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Dez

           

Mesmo que tenham se passado quase trinta minutos desde que Saul deixou a sala, ainda assim, eu permaneço aqui, sentada sobre minhas próprias pernas no sofá, enquanto com os dedos redesenho as listras negras da minha echarpe zebrada.

Eu sei que deveria considerar que aquilo não tenha passado de uma provocação, toda aquela baboseira de afirmar que é um cara decente.

Deixo uma sonora risada escapar.

Cara legal, essa é difícil de engolir.

Ainda que eu precise admitir que quando ele não está implicando comigo, ou tentando me intimidar no trânsito, ou arrancando minha mala do carro sob a chuva, até que ele é legal.

Razoavelmente.

Mesmo que todo o resto basicamente se restrinja à última noite. Isso se eu desconsiderar aquela vez em que me emprestou sua roupa seca.

E quando chamou Basílio de babaca.

Aquilo foi um ponto indiscutível a seu favor. Toda aquela revolta no olhar em pronta defesa de uma "oprimida" a quem mal conhece.

Imagine só se ficasse sabendo de toda a história, já que o que compartilhei com ele passa longe de ser da missa a metade.

No entanto, isso, esse jeito de afirmar que é um cara legal, a naturalidade em sorrir ao ponto de franzir o canto dos olhos, ao afirmar que ainda tenho muito para descobrir ao seu respeito...

Por algum motivo que não consigo entender, ainda que remoa, aquilo me perturba.

Uma inesperada contração invade meu estômago. Tamanho é meu susto, que no milésimo de segundo seguinte me pego com a mão sobre o ventre.

‒ Tudo bem? ‒ indaga Saul.

Não sei de onde ou em que momento ele surgiu, mas atravessa o cômodo com seu chapéu em mãos, como se estivesse indo a algum lugar. A atenção está dividida entre mim e o aparelho celular que ampara com o ombro em uma orelha.

‒ Aham ‒ é tudo o que consigo dizer quando ele está prestes a alcançar a porta, e o vinco que se forma em seus olhos quase me faz acreditar que há, naquilo tudo fundo qualquer de verdade.

Antes que saia, com a atenção já totalmente desprendida de mim, eu posso escutá-lo dizer uma coisa qualquer, soltar uma risada abafada e despedir-se de uma tal de Rebeca.

Incrível, não é mesmo? Não que ele consiga dividir a concentração entre mime outra pessoa, mas que tudo que eu tenha absorvido do seu diálogo tenha sido o nome de uma mulher.

Então, ainda que a contragosto, reviro-me no sofá e olho para meu próprio aparelho celular, a fim de tentar não ocupar o resto do dia criando hipóteses sobre a identidade da pessoa do outro lado da linha.

***

Passo o resto do tempo atualizando meu instagram. Fotos da fazenda dos Coelho com legendas como "vocês mal podem imaginar a inspiração que um pouco de ar puro pode trazer" fazem meus seguidores pirarem. Centenas de coraçõezinhos surgem logo no primeiro minuto. Já são milhares quando a publicação completa meia hora.

"Magnífica" é o trocadilho que mais costumam fazer com meu nome de escritora. E, a respeito dele, havemos de convir que Mag Valle soa mais como um nome europeu do que Magnólia com acento e tudo.

Além do que, aqui entre nós, meu nome de batismo não é lá o que podemos considerar o mais "jovial" do mundo, de modo que decidi adotar meu apelido como pseudônimo na ocasião do lançamento do meu romance de estreia na Alemanha.

Meu dedo desliza pela tela do aparelho celular rolando elogios que variam entre "magnífica", "maravilhosa" e "uma vida explêndida", enquanto tento não me entediar com minha própria hipocrisia.

Se eles ao menos soubessem por que tipo de coisa já passei...

Solto um suspiro. Em parte pelo tédio, em parte para tentar afastar os maus pensamentos, e me dou conta de que já perdi mais tempo do que o aceitável. E então é chegado o momento em que finalmente reúno alguma coragem para me levantar do sofá e espiar pela janela, com um resquício de esperança de que ele esteja por perto.

Não é que eu queira sua companhia, ou coisa do tipo, é que... bem, desde que retornei ao Brasil, ainda que tenha voltado a me consultar com a Dra Lucia, mesmo que tenhamos retornado com a rotina de medicamentos, ainda não me sinto segura o suficiente em minha própria companhia por muito tempo ‒ a menos que esteja produzindo literatura, o que claramente não é o caso.

É exatamente por isso que decido fazer a única coisa que sei para ocupar a mente.

