04
QUATRO.
Seja a mudança ou contribua com a mediocridade
Dois dias haviam se passado, mas Matteo ainda estava atormentado pelos eventos traumáticos na lanchonete e pelo ataque de pânico que enfrentou naquele momento. Sentia uma mistura de vergonha e raiva por ter se permitido ficar vulnerável.
Ela tentou afastar os pensamentos, pegando uma flecha e apoiando-a em seu arco. Sabia que estava sozinho naquele lugar tranquilo, exceto pelo sua cadela que também estava ali. Mesmo se alguém se aproximasse, poderia ouvir a pessoa antes que ela chegasse perto. Ele sentia a energia percorrendo suas veias, criando uma sensação incrivelmente boa. Logo, um brilho fraquíssimo preencheu sua visão, transferindo a energia para a flecha. Posicionou-a corretamente e, em seguida, soltou a corda do acordo, vendo um feixe de luz atravessar o campo e acertar o alvo feito de palha.
Essa era a rotina que ele seguia quando precisava clarear a mente, acordando cedo e dirigindo-se aos fundos da casa, onde encontrava um extenso jardim à sua espera. O esporte era uma ótima opção para isso e sempre o ajudava a se sentir em paz.
O vento suave soprou seus cabelos, mas mesmo assim, os pensamentos insistiam em voltar, como se o frio do dia estivesse trazendo de volta todas as lembranças que ele desejava esquecer.
As palavras sussurradas por Matthias, pedindo para ele respirar e fazendo perguntas aleatórias, ecoavam em sua mente. Matteo o seguiu prontamente, desejando desesperadamente recuperar a respiração e parar de tremer, tentando evitar que as lembranças de seu passado doloroso tomassem conta. A morte de seus pais, a notícia de que era órfão e cego, o pesadelo de ser entregue aos tios como tutela, tudo parecia insuportável.
A companhia de Scooter tornou a situação um pouco mais suportável, mas logo depois, teve que aprender a lidar com sua cegueira e descobrir como controlar seus poderes. Em momentos difíceis, a existência de seus poderes parecia ser uma pequena faísca de esperança. Por que ele os teria em vão? Por que os deuses o abençoariam dessa forma?
Por nada.
Ao descobrir que havia outras pessoas com poderes como os dele, o mundo que ele havia construído como um porto seguro desmoronou. Uma incerteza tomou conta dele, preenchendo-o com um vazio que logo foi substituído pela insegurança. Será que ele era realmente especial? Será que aqueles poderes eram uma bênção ou uma maldição? Sentia-se apenas um simples menino órfão e cego, em comparação com outros que podiam manipular elementos e a própria realidade. Uma garota até tinha o poder de roubar sua habilidade e ser melhor do que ele. Ele questionava sua identidade: quem era ele, afinal, agora que não era o único com poderes?
Ao ouvir os passos de Manuela, a governanta da casa, ele escondeu seus poderes rapidamente.
— O café da manhã está pronto, senhor. — disse Manuela.
Matteo acenou e agradeceu, deixando o arco em cima da mesa e chamando o cachorro, que prontamente veio ao seu lado. Subiu as escadas, tomou um banho rápido e desceu novamente, dirigindo-se à sala de jantar.
Assim que entrou no local, foi recebido com um murmúrio coletivo de "bom dia" de sua tia e tio. Ele sabia que era apenas uma saudação obrigatória e não porque realmente queriam dizer aquilo. Quando finalmente começaram a comer, o silêncio tomou conta do ambiente. Não era desconfortável, pois ele estava acostumado, mas era triste.
Nada de especial.
Nada.
Assim como ele.
⏭️
Na casa dos Hatfields, a atmosfera era tensa durante o café da manhã, e nem mesmo uma conversa casual poderia aliviar o desconforto. A família já havia tentado, mas sem sucesso.
— Filho, pode pedir à sua irmã para me passar o pote de açúcar? — Esperanza solicitou a Kieran em um tom de voz levemente afiado e neutro.
— Desculpe, eu sei que cheguei tarde para sua festa. — Victoire suspirou. — Sinto muito mesmo.
Sua mãe a ignorou, continuando a agir como se ela não existisse.
— Filho, peça para sua irmã não falar de boca cheia. — a mulher pediu com a mesma voz.
Victoire revirou os olhos tão forte que sentiu o impacto.
Três dias atrás, Victoire acabou se atrasando para a festa de aniversário de sua mãe devido ao ataque repentino. Quando finalmente chegou, sua mãe não ficou nada satisfeita com o atraso. Para piorar as coisas, Helena Vassilopoulos, de quem Victoire não gosta, também apareceu na festa. A falta de controle de Victoire sobre seu desgosto pela presença de Helena irritou Esperanza, que acabou repreendendo-a. Ficava claro pelo olhar de decepção que Esperanza estava muito descontente com as atitudes de sua filha. No fim da festa, elas brigaram durante todo o caminho de volta para casa.
No dia seguinte, a mãe de Victoire continuou a tratá-la com indiferença e silêncio, o que era uma tática comum dela para lidar com situações conflituosas. Victoire se lembrava de que, no passado, tentou diversas vezes provocar uma reação, mas agora apenas deixava fluir, pois sabia que não adiantaria.
Victoire desviou o olhar para o relógio de parede, que marcava dez para as nove. Ela se levantou rapidamente, lembrando-se do compromisso que tinha naquele dia.
— Vou sair. — ela deu algumas mordidas rápidas no sanduíche e bebeu o suco de laranja natural de um gole só. Em seguida, empurrou a cadeira para trás. — Até mais.
— Não se esqueça do almoço com os Silva hoje. É um jantar importante. — Theron lembrou à garota mais uma vez.
Ela soltou o ar pela boca e assentiu com uma veia quase saltando de irritação. Desde o ocorrido com sua mãe, seu pai sempre a lembrava de qualquer compromisso a todo momento.
— Onde vai? Posso ir junto? — Wylan perguntou curioso.
— Ela vai caçar pobres crianças para comer amanhã no seu café da manhã. — Kiera respondeu em tom divertido.
Wylan arregalou os olhos, provocando risadas genuínas dos gêmeos.
— Vou encontrar uma amiga e não, você não pode ir junto. Desculpe, amigo. — Victoire bagunçou seus cabelos loiros e se afastou do cômodo.
Em seguida, ela caminhou pela casa e subiu as escadas até seu quarto. Assim que chegou lá, pegou o celular da tomada, desbloqueou a tela e enviou uma mensagem para Amanda: "Tudo preparado?" Sem esperar por uma resposta, ela começou a se trocar, vestindo uma blusa preta básica e combinando com uma jaqueta da mesma cor. Completou o visual com uma legging e uma bota de cano alto, ambas também pretas, além de seus brincos de caveira e várias pulseiras. Quando verificou o celular, encontrou a resposta de Amanda: "Não sou de brincar em serviço."
Um sorriso travesso surgiu no rosto da garota enquanto sua mente maquinava os planos que tinha preparado para o dia, esperando que tudo desse certo.
⏭️
Amanda caminhava pelas ruas movimentadas do distrito de Manhattan, apreciando a cena animada ao seu redor. Era uma bela manhã de sábado, com pessoas andando de bicicleta, casais namorando e crianças brincando alegremente.
Sua mãe havia lhe pedido para comprar algumas coisas no supermercado e sugeriu que ela levasse seu irmão junto. No entanto, Amanda preferiu ir sozinha e lembrou-se da forma como Joshua a olhou quando disse isso. Sua mãe compreendeu sua decisão, mas seu irmão não parecia ter ficado tão satisfeito.
Ao dobrar a esquina, ela se deparou com uma variedade de lojas diferentes. Mais adiante, havia três quadras, uma de vôlei, outra de basquete e outra de futebol. Ela parou para observar as pessoas jogando, e de repente, uma bola de basquete quicou em sua frente.
Por instinto, Amanda pegou a bola e começou a driblar com maestria. O basquete era seu esporte favorito, tanto para jogar quanto para assistir, sendo um de seus passatempos prediletos.
Uma voz a fez erguer o rosto, e ela se deparou com um garoto de dreads no cabelo e olhos caramelos.
— Você tem jeito. — ele observou. — Quer jogar com a gente? — o garoto apontou para a quadra atrás dele, onde havia sete garotos e garotas de diferentes etnias, mas a maioria igualmente alto.
Amanda pensou por alguns segundos, indecisa. Sabia que precisava comprar coisas para sua mãe, mas também estava tentada a jogar um pouco. Não seria a primeira vez que se juntaria a um grupo de desconhecidos para uma partida de basquete; eles pareciam inofensivos e era cedo ainda. Talvez pudesse jogar uma ou duas partidas e voltar para casa antes das dez horas.
Depois de decidir, Amanda sorriu. — Sim.
— Beleza, então você é do nosso time — disse o garoto, caminhando em direção à grade. — Aliás, meu nome é Miguel.
— Amanda. Contei oito pessoas, contando com você. Vamos jogar com número ímpar?
— Não, o outro cara foi tomar água.
Enquanto atravessavam a grade para entrar na quadra de basquete, Amanda balançou a cabeça. Miguel se aproximou de cinco garotos que conversavam num canto oposto, enquanto os outros quatro pareciam conspirar algo devido às suas feições sérias. Amanda lutou para não rir.
— Esse é o Juan, o Blake e o Lupe. — apontou Miguel para cada um, respectivamente. A primeira coisa que Amanda notou neles foram os cabelos cacheados bem definidos de Juan, os olhos verdes como esmeralda de Blake e a bandana vermelha e preta na cabeça de Lupe.
— Opa, ela vai jogar com a gente? — perguntou Juan.
— Sim.
— Certo. Estávamos pensando...? — Juan procurou o olhar da garota ruiva.
— Amanda.
— Certo, Amanda. O outro time tem um cara muito ágil, e também têm o Alex, que tem uma mente estratégica incrível e passes precisos... Então, em que você se considera boa?
— Drible e arremessos de longa distância.
— Beleza, você vai ser nossa ala armadora, ok?
— Tudo bem por mim.
— Estávamos pensando em fazer uma defesa coletiva para um deles e decidindo quem deveria ficar na marcação do outro. — continuou Juan.
— Você poderia ficar na defesa coletiva junto com a Lupe, e eu na marcação. O Blake continua responsável pelo rebote e enterrada. — disse Miguel.
— Ótimo. Todo mundo de acordo? — Juan perguntou.
Eles responderam em uníssono com um "sim" e logo se afastaram para assumir suas respectivas funções.
Enquanto Amanda observava o outro time se preparando para a partida, percebeu que não conhecia nenhuma daquelas pessoas. Sabia que precisaria estudá-las durante o jogo para reconhecer suas fraquezas e estratégias de jogo. Seu olhar passou por cada um deles: dois meninos de cabelos ruivos que pareciam ser irmãos, uma garota de cabelos castanhos ondulados rindo do que as duas meninas loiras contavam. Todos estavam vestidos de forma confortável e leve, com roupas semelhantes à de sua equipe.
De repente, algo passou por sua visão periférica, e seus pelos se arrepiaram instantaneamente, como se ela soubesse quem era antes mesmo de ver claramente. Quando virou o rosto, seu coração acelerou e precisou controlar a reação para que seu queixo não caísse. Era Knox. Knox estava ali. Ele era um dos jogadores? Oh meu Deus.
Amanda tentou desviar o olhar, mas parecia impossível deixar de encará-lo. Ele era como um ímã e ela, algo metálico, desejando urgentemente se aproximar enquanto o observava caminhar até o seu time se posicionar. Seu corpo suado brilhava, os cabelos curtos e rebeldes colando na testa. Ele vestia um moletom preto sobre uma blusa branca, com uma calça de moletom igualmente preta e tênis que combinavam com a blusa branca. Ele era simplesmente lindo... Espera, o que ela estava pensando? Sobre o quanto queria estar perto dele?
Imediatamente, suas bochechas ficaram vermelhas.
— Ótimo, agora que todos estão aqui, vamos começar! — Miguel anunciou, mas logo se virou para Amanda. — Ganha quem fizer dez pontos primeiro. E aqueles do outro time são Anthony, Alex, Knox, Isabel e Sofia, respectivamente.
