september 2nd, 2015
Dive bar on the East Side, where you at?
Phone lights up my nightstand in the black
Come here, you can meet me in the back
Percy
Toda vez que eu me encontrava com Annabeth Chase, era surpreendido de uma maneira diferente.
Quando nos encontramos em um restaurante francês fora da cidade, dois meses atrás, a loira me espantou ao fazer o pedido inteiro no idioma europeu, deixando o garçom animado e fazendo meu queixo atingir o chão. Precisava admitir: francês e português sempre tinham sido dois idiomas que me colocavam em uma coleira, esperando como um cachorro domado por qualquer migalha de sotaque ou palavra arrastada.
Obviamente, forças superiores tinham nos forçado a usar o jantar como forma de marketing para aumentar a credibilidade do falso namoro, mas isso não tinha nos impedido de fingir que estávamos sozinhos naquele grande restaurante. Tinhamos ordens expressas de como agir durante a refeição, do quanto de proximidade era aceitável e de como deveríamos parecer confortáveis um com o outro.
Encontro atrás de encontro, passeio atrás de passeio. Tinha se tornado fácil diferenciar quais planos eram feitos para nós dois, para a nossa diversão e lazer, e quais eram feitos para os olhos do público.
Se aquelas caminhadas frias e toques ensaiados eram o que Annabeth via como um ideal de futuro, eu realmente me sentia mal pela garota de dezessete anos que costumava cantar sobre diferentes paixões como se pudesse se afogar nas diferentes sensações de cada uma.
Tinha aproveitado o tempo em que passei trocando mensagens com Annabeth para ouvir suas músicas antigas, e não entrava na minha cabeça como alguém poderia descrever o amor com tanta intensidade sem nunca tê-lo vivenciado. Uma delas caracterizava com perfeição aquele estágio frágil do início de um relacionamento, quando ainda não se sabe em que pé ambas partes estão e tudo ainda é muito incerto. Ela sabia construir narrativas, usando situações e frases que mostravam que sabia a sensação de amar - mesmo que ela tivesse escorrido por entre os seus dedos.
Fomos em caminhadas vazias em locais lotados de paparazzi, mas também passamos a caminhar sozinhos, andando por praias e praças de noite sem nenhuma única alma para nos fotografar. Era gritante como tudo a respeito da loira mudava na frente das câmeras, desde suas expressões faciais até o modo de agir.
Quando estávamos a sós, Annabeth sorria com mais facilidade e mostrava uma personalidade espirituosa, fazendo piadas sujas e olhando para o mundo como se cada pedaço fosse uma nova parte a ser explorada. Como se um banco em uma praia pudesse inspirar uma canção em um de seus álbuns.
Ela também falava muito mais, o excesso de educação esquecido com a ausência de máquinas para gravarem suas palavras.
Descobri que, na noite do Met Gala, Annie tinha ido ao bar por se sentir sobrecarregada com a quantidade de ordens que sua gestão havia dado a ela. A mulher tinha passado muito tempo em um ambiente fechado, usado uma capa extremamente pesada, conversado com famosos que a deixavam envergonhada e ainda tinha sujado a barra do vestido ao se chocar com um garçom que carregava molhos diferentes.
Aprendi que ela tinha nascido na França e que toda a sua família ainda morava lá, ocupados demais até para a visitarem em épocas de festa e feriados. Ela tinha dois irmãos mais velhos e dois amigos que eram como família para ela: Jason e Piper. Era apaixonada por leitura e tinha começado a cantar com apenas quatros anos ao ganhar um microfone infantil de aniversário.
Contei a ela sobre minha família, sobre minha vida em Londres e sobre como tinha passado a amar música. Contei sobre minha mãe me ensinando a tocar piano, sobre as aulas de ballet de Estelle e sobre a minha entrada na faculdade de teatro.
Passamos dias conversando e descobrindo novos lugares pela cidade, aproveitando a noite para passarmos despercebidos por entre as outras pessoas. Era mais do que incrível a maneira como tudo, aos poucos, ia se tornando menos robótico. Ainda tínhamos que fingir à luz do dia, mas nada mais parecia fingimento.
Todos os toques, os beijos, as conversas. Tudo aparentava ser natural.
Chegou em um ponto em que eu nem precisava mais olhar nenhum edital com instruções ou mensagens dizendo como eu deveria agir. Só precisava olhar nos olhos tempestuosos de Annabeth e, simples assim, eu sabia como queria me comportar.
Continuamos nos encontrando em lugares seguros, como cinemas privados ou nossas próprias casas, onde pouco importava o planejamento, desde que estivéssemos um perto do outro e pudéssemos nos beijar sem sermos interrompidos.
O ideal seria ter atitudes como essa nas ruas, onde qualquer pessoa poderia ver e capturar uma foto com o celular, mas esses éramos Percy e Annabeth, e não um ator e uma cantora ligados por um contrato. Se íamos fazer aquilo direito - e ainda me surpreendia que Anna não tivesse nenhuma oposição quanto a isso -, faríamos de uma maneira verdadeira e boa para nós dois.
Ainda continuávamos saindo em encontros chatos e fajutos, é claro, mas tudo ficava mais interessante quando tocávamos nossas pernas por debaixo da mesa e lembrávamos que, por mais que todos acreditassem no relacionamento, esse pequeno aspecto era só nosso. Quando eu capturava os lábios de Annabeth nos meus, fazia questão de sussurrar provocações como quem dizia "achei que você não ia se deixar ser seduzida por mim", as quais ela só respondia com um revirar de olhos e beijos mais longos.
Eu queria tornar toda essa experiência em algo ainda mais especial para ela, queria que ela estivesse gostando de estar comigo da mesma forma que eu gostava de estar com ela.
Cada vez que eu me encontrava com Annabeth Chase, era surpreendido de uma maneira diferente.
Então por que não passar a surpreendê-la também?
Is it cool that I said all that?
Is it chill that you're in my head?
'Cause I know that it's delicate
— Delicate
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro