2: (não) me diga a verdade
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Lee Felix não era um imbecil, não falava coisas maldosas para outros alunos — que não fossem Jeongin, mas este também quase implorava por uma reação do Lee às suas piadinhas — e parecia também não se importar com os papéis coloridos colados na porta da sala de aula o chamando de "viado de merda" e mandando ele pular de uma ponte.
Os adolescentes daquele lugar podiam ser extremamente cruéis, como se fosse parte do desenvolvimento social ter que massacrar qualquer um que fosse diferente. Era quase obrigatório ser daquela forma, como uma espécie de preparação esquisita para a vida adulta. Felix não ligava, mandava todos eles irem cuidar das próprias vidas, com a sentença sendo acompanhada por um revirar de olhos.
Changbin ligava. Não recebia bilhetinhos, talvez por vez ou outra ainda andar com seu quarteto de idiotas populares, e isso era algo bom. Significava que estava, até o momento, longe do massacre de sua vida social e da morte de todas as suas chances de ser visto como algo além de nerd, emo e bicha. Mas ainda sim ligava, pois Felix não era como os outros alunos daquele inferno adolescente e não merecia ter que ler coisas como aquelas.
E Changbin ligava mais ainda, pois aquilo era parcialmente (uns 70%) sua culpa. Changbin era um idiota mentiroso.
Jeongin ficou feliz quando viu o Lee amassando alguns papéis com frases horrorosas e jogando na lixeira. E Changbin pensou que podia ser um idiota, mas Jeongin conseguia ultrapassar o seu nível.
— Isso tá ficando melhor do que eu pensei. Eu sou um gênio!— o Yang riu sapeca.
— E o que o gênio vai fazer quando o Changbin começar a receber essas mensagens?— Kim Seungmin se pronunciou, cruzando os braços e jogando o peso de suas costas na parede da sala.
— Seungmin, você parece a minha mãe. Que saco!
— Eu não pareço a sua mãe, Jeongin. É você que parece um imbecil fazendo esse tipo de coisa, você e o Changbin.— fechou a cara e se sentou em seu lugar. Ele não era de falar muito, tampouco se posicionava quando os amigos faziam piadinhas sobre qualquer aluno, mas parecia realmente nervoso.
Kim Seungmin era o menos idiota nessa história toda. E tinha muitos motivos para não sê-lo.
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Faziam duas semanas que Changbin estava "namorando" o Lee. E elas não foram tão diferentes de qualquer outra semana, a não ser por pequenos detalhes como: almoçar com o australiano e ambos irem para casa juntos. Era de certa forma como se o Seo tivesse feito um amigo, uma amigo extremamente chamativo e que tinha mania de tocá-lo e andar de mãos dadas por aí. Nada fora do normal.
Talvez, por isso, Changbin quase engasgou com um dos bolinhos do almoço quando o Lee o chamou para ir até sua casa e passar a tarde inteira lá.
Ele nunca ficou tão desesperado para a aula de biologia durar mais de uma hora, mesmo que não suportasse mais ter que fazer tantos cruzamentos genéticos nas atividades.
— Teu namorado está te esperando Changbin, levanta essa bunda seca daí! — Hyunjin se aproximou assim que o sinal soou.
Changbin guardou seus cadernos e sua coleção de canetas coloridas (item sagrado para si), tudo tão lentamente que só restara ele na sala. Ele se encontrava tão nervoso que poderia pular pela janela para fugir se tivesse coragem — e a janela não possuísse uma grade.
— Perdeu alguma coisa Bin?— a voz de Felix pareceu ecoar naquele vazio. O apelido criado única e exclusivamente para ser usado pelo Lee soava mais como veneno pronto para paralisar todo o corpo do Seo.
Ouvir o Lee chamá-lo de "Bin" tão alegremente e com aqueles olhos castanhos brilhando, mesmo com tanta maldade o rodeando, fazia Changbin sentir náuseas e nojo de si mesmo.
