O relógio do tempo
Um relógio com pressa me roubou a vida, e como o coelho de Alice, meu coração se sentiu atrasado. Em minha cabeça o "tique taque" soava como facas sendo afiadas, e a cada mexida dos ponteiros um corte no tempo o relógio causava. O tempo passava e minha vida queria pausa, mas o tempo não espera, e as dores não acompanharam as engrenagens funcionais de um velho relógio.
Os números marcados ficaram desgastados com os anos e isso minha sanidade aceitava acompanhar, os números ficavam distantes e eram vagamente finitos, concretos, exatos. O anseio por desejar que o relógio começasse a girar no sentido anti-horário me tormenta ao lembrar que quero partir, pois o tempo foi se tornando invenção da morte.
Querer parar o tempo não torna minha vida pausada em uma farsa; meu relógio parou no três, e as três da tarde e as três da manhã, ele me indica o horário e me traz algo certo. Por fracassadas doze horas, meu relógio que me guia no finito tempo, se torna inútil aos minutos de vida que se vão junto com a areia de uma velha ampulheta ao cronometrar meu fim predestinado.
Ao tempo que me corrói,
Julia Antenucci.
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