PRÓLOGO.

Curvado sobre a mesa e a popança na cadeira, sem erguer os olhos com olheiras escuras e profundas, o agente estendeu o braço musculoso e exposto e alcançou a caneca azul como safira em meio a bagunça de impressos, fichas, registros, canetas e outras papeladas. Levou-a em direção a boca, a atenção mantinha-se nos papéis, porém franziu o cenho quando nenhuma gota amarga tocou em sua língua e desceu pela garganta.

Os olhos, muito escuros iguais aos corvos, buscaram o interior da caneca. Assim, percebeu que o café havia acabado. Bufou alto, largando o objeto ao lado do monte de documentos, e logo jogou a cabeça para trás. Esfregou o rosto, sentindo a aspereza da barba por fazer, visivelmente frustrado, e passou a mão pelos cabelos despenteados, lisos e cheios de gel.

Encarou o teto de seu escritório, o suficiente para perceber um pequeno mofo no canto e a visão embaçar. Cansado. Desesperado. Eram duas palavras que descreviam Dimitri Kuznetsov nos últimos anos.

Após o desaparecimento gradativo de heróis e o número de vilões aumentar desenfreadamente, A.I.A transformou-se em um caos, com diversas baixas de diversos heróis e diversas reuniões de emergência. Em uma dessas reuniões, o sargento alpha, juntamente com a dra. Davis, apresentou a ele e outros agentes um quadro de enumeração de dados e contingências, e chegou a conclusão de que precisavam de tempo, para minutos mais tarde informá-los de uma decisão importante, que, ao menos uma vez por semana, o russo fazia questão de relembrá-la.

- De acordo com os dados - começou o sargento alpha, afastando-se do televisor e da doutora em passos mancos. O homem cruzou as mãos atrás das costas e circulou pela mesa grande da sala igualmente espaçosa e de cores neutras, a atenção do homem parecia estar na sala ao mesmo tempo que distante, como se enxergasse o que era dito. -, temos menos de dois anos para descobrir o porquê dos desaparecimentos inesperados e corrigir antes que todos heróis dissipam do planeta terra, nos deixando à deriva do mal. - a voz era alta e carrancuda.

Dimitri encontrava-se sentado e escutando como os outros nove agentes. Era uma reunião confidencial apenas para os agentes da categoria beta. Não era para os ouvidos dos agentes gamma, delta, epsilon e zeta. Uma atmosfera pesada pairava sobre os presentes devido ao comportamento incomum do comandante. Sua expressão fechada era razão para que todos estivessem calados.

- Estamos em um caso ruim, bastante ruim. Não vejo o porquê de omitir. - parou de perambular e encarou os agentes, um por um, demorando alguns segundos a mais no único russo, que não recuou, embora vários o fizessem. O sargento alpha era conhecido por ser bastante carismático porém quando sério era capaz de amedrontar e torcer qualquer um. Aparentemente exceto Kuznetsov. - Nossos heróis habilidosos e superpoderosos não estão conseguindo lidar com os vilões e investigar. E os agentes não conseguem investigar sem ajuda dos heróis. Os convoquei para dizer que precisamos de tempo. - pausou por um, dois, três segundos. - Precisamos do projeto TEEA.

Embora imperturbado como sempre, mesmo o russo espantou-se junto dos outros agentes, cintilando por alguns segundos no olhar. O projeto TEEA era para ser acionado somente em casos de fato emergenciais, em outras palavras eles estavam com um problemão em mãos.

A alguns metros de distância, Kuznetsov notou uma mão erguida. Emma Yang. Titulada Beta havia poucos meses, sempre empolgada, querendo conhecer mais, explorar mais.

O sargento deu permissão.

- Desculpe, sargento. - ela pediu, levemente insegura. - Projeto TEEA?

- Τελικό Έργο Έκτακτης Ανάγκης. - respondeu em um grego perfeito. - Projeto Emergencial do Fim. Você pode encontrar as informações completas a partir da página 429 do Guia Confidencial Para Todo Agente Secreto. Lá explicamos a origem que engloba todas as minuciosidades prováveis.

- Resumidamente, o projeto TEEA compõe cada agente da categoria beta, de todas as redes, formar uma equipe de jovens prodígios inexperientes no mundo heróico. - agente Harris esclareceu, manifestando-se com sua inconveniência, o que fez outros três agentes revirar os olhos, incluindo Dimitri, e o comandante a apertar os olhos.

- Exatamente, o agente Harris. Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? Ou substituir-me?

- Claro que não, sargento. Me desculpe.

O sargento alpha o queixo levemente em entedimento.

Dimitri era amigo de anos de James Harris, apesar disso, o russo não era cego para os comportamentos irritantes do agente. Jamais fazendo vista grossa para ele.