Blake e Sofia foram para o centro, e após tirarem par ou ímpar, Matheus ficou responsável por jogar a bola para o alto no "três", e quando finalmente chegaram a três, Sofia conseguiu ficar com a posse, sorrindo. O jogo finalmente começou.
Miguel, Juan e Lupe seguiram para suas posições, mas mesmo assim a bola foi parar nas mãos de Alax. Ele rapidamente passou a bola para Isabel, do time deles, que, de alguma forma, acabou entregando-a a Knox. Amanda tentou não observar Knox mais do que o necessário, mas não pôde deixar de assistir quando ele se aproximou da cesta, saltou e... Blake conseguiu bloquear o arremesso, pegando a bola. Em seguida, passou para Lupe, que a entregou para Miguel, que, por fim, passou para Amanda. Mesmo com Anthony em sua frente, Amanda usou o corpo para bloquear seu bloqueio e, na parte da linha interna da quadra, arremessou a bola em direção à cesta, marcando 2 pontos.
Seu time comemorou, e Amanda sorriu feliz por ter contribuído para o time e, especialmente, embora não quisesse admitir, por torcer silenciosamente para que Knox a admirasse.
Eles voltaram ao jogo, e dessa vez, a velocidade de Knox, a estratégia de jogo de Alex e a resistência de Sofia conseguiram levar a melhor. Knox então fez 1 ponto para seu time.
O jogo continuou, e de repente ela viu o time dela com 7 pontos e o time de Knox com 10, encerrando o jogo. Amanda estava ofegante e grudenta, mas mesmo com apenas dez pontos para encerrar a partida, pareceu demorar para terminar.
— Jogou bem, Amanda. — elogiou Miguel, aproximando-se dela.
— Valeu. — agradeceu, observando discretamente Knox, que cumprimentava cada colega de equipe com soquinhos. Logo percebeu que ele estava se despedindo.
Sentiu o estômago afundar em decepção, mas tentou não ligar para isso.
— Vai querer jogar mais uma vez? — perguntou Miguel, tirando-a dos pensamentos.
Ela o encarou e e deu um sorriso esperto. — Só mais uma vez. Dessa vez vou fazer vocês comerem poeira.
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Do outro lado do celular, Hadassah ouviu a voz preocupada de sua mãe.
— Você está comendo certo, filha? — perguntou sua mãe, fazendo-a sorrir involuntariamente enquanto brincava com as páginas do livro que repousava sobre a mesa da Biblioteca Nacional.
— Estou bem, mãe. — respondeu Hadassah em um sussurro, já havia explicado para sua mãe onde estava.
— Senti sua falta.
— Eu passo aí todo dia.
— Não é a mesma coisa.
Hadassah sabia que não era a mesma coisa, e ela também sentia falta de sua mãe, mas precisava daquele mês longe para respirar e se afastar das sombras de seu pai e tio. Na companhia de seu amigo, o tempo foi como uma pausa revigorante. E na próxima semana, ela finalmente poderia voltar para casa. Foi a melhor decisão.
Ela suspirou e se ajeitou na cadeira.
— Não, não é a mesma coisa. — admitiu, sem querer explicar muito.
— Não entendo por que você foi passar um mês aí.
— Eu... Você permitiu.
— Claro, estava na manicure no momento. Não tive muito tempo para pensar.
— Como estão as coisas em casa? — mudou rapidamente de assunto para evitar mais perguntas.
— Sem graça sem você.
Hadassah riu para encobrir a culpa que surgia em seu peito.
Ela ergueu o rosto e observou ao redor; o fluxo de pessoas na biblioteca estava diminuindo. Seus olhos involuntariamente buscaram o relógio na parede e percebeu que era quase a hora que tinha combinado para Knox buscá-la.
— Preciso ir, mãe. — avisou.
— Tudo bem, meu amor. Te amo.
— Também te amo.
Após desligar a chamada, Hadassah separou os livros que queria e deixou alguns para pegar em outra hora. Enquanto caminhava em direção à estante, com a intenção de devolver os livros que pegaria mais tarde, viu uma menina lutando para alcançar um livro e, depois de confirmar que estavam sozinhas naquele corredor, sem olhares curiosos ao redor, prontamente a ajudou usando sua magia para levantá-la um pouco. A menina estava tão concentrada que nem percebeu a ajuda, a Hadassah pegou os livros que levaria, levando-os até a balconista para registrar. Em seguida, saiu do prédio de três andares.
Enquanto esperava pelo carro do amigo, seus pensamentos vagaram. Ela refletiu sobre quanto tempo poderia continuar fugindo daquela forma, pensando nas tentativas que teve no passado e no impacto que sua partida poderia causar nas pessoas próximas, especialmente Knox. Sua relação com sua mãe era boa, mas a conexão que construiu com Knox ao longo dos anos era especial. Uma das razões de suas hesitações sempre foi ele, pois sabia que ele se culparia se algo acontecesse, e não queria sobrecarregá-los com seus problemas. Knox já carregava muitas bagagens e não precisava de mais peso.
No entanto, admitia que havia momentos difíceis em que tudo parecia desafiador. Fechou os olhos e suspirou.
A vida era assim. Alguns dias eram melhores do que outros, mas nos dias sombrios...
Uma buzina familiar a despertou de seus pensamentos. Era Knox. Hadassah caminhou em direção ao carro estacionado na calçada e abriu a porta.
— Oi. — cumprimentou, ajeitando-se no banco e colocando os cincos livros em cima do colo, em seguida, colocou o cinto.
— Como foi? — perguntou Knox, pulando os cumprimentos enquanto se afastava da calçada.
— Um verdadeiro afrodisíaco. — responde Hadassah, com um toque de humor em sua voz, mas sem deixar de ser sincera. Ela adorava ler.
Hadassah observou os fios pretos grudados na testa de Knox e perguntou:
— Por que está suado?
Knox deu de ombros como se não fosse nada demais, parando o carro devido ao semáforo vermelho. — Alguns meninos de Upper West Side me puxaram para jogar basquete.
— E você jogou? — Hadassah não conseguiu esconder sua surpresa.
Knox respondeu tranquilamente: — Por que não?
Hadassah riu. — Me esqueci que você gosta de fazer isso.
Knox ergueu uma sobrancelha, questionando o motivo.
— Ser imprevisível. — Hadassah explicou.
Knox deu um sorriso quase imperceptível. — Preciso manter minha performance de garoto mau, não concorda?
Ela riu.
— E como foi o jogo?
— Eles deram trabalho, principalmente quando uma ruiva chegou.
— Então perderam?
— Não. — respondeu em tom de ego inflado, como o antigo Knox. Hadassah observou. Ela gostava e não gostava do antigo Knox.
Ele era arrogante, metido, gostava de de mostrar. Mas também, em contrapartida, era mais aberto, mais comunicativo, se expressava muito mais, era quase impossível não vê-lo sorrindo ou fazendo alguma piada. Parecia realmente que tinha o mundo em mãos.
Mas então as férias de verão chegaram e seu mundo acabou, e ele mudou.
Hadassah sabia o porquê. Não era apenas porque sua família ou guarda foram para seus avós, mas sim porque ele se culpava. Ele nunca disse diretamente, mas ela percebeu, no comportamento, nas entrelinhas não ditas.
Knox parecia bem. Mas Hadassah sabia que ele não estava, que tudo não passava de uma casca para se proteger e não sentir. Não tinha como estar bem quando claramente ele não permitia sentir a dor.
O coração da garota doía por ele.
— Tem certeza que quer ir à festa hoje? — Knox perguntou, acelerando o carro.
— Sim. Quero me livrar logo dessa atenção toda. Se eu não for, vão ficar ainda mais falando sobre mim. — Hadassah respondeu, olhando para fora da janela com um ar abatido.
— Foda-se o que os outros pensam, Hadassah. — Knox retrucou.
Os ombros dela caíram, e ela desviou o olhar para a janela, parecendo triste. — Você sabe que não é tão fácil para mim quanto é para você. Queria que fosse, mas não é.
Alguns minutos se passaram em silêncio até que Knox falou novamente.
— Estarei lá.
— Não preciso de uma babá.
— Ótimo, pois estou indo como seu amigo. — ele afirmou, e isso significou muito para Hadassah, sabendo que Knox não era fã de festas.
⏯️
Após passar quase uma hora no mercado, enfrentando grandes filas e tendo que calcular cada centavo devido ao pouco dinheiro disponível, Lilith estava se sentindo derrotada e frustrada com a sensação de ter comprado pouco, mas gasto muito.
No entanto, algo mais a incomodava à medida que avançava pelas ruas de Brooklyn. Ela não conseguia tirar de cabeça o fato de que Matteo a deixou na porta de sua porta de sua casa sem dizer uma palavra. Ele não fez nenhum comentário quando ela lhe deu o endereço, apenas instruiu seu motorista a levá-los até lá primeiro. Simples assim.
Ela sabia que estava criando um grande caso sobre isso, mas quando as pessoas passam a vida inteira achando você estranha, é difícil não esperar o pior. Sempre esperava o pior para se proteger de possíveis mágoas. O estranho era o pior que ela esperava não aconteceu durante aquela viagem de 40 minutos com Matteo. E isso a incomodava. O silêncio entre eles durante todo o trajeto foi estranhamente confortável, um silêncio necessário. Chegaram ao destino e se despediram educadamente, sem complicações ou mal-entedidos. Apenas dois colegas ajudando um ao outro.
Lilith parou e esperou o sinal ficar vermelho, mas logo percebeu que nenhum carro estava vindo. Então, atravessou a rua. Ao dobrar a esquina, deparou-se com várias pessoas se reunindo, brincando e conversando animadamente. Grupos de crianças se divertindo na rua, enquanto mães conversavam na calçada. Era uma agitação agradável e reconfortante.
A garota desviou das pessoas enquanto andava pelo bairro, mas ao virar a esquina, se viu sozinha em sua rua vazia. Ao continuar andando, ouviu barulhos vindos de um beco próximo. Quando passou por ele, deparou-se com um grupo de garotos que estavam cometendo um ato de bullying, espancando e agredindo um deles.
Lilith hesitou por um segundo, se questionando se deveria fazer algo e o que poderia fazer diante dessa situação. Ela observava o sangue escorrendo da boca do garoto que estava sendo atacado. Os agressores não pareciam ter percebido sua presença, ou simplesmente não se importavam com a possibilidade de alguém interferir. No distrito em que estavam, episódios como esse eram comuns, e muitas pessoas testemunhavam vítimas de abuso físico ou psicológico, independente de serem bebês, crianças, adolescentes, mulheres ou homens. No entanto, poucas tomavam alguma atitude para ajudar.
— Socorro, socorro! — o garoto agredido pediu desesperado.
Um dos garotos riu, zombando: — Ninguém vai te ajudar, seu estrume. — em seguida, desferiu mais um chute. — Alguém tem um isqueiro? Acabei de ter uma ideia.
Todos pareciam ser alguns anos mais jovens que ela. Lilith observou o grupo levantar o garoto e percebeu que eles pretendiam queimá-lo com um isqueiro. O garoto começou a chorar e se debater ao ver o fogo se aproximar.
Lilith deu um passo em direção a eles, mas hesitou. O que deveria fazer? E se ela não conseguisse ajudar e apenas piorasse a situação? E se aquela ação trouxesse consequências graves para ela? Sua vida já não estava em um bom momento e ela temia que pudesse ficar ainda pior se virasse alvo da perseguição daqueles meninos. Além disso, havia o receio de que eles pudessem estar envolvidos em atividades criminosas mais perigosas.
Diante da cena angustiante, Lilith tomou uma decisão. Ela deu as costas para a cena de violência e se afastou, tentando bloquear os gritos de dor misturado com risadas.
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A manhã na confeitaria estava movimentada, e Matthias se mostrava ágil e gentil ao atender cada cliente que chegava. Ele sorria enquanto anotava os pedidos e entregava rapidamente as encomendas, sempre disposto a conversar brevemente com os clientes.
Com um sorriso amigável, Matthias se aproximou de uma jovem que aparentava ser um pouco mais velha do que ele. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, e ela vestia peças de inverno em tons neutros.
— Olá, o que a senhorita vai querer? — ele perguntou, preparado para anotar o pedido.
A jovem respondeu com um sorriso no rosto: — Vim buscar a encomenda em nome da minha avó Emma Smith.
