01.2
CAPÍTULO UM.
Somos o que somos
parte 2/2
Matthias agachou-se para acariciar os pelos do animal, no mesmo segundo em que seu celular vibrou. Ignorou, e continuou enquanto pensava em dar-lhe um pouco de comida, mas, em questão de segundos, a vibração tornou-se frenética. Desistiu e o pegou.
Eram mensagens do grupo "AFM", formado por ele, Amara e Franklin. Desbloqueou a tela e conforme lia as mensagens, seu sorriso tornava-se maior.
Amara: "1 ou 2. Pela intuição de vocês [emoji de coração]"
Franklin: "Nenhum"
Amara: "Não tem essa opção e você sabe muito bem disso"
Franklin: "Será mesmo?"
Amara: "[emoji revirando os olhos] Eu nem sei porque ainda respondo"
Franklin: "Porque você gosta de mim em segredo e não consegue resistir ao meu charme"
Amara: "Cale-se"
Franklin: "Primeiro etapa: Negação"
Amara: "Zack. 1 ou 2"
Franklin: "Não sei porque pergunta. Vai decidir o que quer no fim"
Amara: "Zack @hardy"
Depois de enfim terminar de rir, ele resolveu responder.
Matthias: "1"
Amara: "Caiu algum dedo, Zack?"
Matthias: "Não, não caiu [emoji colocando a língua para fora]"
Franklin: "É esse o passado do vilão"
Ele riu.
Ergueu a cabeça assim que ouviu um som de porta sendo empurrada. Era sua mãe.
— Se perdeu no caminho? — ela brincou. — Preciso de sua ajuda na cozinha. — disse e caminhou de volta para dentro.
Guardou o celular e voltou para a confeitaria, mas a sensação de estar sendo observado não passou. Talvez o gato ainda estivesse olhando para ele.
x
Amara encarava as duas peças de roupa como uma questão de vida ou morte. O primeiro era um vestido branco com decote e alcinhas, um pouco acima dos joelhos, e o segundo era uma blusa preta com estampa de astronomia e uma calça jeans azul.
Muitas pessoas votaram no primeiro.
Ela pousou os olhos sobre as peças e ponderou por alguns segundos. Franklin estava certo. Ela pegou a segunda peça e empinou o nariz. Esse, então.
— Filha? — sua mãe a chamou, dando duas batidas na porta antes de entrar no quarto. — Escolhendo roupas para a riacho?
— Sim. — permaneceu com o rosto baixado, fingindo apanhar fiozinhos da roupa.
— Quer ajuda?
— Não. — percebeu que soou muito grossa, ela adicionou: — Obrigada.
— Sobre o que aconteceu há algumas horas... — ela começou, sentando-se na cama, ao lado das roupas.
Amara congelou seus movimentos e respirou fundo.
— O assunto encerrou, mãe. Eu entendi.
— Então por que está desse jeito?
— Sou assim sempre.
— Você não está olhando para mim.
Amara baixou a peça de roupa e a encarou.
— E ainda continua com essa cara de que comeu não gostou.
A garota rolou os olhos e se concentrou novamente na roupa.
— Vocês irão se casar. Eu entendi.
— Estamos felizes e apaixonados.
Ela deu uma risada arrogante. — Ele traiu a ex-esposa com você.
— Eles não estavam mais juntos.
— Estavam passando por uma crise em seu casamento e a ex-esposa e a filha dele não concordam com você.
— Filha-
— Mãe — a interrompeu, desejando terminar a tortura de uma vez. Ela abandonou a peça em mãos na cama. — Faça o que quiser. A vida é sua. Se acha que é o que merece, que é o certo, ok. Preciso tomar banho e fazer alguns trabalhos.
Elas se encararam por diversos segundos. Sua mãe queria estender o assunto, mas a boca de Amara transformou-se em uma linha dura, um evidente "Não". Então ela apenas suspirou.
— Tudo bem. Tenha moderação. E não se esqueça que precisa ir para seu pai nesse final de semana.
Amara fez uma careta e a mulher riu. Seu pai sempre aparecia com uma nova namorada e ela sempre conseguia ser mais insuportável que a anterior.
— Vou deixar você tomar banho.