- Como esclarecido pelo agente Harrison, jovens prodígios são jovens. Eles necessitam ser jovens de 15 a 26 anos e bons o bastante para conseguir enfrentar os vilões e ganhar tempo para as investigações. - acrescentou o homem, porém, no segundo seguinte sua atenção permaneceu apenas no agente Harris. - Todo agente beta precisa formar uma equipe. É um dever de vocês assim que assinaram os papéis que os obriga a participar de modo ativo e passivo deste projeto. Entendido?

O agente Harris concordou, ligeiramente hesitante. Logo, todos concordaram.

Mais tarde, em sua casa, e em seu escritório, Kuznetsov buscou selecionar as pessoas mais pertinentes. Depois de dois meses, resolveu recrutá-las. Porém, por algum motivo, elas morreram ou desapareceram antes que pudesse fazê-lo. Aconteceu a mesma coisa com suas próximas escolhas. Todas mortas ou desaparecidas e com vinte anos para mais, sempre da forma mais limpa, o que levou seus colegas o apelidaram de O Condenado.

Em nenhum momento ele se importou com as brincadeiras. Na verdade, ele nunca se importou com nada que não lhe agregasse. Contudo, o russo investigou e não encontrou nada, deixando-o confuso demais. Heróis desapareciam. As pessoas que recrutaria também desapareciam. Por quê? Havia alguma ligação? Quem ou o quê estava por trás disso? Sua parede encontrava-se com diversas pesquisas, post its, teorias, círculos, linhas de cores diversas e em sentidos diferentes, riscos e dicas, porém, ainda assim, eram apenas pontas soltas, sem um início legítimo e conexão lógica, com inúmeros pontos de interrogações.

Suspirou alto. Sinceramente, Dimitri não queria ter de lidar com uma gangue de adolescentes cheios de hormônios, eles mais causavam problemas que conseguiam solucioná-los, eles reclamavam de tudo e eram bastantes indecisos, muitos se achavam o dono da razão ou os pobres injustiçados. As preocupações deles não se comparavam com as preocupações do mundo real. Por isso, preferiu apenas jovens adultos, uma dor de cabeça menor. Entretanto, segundo o seu comandante, haviam sobrado apenas duas dúzias de fichas qualificadas, e todas elas eram adolescentes, que, até o momento, nem opção era para o russo.

Dever era dever. E Kuznetsov havia feito diversos feitos para estar ali, ingressando no A.I.A como um dos mais jovens agentes, conquistando patamares elevadíssimos e resultados formidáveis em pouco tempo. Não havia porquê parar. Não havia mais por quem parar.

Examinou as fichas, pela trigésima vez naquela noite. Dessa vez, prestou atenção somente nas informações essenciais: poder e histórico escolar e familiar. Confessava que a maioria era dotado de boas habilidades, mesmo possuindo um histórico escolar ou familiar - ou ambos - péssimo. A grande parte era da América do Norte, apenas dois da América do Sul e um na Europa. Não sabia quais escolher. Não era inseguro, mas era como se algo o impedisse de decidir. Tinha um palpite do que era, porém de forma alguma iria explorá-lo.

Sua mente iluminou com uma ideia que não fazia desde muito.

Desde delas.

Levantou-se, guiado pelas suas emoções, e caminhou em direção ao globo terrestre sobre a mesinha ao lado da poltrona abandonada. Logo, fechou os olhos e girou a esfera.

Ergueu a mão, o pomo de adão subiu e desceu, respirou fundo durante bons segundos e, com a ponta do dedo, parou o objeto. As duas íris escuras surgiram e dirigiram-se para a bola azul e verde.

A decisão estava tomada.

Nova York.

✘│Eu seeeei. Os personagens de vocês não apareceram, porém prometo que no próximo todos aparecerão (personagens principais, secundários ainda estou vendo). Só que precisava escrever esse prólogo pois ele contém elementos muito importantes para o futuro. Conseguiram entender quais são? Teorias?

✘│Estou esboçando o primeiro capítulo e ainda estou no começo do esboço, então não sei se conseguirei entregar dentro do prazo (18/03), tudo bem? Vou tentar, porém é provável que tenha um atraso de alguns dias.

✘│Vou colocar Misguided Heroes no Pinterest e no Spotify (Youtube também, caso quiserem), possivelmente no Tiktok. Só estou decidindo algumas coisinhas antes de divulgar. E podem me mandar edits autorais e sugestões (cenas, músicas, etc) sempre que desejarem, tudo bem?! Então, é isso! Minha caixa de mensagens está aberta para qualquer coisa, responderei assim que possível. Ah! Desculpa de houver algum erro, está revisado, mas nunca sabe kkkk. Até mais! <3