A primeira Maria pegou uma faca, a segunda uma caneta e a terceira preferiu observar.

Como não acontecia há tempos, os olhinhos negros de Maria Rosário se estreitaram num sorriso, enquanto ela observava por trás dos óculos quadrados á Maria Duda e Maria Clara que destrinchavam a vítima.

Era um rato enorme, cinza e de cauda longa, mas já estava morto, o que era uma pena. Seria muito melhor vê-lo guinchar.

– Duda,cê devia tirar a cabeça. –Sugeriu Rosário.

Mas Maria Eduarda nem ligou, continuou estocando a faca pequena na barriguinha gelada.

– A cabeça tem muito pelo...-- Retorquiu Maria Clara – Ele vai perceber. Agora as tripas não, a gente mistura com maionese e aí ele vai achar que é atum ou sei lá. – Riu maldosamente.

Maria Rosário tinha sérias dúvidas sobre se Carlos confundiria tripas de rato e patê de atum, ele era um idiota, mas não tanto.

Também não importava.

–Pronto. – Maria Clara riscou o item da lista e sorriu de novo acrescentando – Agora ele vai ver uma coisa.

No fim daquela tarde, quando soou o último sinal e todos abandonaram a escola, seu Carlos chamou de novo as três Marias para o quartinho que havia no fim do corredor de armários. Ali, outra vez trancou aporta e como sempre as mandou calar as bocas.

Quando finalmente terminou seu ritual porco, cheio de fome se sentou entre as meninas chorosas para apreciar seu costumeiro sanduíche de atum cozido.