Capítulo 5
Any Gabrielly
Assim que chegamos na sorveteria, depois de Laila reclamar muito que não estava nem um pouco a fim de ir, nos sentamos em uma das mesas com um banco alto, onde eu não consegui alcançar o chão.
- Eu vou querer um sorvete de flocos, essa baixinha aqui vai querer de chocolate, e você?- Perguntou para mim após informar a garçonete.
- Eu não quero.
- Ah, vamos lá, Any.
- Tá bom, eu quero de morango.- A garçonete assentiu e foi fazer os pedidos
- E então, Laila, feliz por faltar aula?
- Uhum.- Exclamou não muito animada, enquanto brincava com um canudinho.
- E amanhã vai querer voltar?
- Hm hm- Negou com a cabeça e continuou brincando com o canudinho. Percebi que Josh não havia mais coisas para perguntar ou falar, então experimentei tentar.
- Ei, Laila. Eu vi no seu quarto que gosta de desenhar, não é?- A loira assentiu sem olhar para mim- O que mais gosta de desenhar?
- Desenhos.
Ah, sério? Não me diga.
- Que tipo de desenhos?
- Eu já disse, desenhos.- Disse impaciente, mas depois de alguns segundos tornou a falar.- Gosto de desenhar garotas. Diferentes garotas, cada uma com um estilo diferente, entendeu?
- Entendi. Só isso?
- Também gosto de desenhar flores. Margaridas são lindas.- Um sorrisinho brotou em seus lábios.
- Aqui está, um sorvete para essa loirinha, e dois para o casal.- Ela entregou os sorvetes na mesa e eu e Josh ficamos constrangidos, minhas bochechas estavam vermelhas.
- Er... nos não somos um casal, eu sou a babá, e ele é o pai...- Expliquei.
- Oh, perdão.- Murmurei um "não tem problema" mesmo estando claramente envergonhada e ela foi embora constrangida também.
Olhei para Josh que também estava meio envergonhado e vi Laila rolando os olhos, com uma certa raiva, eu diria.
Comemos o sorvete silenciosamente, ninguém dizia um pio e as vezes eu sentia o olhar de Josh para mim, mas ignorei e continuei comendo.
- Acabei- Laila se pronunciou e largou a colher depois de um tempinho comendo- Vou ao banheiro, já volto.- Saiu dali.
Eu e Josh ficamos sozinhos ali na mesa, mais envergonhados do que nunca. Não fui muito de falar com ele, apenas coisas de trabalho, mas agora nem de trabalho queríamos falar.
- Eu vou pagar a conta...- Assenti com a cabeça e ele saiu dali também.
Fiquei sozinha por uns instantes até Laila chegar.
- Tudo bem no banheiro?- Perguntei.
- Certeza que tá perguntando isso? Porque, se sim, não se preocupe que eu fiz o meu xixi normalmente.- Debochou e eu neguei com a cabeça rindo um pouco.- Para de rir.
- Tá, parei- Falei e me segurei para não rir mais, até que Josh chega.
- Paguei a conta, vamos?- Nos duas assentimos e saímos da sorveteria, indo para o carro.
O caminho foi silencioso, mesmo eu estando no banco do passageiro tentei não olhar muito o Josh, não sei por que, mas ainda estava envergonhada.
Sério que ela achou que somos um casal? Tipo, que combinamos?
Para de pensar nisso, Any! Ele é casado, e gay ainda.
Mas por que ele tem que ser tão bonito? Ele e seu marido? Se eles estivessem na escola, tenho certeza que eles seriam os popularzinhos, os pegadores que já pegou mais que a metade da escola. Senhor, olha o que eles estão me fazendo pensar.
Gays...
- Chegamos- Josh anunciou e Laila foi a primeira a sair do carro, já entrando em casa enquanto eu e Josh ficamos no carro ainda.- Ela está difícil hoje.
- Ainda está abalada pelo que aconteceu- Sugeri e quando ela entrou, me virei e vi Josh me encarando.