— Ah sim, lembro da encomenda. Espere um segundo. — com agilidade, ele se dirigiu aos fundos da confeitaria para buscar as três caixas com a encomenda. Voltou equilibrando tudo cuidadosamente e as colocou em cima do balcão. — Vai ser em dinheiro ou cartão?
— Cartão.
— Tudo bem. — ele estendeu a maquininha para ela, e ela inseriu o cartão seguida da senha. Enquanto isso, ele comentou: — Sua avó é uma senhora simpática.
Ela deu uma risadinha. — Sim, ela é. Pronto, está pago.
— Quer ajuda? — ele apontou para as caixas que ela estava pronta para segurar.
— Gostaria muito.
Matthias perguntou a um funcionário próximo se ele conseguiria dar conta, pois ele ajudaria uma pessoa rapidinho. O funcionário assentiu, e Matthias saiu de trás do balcão para ajudar a moça. Não era a primeira vez que ele de oferecia para auxiliar um cliente a carregar os pedidos quando eram muito, e com certeza não seria a última. Ele pegou as duas caixas, e ela pegou a outra. A jovem o guiou para fora da confeitaria, e eles deram alguns passos na calçada até alcançarem o carro dela. Ele colocou as caixas no banco do passageiro, e ela agradeceu. Em seguida, Matthias voltou para a confeitaria, mas antes de retornar ao seu posto, sua mãe o interceptou no caminho.
— Uma pessoa que diz ser sua colega quer falar com você. — ela apontou discretamente para um canto da confeitaria. O garoto seguiu o olhar e se separou com Victoire. Ele semicerrou os olhos em confusão, sem saber o que ela fazia ali. — Quinze minutos de intervalo. — ela completou antes de se afastar para atender outro cliente.
— Oi. — Matthias se aproximou de Victoire com uma expressão confusa.
— É um bom lugar. — Victoire comentou enquanto observava o ambiente, com suas paredes pintadas de rosa claro e o piso branco, além dos móveis que compunham o espaço, como balcão e cadeiras.
— Sim, minha mãe deu um jeito maneiro nesse lugar. — Matthias sorriu orgulhosamente. — Mas por que você está aqui?
— Trabalho de escola. — respondeu Victoire.
— Trabalho de escola...? — perguntou Matthias curioso.
— É algo rápido, prometo. — Victoire indicou com a cabeça a porta de vidro para empurrar. — Pode?
Matthias concordou, balançando a cabeça.
Eles saíram e caminharam lado a lado pela calçada. Embora não estivesse lotada, às vezes precisavam desviar ou as pessoas desviavam deles.
— Então, sobre o que é esse seu trabalho? — perguntou Matthias, demonstrando interesse. — Espera, para qual professor é?
— O que você acha sobre o mundo? — Victoire fez a pergunta, ignorando suas perguntas anteriores.
Matthias percebeu que ela gostava de ser direta e objetiva, mas não sabia o quanto ainda. No entanto, não se incomodava com isso, já que conseguia lidar com diferentes tipos de pessoas e raramente levava algo para o lado pessoal.
— O que eu acha do mundo? — pensou por alguns segundos, observando as pessoas ao redor. — Okay, pergunta estranha, visita estranha. — cantarolou em tom de brincadeira. — Posso perguntar o porquê eu?
— Por que não?
— Não somos exatamente próximos.
— Mas você é um cara popular, tenho certeza que as pessoas da escola gostariam de ouvir uma opinião de algum popular. — insistiu ela.
Matthias ponderou sobre o que poderia dizer, e então respondeu de forma positiva: — Okay, sobre o que acho do mundo...? Penso que o mundo é um lindo e feio. Lindo por habitar todos nós, pela natureza, pelos animais, mas feio porque o fazemos ser assim. Toda a violência, o preconceito, as guerras, a injustiça... Temos um potencial bom, mas a humanidade...
— Não permite?
— Sim, isso.
Ele ergueu os olhos e observou ao redor, deparando-se com o barulho agitado da cidade. As pessoas naquele lugar estavam vulneráveis, assim como as pessoas em todo o mundo. As palavras que tinha dito para Franklin alguns dias atrás atingiram-no em cheio, pois percebeu que se não fizesse nada, estaria virando as costas para a realidade.
Nos últimos três dias, tinha evitado pensar nisso, preferindo afastar-se da dura verdade. No entanto, não podia continuar ignorando a situação. Quanto tempo mais poderia se esconder? Quando a grande ameaça surgiria e atacaria? Quanto tempo levaria até ser tarde demais? Ele sabia que não podia mais ignorar, pois não era porque não podiam ver, que não era real.
— Então estou indo. — a voz da garota ao seu lado pegou-o de surpresa. Ele havia esquecido completamente que Victoire ainda estava ali.
— Era só isso? — ele perguntou.
— Sim. Ajudou mais do que imagina. — ela respondeu com um sorriso de orelha a orelha, que parecia estranho e malévolo. O sexto sentido de Matthias alertou que ela talvez tivesse segundas intenções ao fazer aquelas perguntas, mas ele preferiu ignorar essa sensação.
— Okay então. Certo. Até.
Ela acenou e foi embora, deixando Matthias com uma série de dúvidas no meio da calçada.
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— Se eu reprovar nessa prova, estou fora do time. — Stefan resmungou, dando mais um gole na cerveja.
— Para de ser tão dramático. — pediu Nicolás, dando um trago no cigarro e oferecendo-o para Stefan.
— Quem dera que fosse apenas isso. O treinador me chamou ontem para falar sobre isso. — disse Stefan, dando um trago no cigarro e soltando a fumaça.
— Que droga, cara. — comentou Franklin, encostado na caçamba do carro de Pedro.
Alguns garotos do time de futebol haviam decidido se encontrar na clareira apenas para bater papo e agora estavam cercados de seus carros, alguns encostados ou sentados neles, outros no chão. Todos estavam em um círculo com várias latinhas jogadas pelo espaço.
— Pois é. — concordou Stefan, estendendo o cigarro para Franklin, que recusou.
— Parece que nosso grupo de estudos não está rendendo. — comentou Michael.
— Claro que não. — disse Franklin, em tom de humor. — Fazemos qualquer coisa, menos estudar, e nem nos encontramos para isso quase.
— Deveríamos pedir para Amara para entrar para o clube de estudos de novo. — sugeriu Stefan.
Franklin riu, entendendo a sugestão como uma piada. — Não funcionou muito bem na última vez. — lembrou, dando um gole de cerveja.
Stefan deu de ombros, mas riu. — A culpa não é minha se a Francine estava dando mole para mim. — defendeu-se.
Os garotos riram, claramente lembrando da última vez que Amara deu turoria a eles na biblioteca e tudo foi por água abaixo porque a maioria não soube se comportar. Franklin ouviu um monte da garota de cabelos cacheados depois.
— Uma pena que você e Amara não concordam com isso. — comentou Michael.
— Ela surtou totalmente. — lembrou Nicolás. — Às vezes ela consegue ser louca pra caramba.
— Ei! — Franklin repreendeu com uma careta. — Corta essa, cara.
Nicolás ergueu as mãos em sinal se rendição, voltando ao seu cigarro.
— Já sei! — Stefan chamou a atenção de todos para ele, arrumando o boné como se tivesse a melhor ideia do mundo. — Podemos roubar o gabarito. Todos estamos querendo passar na prova do senhor Taylor, não é? Então, solução perfeita!
Franklin balançou a cabeça, lembrando de Amara e Matthias e imaginando suas reações. A cena em sua mente o fez rir.
— Não. Ano retrasado fizeram isso e o time inteiro foi suspenso. — Franklin lembrou-os, mesmo que parecessem realmente animados com a ideia.
— Não precisa ser um de nós. Podemos pedir para alguém fazer. — sugeriu Michael, brincando com o lacre da latinha.
— Como pedir você quer dizer ameaçar? — perguntou Franklin, erguendo uma sobrancelha, esperando a resposta.
Michael piscou. — Você me entende.
Franklin ponderou por alguns segundos, incerto se era uma boa ideia ou não.
— Tem alguém em mente? — Franklin perguntou.
— Charles.
— Hum, okay.
— É uma permissão ou vai pensar? — provocou Michael.
— Vou pensar. — respondeu Franklin, saindo do carro para pegar outra cerveja. Ao ver o Stefan também pedindo outra, Franklin jogou uma para ele.
— Também temos a Anna. Se Franklin decidir que sim e se Jorge negar, ela é esperta. — Pedro falou, abrindo a latinha.
— Aquela que você pega? — perguntou Nicolás.
Stefan assentiu. — Ela tem um boquete sensacional. Doido para encontrá-la na festa. — disse animado.
— A mesma Anna junior que tem namorado? — indagou Franklin.
— Ela com certeza vai estar em casa jogando alguma merda de jogo online. — respondeu Stefan.
Franklin riu. — Você é um canalha de merda.
— Não, ele que é, por não dar a devida atenção para ela. E, de qualquer forma, nunca mostrei ser diferente disso. — Stefan afirmou.
Observando a conversa, Franklin sabia que Stefan não estava mentindo. O que Jéssica via nele ninguém nunca saberia.
— Será que ela topa chupar pau de dois ao mesmo tempo? — Michael perguntou.
Stefan deu de ombros. — Sei lá, posso perguntar.
Michael fez um high five com Stefan, mas a indireta era claramente para Franklin, que suspirou ao ouvir.
— Ainda sobre isso? Você pode tentar. — Franklin falou, dando de ombros.
— Podia fazer uma mão né. — Nicolás acrescentou.
— Você não se garante? — provocou Franklin.
— Esquece, Michael. — Nicolás deu um tapinha nas costas do amigo. — Franklin quer Amara todinha para ele.
— Vai à merda. — Franklin respondeu, apontando o dedo do meio para Nicolás, o que arrancou risadas dos outros, exceto de Franklin.
— Todos vão para a festa? — Nicolás perguntou.
— Sim, ainda bem que Katrina fez aquele falso discurso. — Franklin comentou.
— Por que você cancelou afinal? — Stefan perguntou, curioso.
— Merda sobre moralidade do Matthias. — Franklin respondeu.
Michael riu. — Ele esqueceria se eu enviasse...
— Corta a merda, Michael. — Franklin lançou um olhar feio para o amigo.
— Às vezes parece que você facilmente escolheria eles em vez de nós. — Stefan comentou, refletindo um pouco.
— Você ainda tem dúvidas? — Franklin disse com ar divertido, verificando as horas do celular. — Preciso ir.
— O filhinho de mamãe tem hora? — provocou Michael.
— Isso foi para ser uma ofensa? Por ter uma mãe presente? — Franklin respondeu, provocando reações de "Oooo" dos garotos.
— Vocês que estão muito sensíveis. — ele respondeu e entrou, partindo para o almoço com sua mãe e o padrasto que não suportava.
⏯️
Amara estava cansada das constantes crises de meia idade de seu pai, que sempre aparecia com uma nova namorada que poderia ser facilmente sua irmã. A atual, Isabella, não era diferente. Com apenas 24 anos, cabelos pretos pintados de ruivos, volumosos e ondulados, pele escura, esbelta e alta, ela possuía uma beleza padrão.
Automaticamente, Amara não gostou dela. No entanto, reconhecia que Isabella parecia ser uma pessoa boa, mas isso só a irritava ainda mais. Estava em seu quarto, esperando que a nova namorada de seu pai não fosse intrometida o suficiente para entrar sem ser convidada.
Encarando o teto, Amara divagava sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Já havia passado horas fazendo isso e estava ficando entediante. Não tinha muito o que fazer, pois já tinha decidido a roupa que usaria na festa, arrumado seu quarto e feito os deveres de casa. Poderia estudar, mas havia prometido a si mesma que descansaria naquele dia.
Sentada na cama, ela suspirou, pensando no que poderia fazer para passar o tempo. Sua mente estava inquieta, procurando uma distração que a tirasse da irritação que sentia com a situação em casa.
Poderia apenas organizar a planilha outra vez para os estudos amanhã. Andou em direção de sua mochila com a intenção de pegar seus materiais e colocar a mão na massa, mas quando mergulhou a mão adentro, esbarrou em algo duro e estranho. Puxou para fora e percebeu ser a bala de três dias atrás.