— Não. Apenas estava conferindo.— forçou um sorriso.
O caminho para a casa do Lee foi tranquilo. Não houve muita troca de palavras, apenas o pedido rotineiro do australiano para andarem de mãos dadas.
Seo Changbin se sentia o rei dos babacas, andando de mãos dadas com o garoto ao qual tinha contado a maior mentira de sua vida. Sua vontade era acabar com aquilo, antes que o Lee tivesse a oportunidade de se apaixonar e terminar com o coração partido. Mas Changbin era imbecil o bastante para se preocupar com o que seus amigos pensariam. Será que o ignorariam? Será que mesmo que tudo terminasse, sua vida voltaria ao normal? E se tivesse que continuar ouvindo os cochichos maldosos no corredor?
"E se Felix nunca mais falar comigo?", Pensou, e isso foi o suficiente para todo o seu corpo entrar em alerta máximo. Era um sinal perigoso. Changbin estava se importando demais com alguém além de si mesmo e de seus amigos idiotas. E isso seria bom, se a regra de sobrevivência escolar para pessoas como ele não fugisse completamente disso.
Ele mal prestou atenção quando pararam de andar.
— Chegamos! Welcome to my house.
A casa do Lee era amarela e simples, com uma pequena varanda com uma cadeira de balanço e diversos penduricalhos espalhados. Passava a sensação de aconchego, ainda mais com o australiano movendo o dedão em círculos na mão do Seo, numa espécie de carinho não usual.
Changbin se viu pensando que o sorriso do Lee era realmente muito bonito. E talvez fosse muito mais idiota por isso.
Por dentro, a casa do australiano parecia mais uma espécie de loja de antiguidades. Os móveis eram de madeira escura, sempre com algum paninho bordado ou vaso de flores por cima. Haviam molduras com fotos de quando o Lee era uma criança rechonchuda e bagunceira, em seu país natal.
Os pais do Lee não estavam em casa, como o mesmo dissera, e isso fazia cada membro do corpo do Sei retesar em puro receio.
Eram dois garotos, sozinhos e — pelo menos um deles acreditava — estavam namorando. E se as coisas corressem como nos filmes que Changbin assistiu, ele teria que arrumar uma forma de sumir do país para escapar de Lee Felix, ou simplesmente agir como um bobo apaixonado (coisa que não era).
— Você parece mais nervoso do que eu, e olha que sou eu que vou mostrar meu quarto bagunçado e com poster das Spice Girls pro meu namorado.— Felix riu, as palavras saindo arrastadas pelo sotaque, puxando de leve a manga do moletom azul escuro do Seo, para que ele lhe seguisse porta adentro.
O quarto do australiano era pequeno, tinha uma cama de solteiro arrumada com lençóis de estrelas, as paredes eram repletas de fotos de cantores e posters de bandas e, claro, um enorme poster do Spice Girls bem no meio da parede. Changbin riu um pouco, se sentindo acolhido pelo pequeno cômodo. Se sentou na cama, os pés ficando um pouco acima do chão.
— Aqui estamos, meu QG. Apesar da minha mãe adorar chamar de A Caverna. O que achou?— o Lee abriu os braços, como se apresentasse uma grande atração. Quase bateu os dedos pequenos em um rádio que estava sobre a escrivaninha.— Aqui nós temos minha amada cama, mas você já a conheceu. Desse lado temos meu guarda-roupa, que infelizmente não nos leva para Nárnia. Aqui temos meu rádio, e minha mesinha de cacarecos.
Changbin se sentiu leve. Era quase cômica a forma com a qual o australiano empinava o nariz, falando sobre cada detalhe do quarto como um guia turístico, com seu coreano embolado e vez ou outra com o sotaque australiano que Changbin passou a achar extremamente fofo nessas semanas que se passaram.