Assim que constato que não há ninguém ‒ e com ninguém evidentemente me refiro a Saul ‒ por perto, solto um suspiro e caminho da direção do corredor que leva ao quarto no qual estou hospedada.

Perco alguns minutos parada, admirando uma página em branco no meu laptop, até que finalmente posiciono os dedos sobre o teclado e as palavras começam a surgir. Já era hora para dar um nome aos personagens, afinal.

Em homenagem à minha irmã, batizo a mocinha de Viola. E ele, o "mocinho", que já começo a imaginar se não me arrependerei por ter tornado um anti-herói... bem, tenho não soltar uma risada quando o chamo de Felipe.

Felipe Crane já seria demais, então deixo o sobrenome em aberto por enquanto.

Conforme as palavras se unem em orações, organizam-se em frases e formam extensos parágrafos, Felipe e Viola vão ganhando vida, assim... onde antes não havia nada, em uma página totalmente em branco, um mundo novo começa a se formar e um prazer inexplicável ‒ não que esse seja o melhor adjetivo para uma escritora utilizar, todavia o sentimento excede o entendimento de fato ‒ toma conta de meu coração.

Desde que descobri que eu realmente poderia fazer isso ‒ me refiro à literatura ‒ algo se transformou dentro de mim. Um lance meio louco, como se eu tivesse sido agraciada com uma espécie muito rara de superpoder que me permitisse criar uma coisa incrível a partir de absolutamente nada.

É o único modo que conheço de fazer outras pessoas sonharem sonhos que só poderiam habitar no campo dos meus pensamentos. Como se esse dom, o de inventar todo o tipo de enredo para cada folha que cai no caminho, fosse um presente tão precioso, capaz de gerar tanto prazer, que guardá-lo comigo seria egoísmo. Seria... bem, errado.

Levo o cursor do mouse até o início da página de e-mail aberta em minha frente. O capítulo já está anexado e endereçado para Érika. Ainda que ela não tenha exatamente me dado qualquer retorno desde o último envio, torço para que esse seja não outro sinal além de um daqueles casos em que ela faz de tudo para não dar o braço a torcer, mas no fim acaba cedendo.

Por algum motivo, depois de toda aquela recusa quando ela surgiu com essa ideia de jerico, quando o tempo de resistência passou ‒ quando coloquei os pés neste ambiente e comecei a escrever minhas primeiras páginas pós-bloqueio ‒ passei a confiar nesta história e, mesmo nos momentos em que não pretendo, ela lateja dentro de mim com tanta força, que eu sequer tenho me preocupado em correr para registrá-la.

Simplesmente sei que quando uma ideia brilhante chega, não importa quanto tempo eu vou demorar para me sentar a fim de escrevê-la, ela simplesmente não vai fugir.

***

Já é noite quando finalmente nos encontramos na sala de jantar. Dona Julia nos serve de uma forma tão entusiasmada que eu realmente deveria me sentir mal por não conseguir corresponder.

Acontece que estou ocupada demais observando Saul fazer sua prece. Ele tem as mãos entrelaçadas na frente do rosto mais uma vez, e sou hipnotizada por sua glabela levemente franzida enquanto ele apoia os cotovelos na enorme mesa rústica posta apenas para dois.

Os lábios se movimentam um pouquinho, embora não deixem escapar nenhum som, e é inevitável corar quando ele, distraído, levanta os olhos e acaba se deparando com os meus.

Aperto minha boca em um sorriso tímido, de quem foi flagrada, mas meu estômago simplesmente pula quando ele faz o mesmo e cora, como quem não sabe como reagir depois de ter sido espionado em um momento íntimo.

De todas as reações que imaginei em Saul ‒ e, acredite, não foram poucas nessas últimas dezenas de horas em que comecei a escrever sobre ele ‒ nunca me passou pela cabeça esse olhar tão constrangido e encabulado.

Então a inesperada interação tão natural ‒ quase inocente ‒ entre nós, me faz experimentar sensações físicas das mais esquisitas, as quais eu realmente não contava que alguém pudesse despertar em mim.

Não assim tão rápido.

Especialmente alguém como ele.

Deve ser por isso que começo a tagarelar sem parar, numa ridícula tentativa de fazer parecer para Saul que meu motivo para encará-lo feito louca é que tinha algo de útil para dizer.

‒ É meio engraçado, você sabia? ‒ lanço de repente, e ele apenas ergue uma sobrancelha em interrogativa. ‒ Essa coisa toda de jantares tradicionais. ‒ Ignoro a risada debochada que Saul deixa escapar. ‒ A gente se reúne à mesa, você ora, a gente come e depois servem a sobremesa... 