Havia se esquecido dela, pois usou os dias para revisar as próximas provas e executar trabalhos, querendo ocupar a cabeça e evitar pensar muito sobre aquilo. Afinal, naquele dia, eles haviam tomada uma decisão, mas ela queria adiar o máximo possível de enfrentar as consequências. Aceitar seria perder o controle da situação, algo que a incomodava bastante.
Ao observar a bala, notou que ela era diferente de uma bala comum, com uma cor peculiar. Decidiu tirar uma foto e pesquisar sobre, mas não encontrou nada no google. Suspirou, frustrada, pois não entendia muito do assunto. Será que se mandasse a foto para Edwyn, ele encontraria alguma informação?
Antes que pudesse decidir, duas batidas na porta a libertassem de seus pensamentos. Rapidamente, escondeu o objeto suspeito atrás das costas e, em seguida, a porta se abriu, revelando seu pai colocando a cabeça dentro do quarto.
— Não quer jantar comigo e Isabella? — seu pai perguntou, entrando no quarto.
Amara apertou com força a bala antes de responder: — Não posso.
Seu pai olhou para trás e voltou a encará-la, abaixando a voz: — Poderia se esforçar um pouquinho mais, não acha, filha?
Ela segurou a vontade de revirar os olhos. — Não posso porque vou para uma festa, lembra, pai? — mesmo que não tivesse uma festa, inventaria qualquer desculpa.
— Ah, é. A festa de Katrina? — ele perguntou.
Amara assentiu, pensando que seu pai sairia, mas ele parecia pensativo. Temia que ele sugerisse fazer uma festa ou qualquer coisa do gênero apenas para aproximar ela e Isabella. Então, antes que ele pudesse falar, ela se apressou em dizer: — Podemos passear na praia antes de eu ir.
Ele pareceu satisfeito. — Seria bom. Assim poderiam se conhecer melhor.
O estômago de Amara se revirou, mas ela respondeu: — É claro.
Seu pai abriu um sorriso sincero antes de sair do quarto.
Ótimo, agora ela tinha que pensar em maneiras de como sobreviver a esse encontro.
🕗
Matteo caminhava com sua cadela, Scooter, pelo Central Park em um sábado movimentado. Scooter conduzia o caminho, levando-os para uma área tranquila, longe da agitação, mas ainda podiam ouvir os sons animados das pessoas ao redor. Era um costume deles dar um passeio antes do almoço aos sábados.
— Vamos descansar um pouco, Scooter? — perguntou Matteo a cadela, que respondeu com um latido, arrancando um sorriso do seu dono. Eles se dirigiram a um banco, onde Matteo se sentou e sentiu a brisa fresca do lago à sua frente. Suspirou, apreciando a sensação de refresco em seu rosto.
Logo, percebeu alguém se sentando ao seu lado. Franziu o cenho, pois normalmente o lugar estava vazio naquele horário. Uma voz idosa, mas calorosa, quebrou o silêncio.
— Gosto da tranquilidade daqui. Sempre venho quando preciso pensar em algo. — disse a voz feminina.
Matteo percebeu que a pessoa não era muito dada a pensar demais, pois continuou a falar. — Sua cadela é linda.
— Obrigado. — respondeu Matteo de forma simples, considerando se seria rude levantar-se naquele momento.
— Eu curto a paisagem e ver as pessoas se divertindo, ouvindo suas risadas; adoro os sábados, são alegres e recompensam uma semana difícil. — ela disse.
Ele concordou com um aceno, esperando que a conversa terminasse ali. Sentiu um alívio momentâneo quando percebeu que a senhora parecia ter entendido a mensagem. No entanto, a tranquilidade durou pouco, pois logo ela voltou a falar.
— Andei me preocupando bastante com isso, especialmente depois das notícias de ontem. — comentou a mulher.
Matteo ficou curioso e logo se lembrou do homem alto e misterioso.
— Que notícias? — perguntou ele.
— Sobre o assalto ao banco, que aconteceu a alguns quarteirões daqui.
Ele fez um som de compreensão, sabendo do que ela estava falando. Era surpreendente ver esse tipo de coisa acontecendo por ali, mas nada que parecesse sobrenatural.
— Fico imaginando o que aconteceria se não tivéssemos alguém para nos defender... — ela divagou, murmurando para si mesma.
Matteo também começou a pensar sobre o que aconteceria com a população se eles enfrentassem algo maior. Será que os policiais teriam capacidade de lutar e vencer? Se o que o homem alto e misterioso dissera fosse verdade, Matthias ponderou, será que a polícia realmente teria alguma chance?
Ele apertou o punho da mão livre, pensando em seus poderes e se poderia fazer algo útil com eles. Isso o fez lembrar que não era o único adolescente com habilidades especiais, como o homem alto e misterioso havia sugerido. Certamente, havia muitos outros com poderes semelhantes aos seus. Mas qual seria a diferença que Matteo faria?
A senhora prosseguiu, compartilhando seus sentimentos sobre o assunto. — Mas não me prendo muito a esse pensamento. — ela continuou. — Fico feliz em ter algo que nos defenda. Quem dera eu pudesse usar esses dons também, mas infelizmente, a idade não permite. — ela riu. — De qualquer forma, ajudo no que posso.
⏯️
Amanda saiu do supermercado com as compras nas mãos. Tinha comprado tudo o que a mãe pedira e mais duas coisinhas para si: um pacote de jujuba e uma pequena barra de chocolate que ela começou a saborear naquele momento.
O supermercado não ficava longe de sua casa, então a caminhada levaria apenas alguns minutos. No entanto, o que acabou atrasando sua chegada foi o mercado lotado e a inesperada partida de basquete. Ela quis dar dois tapinhas em seu rosto ao lembrar de Knox.
Amanda tentava controlar esses pensamentos, mas era impossível. Ela percebia que só o fato de tentar não pensar já era, de certa forma, pensar nele. Isso a irritava. Knox era irritante apenas por nunca sair de seus pensamentos. Ela se questionou quando pararia de gostar dele, ou melhor, ter esses sentimentos estranhos em relação a ele. Era um incômodo enorme carregar esses sentimentos consigo.
Suspirou, cansada dessa situação. Quando voltou à realidade, percebeu que estava à beira da calçada e os carros continuavam a passar. Olhou para o semáforo e viu que estava obviamente verde.
Ela mudou o peso de uma perna para a outra e esperou, percebendo que não tinha outra opção, já que os carros continuavam a passar. Observou ao redor e viu diversas pessoas de diferentes etnias e tamanhos: um grupo de quatro adolescentes, um casal de idosos, uma mulher segurando um carrinho de bebê com uma mão e segurando a mão de uma garotinha de aproximadamente cinco anos com a outra. Provavelmente, era a mãe das crianças ou talvez a responsável por elas naquele momento.
Ela deu de ombros e voltou a olhar para frente, dando a última mordida em seu chocolate. Nesse momento, o grupo de adolecentes atravessou correndo a rua, mesmo com o semáforo ainda verde. Ela pensou em fazer o mesmo, mas percebeu que o carro estava muito próximo, então desistiu da ideia.
Enquanto ainda ponderava, uma garota de cabelos loiros passou correndo ao seu lado como um vulto. Uma voz desesperada ao seu lado chamou: — Jéssica, não! — no entanto, ela não se virou para ver quem falava.
Sua atenção estava fixada em uma garotinha de cinco anos que, de repente, atravessou a rua correndo sem se importar com os carros que se aproximavam. O responsável por ela chamou novamente: — Jéssica!
No mesmo instante, Jéssica parou e se virou, ignorando o carro que vinha em sua direção, o qual buzinou, mas ela ficou imóvel.
Sem pensar agindo por impulso, Amanda largou as sacolas no chão e correu atrás da garotinha. Uma estranha energia a envolveu, e tudo ao seu redor pareceu congelar, exceto ela mesma, conseguindo alcançar a menininha a tempo de abraçá-la e empurrá-la para o outro lado da calçada. O tempo voltou ao normal, e a buzina continuou, o carro seguiu em alta velocidade.
— Você está bem? — Amanda perguntou, preocupada, olhando para a menina.
A garotinha tremia, seus olhos arregalados, mas mesmo assim conseguiu se levantar, e Amanda fez o mesmo após verificar se ela estava ferida, feliz por não encontrar nenhum machucado.
— Jéssica, minha filha! — a mãe correu em direção à garotinha, empurrando o carrinho de bebê. — Nunca mais faça isso. Você me assustou! — ela a abraçou com força. — Você está bem?
A garotinha balançou a cabeça em resposta.
— Não faça isso de novo, está bem? — insistiu a mãe. — Você está comigo, não com aqueles garotos. Entendeu? Ande sempre junto comigo.
Jéssica assentiu novamente, compreendo a mensagem.
Amanda, sentindo-se um pouco deslocada, decidiu recuar e continuar com suas compras, mas também precisava refletir sobre o que havia acontecido. Ela tinha certeza de que seus poderes estavam envolvidos. Esperava que nada de suas compras tivesse sido danificado, mas antes que pudesse dar outro passo, a mãe da garotinha a deteve.
— Muito obrigada por salvar meu bebê. — a mulher agradeceu com lágrimas nos olhos. — Você não sabe o quanto estou agradecida de verdade. Eu... Se você não tivesse ido... Não gosto nem de pensar nisso. — ela fez uma pausa, visivelmente tentando conter o choro. — Perdi meu filho mais velho recentemente e está sendo tudo muito difícil e... Obrigado. — a mulher puxou Amanda para um abraço.
A adolescente sentiu um nó crescendo na garganta enquanto ouvia o relato breve. A sensação de gratidão por ter salvo alguém encheu seu coração.
— De nada.
— Tem algo que posso fazer por você? — perguntou a mulher.
Amanda balançou a cabeça e olhou para Jessica. — Mas tem algo que você pode fazer por mim: obedeça sua mãe e preste mais atenção na rua, sempre olhe para os dois lados ao atravessar, okay?
— Okay. — sussurrou a menina.
Amanda sorriu para a família, desejou um bom dia e retornou para buscar as sacolas. Logo voltou para o caminho de sua casa, dessa vez sem nada para desacelerar o caminho, mas o tempo todo pensando nos poderes e no que acabara de fazer.
⏯️
Enquanto ajeitava a confeitaria para o almoço, Matthias não conseguia parar de pensar na conversa que teve com Victoire.
Se fosse sincero consigo mesmo, ele desejava usar seus poderes. Ele olhou para suas mãos, imaginando a magia ali presente, sentindo-a pulsar em suas veias, ansiosa para ser liberada. Tantas possibilidades, tantos usos, tantos propósitos. Por que manter os poderes escondidos se poderia usá-los para o bem? Por que nunca fez nada antes? Apenas ficou sentado enquanto o mundo sofria. Claro, havia autoridades responsáveis pela segurança da população, e ele não era ingênuo ao pensar que apenas ele poderia fazer uma grande mudança, mas não deixava de ser uma mudança significativa.
— Filho, filho, filho? — a voz de sua mãe o tirou dos pensamentos, trazendo-o de volta à realidade. Ele ergueu o rosto e a encontrou parada no meio da confeitaria. — Ah, aí está meu menino. Perguntei se você já terminou de contar?
Ele franziu o cenho, sem entender o que ela estava falando num primeiro momento, mas logo se lembrou. Estava contando o dinheiro da caixa!
— Ah, não. Me distraí. Espera um momento. — pediu ele.
O garoto rapidamente concluiu sua tarefa, terminando em poucos segundos. Uma vez feito, foi ao encontro de sua mãe e juntos saíram da confeitaria após fechá-la, conversando sobre o que comeriam.
⏭️
Uma voz familiar atrás de Franklin repreendeu: — Você chegou dez minutos atrasado.
Franklin parou no primeiro degrau da escada, apertando o corrimão e segurando um suspiro. Em seguida, ele se virou e encarou o padrasto. Windsor Cooke.
— Mas eu não deixei de estar aqui. — retrucou o garoto.
— Você precisa ser mais responsável com seus compromissos. — repreendeu Windsor. — Falei para você estar aqui às 11:30 e não às 12:10. Você deveria ter ajudado a preparar o almoço também.