— Você parece menos nervoso agora. Vai contar pro seu namorado o motivo pra tanto nervosismo?— Felix se aproximou do Seo, se jogando de costas na cama pequena, o que fazia eles se tocarem. Devagarinho, o Lee envolveu os dedos de Changbin em sua mão.
A simples menção da palavra "namorado" fez os olhos de Bin se arregalarem. Sua garganta formando um nó, se sentindo sufocado pela sua própria consciência, como qualquer babaca arrependido.
— É só que... É esquisito.— o Seo nunca havia sido tão verdadeiro com o australiano. Realmente era esquisito, e era assustador. Changbin estava com medo, pois ele realmente não achava que merecia tanta afeição, ainda mais por uma mentira. Medo pois estava começando a pensar demais em Felix, e isso era preocupante.
— Pra mim também.— Lee encarou os olhos escuros do Seo. O silêncio espacial se instalou entre a escuridão e as estrelas de ambos por alguns instantes. Mantiveram uma troca de olhares, tão concentrados um no outro que podiam ver cada mínima alteração ocasionada pelo nervosismo subindo pelo corpo.— Quer ouvir música? Eu tenho um CD do Green Day. Vi você usando uma camisa deles na escola, aí vi o cd numa loja e comprei pra gente ouvir junto.
Changbin sentiu o coração acelerar um pouco. Sensação de calor se alastrava por todo seu corpo, enquanto um sorriso genuíno irradiava seu rosto. Changbin era um completo idiota, pois estava começando a acreditar em sua mentira.
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Com três semanas de namoro, baseado numa mentira tão maldosa quanto os bilhetes que Felix recebia, o australiano sardento chamou Changbin para sair em um fim de semana. Foi um convite inesperado, mas, se tinha algo que o Lee era, este algo seria pura e simplesmente indecifrável e imprevisível.
O Sei aceitou, e o encontrou na praça do bairro. Felix chamava a atenção usando um gorro vermelho e uma camisa xadrez cor vinho, era como um pequeno pontinho vermelho em meio as árvores. Changbin por outro lado, vestia uma camisa com a logo do Gun's and Roses e usava seus óculos de armação grossa e redonda. Eram completos opostos. Felix chamava atenção em demasia. Mas, de certa forma, Changbin entendia. Lee era brilhante demais para passar despercebido, e ele tampouco ligava para qualquer norma social que ditasse o que deveria ser considerado estilo.
E ele estava tão lindo, que Changbin se sentiu até um pouco orgulhoso por ser (mesmo que com o gosto amargo da mentira) a pessoa a qual o australiano chamou para um encontro.
O Seo era um completo bocó. Porém estava começando a ser completamente bocó por Lee Felix.
E não se importava se isso não era algo bom.
— Acho que vamos ter que passar na loja de Cds mais tarde e caçar um do Gun's and Roses.— Felix disse, assim que se aproximou para segurar a mão do Seo.
— Por que?
— Pra gente ouvir junto. Você fica uma gracinha cantarolando e fingindo que está em um show.— riu sapeca, o sotaque estrangeiro fazendo as palavras saírem um pouco confusas, mas ainda entendíveis.
— A gente pode alugar um filme pra ver também.— o Seo deu a ideia. Sentindo cada músculo de seu corpo enrijecer quando o Lee colocou a cabeça apoiada em seu ombro.
— Tudo bem. Agora vamos aproveitar nosso primeiro encontrou! Tem uma sorveteria por aqui, qual seu sorvete preferido?
— Menta.
— Seo Changbin, eu não acredito que seu sorvete preferido é essa afronta contra os sorvetes.— Felix dramatizou.
— Qual o seu preferido então?— conteve o riso, tentando parecer sério para entrar na brincadeira.
— Chocolate, claro!
Riram juntos, e Felix passou cinco minutos dizendo argumentos (talvez nada válidos) do porque chocolate era o melhor sabor de sorvete. Com os doces gelados já em mãos, se sentaram em um dos bancos da praça.
