Papai estava estranhamente calmo naquele dia.

Sentia-me esmagada pelo silêncio, ciente de que por baixo daquela superfície, ele devia estar fervendo. A forma como ele não parava de dar batidinhas no volante denotava seu nervosismo.

– Então você já sabe o que vai acontecer. – Sua voz estava plácida, como água intocada. – A juíza vai perguntar com quem você quer ficar. – Ele me fitou pelo retrovisor. – Você só precisa escolher.

Assenti, encolhendo-me no assento. Eu retirei as mãos de sobre minhas pernas doloridas.

– Devo avisá-la, Flor, que aquilo que você decidir hoje, será para o resto da vida – prosseguiu ele. – A pessoa que você eleger como sua guardiã ficará responsável pela sua criação, até atingir a maioridade.

Segurei as lágrimas que embaçavam minha visão, olhando para a calça comprida que encobria os hematomas.

Naquela audiência, quando a juíza perguntou com quem Florisbela Teixeira desejava ficar, caminhei sem pestanejar para junto da minha avó.