Franklin soltou uma risada sem humor e deu alguns passos, ficando bem próximo do rosto do padrasto. — E você deveria aprender o seu lugar. — retrucou, erguendo o queixo com firmeza. — Quantas vezes preciso dizer que você não é meu pai?
Antes que o padrasto pudesse responder, uma voz feminina preencheu a entrada da casa.
— Filha, você chegou! — sua mãe Yasmine abraçou-o com um braço, e com o outro, entregou-lhe uma tigela de salada de maionese para segurar. — Leva para a mesa para mim, por favor. — ela olhou para o padrasto. — Querido, pegue o refrigerante na geladeira, por favor.
— Claro, querida. — Windsor respondeu com um sorriso, e qualquer atmosfera ruim que existia entre eles desapareceu enquanto ele se afastava em direção à cozinha.
Mesmo que não concordassem um com o outro, o padrasto e o enteado haviam estabelecido um acordo silencioso de nunca demonstrarem sua verdadeira relação na frente da mãe deles. Assim, agiam normalmente.
Franklin sentia-se aliviado; pelo menos não precisava lidar com o lado desagradável do padrasto na frente de sua mãe. Certamente, não conseguiria manter sua compostura.
Enquanto caminhavam em direção à sala de jantar, sua mãe perguntou: — Como foi o encontro com seus amigos?
Ele respondeu: — Normal.
Em seguida, eles se acomodaram na mesa, com a mãe na ponta e o filho à sua direita.
— Agora me diga, quando vai me presentear com uma nora? — perguntou a mãe, divertida.
— Mãe! — exclamou o filho.
— O quê?! É uma pergunta inocente... — defendeu-se ela.
Franklin suspirou. — Não tão cedo.
— Humm. — respondeu a mãe.
— Sem humm. — insistiu ele.
— E a Amara? Ela é uma boa garota. Inteligente, bonita, sagaz. — sugeriu a mãe.
— E controladora, perfeccionista, irritante. — ele continuou, listando com um ar divertido. — Somos apenas amigos, mãe, você sabe disso.
— Humm. — repetiu a mãe.
— Sem humm. — tornou a dizer ele, fingindo estar bravo.
— Hmmm, ok. — concordou ela.
Dessa vez, Franklin não conseguiu segurar a cara de marrento e riu junto com a mãe. Logo o padrasto chegou com um sorriso no rosto e os pedidos nas mãos.
— Posso saber o porquê de estarem rindo? — perguntou Windsor, sentando-se à mesa.
— Nada demais. — desconversou Yasmine. — Então, quais são seus planos para hoje? — perguntou ela aos dois.
E assim, a conversa desenrolou e o almoço seguiu normalmente, sem complicações.
⏯️
Hadassah exclamou, se aproximando de uma banca de acessórios e ficou fascinada com os que tinham estampa de borboletas. Havia chapéu de festa com antenas de borboleta, capa de celular com borboletas em relevo, almofada de borboleta iluminosa, caneca de porcelana com borboletas em 3D, entre outros itens.
Knox parou de andar e se aproximou da amiga. Eles estavam no shopping apenas para passear e respirar um pouco, segundo Hadassah. Knox concordou, achando que era melhor do que ficar em casa, então ambos se arrumaram rapidamente e foram para o Manhattan Mall.
— Estou pensando em comprar a caneca e a almofada para a minha coleção. — comentou Hadassah, pegando a caneca em suas mãos.
Knox sabia que Hadassah gostava de colecionar coisas extravagantes e inúteis apenas porque achava bonito, mas as borboletas eram um caso especial, ela realmente gostava delas.
Ele deu de ombros. — Então, compra.
Hadassah ainda encantada apenas balançou a cabeça e chamou o funcionário, que já estava de olho na situação. Ele a atendeu prontamente, dando sorrisos enquanto ela falava dos acessórios e oferecendo a maquininha quando ela disse que pagaria com o cartão.
— Você quer algo? — perguntou Hadassah, olhando para ele por cima do ombro.
Ele balançou a cabeça negativamente e Hadassah se virou. Knox olhou para as sacolas que carregava, já havia comprado algumas roupas para ele e estava satisfeito.
— Pronto! Belezinhas compradas! — disse Hadassah, erguendo as sacolas na frente de Knox.
— Bom. — respondeu Knox, pegando a sacola das mãos de Hadassah, e ela as entregou prontamente para ele segurar. Já haviam discutido sobre isso antes, e depois de uma vez perdendo, Hadassah cedeu e deixou que ele carregasse a maioria das compras.
— Vamos comer algo? — sugeriu Hadassah.
— Pode ser.
Os dois foram para a praça de alimentação, lado a lado, preferindo pegar as escadas rolantes em vez do elevador. Enquanto caminhavam, conversavam animadamente. Ao chegarem ao andar, foram diretamente para o Subway, fazendo os pedidos que haviam discutido no caminho.
A entrega dos pedidos não demorou muito, mas encontrar um lugar para se sentar foi um pouco demorado, então eles decidiram ficar mais ao fundo da praça de alimentação.
— Ainda vou levá-lo a um lugar. — Hadassah prometeu, com um ar divertido, enquanto se sentava no banco da mesa escolhida.
— Você já está me levando. — respondeu Knox.
— Não é a mesma coisa. Meio que o shopping já se tornou nossa casa, e eu quero levá-lo para um lugar diferente. — explicou ela.
Ele soltou outro de seus sorrisos fantasmas. — Ah, é? E qual seria?
— Hmm — Hadassah fingiu pensar. — Surpresa! — disse, desembrulhando o sanduíche.
Knox bufou, quase rindo, mas logo o semblante mudou, sentindo seus pelos se arrepiarem. Seu sexto sentido dizia que algo ruim aconteceria em breve. Enquanto Hadassah continuava a devorar seu lanche, alheia aos pensamentos de Knox, ele procurou discretamente pela possível ameaça.
Seus olhos pousaram em um homem que acabara de entrar na praça de alimentação de maneira estranha. Ele usava roupas casuais: moletom e calça jeans, com cabelos trançados presos em um rabo de cavalo. À primeira vista, parecia como qualquer outra pessoa, mas quanto mais Knox o olhava, mais sentia que algo estava errado com ele.
— Aconteceu algo? — Hadassah perguntou.
— Não. — disse ele, afastando o papel do sanduíche para dar três mordidas. — Nada, apenas tive um pressentimento...
Antes que pudesse completar a frase, uma mulher exclamou de medo, e rapidamente Knox girou o rosto na direção do som. A mulher, a poucos centímetros da mesa dele, estava sendo feita de refém pelo homem que ele achava estranho.
A praça, que antes estava agitada com conversas, ficou em silêncio, todos virando o rosto para o homem que segurava a mulher com uma arma contra sua têmpora.
— Ninguém se mexa ou tente ser herói! — o homem gritou, pressionando mais a arma, e a mulher fechou os olhos, lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto.
Knox podia sentir o medo das pessoas, especialmente de sua amiga.
— Se alguém pegar o telefone, eu acabo com ela! — ele continuou com ódio na voz. — Mas nada acontecerá se a pessoa que estou procurando aparecer. Policial Liam Clark? — perguntou, e ninguém respondeu. — Eu sei que você está aqui, porra! Apareça, se não quiser ser responsável pela morte de uma inocente.
Um homem se levantou, várias mesas de distância de Knox, aparentemente o dono do nome. Ele usava roupas básicas, mas caras, com cabelos pretos e fios brancos nas laterais. Suas mãos estavam erguidas e ele começou a caminhar em direção ao outro homem.
— Não se aproxime muito, porra, fique aí! Você se lembra de um garoto chamado Brandon Davis? — o policial demorou a responder, tentando esconder a confusão no rosto. O homem continuou rindo, sem humor. — Claro que não. Pessoas como nós, eu e meu irmão, nunca são lembradas. Mas sabe, você foi responsável pela morte de meu irmão, um menino inocente! Por causa de pessoas fardadas como você, minha mãe perdeu seu filho, eu perdi um irmão!
— Tudo bem, calma, eu entendo... — o policial tentou começar a responder.
— Calma? Você entende? — ele riu mais uma vez, sem humor algum. — Você definitivamente não entende o que é ser julgado apenas por causa de sua cor! — pressionou mais o cano da arma contra o rosto da mulher, como se quisesse fundi-los. — Não importa se temos estudos, não importa se temos carteira assinada, tudo o que importa para vocês é a cor, e por causa da cor do meu irmão, ele está morto.
O policial pareceu reconhecer o que o homem estava falando, pois respondeu em um tom neutro: — Foi um erro... — tentou novamente.
— Um erro? Foi a vida de alguém, droga! — a voz dele soava quebrada, quase chorosa. Do ângulo de Knox, não conseguia ver muito do rosto dele, mas suspeitava que seus olhos estivessem lacrimejando. — Vocês falam com essas vozes suaves, como se estivessem falando com um animal, como se estivessem tentando nos amaciar. Vocês nos tratam como animais selvagens, então por que não agir como um? Por que não entrar armado e fazer refém a primeira pessoa que ver? É assim que somos vistos, é só assim que lembram da nossa existência!
— Vamos nos sentar e conversar. Isso é entre mim e você, não é? Essa mulher não tem nada a ver com isso.
— Meu irmão também não tinha! — ele exclamou.
Knox, pressentindo que algo ruim aconteceria, levou a mão para a bandeja que continha seu lanche, tirando-o de cima e logo a segurou, esperando qualquer oportunidade para intervir.
— Seu irmão não gostaria disso... — tentou argumentar.
— Como vou saber se agora ele está morto? — ele gritou, e de forma involuntária ou não, apertou o gatilho, assustando todos no local, inclusive a pessoa que apertou.
Mas nenhuma bala saiu.
Knox não entendeu, será que não tinha bala? Será que ele havia desistido? O garoto olhou para a amiga para compartilhar a estranheza e percebeu que ela estava concentrada na cena. Não demorou muito para ligar os pontos e entender que foi ela quem impediu o disparo.
— Não se aproxime! — o homem ainda segurava a mulher em seus braços, sua voz trêmula, mas a arma estava apontada para cima.
Knox percebeu que eles estavam a alguns passos de distância o suficiente para que ele visse apenas suas costas e, consequentemente, eles não pudessem vê-lo. Sem pensar, ele apertou a bandeja nas mãos e se levantou, acertando com toda a força a cabeça do homem. Ele perdeu o equilíbrio, desviando a atenção para o garoto, afrouxando o aperto na mulher, que se livrou rapidamente. O policial aproveitou o caos e pulou para cima do homem que segurava a arma. Ele nem precisou falar e o homem largou a arma, erguendo as mãos. O homem tinha lágrimas nos olhos e parecia perdido. Knox sentiu pena dele.
A mulher chamou a atenção de Knox, agradecendo-o, e ele apenas deu de ombros, não achando grande coisa. Em seguida, desviou o olhar para a amiga, que sorriu para ele, e ele retribuiu com o que pareceu um sorriso.
Eles haviam salvado uma vida.
⏭️
— O que você achou desse óculos, amiga? — Juliana chamou a atenção de Victoire, mostrando um óculos de sol com estampa de tigresa.
— Combinou perfeitamente! E esse? — Victoire colocou um par de brincos de caveira, de um estilo diferente, acima do lóbulo da orelha.
— Arrasou!
As duas amigas, Victoire e Juliana, estavam no shopping Manhattan Mall se divertindo em uma loja de acessórios e bijuterias, experimentando óculos, bolsas, pulseiras e outros itens. A loja estava cheia e barulhenta, e elas não se importavam com o teatro que faziam.
— Gostei desse óculos, acho que vou levar. — disse Juliana.
— E eu esses pares de brinco. — respondeu Victoire.
Elas trocaram um olhar de cumplicidade e depois riram baixinho, observando ao redor e percebendo que ninguém as estava notando. Então, elas colocaram os objetos que seguravam em suas cinturas. Victoire guardou um par de óculos na sua bolsa. Assim, caminharam em direção à saída como se fossem donas do local.
— Vou usar isso na festa de hoje. — compartilhou Victoire.
— O que você acha que vai acontecer? — perguntou Juliana.