Changbin se sentia estranhamente feliz. Felix tinha o dom de lhe fazer sentir uma pessoa importante. E não era o importante que seus amigos lhe faziam vivenciar, como alguém superior, mas sim um alguém importante para uma pessoa em específico.
Changbin era um mentiroso, e mentia tanto para si que queria que sua mentira se tornasse verdade.
— Ei Bin, canta Patience pra mim? É a única música deles que eu conheço, e eu quero muito te ouvir cantar.
O Seo arregalou os olhos, pronto para negar. Contudo, os olhos castanhos de Felix estavam tão presos em si, implorando para um palhinha da música, que ele não teve opção além de fazer o Lee abrigar um sorriso no rosto quando fingiu que o sorvete de menta, já no fim, era um microfone.
— Shed a tear 'cause I'm missin' you.— começou, a mão de Felix puxou sua mão livre e ele continuou.
Algumas pessoas olhavam para a estranha dupla. O garoto vestido inteiramente de preto com um sorvete não terminado na mão parecendo querer se enfiar em um buraco, e o garoto chamativo parecendo brilhar enquanto ria e dizia para o garoto ao lado que ele era uma gracinha. E nenhum dos dois ligava para nenhuma dessas pessoas que passavam.
— Eu me sinto privilegiado por ter tido a honra de assistir um show de Seo Changbin e sua casquinha de sorvete.— Felix apoiou o rosto em uma das mãos, colocando o cotovelo no encosto do banco.— Vamos passar na locadora e depois na loja de cds? A gente pode comprar uns salgadinhos no mercado também, e depois ir pra minha casa.— o Lee brincou com os dedos de Changbin enquanto falava.
Changbin era um babaca mentiroso e completamente caído por Lee Felix.
"Eu tô apaixonado, merda"
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Depois de sete semanas, Jeongin parecia ansioso para pisar sobre os sentimentos do Lee. Chegando ao ponto de até mesmo ignorar a existência de Changbin e do australiano, com o intuito dos dois passarem mais tempo juntos.
Então Changbin passou a ir na casa do Lee todos os dias. Conversava com a mãe do garoto quando a mesma estava em casa, nunca dizendo que era o namorado de Felix — o que lhe dava um pouco de esperança de poder voltar ali quando acabasse com toda a mentira — e comentava algo sobre bandas dos anos 90 com o patriarca dos Lee quando era convidado a ficar para o jantar. Havia virado rotina os garotos ouvirem o cd do Green Day e do Gun's e olharem para o teto do quarto de Felix, medindo o tamanho dos dedos das mãos até chegarem (pela milionésima vez) a constatação de que o australiano tinha dedos pequenos em comparação aos de Changbin.
— Você fica uma gracinha usando meus moletons.— Felix soltou, se sentando na cama e observando as bochechas de Changbin ganharem cor. Ele vestia um moletom branco, maior que si e emprestado pelo Lee.
Changbin deu um leve chute no australiano. Mal lembrava que tudo aquilo era uma grande mentira tecida fio a fio por si. Nice Guys Finish Last tocava, enquanto Felix se preparava para um ataque de cócegas no pé descalço do Seo.
— É meu ponto fraco, não é justo!
— Acho que descobri o calcanhar de Aquiles de Seo Changbin.— Felix cantou vitorioso, e se jogou sobre o mais baixo.
Sentiam a respiração um do outro, e Changbin sentiu todos os seus pelos se arrepiarem, como se cargas elétricas fluíssem de seu corpo.
Changbin era um babaca mentiroso e burro. Ele beijou Felix. Calmamente, como se ele fosse se desfazer em fumaça e, claro, de forma desajeitada como só ele poderia. E isso o fazia o pior tipo de pessoa.
— Acho que estou apaixonado por você.— O Lee disse assim que se afastaram.
Foi o suficiente para Changbin levantar e sair correndo dali, descalço e deixando seus sentimentos transbordarem de si.
