajudou a saber o nome dele, e evitar uma gafe.
— Ontem foi muito divertido, Rose. Eu posso levá-la até sua casa?
— Não é necessário, estou bem apressada. Poe ainda não se alimentou e eu sou a única que cuida dele.
— Poe? É seu filho?
— O próprio — respondi com um sorriso simpático.
Ele me acompanhou até a porta e antes de sair completamente dali dei uma longa olhada nele pausando no seu rosto. Me reaproximei e arranquei um beijo bem demorado, atrevido. Nossas línguas brincaram, ainda íntimas, por alguns segundos.
Me afastei visualizando uma expressão surpresa e satisfeita, até pegar o taxi e sair sem olhar para trás.
No caminho respondi algumas mensagens de clientes, chequei alguns e-mails e por último dei as coordenadas para a minha assistente, Maite, até ela me ligar.
— Anahí, temos um cliente.
— Bom dia para você também, Maite.
— Desculpem mas hoje está bem agitado, o cliente insiste que é urgente e que você precisa ir no fim da semana até ele.
— Tudo bem, e onde seria o encontro? Em algum restaurante próximo da Times Square? Eles são sempre previsíveis.
— Times Square? Você Viu as referências dele? Amiga, é na Grécia.
— Grécia? — confesso que foi impactante.
Nem um cliente me procurou de tão longe antes.
— Vamos lá, é um lugar lindo, e você está mesmo precisando de férias. Quem sabe depois de terminar você fique por mais um tempo e aproveita o lugar.
— Mas e o Poe?
— Eu posso cuidar dele.
— Maite! Você sabe que ele não consegue dormir muitos dias longe de mim.
— Então leva, mas se apresse! Estão pagando muito bem e suas passagens até já foram compradas.
— Certo. Vou me organizar.
— Já fiz o check-in, você viaja na sexta. Descanse bem e tenha muita energia para a Grécia!
Ela desligou o telefone em tom de comemoração, e eu dei um sorriso bobo. No fundo sabia que Maite estava orgulhosa de mim. Ela estava comigo desde quando eu consegui junta-la com o seu esposo Christian na faculdade de relações públicas. Vimos ali que eu tinha jeito profissional para a coisa.
Alguém de tão longe nos contratar significava que os serviços da Miss Heart estavam gerando bons frutos, e agora internacionais.
Passei a semana deixando as pendências em ordem, fiz as malas, organizei tudo e parti para o aeroporto. Quando o trabalho me chamava, eu não pensava muito sobre. Maite organizava os detalhes, e eu ia aos destinos.
O voou durou algumas horas, nesse intervalo de tempo procurei me distrair com algumas músicas e games de celular. Eu era muito trivial nos detalhes.
Quando chegamos a ilha havia um homem a minha espera no aeroporto com uma placa na mão escrito meu nome. Sem muita conversa peguei o Poe e nos dirigimos ao tal destino. O homem de poucas palavras dirigiu até entrar por um portão alto, típico de casas luxuosas iguais às de seriados de televisão. Eu não me considerava uma mulher muito rica, mas também não era tão pobre assim. Tinha um carro do ano, um bom apartamento no centro e um valor alto em dinheiro na conta. O suficiente. Mas aquele lugar não. Parecia um cenário rústico chique tirado de um filme de época.
Fui deixada na frente da casa e realmente comprovei minhas conclusões. Aquele lugar era incrível.
— Nosso cliente, o Sr. Alfonso, marcou para nos receber aqui mesmo. O que você acha do lugar, Poe?
O gato me encarou por alguns segundo, miando.
Eu tinha o habito incomum de conversar com ele, sempre, mesmo na frente de algumas pessoas. Com a vida corrida e uma exigência em ser confidencial, eu precisava desabafar com alguém que realmente guardasse segredos. E o gato se encaixou perfeitamente no papel.
— Concordo cem por cento, é o local ideal para um romance - continuei.
— Bem vinda a ilha, Miss Heart!
O homem de trajes formais e leves grisalhos espalhados pelos escuros cabelos me cumprimentou com muita simpatia. Entregando um buquê de rosas vermelhas. Meus olhos se abriram envergonhados.
— Essas flores são pra mim? Muito obrigada! Bonito detalhe.
— Pode entrar, por favor.
Caminhamos para dentro da casa parando na sala de estar. Era ainda maior do que eu podia imaginar. Mas me apeguei a um detalhe... Alfonso era muito gentil, e isso era estranho. Porque precisaria dos meus serviços?
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Alfonso...
Ele abriu uma expressão assustada e logo me encarou confuso.
— Oh, não. Acho que foi um mal-entendido. Eu não sou o Sr. Alfonso. — Justificou — Sou Cole, seu assistente. O Sr. Alfonso...é ele.
Sua ultima frase foi dita com o surgimento do responsável pelo nome. Alfonso era magro, alto, usava óculos e carregava uma pilha de livro nas mãos. Me perguntei para onde ele iria com aqueles livros.
— Bo...om dia, senho..rita.
— 'Boa noite' acho que quis dizer — corrigi
— Bem... eu... — ele travou e começou a gaguejar descontroladamente. — Até mais.
Alfonso se virou e foi na outra direção.
— Me desculpe um instante, já volto.
Cole saiu atrás dele e ambos sumiram da minha vista.