Por que seus olhos tem que ser tão bonitos?
- Não precisamos ficar envergonhados por causa daquilo, não é?- Pergunta do nada e eu meio que achei estranho. Ele sempre foi muito formal comigo e nunca me fez perguntas íntimas, sobre mim, ou se já procurou minha opinião em alguma coisa. Sempre foi bem fechado comigo então, por isso, estou estranhando um pouco...
- O que? Não, não. Claro que não.- Neguei com a cabeça.- Quer dizer, você é, praticamente, meu chefe. E depois que ela falou aquilo, ficou meio estranho... mas a gente esquece isso. Né?- Ele demorou um pouco para responder.
- É...- Disse e ficamos alguns segundos em silêncio.- Amigos?
- Amigos.
- Amigos.- Repetiu.- Ok, então.
- Ok.
- Olha, acho que ficaríamos repetindo por um tempão nossas palavras se ficarmos falando... bom, vamos sair?- Perguntou.
- Ok.
- Ok.
Abrimos a porta e saindo do carro. Josh rapidamente entregou a chave para André para estacioná-lo na garagem. Isso foi meio estranho, bem estranho na verdade.
Mas, e se eu disser que eu... gostei?
[...]
- Alguém?- Ouvi uma voz e logo gritei de volta, já sabendo quem era.
- Aqui!- Noah apareceu na sala enquanto eu lia um livro.
- Ah, oi Any.- Sorriu e eu retribui.- Onde estão as crianças?
- Josh estão as colocando para dormir- Noah assentiu com a cabeça como se tivesse entendendo e colocou sua maleta na mesa, se sentando do outro lado do sofá.
- Que livro tá lendo?- Perguntou-me.
- É um de terror, comprei faz um tempo só que só agora tive a oportunidade de ler, se chama: as sombras de outubro.
- Deixa eu ver, no Halloween um serial killer mata várias pessoas?- Fiz um sinal de mais ou menos.
- Mais ou menos isso. Tem um serial killer, mas não é no Halloween. Bom, é complicado, tem que ler para entender- Assentiu com a cabeça.
- Nossa, hoje eu cansei. Fiz uma cirurgia de Miectomia Septal.- Arregalei os olhos, essa cirurgia era difícil de se fazer.
- Ele sobreviveu?
- Por um triz quase morreu. Mas eu consegui.- Fiquei mais tranquila.- Ei, sabe que cirurgia é essa?
- Sei. É um tipo de cirurgia cardíaca aberta, realizada pela cardiomiopatia hipertrofica.- Ele arregalou os olhos bem pouquinho e assentiu com a cabeça.
- Osteomielite Espinal?
- Uma infecção dos corpos vertebrais na coluna que requer cirurgia e que exige que você tenha uma boa assistência médica hospitalar.- Ele arregalou mais os olhos e se ajeitou mais no sofá, como se fosse um jogo.
- Craniectomia?
- Uma cirurgia invasiva que requer a remoção de uma parte do crânio para inspecionar o cérebro
Imagine uma operação para perfurar uma parte do crânio para chegar ao cérebro. A parte removida não é substituída imediatamente deixando o cérebro vulnerável a danos se não estiver protegido adequadamente.- Falei tentando me lembrar de tudo.
- Uau. Você é boa. Tem certeza que é formada em psicologia?
- Dei uma boa pesquisada no tio Google.- Rimos um pouco- Mentira, eu já tentei me formar para ser cirurgiã, estava no último ano, mas aí desisti.
- Sem ofensas, mas isso é talento desperdiçado. Você é muito boa, essas cirurgias são as mais difíceis que alguém consegue fazer. E, acredito que consiga muito bem...- Agradeci pelo elogio, mas não falei nada na parte do talento desperdiçado.
Até eu acho.
- Interessante, Any. Acho que temos mais coisas em comum do que imaginamos...- Assenti com a cabeça.
- Noah?- Ouvinos Josh e vimos ele, descendo as escadas. O moreno se levantou e eles deram um selinho.