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O Seo ignorou Felix no dia seguinte. E poderia ser muito tranquilo ao fazer isso se: (1) O Lee não estudasse na sala vizinha, (2) Jeongin não estivesse com aquele olhar que fazia cada pelo do corpo do Seo se arrepiar de medo e (3) se Seungmin não lhe olhasse com os olhos castanhos procurando qualquer coisa anormal que motivasse essa atitude.
Mas, naquele momento, Changbin se sentia a pior pessoa do mundo por brincar com os sentimentos do Lee. Estava um lixo.
Era um babaca idiota mentiroso desalmado e qualquer outra alcunha que lhe coubesse. E ele apenas queria chorar toda vez que lembrava do sorriso enorme do australiano brilhando com as estrelas em seu rosto e emoldurando os olhos semi abertos, ao dizer aquela frase que pareceu uma facada.
— Tá legal, me fala o que tá acontecendo.Você não tá nada bem. — Seungmin cochichou, não querendo chamar a atenção do resto do grupo. Changbin o encarou de volta, tentando parecer confuso.— Nem vem com esse olhar de quem não tá entendendo. Você percebeu que sua camisa está ao avesso? Ou que você tá parecendo um panda com tanta olheira? Porra Changbin, fala comigo cara, eu sou seu amigo.
Changbin apenas ficou em silêncio, seguindo os amigos e sendo observado de todos os lados, por Seungmin, por Felix na porta da sala e pelos alunos prontos para atacar qualquer fraqueza.
Ele era um idiota e merecia sofrer sozinho. Trazer Felix para seu caos havia sido um erro, e ele jamais se perdoaria por isso. Não se perdoaria pelos bilhetes na porta da sala, ou as mensagens maldosas na mesa do Lee, nem mesmo os olhares e cochichos por onde passavam. Era tudo culpa da sua mentira.
Pessoas como Changbin não pensariam daquela forma, mas, para o Seo, ver Lee Felix sorrindo valia mais do que sua quase inexistente popularidade sustentada pela companhia de populares babacas. E ele preferia voltar a ser invisível do que ver o Lee sofrer ainda mais por sua culpa.
— Jeongin, amanhã no refeitório, chama todo mundo. O plano deu certo.— falou baixo, tentando se encher de coragem.
O Yang sorriu enormemente, batendo no ombro de Hyunjin comemorando sua quase vitória.
Eram todos babacas, e Changbin estava farto disso.
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O Seo ignorou o som do despertador, mal havia dormido, e o barulho irritante o fazia lembrar que ele não podia ficar na cama o resto de sua existência.
Vestiu a primeira roupa que viu, por ironia a camiseta do Green Day e uma calça larga e escura.
Felix o esperava na entrada da escola, mas foi ignorado por Changbin, que passou correndo para dentro do prédio escolar.
— Bin, vamos conversar! Eu preciso te falar algo importante.
Changbin ignorou e continuou andando, até encontrar Jeongin. Por sorte, o Yang era um ótimo repelente de Felix.
— Chegou o protagonista de hoje! Porra eu tô tão animado pro intervalo. — Jeongin deu pulinhos junto a Hyunjin. Jisung ria da animação infantil dos amigos enquanto desfrutava de seu pacote de batatinhas, já Seungmin olhava para Changbin com a pior expressão do mundo: a que demonstrava decepção.— Hoje o viadinho vai ter o que merece.
Aquilo foi a gota d'água para Kim Seungmin.
— Sinceramente, vocês são um bando de imbecis. Eu tô fora.— o Kim vociferou, se afastando do grupo com passos pesados. Changbin até pensou em ir atrás de Seungmin, mas a mão de Jisung em seu ombro o fez permanecer no lugar.
— Fica tranquilo. Seungmin é assim mesmo, daqui a pouco ele volta com aquela cara emburrada.— o Han deu alguns tapinhas no ombro do Seo, logo voltando sua atenção as batatinhas.