Amara concordou e caminhou em direção ao banheiro, levando o celular consigo, e a primeira coisa que fez foi abrir o spotify e dar play em sua lista de reprodução favorita.
x
Franklin desceu o lance de escadas em uma velocidade impressionante de dois em dois degraus, sem pisar em falso nenhuma vez, quando encontrava-se com a mão sobre a maçaneta, uma voz o chamou. Virou-se em direção ao som, deparando-se com o escritório de seu padrasto.
Ele resmungou, pensando em fingir que não ouviu, mas sabia que se prosseguisse com o pensamento, geraria uma nova discussão mais tarde. E sua mãe não merecia aquilo de novo.
— O que foi? — empurrou a porta e encontrou Windsor em sua mesa. Ele digitava no computador bastante concentrado.
— O que está fazendo? — perguntou, sem desviar os olhos.
— Saindo? — respondeu com um ar de deboche.
— E iria me avisar quando?
— Já avisei a minha mãe.
O homem parou de escrever e subiu o olhar. Estava carrancudo.
— Frank, estou tentando-
— Eu nunca pedi para você tentar. Não precisamos ter um relacionamento bom. Só precisamos fingir que temos um na frente da mãe. Só. Você não me suporta e o sentimento é mútuo. Não precisamos de um momento pai e filho. — preparou-se para ir embora.
— Você é muito cabeça-dura, do contrário poderíamos ter um bom relacionamento legítimo. — Windsor disse.
— Não. — Franklin girou e caminhou rapidamente em direção a mesa, erguendo o dedo. Ele estava mordendo-se de raiva. — Você não vai começar com seus malditos jogos. Eu estava no meu canto e você apareceu para me incomodar.
— Claro! Você age como se eu não fosse nada para você
— É porque você não é! — explodiu. — E para de agir como se fosse porque você não é! — ele recuou e respirou fundo.
Precisava ir embora antes que perdesse a cabeça de vez. E foi o que fez.
— Não se assuste se um dia você for parar em um internato ou intercâmbio fora da América. — Windsor o ameaçou como quem conversa sobre o tempo e tornou aos seus afazeres.
As palavras fizeram Franklin parar e formar uma ideia em sua mente. Virou-se para Windsor Cooke com um sorrisinho de lado.
Ele se aproximou de novo, desta vez em passos lentos, como um felino, e espalmou as mãos sobre a mesa, interrompendo o trabalho do padrasto, que ergueu os olhos. Abriu a boca para falar, com as sobrancelhas franzidas, mas Frank conseguiu primeiro:
— Sabe, eu quero um óculos de realidade virtual.
— Ok. Compre-o.
— Não. Você não entendeu. —sua voz acentuada fez o homem fitar o profundo olhos castanhos de Franklin, que viraram um par de púrpura cintilante e forte. Era como se tivesse hipnotizados por eles; os cantos dos olhos do padrasto ganharam um roxo menos chamativo. — Eu disse que quero óculos de realidade virtual.
Windsor concordou e o garoto assistiu o padrasto fazer a encomenda em seu nome. A estimativa era de 14 dias úteis.
Por fim, afastou-se com um sorriso vitorioso, sumindo com a magia.
— Que bom que nos entendemos. — ergueu as duas sobrancelhas repetidas vezes e deu as costas para um Windsor confuso. — Não me espere acordado.
x
Leonard vasculhava os armários da cozinha em busca de algo particular porém esbarrava somente com bebidas alcoólicas. Cerveja, vodka, gin, vinho, conhaque.
— Estão nos armários de baixo, atrás das garrafas. — Lilith informou, entrando no cômodo e andando reto para a geladeira. Pegou dois potes com legumes, frutas e verduras.
— Ela comprou muita bebida. — apontou o óbvio e pegou o cereal.
— Sim. Faz duas semanas. — era uma indireta para o irmão, pois não o via fazia duas semanas. — Ela recebeu ou conseguiu um novo namorado. Não sei ao certo.
— Eu não posso estar muito aqui. Você sabe o porquê.
— Eu sei. Não estou dizendo que você precisa estar. — uma risada sem graça escapou de sua boca.
— Não gosto disso tanto quanto você.
"Então por que não me leva com você?", desejava gritar, mas, como em outras vezes, enquanto pegava a faca e a tábua, ela engoliu. Afinal, resultaria em quê? Em nada. Ela não poderia fazer nada assim como ele. Ele não poderia levá-la para seu mundo.