Sabe, eu acho lindo o amor. Fico feliz que Noah e Josh tenham encontrado suas estrelas, diferente de mim.
Ah, não sabe o que é estrela? Vou te explicar.
A estrela que eu estou falando não é a do céu, e sim sobre o amor. Quando uma pessoa encontra o seu amor verdadeiro/alma gêmea, minha mãe costumava dizer que ela achou sua estrela. É tipo isso.
Mas, quer saber? Na verdade eu já tinha encontrado minha estrela, mas a perdi.
E hoje está por aí, no céu.
Mamãe dizia que nunca existiria apenas uma estrela no meu caminho, mas eu pensei ao contrário, já que tinha ele na minha vida, até ele se for.
- Como foi no trabalho?- Perguntou Josh.
- Você não vai entender nada mesmo.- Os dois riram fraco e eu continuei minha leitura. Ainda não havia dado meu horário de saída por mais que as crianças já tenham dormido, eu ajudava Monica em algumas coisas.
Os dois ficaram conversando sobre o dia deles e eu lá, apenas existindo e servindo de vela.
- Any, se quiser pode ir embora mais cedo. As crianças já dormiram e acho que não tem mais nada que possa fazer aqui. Vá descansar, acredito que Nick e Liz acabaram com você hoje tão eufóricos que estavam.- Noah disse.
- Tem certeza?- Os dois assentiram e eu dei de ombros como se estivesse fazendo o mesmo.
Me levantei e peguei minhas coisas, colocando na mochila. Logo em seguida me despedi deles e fui embora.
Noah Urrea
Confesso que, todas as vezes em que Any sai de casa, não gosto muito. Não pelo fato dela ir, mas sim por estar a noite já, e, por aqui, as ruas não são tão movimentadas a noite. E, sim, eu fico preocupado.
Não deveria estar, deveria?
Olhei para Josh e ele tinha o mesmo olhar que o meu, de preocupação. Estranhei um pouco pelo fato dele nunca ter se preocupado com nenhuma das outras babás, mas Any é diferente.
- Não acha melhor falarmos para André levá-la na próxima vez? Na próxima vez não, toda noite?- Joshua perguntou ainda olhando para a porta que dá acabara de fechar.
- Acho.- Falei sem nem pensar duas vezes. Mas logo afastei esses pensamentos e me virei para ele.- Agora, já que as crianças estão dormindo, e amanhã é fim de semana, quer fazer alguma coisa?
Me aproximei dele com malícia.
- Talvez...- Ele disse e chegou perto de mim, sussurrando em meu ouvido.- Mas vai ter que gemer baixinho...
- É só você não me fuder forte...- Sussurrei de volta e ele beijou meu pescoço.
- Pedido negado.
Quando percebi, já estávamos no quarto tirando nossas roupas. Mas tinha algo diferente enquanto fazíamos o sexo, parecia que faltava alguém ali conosco, para compartilhar todos esses momentos.
E eu tenho certeza que não é a Sina.
Por mais que eu a ame até hoje, não é ela. É outra pessoa, mas eu não sei quem.
- Podemos ser sinceros?- Josh respirou ofegante na cama ao meu lado, suado.- Estamos ficando muito ruins no sexo.
- Concordo.- Falei.
- O que tá acontecendo com a gente? Digo, sempre conseguimos transar sem a Sina depois que ela morreu e, agora, parece que... ah, eu não sei explicar, parece que falta alguém, mas não parece ser a Sina...
- Pois é!- Assenti.
Ficamos por um tempo calados. As respirações ofegantes haviam sumido, e, já que ligamos o ar, o calor pareceu sumir. Pois é, essa transa foi horrível, acho que uma das mais horríveis que já tivemos.
- Josh?- Ele esperou que eu falasse.- Da um presente para mim?
- Depende, qual?
- Eu quero um livro.
- Qual livro?- Perguntou já achando que era de medicina, ou algo do tipo.
- As sombras de outubro.
Não esqueçam de votar, quero chegar á 50 votos ate semana que vem plsss
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