Changbin olhou para o Kim sumindo no corredor lotado, na direção do banheiro masculino. Foi atrás dele.
Passou pelas pessoas no corredor, sozinho, era alvo dos cochichos. Estava tão farto daquilo. Seo abriu a porta do banheiro, escutando um choro baixo vindo de uma das cabines.
— Seungmin? Você tá chorando?— bateu de leve na porta da cabine.— Vamos conversar.
— Agora, você quer conversar? Não acho que seja o melhor momento, e nem o melhor local.— a voz soou embargada.
— Por que você tá chorando?— apoiou as costas na parede. Por sorte (ou talvez pelo sinal já ter tocado) só haviam os dois no banheiro.— Nossa primeira aula é com o professor Choi, ele não vai nos deixar entrar na sala depois do sinal. Temos mais de quarenta minutos até você poder se livrar de mim.— suspirou.
— Você é um babaca.
— Eu sei. Me diga algo que eu não saiba.
— Eu sou gay.— a voz de Seungmin saiu num fio.— Eu sou a merda de um viadinho, desses que vocês odeiam e sempre fazem chacota. Feliz?— o final da frase saiu embolado, pelo choro que se intensificou.
Changbin se sentiu ainda pior.
— Quer que eu te conte algo que você não sabe?— o Seo suspirou, não obtendo uma resposta além de um fungar. — Eu estou apaixonado pelo Felix. Isso também me faz um "viadinho".
Demorou alguns minutos para Seungmin parar de chorar e sair da cabine. Changbin esperou pacientemente e em silêncio.
— Somos dois ferrados.— o Kim fungou assim que abriu a porta da cabine. O rosto molhado e os olhos vermelhos.
— Ferrados não, eu diria que somos dois viados.— Changbin riu, e levou um soco leve no ombro.— Melhor?
O Kim assentiu, lavando o rosto na pia.
— Temos uns trinta minutos ainda, quer me contar o que tá planejando?— Seungmin disse.
Changbin começou a falar.
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Na segunda aula, Changbin e Seungmin foram para a sala. Tanto o Seo quanto o Kim estavam quietos demais, compartilhando um sentimento inédito de amizade e companheirismo.
Pelo restante das aulas, Changbin ficou de cabeça baixa, fingindo dormir. O que causou um enorme estranhamento por parte dos outros alunos, mas ninguém se importava o suficiente para prestar atenção no Seo pra mais de um milésimo de segundo. E isso era algo bom.
Na hora do intervalo, Changbin juntou todo resquício de coragem que possuía, ao passo que Yang Jeongin parecia animado demais para uma confusão. E todas as confusões daquele colégio tinham como palco o refeitório.
O Seo sentia cada músculo de seu corpo tremer enquanto andava até o refeitório lotado, que parecia ainda mais cheio graças a Jeongin.
Até Felix estava ali.
Changbin respirou fundo. Yang estava ao seu lado, rindo sapeca, como se estivesse prestes a ver a melhor coisa do mundo.
— Vai lá Chang.— o mais novo incitou.
O mais baixo apertou os punhos, olhando de relance para Seungmin, que o encorajou com o olhar.
— Todo mundo aqui sabe que eu tô namorando o Lee Felix.— falou alto, todos os olhos do refeitório virados para si. Os olhos de Felix também, e Changbin focou neles.— Mas a verdade é que eu me declarei primeiro, na intenção de fazer você se apaixonar por mim e depois quebrar seu coração. — Jeongin soltou uma risadinha, mas o Seo continuou.— Mas eu me apaixonei. Eu sou um viado? Sou! Mas o Felix não, ele é apenas o garoto mais incrível do mundo todo, que não conseguiu rejeitar o idiota aqui.— parou por um momento, o corpo tremia.— Porra, e eu amo pra caramba cada coisinha nele. E eu sou o pior tipo de babaca por ter mentido, mas também sou um idiota, por que tô aqui berrando pra escola toda que estou apaixonado por ele, dessa vez, sem mentira nenhuma. É isso, eu sou a porra de um emo, nerd e gay, e se quiserem falar algo sobre mim, podem falar, mandem bilhetinhos, escrevam na minha mesa, podem ser essas pessoas horríveis que a sociedade exige que vocês sejam, ou sei lá mais o quê! Mas o Felix não tem nada haver com isso. E eu te peço desculpas, Lix, por te envolver nisso tudo. — falou diretamente para o australiano, que parecia congelado no lugar.— Desculpe, de verdade.