A primeira e única vez que conseguiu reunir coragem o suficiente para pedir, ela desejou voltar no tempo e nunca ter perguntado porque a dor, o desespero e o vazio em seus olhos era algo que ela jamais gostaria de ver de novo. A imagem ainda a assombrava. Às vezes, quando se olhava no espelho pensava que o mesmo olhar refletia nos seus olhos. Não existiam super-heróis. O seu irmão fazia o que estava ao seu alcance, mas ele não era um.
Afastando-se de seus pensamentos, ela sorriu.
— Eu sei. — disse com a voz abatida.
Leonard balançou a cabeça e puxou a tigela em cima da mesa. Logo colocou o cereal e o leite.
— E a escola?
— Normal.
— Nada novo?
Lembranças invadiram sua cabeça, porém permaneceu com a mesma expressão. — Não. A mesma coisa de sempre.
E talvez porque o seu irmão possuía muita coisa na cabeça, ou porque ela era uma boa mentirosa, ou por qualquer outra razão, Leonard não percebeu sua mentira. Nada em seu rosto indicava que havia percebido. E embora não fosse contar, porque não queria ser um estorvo para ninguém, aquele detalhe a incomodou o bastante para perfurar mais um pouquinho seu coração esburacado.
O som da porta de casa sendo aberta seguido de passos familiares fez os irmãos Warren congelarem. Era Fiona, a mãe dos dois.
— Veja quem resolveu aparecer. Meu filho mais velho! — surgiu na cozinha com um sorriso torcido e cabelos loiros bagunçados. — Quanto tempo faz? Duas semanas? Dois meses? Dois anos? — riu consigo.
— Duas semanas. Estava perto de fazer três, mas precisava ver Lily. — Leonard resmungou em um tom seco, colocando a tigela e colher no lava-louças. Em poucos segundos alcançou Lilith. — Tenho que ir. Não se envolva em encrencas, e qualquer emergência você sabe meu número. — ele beijou seus cabelos loiros e ela o observou andar para a porta onde sua mão estava e se recusava a sair.
Fiona lançou um olhar malicioso para Leonard e Lilith quase vomitou. Mantendo a compostura ele passou por ela o mais longe que conseguiu, mas ainda assim, a garota viu sua mãe se roçar em seu irmão. O estômago embrulhou. Ela desejou que estivesse imaginando. Ela procurou colocar a culpa na bebida. Contudo, não foi a primeira vez.
Ele desapareceu de seu campo de visão e então ela se tornou alvo das garras maléficas de sua mãe. A pessoa que deveria cuidar dela, protegê-la, amá-la, mas era o completo oposto.
— Por que não começou a fazer o jantar? — perguntou grossa.
Seu consciente disse para mandá-la a merda, mas, ao invés disso, ela falou:
— Estava começando agora.
— Faça rápido. Não posso sair com a barriga vazia.
Lilith não perguntou para onde a mãe iria. Aprendeu a fazer questão de não saber nada sobre a mulher. Fiona não era diferente com ela.
x
— Interestelar ou Perdido em Marte? — perguntou assim que James apareceu na sala de cinema. Ele procurava equilibrar a pizza e a comida chinesa e as bebidas.
Hadassah soltou uma risada com a cena, mas logo se disponibilizou a socorrê-lo. Fez um simples movimento com a mão e magicamente levitou a pizza e a comida chinesa.
— Já assistimos diversas vezes. — disse, afundando-se na poltrona ao lado da amiga.
— Star Wars?
Os olhos do garoto brilharam. Fazia um bom tempo que não assistiam. Era uma combinação sublime porque Hadassah gostava de astronomia, Knox de ação e ambos gostavam de uma dose de drama.
— Por que ainda não colocou? — perguntou com um pouco de euforia, o que provocou um riso da garota.
Ela baixou a mão vagarosamente e as comidas fizeram o mesmo, pousando em seus colos. Apertou o play.
Eles sabiam sobre o poder um do outro desde muito. Haviam confidenciando o segredo assim que despertaram eles. Eram crianças na época e ao invés de dois eram cinco, mas apenas Goodwin sabia sobre Schmütz e apenas Schmütz sabia sobre Goodwin.
Embora o filme corresse a cerca de trinta minutos e suas comidas estivessem com algumas mordidas, as imagens do vídeo pareciam borradas. Suas cabeças não se encontravam no mesmo lugar que seus corpos.
— Você é bem-vinda para ficar o tempo que quiser. — a voz do garoto surgiu de repente.
