I - abertura
Antes de mais nada, preciso dar um aviso importante.
Este conto é sobre um relacionamento nocivo entre dois adolescentes e aborda temas como abuso e manipulação emocionais. Então, se você não se sente confortável lendo isto, pare e pense se quer seguir adiante.
É um conto, é um Young Adult e eu procurei escrevê-lo da maneira mais leve possível (já escrevi coisas mais angustiantes), mas o que é leve para mim pode ser pesado e um gatilho para você. Por isso, não force nada.
A quem seguir adiante, desejo uma boa leitura.
* * * * * * *
Passei umas boas horas pensando como poderia iniciar esta carta.
Quero dizer, por onde começar?
Não quero ser prolixa, mas também não quero ser tão sucinta a ponto de você ficar sem entender nada. Eu deveria falar do problema logo de cara? Apenas transmitir o recado final? Ou dar uma boa contextualizada para refrescar sua memória?
Quando se está escrevendo, há inúmeros caminhos que podemos seguir, por isso me vi perdida por longas horas sem saber qual deles escolher. E depois de tanto bater a cabeça na parede tentando definir por onde começar esta história... a nossa história... o óbvio se mostrou para mim:
O início. Comece pelo início, Taylor.
Então, vamos lá.
Desde pequena sou fascinada pelo mundo circense. Sempre que um circo itinerante aparecia na cidade, meus pais me levavam para lá. Era meio que uma tradição nossa, já que eles também adoravam assistir à trupe de artistas executando suas coreografias. Palhaços, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, equilibristas... Cada qual com seu talento entretendo e embevecendo a plateia.
Mesmo gostando de todos, é natural, no entanto, que você acabe desenvolvendo uma certa preferência por alguma figura em especial. Da mesma forma que eu tinha minha comida e cor favoritas, eu também tinha meu artista favorito no circo.
Aquele que fazia meus olhos brilharem.
Que me fazia estar lá só para vê-lo.
E essa pessoa era o ilusionista.
Para mim, os ilusionistas ou os mágicos — como preferir chamar — eram a atração principal. Eles criavam a ilusão de que coisas extraordinárias podem acontecer. Eles me faziam acreditar no impossível... quando, na verdade, tudo não passava de um truque.
Já pensou no tipo de entretenimento distorcido que eles nos oferecem? Quanto mais somos enganados, mais nós gostamos. Eles nos fazem pensar que têm poderes ao se aproveitar da nossa ignorância e desatenção. E nós achamos isso impressionante, divertido. Uma brincadeira ingênua.
Basicamente pagamos para sermos enganados.
E não vou negar, eu pagaria de novo, de novo e de novo. Eu pagaria até me dar por satisfeita. Até descobrir o truque por trás da mágica, porque sempre gostei das ilusões, mas, no final das contas, a perspectiva de desvendar a farsa era o que me empolgava a continuar a me deixar ser ludibriada.
Era excitante. Emocionante.
Assim como foi o nosso corrosivo relacionamento.
Mason, você foi o meu ilusionista na vida real e talvez por isso você tenha sido tão inevitável para mim. Enquanto toda minha atenção estava em você, você fazia os seus truques e me enganava de todas as formas.
Por um longo tempo fiquei presa nas suas ilusões e até me acostumei a elas. Me acostumei com a ideia de que sofrer e sentir dor era o preço que eu tinha que pagar por ter me apaixonado por você. Que perder... perder tudo quem eu era... era a única forma que eu tinha de te encontrar. Porque eu precisava te encontrar. Precisava de você e de todos os truques baratos que você estava mais do que disposto a usar comigo.
Mas uma hora a verdade chega, Mason.
E se estou aqui, é para te dizer que ela finalmente chegou para mim.
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