Todos os alunos ficaram em silêncio, e Changbin aproveitou para sair dali.
O Seo se escondeu na sala de música, o lugar onde a mentira havia começado. Ele se sentou no chão, as pernas encolhidas contra o peito. Era como se o mundo desabasse.
Ele chorou. Mais por medo de ser odiado por Felix do que por qualquer outro motivo.
— Você realmente sabe como me deixar surpreso.— a voz de Felix preencheu a sala. Changbin levantou o rosto, a visão meio turva pelo choro.
— Você me odeia, não é?— choramingou, os óculos embaçados demais para poder ver o rosto do Lee com nitidez.
— Você cantou Gun's and Roses no meio de uma praça, usando um sorvete como microfone, só porque eu pedi. Você topou assistir Titanic comigo, me aguentou chorando até, e você tem o sorriso mais lindo do mundo inteiro. Eu nunca odiaria você. — o australiano se abaixou, ficando na altura do Seo. — A verdade é que eu já sabia do plano besta do Jeongin. Seungmin me contou.— tirou os óculos do moreno, passando os dedos pelas bochechas molhadas. — Eu sabia de tudo.
Changbin fungou. Sentindo-se sufocado por cada uma das mentiras. Felix o puxou para seus braços, acolhendo Changbin em um abraço desajeitado.
— Eu realmente gosto muito de você, Bin.— Felix sussurrou, fazendo cafuné nós cabelos de Changbin. Aos poucos o choro foi cessando.— Eu deveria cantar pra você?
— Bobo. — voz saiu abafada pelo abraço, e o menor aumentou o aperto. Felix tomou isso como um incentivo.
— Oh, nice guys finish last.— começou a música de forma desafinada e sussurada. A pronúncia era perfeita, e a voz do Lee fazia cada centimetro do corpo de Changbin se arrepiar.
— Péssima escolha.— O Seo riu soprado.
— Por que? É a trilha sonora do nosso primeiro beijo.— o australiano jogou o corpo um pouco para trás, se afastando do abraço, para poder deixar uma trilha de beijinhos rápidos pela bochecha do Seo. — Ei Bin, mente pra mim mais uma vez?
Changbin deu um tapa no ombro do Lee.
— Eu estou apaixonado por você, Lee Felix, sem nenhuma mentira.
Changbin era apenas um garoto normal, que tinha seus momentos babacas e também os em que era completamente caidinho pelo namorado. Também tinha momentos em que ficava puto com Seungmin, por ele sempre reclamar das demonstrações de afeto do casal, ou até mesmo com alguns imbecis da escola (mas esses ele mandava se danarem). E haviam momentos em que simplesmente jogava conversa fora com Jisung e Hyunjin — mas essas ocasiões eram poucas —, e até mesmo trocava um olhar com Yang Jeongin (mas este não mudava sua forma de pensar).
Pessoas como Changbin apenas desejam serem especiais de alguma forma. E Lee Felix fazia o Seo se sentir a pessoa mais especial do universo.
E isso era algo incrivelmente bom.
[Fim]
Bom aqui encerramos minta para mim!
Eu adorei trabalhar com esse clichê, confesso, e não esperava que fosse ficar tão extenso.
Changlix boiolas demais eh isto
Espero que tenham gostado
Até a próxima.
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