— Nada demais. Aquela garota, acho que se chama Hannah, não tem coragem para enfrentar Katrina, e aparentemente Katrina está querendo cair nas graças do povo. — respondeu Victoire, com um tom tedioso. Ela realmente não se importava, embora uma vozinha irritante a lembrasse de que deveria se importar. Victoire ignorou essa voz.
— Muita falsidade. Por que estamos indo então?
— Por causa das drogas. — respondeu Victoire, provocando uma risada em ambas. — Estou brincando, preciso de alguma baderna depois de tantas provas, e a não ser que tenha outra festa para irmos...
— Não tenho. — disse Juliana.
— Então vamos nessa.
Assim que alcançaram a saída, passaram pelo detector e logo ele apitou. Imediatamente, o segurança apareceu.
— Posso ajudar em algo, senhor? — perguntou Victoire, fingindo-se de desentendida, mas mantendo sua compostura.
— Posso verificar a bolsa de vocês? — perguntou o segurança com um olhar desconfiado.
Por meio de uma atuação teatral, Victoire continuou: — Por que...? Você está achando que roubamos? Claro que não... — falou indignada, logo abrindo a bolsa e revirando-a na frente do segurança, apenas para provar seu ponto, até que encontrou algo. Assustada, ergueu o rosto para o homem e disse: — Oh meu Deus, deve ter caído, sinto muito. — então entregou os óculos a ele.
Ainda desconfiado, o segurança insistiu: — Ainda assim, preciso...
Nesse momento, a gerente surgiu e perguntou: — O que está acontecendo aqui?
— O detector apitou. — explicou o segurança.
— Sinto muito, senhora, acho que os óculos acabaram escorregando sem querer. — disse Victoire com um tom de pesar, e Juliana fez a mesma expressão.
Por um sussurro para o segurança, que Victoire conseguiu ouvir, a gerente disse: — Elas são filhas de pessoas importantes. — em seguida, ela se virou para as duas garotas e abriu um sorriso enorme. — Podem ir, queridas.
— Muito obrigado. Pode ter certeza que falarei para minha mãe sobre essa gentileza. — agradeceu Victoire ao segurança, reprimindo o riso.
Assim que as amigas viraram a esquina, soltaram altas gargalhadas. Pessoas estúpidas.
⏯️
Lilith acabara de fechar a porta do banheiro e estava prestes a descer as escadas quando ouviu um barulho vindo do primeiro andar. Em vez de descer apressadamente, ela optou por fazê-lo devagar, pulando os degraus que rangiam. Ao chegar no térreo, pegou um taco de beisebol que estava ao lado da escada, xingando Fiona por ter deixado a porta da casa aberta novamente. Ele pensou que poderia ser ela, mas logo se lembrou que Fiona só chegaria à noite, se é que chegaria mesmo. Então, quem poderia ser?
Com o taco em mãos, Lilith se dirigiu ao local do barulho, preparada para se defender. No entanto, ao entrar na cozinha, reconheceu as costas do irmão e suspirou aliviada.
— Por que sempre nos encontramos na cozinha? — perguntou Lily, assustando-o. O irmão se virou rapidamente, com uma expressão de culpa e desespero.
Preocupada, ela se aproximou rapidamente dele. — Aconteceu alguma coisa? — Apoiou o taco na parede próxima.
Ele negou com a cabeça. — Não, nada aconteceu, Lily. — Aproximou-se dela e beijou o topo de sua cabeça. — Nada para se preocupar.
Ela não estava convencida, mas sabia que ele não contaria nada mesmo se insistisse, então concordou. — Tudo bem. Já vai embora? Sobrou comida de ontem e tem suco na geladeira.
— Queria muito ficar, mas realmente preciso ir. — ele hesitou por alguns segundos antes de continuar. — Vou ficar um tempo sumido.
Lilith entrou em desespero.
— Quanto tempo? Por quê? Você fez algo de errado? — suor frio escorreu por sua espinha. — Você disse que estava tudo sob controle.
— E está, e para continuar preciso sumir por um tempo. Alguns meses. — ele explicou.
Ela mordeu uma das bochechas e sentiu os olhos se encherem de água.
Seu irmão pegou o rosto dela com suas mãos.
— Eu vou voltar, Lily. Não sei bem quanto tempo vou ficar fora, mas eu vou voltar. É uma promessa.
Ela não disse nada. O que poderia dizer? Sentia que se dissesse algo poderia desabar. Ele era seu porto seguro, mesmo que não estivesse sempre presente, mesmo que tivessem seus segredos. Ele era a pessoa com quem ela se sentia segura e à vontade para continuar. Estavam a um telefonema de distância, mas agora...
— Não posso ir junto? — sua voz era apenas um fiapo de voz.
— Você está mais segura aqui. — ele respondeu.
— Com ela? — Aquela casa, aquela mulher, ela definitivamente não se sentia segura.
Seu irmão a encarou, várias emoções passaram pelos olhos verdes, como os dela. Ele a puxou para um abraço.
— Eu estou te odiando agora. — confessou ela em voz baixa, encostando-se na camisa dele.
— Eu sei, mas ainda estarei a apenas um telefonema de distância. Se tiver alguma emergência, não hesite em me chamar.
Eles se abraçaram por vários minutos, como se fosse o último abraço, como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. Na verdade, Lilith sentia profundamente que algo muito ruim estava prestes a acontecer.
⏯️
Amara estava cansada da presença de sua "madrasta". Caminhava pela praia, alguns passos à frente de seu pai, enquanto ela brincava com o celular. Estava farta das perguntas inconvenientes e das tentativas da Isabella de se aproximar. Não queria nada com ela e sempre tentava deixar isso claro em suas ações, então por que a mulher não entendia?
— Filha, o que você acha de um burrito? — a voz alta de seu pai, vindo de trás dela, a alcançou e fez com que ela hesitasse nos passos.
Ela olhou para trás, observando-os parados, de mãos dadas, seus cabelos sendo levados pelo vento frio do fim da tarde.
— Não, obrigada. — respondeu, com certo desdém.
— Tudo bem, vou buscar um para mim e para Isabella. Fique com ela enquanto vou lá. — disse o pai.
Amara praguejou mentalmente, achando o pai ardiloso.
— Tudo bem. — resmungou.
O pai esperou que ela se aproximasse antes de caminhar na direção da madrasta, sabendo que, provavelmente, Amara apenas continuaria o caminho assim que ele se virasse de costas – o que não era uma suposição errada. Com um suspiro, Amara arrastou-se em direção a eles.
— Obrigado — assim o pai se afastou.
Isabella, com um sorriso largo no rosto, perguntou: — O que você está achando do passeio?
Uma tortura, respondeu Amara mentalmente.
— Legal. — disse em voz alta.
— Nadar é do seu agrado? Podemos ir para a praia em suas férias? — continuou Isabella.
— Não gosto. — respondeu Amara.
— Então tomar banho de sol? Adoro ficar com aquelas marquinhas, sabe. — tentou Isabella.
— Eu sou uma adolescente chata que não gosta de nada além de mexer no celular e passear no shopping. — Amara expressou seu descontentamento, esperando que essa resposta a afetasse e Isabella parasse de falar com ela, mas teve pouca sorte.
— Ah... Eu também gosto de shopping! — respondeu Isabella.
Amara quase gemeu de frustração, desejando que seu pai voltasse logo. Felizmente, ele voltou segundos depois. Ela se afastou sem dar explicações.
Continuaram a caminhar, e Amara observou as pessoas ao redor. Não eram muitas, mas aquelas presentes pareciam estar se divertindo. Alguns brincavam com a areia, outros jogavam vôlei ou futebol, e o restante apenas apreciava o mar e o vento gostoso e ligeiramente arrepiante.
Ela puxou o celular do bolso, desbloqueando-o para responder algumas mensagens e passando um tempo nas redes sociais. Logo, o tédio bateu, e ela bloqueou o celular novamente, verificando a hora. Faltavam três horas para a festa começar. Suspirou, pensando por quanto tempo deveria ficar ali. Talvez devesse incomodar um pouco Matthias e Franklin, mas Matthias estava ocupado e Franklin estava sumido, não respondendo suas mensagens há algum tempo. O que será que ele estava fazendo?
Uma voz a chamou, e Amara rolou os olhos, mas ao perceber que não era a voz de seu pai ou Isabella, ela franziu a testa. Será que era ela? Chamaram seu nome de novo, e, dessa vez, ela se virou, deparando-se com Amanda.
— Oi. — cumprimentou Amanda assim que se aproximou de Amara, começando a andar ao seu lado.
— Oi. — respondeu Amara, com uma expressão ainda mais confusa.
Amara mal podia lembrar quantas vezes havia conversado com Amanda, e geralmente era na presença de outras pessoas. Salvo aquele dia na lanchonete, elas nunca se encontravam para falar sobre assuntos que não fossem da escola. O que Amanda queria dessa vez?
— Não vai me dizer que precisa dos resumos para a prova. — provocou Amara sua colega.
— Eu só pedi uma vez! E você está esquecendo que só conseguiu fazer esses resumos porque eu contei sobre o Eduardo. — cantarolou Amanda.
As garotas riram.
— Como foi seu dia? — perguntou Amanda assim que pararam de rir, provocando outra careta de confusão em Amara.
— Ok. — respondeu Amara em meio às risadas. — Isso está muito estranho. Nós nunca conversamos dessa maneira, nunca fomos próximas o suficiente para isso.
— Não vejo por que não podemos começar agora. Esquece a pergunta e vamos jogar um jogo de pergunta e resposta. — sugeriu Amanda.
Amara ponderou sobre a resposta, ainda sem entender o motivo de tudo aquilo, mas ainda assim curiosa para ver aonde Amanda levaria a conversa.
— Tudo bem. Quem começa?
— Vamos ver quem leva no pedra, papel, tesoura?
Amara concordou, e elas jogaram duas vezes. Empataram na primeira, ambas escolhendo pedra, e na segunda, Amanda venceu com tesoura contra o papel de Amara.
— Então. — Amanda começou. — quais foram as melhores férias da sua vida?
— Em Orlando. — respondeu Amara sem pensar, lembrando de quando sua família ainda era unida e as imperfeições dos pais não eram tão presentes para a garota de doze anos.
— Qual acredita ser sua maior qualidade? — perguntou Amanda, em tom de brincadeira.
— Modéstia. — respondeu Amanda, entrando na brincadeira.
— A falta dela. — retrucou Amara, rindo e entrando no jogo.
— Não estamos falando de você. — provocou Amanda, e Amara riu.
— Certo, acho que é o orgulho. — respondeu Amanda. — Qual celebridade gostaria de ter como melhor amiga?
— Zendaya.
— Qual foi a coisa mais assustadora da sua vida? — perguntou Amara, e Amanda levou vários segundos antes de responder.
— Acho que foi hoje. — começou, desviando o olhar para o mar. — Salvei uma garotinha de um atropelamento. — revelou, surpreendendo Amara, que arregalou os olhos. — E nunca me senti mais assustada do que isso. Jurei que não conseguiria, mas não pude me impedir. Vi que era o certo e simplesmente agi. Quando consegui salvá-la, nunca me senti tão... Viva. Foi assustador, mas emocionante, e nossa, nunca me senti tão bem. — disse com um sorriso genuíno.
— Confesso que eu nunca conseguiria passar por isso. — Amara disse mais para si mesma do que para Amanda. Ela com certeza faria uma lista de coisas boas e ruins e só depois tomaria uma decisão.
As duas pararam, e Amara sentiu-se um pouco invadida pelos olhares profundos de Amanda sobre ela.
— Não pode ou não quer? — Amanda perguntou e logo se afastou.
Amara parou e pensou seriamente na resposta. Ela não sabia ao certo como responder.
— Não gostei desse modo reflexivo! — Amara gritou, percebendo que Amanda estava bastante longe.
— Na próxima vez, eu cobro. — Amanda gritou de volta, provocando um sorriso em Amara, mas também implantando incertezas em sua mente.
🕗
A festa no porão já estava rolando há duas horas e estava no auge, com música eletrônica tocando ao fundo e conversas animadas preenchendo o ambiente. Algumas pessoas estavam se beijando em um canto, enquanto outras permaneciam em grupos, batendo papo descontraído. Outras se divertiam com jogos como pimbolim, sinuca ou beerpong. O cheiro de hormônios e suor invadia as narinas de Amara, fazendo-a contorcer um pouco o nariz, evitando a área das demonstrações de afeto. Apesar de o espaço ser relativamente grande para um porão, a aglomeração de corpos tornava-o um pouco abafado, mesmo com algumas pessoas do lado de fora fumando ou procurando um pouco de ar fresco.
