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Nem sempre


  E quem hoje me conhece, como saberá que não sou feita de papel? E quem hoje me beija, como imaginara o gelo que fui? E quem hoje me maltrata, quem diria que já fui forte?
  Nem sempre fui a garota de papel, nem sempre me molhava fácil e borrava as letras de um lindo poema, nem sempre fui amassada e não nasci com marcas de um outro autor, nunca havia sido jogada fora antes e quem dirá rasgada. Não quis me tornar cortante a um toque desleixado, e nem vazia para alguém sem imaginação. Nem sempre fui a garota de papel.
  Nem sempre fui a água morna que sou hoje, não me entregava fácil e nem dizia amar, nem sempre fui a que dava e não nasci do fogo, nunca havia sido magoada e quem dirá esquecida. Não quis me tornar frágil a alguém frio, e nem me derreter na mão de um amante. Eu já fui gelo antes de derreter.
  Nem sempre fui a garota que aceitava um tratamento ruim, nem sempre permiti a agressão física e verbal, nem sempre fui diminuída e não nasci com as mãos amarradas, nunca havia sido humilhada e quem dirá maltratada. Não quis me tornar frágil como porcelana, e nem inferior a uma voz elevada. Nem sempre fui essa flor sem espinhos.
  A vida me consumiu de uma maneira instável e dolorosa, me tornando o oposto do que sempre fui e me submetendo ao desejo de morrer; devorando minhas felicidades e abrigando a dor em cada artéria bloqueada em meu coração, exaustando meu corpo e perturbando minha mente. A tristeza de se tornar alguém que me machuca não é passageira, e é ela que um dia irá me matar.

Ao meu antigo eu,
Julia Antenucci.

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