Seu olhar divertido é a irritante prova de que ele percebeu, desde a primeira frase, que tudo isso não passa da maior conversa fiada.

‒ Não é isso que as pessoas costumam fazer de onde você vem?

‒ De maneira nenhuma ‒ respondo para sua surpresa. ‒ Para começar, na casa dos meus pais não havia comida se um de nós não fizesse. E o velho nunca foi o maior exemplo de bom senso, de modo que se mamãe e eu não déssemos um jeito, todos morreríamos de fome.

‒ Com isso eu devo deduzir que cozinhar também é um dos seus talentos? ‒ ele pergunta, de modo distraído, enquanto leva o garfo à boca.

‒ Razoavelmente ‒ respondo, e meneio a cabeça de modo abrupto para retomar o pensamento. ‒ Em seguida, nunca fomos muito de orações, isso é mais uma coisa da minha irmã, mas ela não vivia comigo...

Por algum motivo, a informação atrai a atenção dele. Saul agora mastiga com a boca entreaberta, os olhos fixos em mim, esperando que eu conclua.

‒ E para terminar, cada um levava o prato consigo até uma poltrona em que pudesse se acomodar a fim de assistir à tevê.

‒ Isso é triste ‒ fala, e é até meio engraçado notar que não está sendo sarcástico. ‒ Sabe... ‒ ele reflete, mastiga, mastiga, reflete mais um pouco, enruga a testa como quem está prestes a abandonar o pensamento, mas por fim acaba concluindo: ‒ Você realmente precisa de mim.

Deixo escapar uma risada alta.

‒ É mesmo? E para quê, exatamente?

‒ Para entender melhor da vida no interiorrr.

Não consigo reprimir o divertimento diante de seu sotaque forçado, num tom de r que sequer se usa por aqui. Não no interior do Rio de Janeiro.

‒ E como vai ser isso, exatamente?

Tenho certeza de que Saul está se divertindo, porque passa a língua na parte de dentro da bochecha e isso deforma um pouco seu rosto. Eu já o peguei fazendo isso umas duas ou três vezes e agora não restam dúvidas que é sua forma de tentar não sorrir.

‒ Eu deixo você sair comigo.

‒ Como é que é?

‒ Isso mesmo. Se você quer aprender como é a vida de gente do campo, deveria passar mais tempo comigo, não acha? Do contrário sua visita não faria o menor sentido.

‒ Eu não sei não, mas... eu realmente pensei que concordássemos que o tempo que passamos juntos estava além do suficiente. Acabamos de fazer uma espécie de "tour do queijo".

Agora ele semicerra os olhos.

‒ Me poupe, Magnólia. A gente mal se vê. E eu não vivo o dia inteiro preso dentro dessas cercas.

‒ Eu sei, mas... bem, eu não quero te incomodar mais do que sinto já fazer.

Saul se distrai e seu sorriso escapa. Não que seus dentes estejam à mostra, mas a covinha saliente comprova que ele está ali. Então volta a atenção para o próprio prato, soltando um murmuro:

‒ Alguns sacrifícios precisam ser feitos em nome da arte, não é mesmo?

Meu estômago pula de novo.

Ele não está flertando ‒ repito mentalmente, o mais alto que consigo, para que nenhum neurônio deixe de ouvir.

Então Saul me encara, sério, e de repente dá de ombros, garantindo:

‒ Tudo pela literatura.

Alguns segundos se passam para que eu tenha coragem de soltar o ar que até então sequer havia me dado conta de que prendia.

‒ Tá bom. Pela literatura então.





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Hello, meus amores!

Estamos de volta! Perdoem-me pela demora, mas acabo de voltar de férias!

A propósito, ameeei receber o abraço de alguns de vocês na bienal!

Esses dias foram incríveis!!!!!!!!

~~

Vocês já estão sabendo das novidades a respeito de Em Todos os Sentidos?

Não tem ETOS físico POR ENQUANTO! Estamos procurando por uma boa editora. Com boa distribuição para que muitas pessoas possam nos conhecer!

Masss... eu tenho esse exemplar comigo para sortear para um de vocês! É só conferir as regras em http://my.w.tt/UiNb/C0wIuN3xsG  ..

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Para concluir, algumas fotinhas do lançamento da antologia Forte como uma Garota na bienal!

(Sim, é o Raphael Montes de Robert! Kkkk)

♥️♥️♥️♥️

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