— Desse jeito, vai se livrar de mim apenas no final do mês. — procurou soar irônica, mas a dor era evidente.
— O tempo que quiser. — ele reforçou.
— E seus avós?
— Não precisa se preocupar com eles. Não voltarão tão cedo.
Segundos se passaram e eles se encararam. Em primeiro momento com seriedade, depois ela sorriu com a boca e ele com os olhos, e o ar ruim que os rodeava se dissipou. Voltaram-se para a tela, e dessa vez, prestaram atenção no filme, como se aquela troca de sorrisos se tratasse de um acordo silencioso: deixar os problemas de lado e aproveitar. Porque eles tinham um ao outro.
x
Horas mais tarde
Sons diversos ecoavam pela sala do karaokê.
Camila e Amanda seguravam os microfones, e Ben e Giorgia, alguns instrumentos. Todos riram e faziam caras e bocas. A música terminou e todos vibraram com aplausos, gritos e assobios.
— Já são dez horas! — Ben disse, encarando o celular.
— Mesmo? Deuses, como as horas passam rápido. — Camila se abanava para expulsar o calor.
— As duas primeiras são apenas de Giorgia decidindo qual seria a primeira música. — Amanda brincou, as bochechas vermelhas devido o esforço, e Giorgia riu.
Em seguida começaram a organizar a sala; empilhando pratos, colocando os copos lado a lado e o restante na lata de lixo.
— Então Giorgia — começou Camila. —, vai aproveitar a chance de ficar com Frank?
Ela fingiu pensar. — O que vocês acham?
Eles riram.
— Planejo investir em Isabella e Amara hoje. — Camila contou, mordiscando o lábio inferior com um ar sonhador.
Amanda riu. — Boa sorte. Em época como essa de torneio e prova, Amara tem olhos apenas para torneio e prova. — disse. Sendo sua "arqui-inimiga" acadêmica e conhecendo-a desde o maternal, ela sabia uma ou duas coisinhas sobre Amara O'Connell.
Camila deu de ombros. — Eu gosto de um desafio. — sorriu. — Sei que Ben vai ficar na dele, mas e você, Mandy?
O estômago da garota despencou e, ao mesmo tempo, uma figura se formou em seu consciente. E seus cabelos e olhos eram bastante semelhantes com os de Knox. Desejou esconder-se. Odiava quando seu cérebro a desobedecia. Odiava como seu coração acelerava e suas mãos suavam apenas de pensar no garoto. Ela nem mesmo gostava dele.
Apenas por causa de algumas interações em que admirou o garoto...
— Não. Não tenho ninguém em mente. Sou muito areia para o caminhão de muita gente. — procurou ser irônica, porém, sob a mira de olhos semicerrados, percebeu que fracassou.
— Ela hesitou. — Ben observou.
— Nos diga. — Camila ordenou.
— Não. — Amanda respondeu, evitando os olhares, enquanto seguia recolhendo o lixo espalhado pelo chão.
— Não?! Então tem alguém! — foi a vez de Giorgia.
— Não porque não tem ninguém e nada para contar. — disse um pouco rápido demais e apertou os olhos com força quando percebeu. Engoliu em seco e virou-se para eles. — Não precisamos ir?
Camila ergueu uma sobrancelha. — Fugindo do assunto? Tudo bem. Eu descobrirei de qualquer forma. Vamos.
Amanda relaxou. Ninguém descobriria nada porque não havia nada para descobrir.
x
— Como consegue pedalar tão rápido? — Amara perguntou, batendo a porta do carro. Eles haviam se encontrado em um dos semáforos.
— Tenho pernas fortes. — disse ironicamente, aproximando-se.
— E o mundo vai à loucura! — Amara brincou e Matthias riu.
O local se encontrava cheio de pessoas descendo de seus veículos conversando com outras. A maioria participava de algum clube ou time. Era uma clareira perto de um riacho descoberta por um grupo de jogadores de futebol da ISH. Então criaram um ritual em que quem deteria o lugar seria o capitão do time. Sempre. Desde então, festas sempre estão acontecendo na região, muitas vezes consideradas reuniões quando organizados em dias aleatórios, como hoje.
Amara e Matthias começaram a caminhar em direção a fogueira assim que enxergaram um raio laranja e fumaça. Passaram por pessoas bêbadas, beijando-se, quase trasando. Conforme se aproximavam, conseguiam ouvir mais o som da música.