Porém, Amara não conseguia aproveitar o momento. Ela estava à procura de uma pessoa específica, Franklin Lindon. Já se passaram quarenta minutos desde que ela chegou à festa, e ela ainda não o havia encontrado em lugar nenhum. Estava ficando preocupada, especialmente porque ele não respondia às mensagens do grupo há algumas horas.
Amara tentou encontrar Franklin enquanto circulava pelo espaço, mas ele parecia ter desaparecido. No centro do porão, ela encontrou Matthias, com quem já havia conversado antes, e decidiu perguntar a ele sobre Franklin.
— Ainda não viu Franklin? — perguntou Amara assim que Matthias a avistou.
Ele balançou a cabeça em negação, franzindo o cenho com preocupação.
— Vou ajudar a procurá-lo. — disse Matthias, aproximando-se do rosto de Amara para que ela pudesse ouvi-lo melhor.
— Tudo bem, eu vou olhar lá fora, e você tenta ver se acha ele por aqui. — concordou Amara.
Matthias se afastou para procurar Franklin no meio da multidão, enquanto Amara se dirigiu às escadas que levavam ao exterior. Ao subir, ela sentiu o ar puro e o vento em seu rosto, apreciando o contraste com o ambiente abafado do porão. Ela procurou por Franklin, perguntando a algumas pessoas conhecidas ao longo do caminho, mas ele parecia estar realmente sumido.
Finalmente, ela o encontrou, mais distante da casa, segurando uma garrafa de cerveja e exibindo uma clara frustração, embora não estivesse bêbado. Amara se aproximou com uma expressão irônica.
— Por que essa cara de quem comeu e não gostou? — provocou ela.
— Não enche, Amara. — respondeu Franklin com voz cortante, o que momentaneamente congelou Amara. Porém, logo ela fez uma careta, confusa, mas rapidamente a confusão deu lugar à raiva.
— Vai se foder, Franklin, e não começa a falar merda sobre isso.
O garoto sorriu maliciosamente, mas não disse nada.
— O que aconteceu? — Amara insistiu.
— Não seja uma enxerida, Amara.
Os dois se encararam por um tempo, Amara percebendo que algo ruim aconteceu para deixá-lo mal-humorado, enquanto Franklin dava a entender que não estava gostando da atitude dela.
— Tudo bem, te procuro quando estiver bem para conversarmos. — decidiu Amara, recuando e evitando uma briga séria.
Enquanto isso, dentro do porão, Victoire e sua amiga estavam apoiadas em uma parede, mantendo-se afastadas do centro do local. Conversavam sobre coisas do dia a dia, planos para o próximo final de semana e assuntos da escola, entre outros. Riam e intercalavam a conversa com a bebida que tinham nas mãos.
De repente, Victoire notou um movimento laranja no canto do olho e olhou naquela direção, avistando Amanda caminhando pelo porão com seus amigos. Quando eles passaram por ela, Amanda e Victoire trocaram um olhar cúmplice, indicando que algo havia sido realizado, um dever cumprido com um significado conhecido apenas por elas.
— Vamos nos sentar no sofá. — disse Camila para o grupo.
— Tem muitas pessoas se pegando nele. — alertou Giorgia.
— Pode tirá-los de lá, afinal o sofá não é só deles. — sugeriu Amanda com um toque de raiva em sua voz.
— Mas pensando bem, pode ter algo contagioso ali, não? — brincou Ben, meio rindo e meio falando sério.
Amanda riu do comentário, mas sua risada logo parou quando aquela sensação desagradável a alertou que ele estava próximo.
Ela virou a cabeça automaticamente procurando pelo rosto que sempre rondava sua mente, e quando o encontrou, seu coração acelerou. Knox e Hadassah entraram no porão, ela com uma roupa colorida e simples, enquanto ele estava de preto, usando calça jeans e com os cabelos rebeldes, o que despertou em Amanda o desejo de ajeitá-los.
Antes que pudesse continuar observando-o, Katrina bloqueou sua visão ao parar na frente de Knox e Hadassah. A música alta e a distância impediram que Amanda ouvisse a conversa, mas percebeu que Katrina gesticulava muito.
— Katrina conseguiu trazer Hadassah e Knox para uma festa, é algo admirável. — Bia comentou.
— E com certeza ela não perderá a oportunidade de fazer disso um grande caso. — Camila acrescentou.
Minutos depois, Katrina virou-se com um sorriso no rosto e anunciou — Dêem as boas-vindas aos meus convidados especiais, galera!
As pessoas aplaudiram.
Amanda teve que reunir toda a sua força para desviar os olhos de Knox.
⏭️
"Ajudo no que posso", mas ele não queria ajudar no que podia. Nunca havia se interessado nisso; se o fazia, era por instinto, não por vontade de ser o herói de alguém, muito menos da cidade, e tampouco do mundo. Matteo estava deitado em sua cama, de barriga para cima, pronto para dormir, mas não conseguia parar de pensar na conversa que teve com a senhora à tarde. Não sabia o motivo de sua mente estar tão inquieta com aquilo, pois havia até se esquecido do encontro, mas, minutos após colocar a cabeça no travesseiro, a memória retornou com força total.
A resposta que ele buscava era óbvia. O que realmente o incomodava era o desejo de se sentir especial, mais do que qualquer outra coisa que a conversa pudesse ter provocado. Esse incômodo, talvez, fosse a causa de a memória ter sido desencadeada.
Esfregando o rosto, Matteo tentou se livrar desses pensamentos e, finalmente, conseguir dormir tranquilamente.
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— Lilith, querida, coloque mais um prato na mesa. Ah, dê olá para Johnny. — pediu Fiona ao entrar na cozinha, acompanhada por um homem que aparentava ter a idade da mãe, mas que Lilith notou não ser o mesmo da semana passada.
— Eu só fiz o suficiente para nós duas. — respondeu Lily do fogão, onde as bocas estavam apagadas e três panelas de feijão, arroz e carne estavam sobre o fogão. Sua mãe passou por trás dela, acompanhada pelo homem, rumo à pequena sala de jantar. Lilith tinha um prato na mão e estava se servindo. Ela estava cansada de ter que alimentar uma boca extra de alguém desconhecido. O que restava era para seu irmão quando ele voltasse para casa, apesar de que agora não faria muita diferença, ela se lembrou tristemente.
— Ótimo, então não coma. — respondeu Fiona com ironia.
Lilith rolou os olhos, mas preferiu ficar quieta, sabendo que responder só pioraria as coisas.
— Sabia que às vezes nem acho que ela é minha filha? — comentou Fiona com o homem, fingindo uma tentativa de cochilo. — Não gosta de sair, só vive em casa. Céus! Aliás, você viu seu irmão? — dessa vez, voltou a se referir a Lilith.
— O tempo inteiro, só você não fica o suficiente na casa para vê-lo. — respondeu Lilith, incapaz de conter sua língua afiada.
— Olha que pirralha! Você viu! — disse Fiona, visivelmente irritada com o gesto de Lilith, mas Lilith não se importou.
O homem soltou uma risada. — A relação de vocês é caótica. — disse com a voz grave, evidenciando ser um fumante.
— Claro, ela é uma pirralha ingrata — respondeu Fiona.
Lilith apertou o prato em suas mãos, sentindo vontade de jogá-lo na cabeça de Fiona ou em sua própria cabeça. Como Fiona conseguia ser tão insensível assim? Enquanto terminava de se servir, a raiva percorria seu corpo e ela só percebeu o quão intensa era quando sentiu as pontas dos dedos formigando. Rapidamente, soltou o prato, que estilhaçou no chão, e, no segundo seguinte, apenas ouviu a risada de Fiona.
— E estranha. — comentou Fiona, voltando à cozinha com dois pratos em mãos. Claro que Lilith não era iludida o suficiente para pensar que o outro prato era para ela. — Você vai limpar isso.
Ela segurou um suspiro, cansada de tudo aquilo, mas logo foi pegar a vassoura e começou a limpar, ao som de Fiona chamando-a de inútil e desperdício. Ela tentou desligar os sons e se perguntou o que as pessoas de sua idade estavam fazendo na noite de um sábado.
⏭️
Franklin se sentia um pouco melhor após respirar um pouco de ar fresco e ficar sozinho com seus pensamentos, mas estava se sentindo péssimo pela forma como havia tratado Amara. Assim, ele voltou para o porão com a intenção de procurá-la e consertar o que quase tinha estragado, mas não avançou muito antes de ser interrompido por Matthias.
— Quem é vivo sempre aparece, não é? — brincou Matthias. — Amara estava preocupada com você, eu também. O que aconteceu, cara? Você estava conversando conosco de manhã e, de repente, sumiu!
— Nada sério, mano. — respondeu Franklin, e não estava mentindo, era apenas mais do mesmo. — Olha, preciso falar com Amara agora. Você a viu?
— Pebolim. — respondeu Matthias. — Amara me contou mais ou menos o que aconteceu, entre muitos suspiros e bufadas, mas enfim, boa sorte. — Ele colocou a mão no ombro do amigo e fixou o olhar nele. — E se quiser conversar, estou aqui, está bem?
Franklin balançou a cabeça, sentindo-se um pouco mais culpado por ser um amigo inadequado. Eles se despediram, falando que em breve poderiam jogar uma partida de beer pong.
Franklin encontrou Amara jogando pebolim e esperou até que ela terminasse sua partida antes de cutucar seu ombro, não querendo que ela ficasse ainda mais irritada com ele.
— Podemos conversar? — ele perguntou assim que teve a oportunidade.
Ela fingiu pensar. — Não sei, no seu caso, não.
— Vamos, Amara, qual é?
Ela o olhou seriamente e suspirou. — Okay. — Então, começou a caminhar à sua frente, como se dissesse que, se ele quisesse falar com ela, seria nos seus termos e no lugar que ela escolhesse. Sem outra alternativa, Franklin a seguiu.
⏭️
Hadassah estava caminhando sozinha pelo porão, depois que Knox disse que iria pegar uma bebida. Ela preferiu explorar o local, tentando encontrar algo interessante, mas tudo parecia chato.
— Você veio! — exclamou uma voz atrás dela, e ao se virar, deparou-se com Atlas.
— Não poderia recusar um convite desses. — respondeu, embora com tom brincalhão, pois era a mais pura verdade.
— E o que está achando? Sei que você, Knox e seu antigo grupo faziam festas parecidas com essa. — comentou Atlas, despertando boas e algumas vezes, lembranças desconfortáveis em Hadassah.
— Sim. — ela respondeu, querendo mudar de assunto rapidamente.
— Fico pensando se ainda se divertem. Fiquei sabendo que Knox era o centro das atenções junto com Franklin e Matthias, então era o verdadeiro caos!
— Realmente.
— Uma pena que não estava aqui para ter visto isso. — lamentou-se Atlas. — Quer jogar beer pong? — Hadassah agradeceu pela mudança de assunto que a deixava desconfortável.
Ela olhou para os olhos de Atlas e, sabendo que não tinha nada melhor para fazer naquele momento, respondeu que sim.
Atlas a guiou para um canto onde acontecia o jogo.
— Você conhece as regras? — perguntou ele.
— Sim.
— Ótimo, então. Você está comigo.
— Legal!
Eles começaram a jogar contra Daniel e Raquel, e tiveram um bom começo. Hadassah ficava feliz quando alguém do time adversário errava, pois assim ela não precisava beber. Mesmo se divertindo com o jogo, ela não achava que precisava beber para se socializar; apenas queria se divertir, o que era o bastante para ela.
Percebeu a aproximação de Knox, mas ele apenas se encostou na parede, assistindo ao jogo. Hadassah continuou jogando, comemorando cada acerto com Atlas, rindo e sorrindo. Porém, quando ela percebeu que estava ficando leve por causa das bebidas, pensou em parar de brincar. Antes que falasse algo, uma voz familiar soou:
— Já estão começando a se divertir sem mim? — Hadassah girou a cabeça e percebeu que era ela. Rapidamente, Hadassah ficou rígida.