— Poe, se esse for o Alfonso, teremos que usar o método completo. — O gato mais uma vez miou. — O que você disse? Eu fiz um juramento por meus clientes. Como vamos desistir da missão e voltar para casa?
Um homem completamente inseguro que não conseguia ao menos manter a fala intacta "belo desafio", mas eu amava desafios, e vencer aquele já me deixava animada.
— Eu duvido que tenha como sair da ilha uma hora dessas — a voz da mulher de face aborrecida me assustou — Mas posso conseguir um voou para amanhã bem cedo.
— Era apenas uma brincadeira... Prazer, meu nome é Anahí.
— Meu nome é Medge, sou tutora do jovem Alfonso, e não estou brincando.
Nós nos encaramos por alguns segundos, silenciosas. Eu estava mesmo em pânico. Que lugar era aquele ?
— Acho que já conheceu Medge — e Cole me salva mais uma vez — Venha comigo senhorita, vou levá-la até seu quarto.
— Só um minuto Cole, você já falou as regras desta casa? — interrompeu a mulher.
— As regras...?
****
Até chegar ao meu quarto repassei tudo o que Medge disse:
Não tocar nele, não olhar nos olhos dele, não o chamar pelo seu nome...
— Como vou trabalhar assim?
Cole me olhou com a mesma simpatia e respondeu sorridente.
— Não ligue para isso. A Medge é um pouco superprotetora.
— Superprotetora é pouco — contrariei
— Fique à vontade se quiser conhecer a casa — ele apenas olhou firmemente para um lugar antes de me alertar — Mas não abra aquela porta azul. Ela não deve ser aberta de forma alguma!
— Certo.
— Este aqui será seu quarto. Amanhã trarei seu café da manhã
A tal porta azul estava bem próxima do quarto onde ficaria hospedada. Isso sim era um teste de autocontrole.
— Pode deixar. Obrigada por tudo.
— Não tem de que — ele me cumprimentou e ao dar dois curtos passos para ir, voltou o corpo e me olhou novamente — Sabe de uma coisa, Anahí? Percebi que não perguntou sobre a porta azul.
— Ah, sim.
— Valorizo sua discrição. Ficou claro que é uma profissional impecável! Boa noite.
****
Dentro do quarto, andei de um lado ao outro, ainda assimilando um pouco de tudo o que aconteceu ali. Olhando para o Poe, repensei se realmente seria uma boa ideia.
Aquele era o melhor pagamento por um trabalho antes, mas meu sinal de alerta estava ligado. Algo ali não me deixava com um bom pressentimento. Meus pensamentos foram interrompidos com o som que veio do lado de fora. Olhei para os lados, mas o Poe não estava mais lá. Correndo para fora do quarto segui o barulho e fui atraída para a frente do tal cômodo da porta azul. Me recusei a entrar relembrando que seria aquela uma das primeiras regras da casa. Mas o Poe estava lá, derrubando coisas. Pensei que Medge ia ficar furiosa de todas as meneias, então decidi assumir o risco.
Assim que entrei, a primeira coisa que me deparei foi com a imagem daquele gato ingrato.
— Porque você tinha que entrar logo aqui?! Gato curioso!
Passado a ira, levantei a vista e fiquei terrificada com o lugar.
Aqui é algum tipo de santuário?
Era um quarto muito bonito, tinha cortinas no estilo imperial, paredes vermelhas, e em uma delas tinha vários quadros da mesma mulher de cabelos vermelhos, e olhos castanhos como mel. Muito bonita por sinal. Ao lado um manequim com um vestido dourado que parecia intacto, muito bonito, mas fora de moda.
Tudo ali era antigo, como a casa.
Sobre um aparador, vi uma taça com a marca de um batom rosa. Eu conhecia aquele tom.
Carmin nº 5 platinum. O batom mais caro da história! Imaginei que a mulher era dona do vestido e das fotos... me aproximei um pouco mais das fotografias para tentar reconhece-la, até que meus olhos se arregalaram.
Dulce Maria?
— Não pode ser! — Pensei angustiada — Alfonso quer conquistar a atriz mais famosa de todas?!
Fiquei assustada por algum tempo até meu senso de competitividade estalar.
— Muito bom Alfonso... você é um menino ambicioso.
Satisfeita, sai dali as pressas esperando não ser descoberta.
No corredor, me deparei com a Alfonso segurando Poe nos braços e vindo na minha direção. "esse gato tem um poder de teletransporte?"
— Senhorita Anahí.
— Alfonso!
— O que está fazendo aqui?
— Infiltrando-me na sua festa de halloween — disse com um sorriso divertido aterrorizada com o que ele vestia.
Por Deus, que roupa era aquela? Ele tinha quantos anos? Três?
— Do que está falando? Do meu pijama?
— Não se preocupe. Com uma mudança de vestimenta esta tudo resolvido.
— Senhorita! Quanta indiscrição para ser a sobrinha de Cole...
Fiquei sem sobriedade para responder aquela afirmação.
Sobrinha do Cole? O que estava acontecendo ali?
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Olá meus amores!!
Essa história é nova e está sendo testada por aqui. Disponibilizei o primeiro capítulo e espero a avaliação de vocês! Se aprovarem, ela será postada por completo, assim como as outras que estão pendentes!! Agora é de vez 👏🏻👏🏻👏🏻
E então, o que dizem ??
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