— Edwyn publicou um story de estudos. — Amara contou com desgosto olhando para o celular. — Como se estivesse debochando de mim "Eu tenho prioridades". Com certeza ele não sabe qual é o significado da palavra diversão. Não deve saber sequer da sua existência.
Matthias a encarou de forma engraçada. — Tem certeza que o story diz isso?
— Claro que sim. Por que mais seria?
— Porque ele queria publicar story de estudo? — respondeu com um pouco de ironia.
Amara parou de andar e se virou para ele. — Está a favor ou contra mim?
Matthias ergueu as mãos na altura do peito. — Tenho uma sensação de que vai me bater se responder qualquer coisinha errada.
O corpo da garota relaxou e ela riu, mas em seguida seu rosto se contorceu em culpa.
— Não, não. É que. Só... O debate. os preparativos das próximas semanas, do baile, do torneio de matemática. O meu pai. O babaca do noiva da minha mãe. Eu sei que não justifica. É... — não conseguia encontrar as palavras certas.
— Hey, hey. — Matthias colocou a mão no ombro da amiga e se aproximou alguns passos. — Respira. Inspira. Expira. Três vezes. Sim, dessa forma.
Amara sorriu. — Obrigada.
— Sabe o que você está precisando? De uma bebida. — ele se inclinou para o barril e encheu os copos descartáveis. — Segura. Obrigado.
— Vocês chegaram! — Franklin andava na direção dos amigos.
— Merda. Deveríamos ter nos escondido. — Amara sussurrou alto o suficiente para Franklin ouvir.
— Eu disse para a gente se esconder nas árvores enquanto podíamos. — Matthias usou do mesmo tom.
Os dois tinham um sorriso grande no rosto.
— Não conseguiriam sobreviver um dia sem minha presença tão requisitada.
— Oh Meu Deus! Tem batom por todo seu rosto. — guiou a mão para tirar as marcas de uma de suas bochechas. — Quem é a azarada?
— Você gostaria de estar no lugar dela. — Franklin retrucou.
— Só em seus melhores sonhos.
— Eu vou deixar você vencer dessa vez porque a Katrina propôs jogarmos Eu Nunca. — Franklin disse.
— "Deixar eu ganhar". — debochou e bebeu um gole da cerveja, seguindo o caminho para a fogueira.
— E depois diz que eu que tenho um ego do tamanho do mundo. — Franklin resmungou para Matthias, que riu. Em seguida os dois a seguiram.
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Sob o mesmo céu escuro, Lilith observava as poucas estrelas pairando sobre ela, com a bunda em um dos degraus das escadas do fundo da casa. Em seu colo estava um livro aberto, e em seus ouvidos ressoavam Smokin' And através dos fones de fio. Cantava com a garganta.
Distraída, ela ergueu as pontas de seus dedos e deles liberou um vislumbre de seu poder. Assim que percebeu imediatamente, abaixou o dedo e olhou para todas as direções.
Suspirou fundo. Ninguém sobre seu poder. E preferia que permanecesse dessa forma.
Procurando distrair-se, ela guiou os olhos para o livro com o objetivo de limpar sua mente. Eram companhias melhores que a de muitas pessoas.
Ela passava para a décima página no momento em que ouviu um farfalhar. Levantou rapidamente o rosto e procurou em todas as direções. Árvores, arbustos, moitas. Poderia ser um guaxinim assim como poderia não ser um. Era um bairro perigoso. Poderia ser qualquer coisa. Qualquer pessoa.
Não era páreo para um bandido, traficante ou drogado do Brooklyn.
Embora ela quisesse ficar, ela entrou. Ao menos o inferno de sua casa ela reconhecia e sabia lidar.
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— Preciso do nome do anjo que deixou a tampa do vaso de pé. — Victoire exigiu assim que surgiu pela porta da sala de jantar como um tornado e parou em frente aos seus dois irmãos; Kieran, seu gêmeo, e Wylan, o caçula. — Vamos. Quem dos dois?
Recebeu o silêncio.
— Filha, pegue aqui — a mãe empurrou para ela o vidro com maionese. — e se sente. — e sumiu para a cozinha novamente.
Victoire colocou o prato sobre a mesa e obedeceu a mãe, acomodando-se entre os dois garotos. — Ninguém? Tudo bem. Não quero nenhuma surpresa quando cocô aparecer na cama de vocês.