— Podemos jogar outra partida, Kat. — sugeriu Atlas.
— Ah, mas agora a emoção já passou. — fez beicinho, mas logo seu rosto se iluminou. — Já sei! Vamos jogar Eu Nunca. Vem! — Katrina puxou Hadassah, que se deixou ser levada para o centro do porão.
Hadassah se questionou: quais eram as chances de algo ruim acontecer?
⏭️
— Observai o vasto agrupamento humano alinhado nesta sequência interminável! — exclamou Matthias, observando a fila do banheiro enquanto chegava até a última pessoa, uma moça de cabelos ruivos cheios.
Ele notou que a pessoa ficou indecisa em se virar, mas acabou o fazendo. Para sua surpresa, reconheceu Amanda.
— Ah, só podia ser você, dicionário ambulante. — comentou Amanda, arrancando uma risada de Matthias.
— Quem diria que um banheiro escondidinho no canto do porão poderia ser tão disputado. — respondeu ele.
— Estou quase pensando em desistir, especialmente porque três pessoas acabaram de entrar e não parecem ter pressa em sair. — disse Amanda.
Matthias achou graça, mas também entendia bem esse tipo de situação.
— E o que está achando da festa? — ele perguntou.
— De forma não irônica, está sendo mais civilizada do que eu imaginava. — respondeu ela.
Matthias soltou outra risada. — Nunca foi a uma festa de Katrina? — perguntou.
— Não, uma amiga próxima virou líder de torcida este ano e me convidou, assim como aos nossos amigos.
Matthias balançou a cabeça, demonstrando compreender. — As festas de Katrina costumam ser bem civilizadas, desde que você aguente algumas alfinetadas.
— Então estou encrencada. — comentou Amanda, de forma bem-humorada.
— Talvez você devesse ir para uma festa de Thompson então. — sugeriu Matthias.
Amanda fez uma careta, provocando outra risada do rapaz.
— Deixa eu adivinhar, você não gosta dele. — disse ele.
— Alguém gosta? — respondeu Amanda irônica. — Mas já te vi andando com ele.
— Ahhh, então você anda olhando para mim. — brincou Matthias.
— É impossível não olhar quando os soberanos estão passando. — ela retrucou.
— Nos chamam disso? — ele perguntou, levantando uma sobrancelha com surpresa.
— Isso e pior. Os Magníficos, Supremos, Virtuosos, entre outros. Nunca ouviu nenhum desses? — explicou Amanda.
— Os soberanos sim, mas esses outros, confesso que não. — respondeu Matthias.
— Então por que se surpreendeu em primeiro lugar? — provocou Amanda.
— Estava tentando puxar assunto. — admitiu ele.
Ambos riram.
Em seguida, foram surpreendidos por um garoto com olhos ansiosos, como se estivesse prestes a revelar uma informação bombástica. — Briga!
— Parece que alguém não aguentou a alfinetada. — murmurou Amanda.
— Quem? — perguntou alguém atrás de Matthias.
— Knox Goodwin e Dick Thompson!
⏭️
— Então, vamos... Por quê? — Amara instigou Franklin a contar.
Eles se encontravam em uma área isolada nos arredores da casa de Katrina, um lugar tranquilo e afastado, proporcionando a privacidade que eles precisavam.
Amara esperou com os braços cruzados, impaciente, enquanto Franklin permanecia em silêncio, o que a estava estressando.
— Vamos, Franklin, não tenho o dia inteiro. — lembrou ela, com impaciência.
— Como consegue ser tão irritante? — Franklin cuspiu, com raiva brilhando em seu olhar. — Estou tentando. Eu só preciso de tempo, droga.
— Você me trata de forma horrível e quer que eu te dê tempo? — riu Amara, com ironia. — Inacreditável.
— Eu pedi para você se afastar, mas como uma intrometida, você decidiu ficar. — se defendeu Franklin.
— Eu estava tentando te ajudar, idiota! — Amara quase explodiu de raiva.
Franklin parecia prestes a dizer algo, mas, com alguma força de vontade, controlou-se e apenas a fuzilou com o olhar. Amara retribuiu o olhar, e então Franklin balançou a cabeça, aproximou-se da parede e encostou seu corpo ali antes de fechar os olhos e suspirar pesadamente.
Amara revirou os olhos. Que dramático. Era ela quem precisava disso!
— Meu padrasto. — disse Franklin. — Nada de novo, apenas o jeito dele que me estressa. Fico feliz que ele faça minha mãe feliz, mas ele, como um todo, é...
— Tão 'nhe'? — completou Amara.
Franklin achou graça da expressão, mas concordou: — Sim, tão 'nhe'.
— Eu entendo. A nova namorada do meu pai, ela é legal, mas faz todas as tentativas possíveis para se aproximar, mesmo eu dando todos os motivos para não fazê-lo. — contou Amara enquanto fazia seu caminho para o lado de Franklin. — O que se passa na cabeça deles?
— Eles querem ocupar um lugar na nossa vida que não precisa. — respondeu Franklin.
— Exatamente!
— Acho que devemos fazer uma pegadinha pesada com eles para eles entenderem o recado. — sugeriu Franklin.
Amara riu com a ideia. — E o que você tem em mente?
— Quando tiver algo em mente, eu te digo.
— Okay. — concordou Amara, ainda rindo, o que provocou uma risada de Franklin. Logo, suas risadas preenchiam o espaço e, aos poucos, foram diminuindo.
Eles estavam ali, juntos, encarando o céu por um tempo até que Franklin quebrou o silêncio.
— Me desculpa.
— Eu aceito sua desculpa.
Novamente, o silêncio preencheu o espaço. Amara começou a brincar com seus dedos na parede, e acidentalmente os dedos dela se tocaram nos dele. Ela pensou em recuá-los, mas antes que pudesse fazer isso, as pontas dos dedos de Franklin entrelaçaram-se nos dela. Confusa, ela ergueu o rosto e percebeu que o rosto dele estava muito próximo ao seu, com os olhos fixos nos dela. Sem saber ao certo quem tomou a iniciativa, eles se aproximaram ainda mais, suas respirações se misturando. De repente, sem identificar quem foi o primeiro, eles quebraram a separação e seus lábios uniram-se em um beijo fervoroso, repleto de paixão.
Franklin a empurrou contra a parede enquanto suas línguas se entrelaçavam. Ele a pegou no colo e ela envolveu seus braços em torno do pescoço dele. Era uma situação estranha, mas ao mesmo tempo satisfatória. A boca de Franklin desceu pela garganta de Amara quando, de repente, um barulho fez com que eles se separassem rapidamente.
Ao perceberem que não havia ninguém por perto, olharam um para o outro assustados.
— Isso não aconteceu. — Amara disse, recuperando o fôlego, e forçou-se a descer para que ele a soltasse. Logo depois, ela saiu da sala, deixando para trás um Franklin confuso.
⏭️
Knox não suportava mais estar no mesmo espaço que Dick e expressava isso em cada golpe que desferia no rapaz, enquanto o mantinha sob ele.
— Knox, pare! — Escutou a voz de Hadassah, mas ela parecia bastante distante. Ele estava mergulhado nas memórias que o levaram até aquela situação.
Tudo começou como um eu nunca inofensivo com perguntas fáceis, mas logo evoluiu para questões maliciosas e de mau gosto, lideradas por Dick. Enquanto Atlas tentava amenizar o clima com suas piadas, Dick continuava com suas perguntas desagradáveis, tornando o ambiente ainda mais desconfortável para Hadassah, que se sentia cada vez mais encurralada.
Quando Dick começou a fazer perguntas íntimas e pressionou Hadassah a beber, mesmo percebendo o desconforto dela, Knox deu um aviso e lançou um olhar duro para Dick, mas ele ignorou os sinais e persistiu. Knox tinha a sensação de que havia algum acordo doentio entre Dick e Katrina, o que explicava o tratamento cruel que Dick direcionava a Hadassah.
Determinado a acabar com aquela situação, Knox se levantou e arrastou Hadassah consigo, decidindo que era hora de irem embora, mesmo que ela não quisesse. Antes que pudessem dar um passo, Dick ainda tentou ofendê-los, sugerindo que eles tinham um caso inapropriado, como se fossem irmãos. Isso foi a gota d'água para Knox, que avançou em direção a Dick, desferindo golpes com toda a sua fúria. Eles acabaram rolando no chão, mas Knox conseguiu assumir o controle da situação.
As mãos de Knox doíam, mas cada soco valia a pena. Ele queria deixar claro que mexer com ele era pedir por problemas, e mexer com Hadassah era um desejo de morte.
Logo, o garoto se sentiu sendo puxado para trás e tentou se soltar, mas as pessoas que o seguravam eram fortes demais.
— Ei cara, já parou, ele já entendeu. — reconheceu a voz de Atlas.
— Merda, Knox, você não mudou muito. — disse Matthias, cujo olhar mostrava tanto humor quanto preocupação.
Knox olhou ao redor e percebeu que algumas pessoas estavam usando seus celulares, enquanto outras tinham expressões assustadas ou ansiosas. Ele não se importou, nem mesmo quando esbarrou em Dick, que se levantava com o rosto machucado e cortes, encarando Knox com um olhar ameaçador. Knox apenas procurou por Hadassah, mas não precisou procurar muito, pois ela se lançou em seus braços.
— Está tudo bem? — perguntou ela assim que se afastou.
— Policia! — alguém alertou, e logo todos começaram a se agitar, procurando fugir o mais rápido possível.
Knox conseguiu se libertar das garras puxou Hadassah e, junto com todos os outros, saiu da festa, encerrando assim a celebração e o dia.
CENA PÓS-CRÉDITOS
O quarto era simples e clínico, com apenas os móveis necessários, como cama, bidê e uma porta que levava ao banheiro. A escuridão reinava, e a única luz vinha da lua que entrava pela varanda aberta. O homem estava ali, apreciando o vento refrescante e a iluminada vista das estrelas e da lua.
Com o celular na orelha, ele havia acabado de ligar para alguém. No segundo toque, a pessoa do outro lado da linha atendeu.
— Relatório. — mandou a voz, familiar para Dimitri, do outro lado da linha.
— Eles estão hesitantes, mas não por muito tempo. Consigo perceber que é apenas uma questão de tempo; alguns demorarão mais que outros, mas todos concordarão. — pausou por um momento. — Eles só precisam de um incentivo para tomar a decisão. Acredito que não vai demorar muito, considerando o uso dos poderes em grande escala semanas atrás. Além disso, consegui a adesão de dois dos seis adolescentes, eles concordaram em ajudar. Logo, todos devem estar a bordo, e poderemos avançar para a próxima etapa.
— Tempo é algo que não temos. — respondeu a voz do outro lado, com um tom sombrio.
— Eu sei. Estou tentando acelerar, mas não posso simplesmente forçá-los. Se não houver cooperação suficiente, será muito mais difícil usá-los contra a grande ameaça que pode surgir a qualquer momento.
A linha ficou muda por um momento, tanto que Dimitri pensou que o sargento havia desligado. Depois de alguns segundos, a voz continuou:
— Você tem duas semanas, senão tomarei minhas medidas. — disse com seriedade.
A linha ficou em silêncio, e ele percebeu que o chefe tinha desligado. Dimitri sabia que não podia permitir que se o sargento assumisse essa missão, não por causa do ego ferido, mas porque ele desconhecia limites e poderia prejudicar o projeto ao invés de ajudá-lo. Ele afastou o telefone e o encarou por um tempo, pensando em seus planos e como poderia acelerá-los.
Demorou? Sim, mas é sobre isso e está tudo bem kkkk. Em primeiro lugar, peço desculpa por qualquer erro e em segundo, o que acharam do capítulo recheado de emoções? Tiveram uma parte favorita? Se sim, qual?
Temos mais uma cena pós-créditos também! Teorias? Compartilhem! Deixei as pistas muito óbvias, né? kkkk o que acharam dessa dinâmica?
Preciso compartilhar que a parte que mais tive dificuldade de escrever foi a partida de basquete e espero de verdade que, pelo menos, tenha ficado razoavelmente bom kkkk. Porém, estou adorando explorar os sentimentos conflitantes dos personagens!
Espero que tenham gostado! Até a próxima! :)
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