— Foi você?! — Kieran exclamou.
— Ah! Ele fala! — ela deu de ombros. — Pode ter sido eu ou eu poderia estar tirando créditos de alguém. — desviou para Wylan e este arregalou os olhos.
— Estou com dúvidas. — disse Kieran com uma sobrancelha erguida.
— Cadê o pai de vocês? — a mãe perguntou aparecendo com o refrigerante em mãos. — Querido! O jantar!
Às vezes sua mãe dispensava todos os empregados da casa porque queria preparar o almoço ou jantar para a família, e mesmo fazendo isso diversas vezes, ainda era estranho para Victoire. Um estranho bom.
— Estou aqui! Estou aqui. — apareceu e se sentou na cabeceira da mesa. Sua mãe repetiu o movimento.
— Eu não levantarei a bandeira branca até o responsável confessar. — ela avisou os irmãos.
Em seguida todos se serviram e começaram a comer. Passaram-se alguns minutos em silêncio quando sua mãe comentou:
— Madalena nos convidou para seu evento.
— Não podemos ir. — disse o pai. — Depois da propaganda mentirosa da nova linha de cosméticos dela e a mídia cair em cima dela, não podemos nos envolver em uma outra polêmica. Não agora que as coisas estão melhores.
Os gêmeos Hatfields rolaram os olhos e, de acréscimo, Victoire bufou.
— Quer dizer algo, Victoire? — o homem a fitou.
— Não. Na verdade. — bebeu um gole de suco. — Sim. Eu quero, sim. — o encarou e, depois de alcançar, com a língua, a comida nos dentes, disse: — Essa mulher que divulgou de forma "desonesta", como insiste em chamar, ajudou a mãe, você, nós, quando estávamos na pior e é dessa forma que a agradece? "Obrigado pelo convite, mas cada um com seus problemas. Boa sorte nas suas merdas"?!
— Victoire! — sua mãe a repreendeu.
— Não. Tudo bem, querida. Victoire não entende que-
— Não entendo o quê? Que você está sendo um mau exemplo de pai?! Novamente. — empurrou a cadeira antes que sua mãe conseguisse falar alguma coisa. — Perdi a fome. — levantou-se e partiu.
O silêncio se instalou e seus pais encaram o lugar perplexos.
— Eu concordo com ela, mas vou ficar porque a comida está deliciosa. — Kieran disse e deu outra garfada.
x
Knox saiu do banheiro de banho tomado, ao mesmo tempo em que Hadassah desligou o celular, colocando-o em cima da mesa de cabeceira para carregar.
— Era minha mãe. Ela ligou para perguntar se estou bem ou se preciso de alguma coisa. Aproveitei e disse que ficaria na sua casa até ele ir embora. Ela permitiu. — a garota disse, observando o amigo entrar no closet. Em seguida arrumou a cama. — Amanhã preciso passar em casa e pegar algumas coisas. Ah! Dona Kate disse oi.
— Eu posso ir com você. — ele retornou com o edredom que ela adotou como o dela.
— Obrigada mas realmente não precisa. A casa estará cheia.
— Tem certeza?
Ela hesitou por apenas alguns segundos.
— Sim.
Ele não disse nada, porém a garota sentiu o olhar penetrante dele sobre ela, e depois de alguns minutos fingindo arrumar a cama, ela desistiu e o fitou.
— Diga de novo. — ele pediu.
— O quê? — fez-se de inocente.
Knox apenas continuou a encará-la.
— Eu não preciso que me acompanhe. — disse com convicção mesmo que estivesse um pouco incerta e talvez ele viu esse sentimento em seus olhos, e, por isso, não acreditou no que saiu de sua boca.
— Eu vou. — decidiu-se em tom de final.
— N-
— Não entendo o porquê estamos entrando em uma discussão, sendo que de forma ou outra, estarei indo com você amanhã.
— Como consegue ser tão turrão? — cruzou os braços e riu. — Tudo bem. — enfiou-se debaixo da sua coberta e encostou a cabeça na cabeceira da cama. Logo alcançou o livro e ligou o abajur.
O garoto apagou a luz e se aconchegou nos pés da amiga.
— Boa noite!
— Boa noite.
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Você não enxerga e nem vê.
Matteo não enxergava qualquer tonalidade de escuro. Nem mesmo a sensação.
Nos primeiros anos de cegueira ele visualizava figuras, rostos, mas os anos se passaram e houveram transformações. As coisas mudaram e ele pode apenas imaginar como elas eram através de relatos e sensações. Não era a mesma coisa. Ele não era mais a mesma coisa. Mas ele se adaptou.
Em ser órfão. Em ser cego. Em seu novo lar com pessoas que não se importavam com ele, salvo os empregados, mas eles eram pagos para fazê-lo. E embora tivesse amigos a sensação de... Não sabia como definir. Não era solidão. E ele tinha um propósito. O garoto estava somente sentindo falta de algo.
Suspirou e deitou-se de barriga para cima. Ele realmente detestava estar com seus pensamentos.
Encontrava-se em sua cama, preparado para dormir, mas o sono simplesmente não aparecia. Tentou diversas posições, diversos métodos, mas nada funcionou. Já fazia duas horas.
Ergueu uma das mãos e, com um comando, luz invadiu seu quarto. Conseguiu enxergar apenas alguns feixes, como sempre, da sua destruição e salvação. Como algo pode nos fazer sentir-se especial quando nos arruinou muito?
Encarando aquele ponto, ele adormeceu em poucos segundos.
x
— Eu não acredito que você acabou com um barril inteiro! — Amara xingou Franklin e em seguida estacionou o carro. — Como consegue ser tão irresponsável?! — ela desceu do carro.
— Se soubesse que iria me tratar desse modo teria pedido para outra pessoa. — falou ao empurrar a porta e quase sair ao dar um passo falso. Amarra correu para ajudá-lo.
— O Hardy não conseguiria trazê-lo. Você não consegue ficar em pé quanto mais se agarrar em uma bicicleta. Nossa você é pesado!
— É pura musculatura. — sussurrou em seu ouvido.
Amara fez careta.
— Oh Meu Deus! Para de falar! Você deveria dar mais valor por me ter. Dúvido que outra pessoa, além de Hardy e eu, faria isso. Provavelmente te arrastaria para a calçada e deu.
Franklin riu.
Eles andaram para a parte traseira da casa.
— Knox e Hadassah. — o garoto resmungou depois de um tempo.
— O quê?
— Eles fariam. Knox e Hadassah.
— Eles não estão mais com a gente. Os dois não deram as costas.
— Você fez isso primeiro.
A garota parou de andar, obrigando Franklin a fazer o mesmo. Encontravam-se em frente à porta.
— Combinamos de enterrar o assunto.
— Eu sei. Me desculpa. Dê um desconto para um pobre bêbado. — afastou-se dela e se segurou na parede.
— Quer ajuda?
— Não. Valeu.
Amara assentiu e girou o corpo, preparada para voltar para casa, tomar um banho e descansar por algumas horas.
— Amara.
Virou-se novamente. — O que foi?
— Obrigado.
Eles sorriram um para o outro.
— Espero que não se repita. — ela fingiu repreendê-lo.
— Eu não prometo muito. — deu uma piscadela.
O garoto entrou e andou pela casa com cuidado para não acordar ninguém, embora sua cabeça girasse. Subiu as escadas e alcançou o quarto sem problemas.
Começou a se desfazer das roupas, ao mesmo tempo em que uma voz apareceu de repente ao fundo, porém estava com tanto sono que não deu quase nenhuma atenção.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Estava esperando por você. — estava bêbado demais, por isso jogou-se na cama sem temer a voz sombria e a silhueta desconhecida próxima a ele. — Eu tenho uma proposta... — aconchegou-se entre os travesseiros. — Preciso... — e simplesmente apagou.
✘│E ENCERRAMOS O CAPÍTULO 1! Nunca mais grandes capítulos, pelos deuses. Então essa foi a introdução dos personagens e de alguns arcos, espero que tenham gostado! Desculpa qualquer erro. Sei que provavelmente queriam mais da festa, mas não achei necessário focar nela. Mas haverão outras festas e prometo trazer muita treta e farofa <3! Tiveram uma parte favorita do capítulo? Qual?
✘│Já planejei mais ou menos como serão os capítulos 2 e 3, mas ainda não tenho uma data de previsão para lançamento :(. Em breve. Estou pensando em fazer um cronograma de pelo menos um/dois capítulo(s) por mês. Manterei vocês atualizados!
✘│Perguntinha. Para qual casa de hogwarts vocês acham que seus personagens iriam?
✘│Até a próxima! :)
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